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Há 200 anos, a sul de Bruxelas, Wellington enfrenta Napoleão na Batalha de Waterloo

18 de Junho de 1815. Em Waterloo, a sul de Bruxelas, Wellington enfrenta por fim Napoleão. E depois de horas de feroz e indeciso combate, a chegada dos prussianos decide a batalha a favor dos aliados.

 

 
Entre 1809 e 1814, no seguimento da 3.ª Invasão Francesa, as forças britânicas, portuguesas e espanholas, lideradas por Sir Arthur Wellesley – futuro duque de Wellington – logram sucessivas vitórias sobre o exército gaulês, ainda na Península Ibérica. Seguidamente, já em território francês, contribuem decisivamente para a queda de Napoleão Bonaparte. O imperador abdica, em 20 de Abril de 1814, e parte para o exílio na ilha de Elba. Wellington conseguia, assim, vergar um dos mais brilhantes generais de todos os tempos, mas sem nunca ter tido a oportunidade de com ele se confrontar, cara a cara, num campo de batalha. Mas o destino encarregar-se-ia de, volvidos cerca de 14 meses, proporcionar esse inesquecível frente-a-frente.

 

 
Da ilha de Elba ao confronto com os aliados

 

A 26 de Fevereiro de 1815, Napoleão evade-se da ilha de Elba, onde cumpria o exílio imposto pelas potências vencedoras, e, menos de um mês depois, entra em Paris. Ao mesmo tempo que Luís XVIII se põe em fuga, Bonaparte reassume a sua condição imperial, iniciando os Cem Dias da sua segunda e efémera passagem pelo poder.

 
Percebendo que os aliados não demorarão a fazer-lhe a guerra, tenta reorganizar o exército para lhes fazer frente. Embora seja notório o entusiasmo que a sua reaparição provocara nas fileiras do exército, Napoleão não tarda a perceber que lhe faltam grandes chefes militares para comandar os corpos de exército.

 

 

Dos marechais ainda vivos, o imperador nomeia Davout para as funções de Ministro da Guerra e Soult para Chefe do Estado-Maior. Com quem mais é que pode contar? Berthier falecera; Marmont, Gouvion Saint-Cyr, Pérignon, Victor e Macdonald mantêm-se leais ao rei Luís XVIII; Masséna está demasiado velho; Mortier encontra-se enfermo; aceita Ney, mas rejeita a oferta de Murat. Com este panorama, é obrigado a recorrer aos generais de divisão que lhe parecem mais aptos para o comando dos corpos.

 

Há 200 anos, o fim de Napoleão em Waterloo2Napoleão conseguiu regressar em glória, mas por apenas cem dias

 

 

 
Apesar de todas estas dificuldades, o Napoleão consegue reunir, em apenas dez semanas, um exército de 124.000 homens. Com esse exército, tirando partido da configuração plana do território belga, espera poder conduzir uma campanha rápida, que, uma vez vitoriosa, produza resultados políticos favoráveis.

 

Os aliados, por seu turno, contam com um exército anglo-holandês de 106.000 homens, directamente sob as ordens de Wellington, que se concentra nas imediações de Bruxelas.

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Num movimento convergente, marcham ao encontro deste exército mais duas outras formações aliadas: os Prussianos de Blücher, totalizando 117.000 soldados, e os Austríacos de Schwarzenberg, com um efectivo de 210.000 homens, mas que têm um itinerário mais longo a percorrer para se juntarem aos outros dois exércitos.

 

Há 200 anos, o fim de Napoleão em Waterloo3O marechal Gebhard Leberecht von Blücher, comandante do exército prussiano

 
Em 15 de Junho de 1815, o exército napoleónico põe-se em movimento. Procurando evitar a junção das forças de Blücher com as de Wellington, movimenta-se por linhas interiores e vai tentar batê-las separadamente.

 

 

Quando a ala esquerda do exército francês, comandada pelo marechal Ney, procura cumprir a missão de se apoderar do estratégico nó de Quatre-Bras – situado cerca de 10 km a sul do local da batalha de Waterloo e dominando o eixo Namur-Bruxelas, itinerário mais curto entre os Prussianos e os anglo-holandeses –, vai encontrar a posição já ocupada por uma brigada do exército de Wellington.

 

 

Pensando que atrás da brigada se encontra todo o exército inimigo, Ney não se atreve a desencadear uma acção ofensiva em forma, optando por uma atitude prudente de concentração de todas as suas forças. A ala direita, sob o comando do marechal Grouchy, empenha-se, em Ligny, contra 3 dos 4 corpos de Blücher. Napoleão, com o grosso das tropas imperiais, segue à retaguarda, pronto a influenciar qualquer decisão que pareça mais difícil.

 

Há 200 anos, o fim de Napoleão em Waterloo4O Duque de Wellington, comandante do exército anglo-holandês

 
Entretanto, na noite desse mesmo dia, parecendo não valorizar demasiadamente o risco da movimentação do exército napoleónico, o duque de Wellington e os oficiais do seu estado-maior participam, no mais elegante estilo, no baile da duquesa de Richmond, em Bruxelas.

 

 
Enquanto a acção da ala esquerda, sob o comando do marechal Ney, se mantém indecisa em Quatre-Bras, Napoleão ordena a Grouchy o ataque contra as tropas prussianas, em Ligny. Tardando a desenhar-se a vitória, Napoleão vê-se obrigado a reforçar o ataque de Grouchy com as tropas de reserva, alcançando um sucesso claro, mas à custa de 8.000 baixas, contra 15.000 dos Prussianos.

 

 

Para evitar males maiores, o comando das tropas prussianas entende que é melhor poupar o resto do seu exército, retirando para norte, na direcção de Wavre. Mas não abandona a ideia de, logo seja possível, voltar a tentar a junção com as forças de Wellington.

 

 

Pela sua parte, e a partir de tal situação, Napoleão não pensa noutra coisa que não seja em bater o exército de Wellington rapidamente e tudo fazer para impedir que tal junção possa concretizar-se.

 
Wellington escolhe o terreno da batalha

 
A 17 de Junho, ao saber do movimento dos Prussianos para norte, Wellington dá ordens ao seu exército para recuar para a posição de Mont St. Jean, a pequena distância, para sul, de Waterloo.

 

 

 

Nessa posição, o exército anglo-holandês, além de ocupar terreno ligeiramente dominante, dispõe de diversos edifícios rústicos e valados que permitem uma boa cobertura para a condução de uma defesa. Napoleão, que, após o fim da batalha de Ligny, resolvera dar descanso aos seus homens, só nesse dia, cerca das 11 horas, decide ir com o grosso das suas forças juntar-se às tropas de Ney, enquanto ordena a Grouchy, com uma força de 30.000 homens, para ir no encalço dos Prussianos.

 

 

Estes, desde o dia anterior, já lograram alcançar um significativo avanço, aproveitando a passividade dos Franceses. Grouchy, por seu turno, executa a ordem de perseguição a um ritmo incompreensivelmente lento, sem qualquer hipótese de impedir a junção entre Prussianos e Britânicos.

 

Há 200 anos, o fim de Napoleão em Waterloo5Napoleão atrasou o início da batalha devido ao terreno estar empapado pelas chuvas que tinham caído durante a noite

 
Ainda a 17 de Junho, o grosso do exército francês aproxima-se do Mont St. Jean. Verificam-se, na ocasião, condições meteorológicas extremamente adversas, com a queda de chuvas diluvianas, factor que vai condicionar negativamente as operações ofensivas, uma vez que o terreno enlameado impedirá a infantaria de tirar o máximo partido do poder de choque das suas colunas, ao mesmo tempo que favorecerá quem adoptar uma postura defensiva.

 

 

O mesmo é dizer que tudo se conjuga para dificultar a missão do atacante e beneficiar a acção de quem defende. Ao findar o dia, os dois exércitos encontram-se frente-a-frente.

 

 

Na manhã de 18 de Junho, com o início do ataque aprazado para as 9 horas, Napoleão vê-se forçado a um adiamento de duas horas e meia, na esperança de ver reduzir o grau de humidade que empapa o terreno e impede a velocidade dos movimentos. Assim, pelas 11h30, a ala esquerda francesa ataca a direita aliada, na posição semifortificada de Hougoumont.

 

Cerca das 13h30, perante a contrariedade de não terem ainda terminado os sangrentos combates por Hougoumont, onde os Britânicos resistem galhardamente às furiosas investidas dos Franceses, Napoleão ordena o ataque frontal, ao centro, conduzido pelo 1.º Corpo, de Drouet d’Erlon.

 

 

Mas também nessa ocasião, os homens de Wellington, utilizando nos valados a técnica de posicionamento de contra-encosta, furtam-se aos efeitos da artilharia francesa, para, logo de seguida, sentindo a aproximação da infantaria inimiga, subirem à crista, dizimando o adversário com os seus implacáveis fogos de atiradores em linha.

 
Para piorar a situação das tropas imperiais, não tardam a perceber que o 4.º Corpo do exército de Blücher – o único que não estivera na batalha de Ligny e que, portanto, também não fazia parte das forças que haviam retirado para Wavre –, comandado por Bülow, se aproxima pela direita do dispositivo francês.

 

 

São expedidas ordens para Grouchy alterar a sua missão e vir atacar Bülow pela retaguarda. De nada valem esses esforços, porque Grouchy só pelas 17 horas recebe a mensagem enviada por Soult, o chefe do estado-maior do exército imperial.

 

Há 200 anos, o fim de Napoleão em Waterloo6A carga da cavalaria francesa liderada pelo marechal Ney

 
Falhado o ataque de d’Erlon, Napoleão lança mão da cavalaria, executando duas incursões que rasgam o dispositivo aliado, sem, contudo, o forçarem a um recuo.

 

 

As tropas britânicas, ao verem-se submergidas pela cavalaria francesa, rapidamente passam à formação de quadrado, continuando a disparar, em todas as direcções, com assinalável eficácia. «Cada quadrado – escreveria mais tarde Victor Hugo, em Os Miseráveis – era um vulcão, atacado por uma nuvem».

 

 

Os prussianos entram em campo

 
Entretanto, cerca das 16h00, inicia-se o ataque do corpo de Bülow ao flanco direito francês, em Placenoit, obrigando a desviar forças para garantir, no mínimo, o controlo do itinerário de retirada. No centro da batalha, cerca das 18h30, depois de diversas cargas da cavalaria francesa, a posição fortificada de La Hayne-Sainte cai na posse das tropas de Ney.

 

 

Por uns breves instantes, constatando que a sua linha cedera na parte central, Wellington admite que a manutenção da defesa se encontra em risco e, mais do que nunca, espera que a chegada dos Prussianos de Blücher o salvem da situação crítica em que o êxito da cavalaria francesa o coloca. Pensando dar o golpe de misericórdia ao adversário, mediante o empenhamento da Guarda Imperial, ainda intacta, Napoleão recebe a notícia da tomada de Plancenoit pelas tropas de Bülow.

 

 

Perante este novo revés, decide atrasar o ataque ao centro. Ordena, então, que uma fracção da Guarda Imperial retome a posição de Plancenoit, o que vem a acontecer entre as 19h00 e as 19h30. Graças a esta inesperada trégua, Wellington consegue refazer o seu dispositivo, empenhando as reservas de que ainda dispõe.

 

Há 200 anos, o fim de Napoleão em Waterloo7Uma caricatura da época mostra Napoleão encurralado entre as tropas anglo-holandesas e as tropas prussianas – entre Wellington e Blücher

 
Confrontado com este reajustamento das forças inimigas – a que se somava a cada vez maior probabilidade de estar para breve a chegada do exército de Blücher –, mandaria a prudência que Napoleão ordenasse a retirada, procurando salvar o que restava do seu exército.

 

 

Todavia, não tendo perdido a esperança na chegada do corpo de Grouchy e acreditando na sua boa estrela, Napoleão decide jogar a última cartada, mandando avançar a Guarda Imperial.
Nesta unidade de elite, restam nove batalhões, ou seja, menos de 5.000 infantes. Dada a ordem de ataque, a Guarda progride na direcção das posições aliadas, com a mesma determinação e imponência dos tempos áureos. Subitamente, do lado do inimigo, ouvem a voz: Stand-up, guards!

 

 

Do meio do trigo, 1.500 diabos vermelhos passam da posição de joelhos à posição de pé e disparam à queima-roupa, em salvas sucessivas, por linhas paralelas. À primeira descarga a Guarda hesita e à segunda, ante a surpresa geral, recua. Ao mesmo tempo, no flanco direito francês, a recém-chegada cavalaria de Blücher inunda o campo de batalha. De Grouchy, nem sombra de notícias.

 

 

Há 200 anos, o fim de Napoleão em Waterloo8No final da batalha, Napoleão mandou avançar a temida Guarda Imperial, mas a forma como os soldados de Wellington (aqui com o seu Estado-Maior) reagiram provocaram a sua debandada

 
A derrota de Napoleão, embora assinalada por gestos de enorme bravura, concretiza-se numa debandada precipitada e em grande desordem, a lembrar os infaustos tempos da campanha da Rússia. Chega ao fim, com uma derrota infligida pelo seu mais cotado opositor, a extraordinária carreira militar de um dos maiores cabos-de-guerra de todos os tempos. À derrota militar segue-se o exílio para Santa Helena, onde acabará os seus dias.

 

 

David Martelo/Observador/14/6/20

 

 

 

 

 

Luís Vaz de Camões: a história e cinco dúvidas de um nome incontornável da cultura portuguesa

Em pleno Dia de Portugal, regressámos ao século XVI e fomos “chatear o Camões”. Descobrimos histórias arrojadas, cinco coisas que talvez não saiba e um teste que põe à prova o seu sangue lusitano.

 

Hoje é Dia de Portugal. É dia de recordar os grandes empreendimentos marítimos dos Descobrimentos, de enaltecer o amor de Pedro e Inês, de sublinhar a ambição de D. Afonso Henriques ou de mostrar orgulho na língua. Hoje é dia das Comunidades Portuguesas. É dia de lembrarmos os tempos coloniais e de olhar para aqueles que abandonaram o país em busca da mesma sorte que os antepassados.

 

Mas convém lembrar que hoje se passam também 435 anos da morte de um dos maiores poetas nacionais: Luís Vaz de Camões, um nome incontornável da cultura portuguesa e uma personagem cujo trabalho tem tanto de atualidade como de misticismo. Hoje também é o seu dia. Por isso, o Observador embrenhou-se na História em busca do percurso de Camões. E foi isto que descobriu.

 

A vida de Luís de Camões

 

Diz-se que terá nascido em Chaves. Diz-se que terá vindo ao mundo em 1524. Diz-se que a bagagem cultural de que era dotado foi absorvida em Coimbra. E diz-se – apenas se diz – muito mais sobre este poeta, porque certezas há poucas.

 

A história de Luís Vaz de Camões confunde-se com as memórias de um Portugal em expansão. Mas está pendurada com muitos pontos de interrogação. Ainda assim, há datas que vale a pena serem realçadas: explore a linha do tempo da biografia daquele que é considerado o maior poeta português de todos os tempos.

 

Cinco coisas que talvez não saiba sobre Camões

 

Quando Camões se dirigiu aos aos heróis portugueses que deixaram a terra firme da “ocidental praia lusitana” para dar “novos mundos ao mundo” entre “mares nunca antes navegados”, não tinha noção que também ele iria fazer parte daqueles “que por obras valorosas se vão da lei da morte libertando”. É que embora o trabalho de Camões tenha sido algo menosprezado em vida, hoje é o arquétipo do patriotismo português. E se há muitas histórias por descobrir no percurso camoniano, há um número igual de curiosidades por conhecer. O Observador explorou cinco.

 

1 — Há duas “primeiras edições” da obra Os Lusíadas

 

Depois das enormes aventuras que Camões protagonizou na luta contra os mouros em África e depois na Índia, o poeta português chegou a Portugal com um poema épico de mil cento e duas estrofes que narrava os feitos lusitanos por mares nunca antes navegados. Com o apoio de D. Sebastião – que recebeu o cognome de “O Encoberto” – Luís de Camões viu a obra publicada em 1572.

 

Camões a história e cinco dúvidas2

Esta é a capa que ilustra a primeira edição d’Os Lusíadas de Luís de Camões.

 

 

Nada de anormal até aqui. Pelo menos se ignorarmos a lenda que conta que Camões sofreu um naufrágio junto à costa do Camboja, a caminho de Portugal, que o obrigou a seguir a nado até à praia usando apenas uma das mãos para salvar “Os Lusíadas” com a outra.

 

Mas o verdadeiro mistério começa quando descobrimos que existem duas edições do poema épico no mesmo ano e ninguém tem a certeza de qual delas é a primeira.

 

Existe uma descrição para essa primeira (dupla) edição: no final de 1920, o diretor da Biblioteca Nacional de Lisboa – Jayme Cortezão – dirigiu-se ao Real Gabinete Português de Leitura a fim de pedir a esta entidade uma transcrição da versão original d’Os Lusíadas.

 

Devo lembrar a V. Exª que, a par da 1.ª edição verdadeira que nos propomos reproduzir, existe uma outra, falsa, da mesma data. A verdadeira distingue-se por ter o bico do pelicano da portada voltado para a esquerda do observador e por, no 7.º verso da 1.ª instância do Canto I, ter as palavras “E entre” em vez de “Entre” simplesmente.

 

O Real Gabinete aceitou auxiliar a Biblioteca Nacional, mas deparou-se com um problema: alguns membros da instituição diziam estar na posse da versão original, enquanto outros insistiam que o exemplar existente nas prateleiras do Real Gabinete era a “segunda edição”.

 

Em busca da verdade, Alexandre de Albuquerque ficou responsável por estudar a obra e encontrar a original. O trabalho resultou na obra “As duas edições dos Lusíadas de 1572″, publicada em 1921 com 101 páginas. Descobriu-se que a portada utilizada para ilustrar a capa do poema já havia sido utilizada por Gil Vicente e que a segunda edição era a que tinha sido publicada por António Gonçalves.

 

Crê-se que a versão original da obra capital de Luís de Camões está na posse do Ateneu Comercial do Porto, mas existem vários livros fac-simile – isto é, cópias fieis – d’Os Lusíadas. Há um ano, soube-se da possibilidade de o Ateneu vender a obra para abater parte de uma dívida de 110 mil euros, algo que nunca veio a concretizar-se.

 

2 — Ninguém sabe quando morreu Camões

 

Apesar de ter eternizado os feitos históricos portugueses e de ter exaltado o espírito aventureiro da “ocidental praia lusitana”, Luís de Camões morreu na miséria e sem a consideração que merecia após lançar Os Lusíadas. Em que ano? Essa é mais uma incógnita que assombra a história do poeta português.

 

Só houve uma pessoa preocupada em oferecer um túmulo mais digno a Luís Vaz de Camões: tratou-se de D. Gonçalo Coutinho, um fidalgo que mantinha amizade com o poeta. Foi ele quem mandou construir uma lápide de mármore na Igreja de Sant’Ana, onde foi sepultado para ficar perto do local onde vivia a mãe. O amigo do poeta mandou gravar as palavras:

 

Aqui jaz Luís de Camões. Príncipe dos poetas do seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente e assim morreu, no ano de 1579. Esta campa lhe mandou aqui pôr D. Gonçalo Coutinho, na qual não se enterrará pessoa alguma.

 

Foi desta informação que veio o erro que se perpetuou na história: a morte de Camões foi tão pouco notada que ninguém se deu conta do verdadeiro ano em que o poeta perdeu a vida. A data verdadeira terá sido descoberta quando os historiadores tiveram acesso ao documento que Filipe I de Portugal entregou à mãe de Camões, onde a morte do poeta é datada em 1580.

 

3 — Os restos mortais de Camões… podem não ser dele

 

Durante cento e setenta e cinco anos o corpo de Camões ficou sepultado da Igreja de Sant’Ana. Embora tudo apontasse para que o poeta estivesse enterrado do lado esquerdo da entrada principal do edifício, existia a possibilidade de os restos mortais terem sido depositados na fossa da igreja.

 

Até que o terramoto de 1755 agitou Lisboa e destruiu o túmulo. Os restos mortais de Luís de Camões perderam-se no espaço e no tempo e o poeta perdeu a única homenagem digna que lhe foi feita.

 

Em 1880, no entanto, o ministro do Reino – Rodrigo da Fonseca – foi nomeado para encabeçar uma comissão que tinha como missão encontrar a sepultura e as ossadas de Camões. Nessa altura festejava-se o terceiro centenário da morte do autor português. Os investigadores seguiram então para a reconstruída Igreja de Sant’Ana em busca de pistas. E terão encontrado: no relatório apresentado ao rei D. Luís I foi escrito o seguinte:

 

A uma certa altura viram-se ossos em forma que se lhe não tinha mexido. Alguns d’estes pois sem dúvida os de Luís de Camões; mas quais se nem era possível distinguir a sepultura.

 

Ainda assim, mesmo sem encontrar a pedra de mármore, a transladação iniciou-se e as ossadas foram levadas para o Mosteiro dos Jerónimos. As palavras dúbias do ministro levam Vítor Aguiar e Silva, escritor que se dedica aos estudos camonianos e autor do livro “Dicionário de Luís de Camões” a alertar: os restos mortais presentes na sepultura implantada naquele monumento podem não ser do aclamado poeta lusitano.

 

Camões a história e cinco dúvidas3

Este é o túmulo onde alegadamente estão depositados os restos mortais de Camões. O Panteão Nacional também detém uma arca tumular como homenagem ao poeta.

 

No século XIX, assumiu-se que aquelas eram as ossadas de Camões. Não havia um modo científico de determinar a identidade da descoberta, mas a exaltação patriótica impunha-se e era necessário homenagear o autor d’Os Lusíadas. Por isso, os ossos encontrados foram levados para o Mosteiro dos Jerónimos, mesmo sem as certezas necessárias. Estão depositados na ala sul do mosteiro, enquanto o lado norte é reservado a Vasco da Gama – um herói em Os Lusíadas. 

 

De resto, o Panteão Nacional também detém uma arca tumular sem corpo como homenagem ao poeta.

 

4 — Luís de Camões pode ter amado um homem

 

Que o poeta português nutriu paixões assolapadas por várias mulheres ao longo da vida, não é novidade para ninguém: além das descrições d’OsLusíadas, são conhecidos muitos poemas românticos que Camões terá dedicado às mulheres com quem se cruzou ao longo da vida. Uma delas terá sido D. Maria, a irmã do rei D. João III: reza a história que ambos viveram um amor platónico, impedido de ser consumado pelas diferenças sociais que os separavam. Mas existem mais histórias.

 

Era Luís de Camões muito jovem quando se tornou funcionário em casa de D. Francisco de Noronha, conde de Linhares, e de D. Violante e Andrade. Ninguém sabe ao certo o emprego que tinha, mas foi referido alguma vez como “cavaleiro-fidalgo” nas tenças (remuneração pela prestação de um serviço) que o nobre lhe entregava. Ora, a mulher do patrão foi mais um objeto do amor de Camões. E o sentimento terá sido correspondido: Violante havia casado por conveniência com um homem muito mais velho, por isso decidiu atender à paixão de Camões.

 

Mas o galã português do século XVI não se ficou por aqui: quando o romance com Violante terminou, logo o poeta se deixou encantar por D. Joana, uma das filhas do casal que já estava na adolescência. Outra mulher que terá caído nos braços de Camões foi Catarina de Ataíde, uma dama da rainha a quem o poeta escrevia versos. Os historiadores ainda não conseguiram determinar que Catarina era esta, já que havia três com o mesmo nome: a mulher de um nobre de Aveiro, a neta de Vasco da Gama ou a filha de um nobre amigo daquela família.

 

Se o amor camoniano invadiu todos os quartos femininos daquela casa, saiba que Camões também terá nutrido um romance com António de Noronha, também ele filho dos donos da casa. O jovem nobre nasceu em 1536 e era pupilo do poeta. Trocavam muita correspondência onde transparecia o carinho entre o nobre com cerca de 15 anos e Camões na casa dos 26.

 

Até que, a 29 de abril de 1553, António de Noronha morre numa batalha em Ceuta contra os mouros. Luís de Camões terá sofrido muito com a notícia e dedicou um soneto ao jovem morto aos 17 anos. A primeira quadra da composição dita assim:

 

Em flor vos arrancou, de então crescida
(Ah! senhor dom António!), a dura sorte,
Donde fazendo andava o braço forte
A fama dos Antigos esquecida.

 

Se esta quadra é um exemplo de um soneto dirigir indubitavelmente a António de Noronha, outros parecem ser mais discretos – mas também mais emocionalmente intensos. É o exemplo disso os últimos dois tercetos de um poema, onde se lê:

 

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

 

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

 

Apesar das inúmeras publicações dedicadas à vida e obra de Camões, a eventual homossexualidade do poeta nunca foi muito abordada entre toda a bibliografia.

 

5 — Luís de Camões era pago tarde e em más horas

 

Estávamos em 1552 quando Luís de Camões agrediu um membro da Corte de D. João III e foi preso. Ficou na cadeia de Tronco, em Chaves, durante um ano. Depois saiu, perdoado pelo rei, para se mudar para a Índia e se tornar provedor dos defuntos e ausentes.

 

Se Lisboa lhe deu uma vida boémia e incerta, o Oriente também não parecia ser para ele. Por isso, voltou para casa à conta de amigos como Diogo de Couto, que lhe pagavam as viagens e as despesas. Vinha com Os Lusíadas na mala e correu para se encontrar com D. Sebastião para lhe mostrar a obra prima. O rei ofereceu-lhe 15 mil reis anuais, a serem entregues durante três anos, e permitiu a publicação do poema.

 

Ora, uma coisa é certa: Luís de Camões morreu tão pobre como antes e sobrevivia graças à amizade de letrados com mais posses. Até ao momento em que a peste o levou, existem relatos de que era um escravo chamado Jau – que tinha viajado com o poeta desde a Índia – que o sustentava, mendigando pão de porta em porta para depois entregar a Camões.

 

A maior parte das pessoas acredita que a carteira do poeta estava vazia por culpa de uma desorganização alarmante e do olhar leviano que Camões lançava à vida. É que a pensão que recebia era razoável para a época e podia servir perfeitamente para levar uma vida confortável. Isto se o pagamento acontecesse a horas.

 

Na verdade, a história não é tão linear quanto isso: parece que D. Sebastião não cumpria com as datas de pagamento, pelo que o dinheiro do escritor português esgotava sempre. Chegados a 1578, a situação agravou-se com a morte do rei e substituição por Filipe II de Espanha.

 

A saúde de Camões deteriorou-se gravemente a partir daquele momento: se a peste lhe atacava o corpo, a perda da independência portuguesa corroía-lhe a alma. E a desilusão era tão grande que, no leito da morte, Luís Vaz de Camões terá dito:

 

Enfim acabarei a vida e verão todos que fui tão afeiçoado à minha Pátria que não só me contentei de morrer nela, mas com ela.

 

Portanto conclui-se que, embora Camões gostasse de levar uma vida desregrada, esse não terá sido o único fator que conduziu o poeta português para a miséria.

 

 

Observador/TPT/10/6/201

 

 

 

Cristiano Ronaldo salvou a selecção do desastre na Arménia

Dificilmente Portugal irá falhar a fase final do Campeonato da Europa de 2016 que se vai realizar em França. Ganhou na Arménia por 3-2 e lidera o Grupo I com folga suficiente para garantir um dos dois primeiros lugares que dão acesso directo à prova. Mas isso não significa que esteja a ser uma qualificação brilhante. Mais uma vez, a selecção orientada por Fernando Santos sentiu enormes dificuldades, mais uma vez, foi Cristiano Ronaldo a elevar-se acima da mediocridade e, com três golos, desbravar um tortuoso caminho para a vitória.

 

Sim, a campanha com o Euro tinha começado com uma derrota em Aveiro com a Albânia que significou o fim da era Paulo Bento e a entrada de Fernando Santos. Sim, depois da mudança foram quatro vitórias consecutivas e alguma tranquilidade posicional. Mas é justo dizer que nenhuma das vitórias foi convincente. Antes, foram todas pela margem mínima e, se não fosse Cristiano Ronaldo, a situação seria bem diferente. Dos sete golos marcados por Portugal, cinco foram do avançado do Real Madrid e todos valeram vitórias.

 

POSITIVO/NEGATIVO

 

Cristiano Ronaldo

 

Não será um exagero assim tão grande dizer que, se não fosse ele, Portugal não estaria nada confortável na qualificação. Todos os golos que marcou neste apuramento (cinco) valeram vitórias e, frente à Arménia, a selecção arriscava-se mesmo a perder o jogo. Em Yerevan, marcou três, o último dos quais num remate espectacular após uma recepção perfeita.

 

Rui Patrício

 

Foi o espelho da desinspiração geral da selecção. Não será o único culpado no primeiro golo, mas deveria ter agarrado a bola no remate que daria origem ao segundo golo arménio. Resta-lhe o mérito de ter feito um passe a longa distância para Ronaldo marcar o terceiro golo português.

 

Em Yerevan, Fernando Santos cumpria o seu último jogo de castigo afastado do banco e Ilídio Vale voltava a ter as funções de treinador de campo, isto em casa de um adversário ao qual Portugal nunca tinha ganho — dois empates em dois jogos na Arménia. A ideia inicial de Fernando Santos foi um 4x4x2 com Ronaldo e Danny na frente, apoiados nas alas por Nani e Fábio Coentrão, mais Tiago e Moutinho no meio, mas era evidente o défice no meio-campo, bem aproveitado pelos arménios, bem conduzidos por Pizzelli e, principalmente, por Mkhitaryan.

 

Não se podia falar, propriamente, de superioridade da equipa da casa, mais de desinspiração portuguesa. Aos 14’, essa desinspiração foi acompanhada de desconcentração e a Arménia colocou-se em vantagem. A equipa da casa beneficiou de um livre que não parecia representar um perigo imediato. Pizzelli, o internacional arménio nascido em São Paulo que joga no Cazaquistão, viu no livre uma oportunidade de golo e, em vez de cruzar, rematou à baliza e foi feliz. Apanhou toda a defesa portuguesa, Rui Patrício incluído, distraída e fez o golo.

 

Portugal levou algum tempo a reagir, mas ainda conseguiu o empate antes do intervalo. João Moutinho foi carregado na área da Arménia por Mkhitaryan e, na conversão do penálti, Cristiano Ronaldo começou a deixar a sua marca no jogo. Tinham passado 29 minutos e ainda havia mais de uma hora para jogar. A selecção portuguesa podia embalar para uma vitória convincente e tranquila, mas aconteceu o contrário. Na segunda parte, houve uma mudança de estratégia de forma a reforçar o meio-campo, deixando Ronaldo como único avançado, e o que se pode dizer é que resultou. Não pelo envolvimento colectivo de Portugal, mas pelo inconformismo do seu capitão.

 

Aos 55’, o avançado do Real Madrid aproveita um erro de Mkoyan, avança para a baliza e, com a proximidade do guarda-redes Berezovsky, pica a bola por cima e concretiza a reviravolta. Pouco depois, aos 58’, a bola sai directamente do pé de Rui Patrício, vai ter a Ronaldo e, pouco depois, já estava no fundo da baliza arménia, fruto de um grande pontapé de fora da área. Com 3-1, a vitória tranquila estava ao alcance, mas Portugal voltou a complicar. Tiago viu o segundo cartão amarelo aos 62’, foi expulso e deixou a selecção a jogar com dez.

 

Ilídio Vale foi obrigado a reequilibrar a equipa com William Carvalho a entrar para o lugar de Danny. A Arménia aproveitou a superioridade numérica para investir mais no ataque e, aos 72’, reduziu mesmo para 3-2. Mkoyan foi oportuno após uma primeira defesa incompleta de Patrício e fez o golo, num lance com muitas culpas para o guarda-redes do Sporting. Adrien entrou logo a seguir para o lugar do desinspirado Coentrão e, aos 78’, os 37 anos de Ricardo Carvalho deram sinal e obrigaram à sua substituição por José Fonte.

 

Para os últimos minutos, a missão era aguentar e, a muito custo, foi o que aconteceu. Ronaldo, que termina a época com 66 golos, não merecia outro desfecho.

 

MARCO VAZA /DAVID MDZINARISHVILI/REUTERS/13/6/2015

 

 

 

Cantor lusodescendente ganha lugar no Passeio da Fama de Toronto

O cantor Shawn Desman e o jogador de hóquei no gelo John Tavares são dois dos lusodescendentes que ganharam lugar no Passeio da Fama para Luso-canadianos em Toronto, disse à agência Lusa uma fonte da organização.

 

Cantor lusodescendente ganha lugar no Passeio da Fama de Toronto3

 

“Vamos homenagear este ano cinco personalidades: a título póstumo, José Mário Coelho (antigo líder comunitário), o cantor Shawn Desman, o jogador profissional de hóquei em patins John Tavares, a juíza Maria de Sousa, e o empresário José Correia”, afirmou o empresário Manuel da Costa, presidente da comissão do Passeio da Fama.

 

 

 

A distinção teve lugar no domingo, em Toronto, na Camões Square, na College St, onde está localizado o monumento de homenagem a luso-descendentes que se notabilizaram no Canadá.

 

Cantor lusodescendente ganha lugar no Passeio da Fama de Toronto1

 

O Passeio da Fama foi criado há três anos pelo empresário com o objetivo de “promover aqueles que façam a diferença no dia a dia da comunidade”.

 

 

“Às vezes, temos de acreditar e investir em coisas em que acreditamos. A cultura sempre foi muito importante. E por isso fiz estes projetos para oferecer à comunidade, que espero que aprecie e que lhe dê continuidade. Isto não é um projeto privado, é da comunidade, temos uma comissão que gere todas as nomeações”, sublinhou.

 

 

Além de ser o responsável por aquela obra, Manuel da Costa criou há 13 anos a Galeria de Arte para os Pioneiros Portugueses, trabalhos que foram reconhecidos pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, que o agraciou a 28 de fevereiro de 2014, com a Comenda da Ordem de Mérito.

 

Cantor lusodescendente ganha lugar no Passeio da Fama de Toronto2

 

O Passeio da Fama já distinguiu figuras ilustres da comunidade como é o caso de cantora Nelly Furtado, do primeiro carteiro oficial do Canadá Pedro da Silva, um dos pioneiros da imigração, o pai do ministro das Finanças do Ontário, António Sousa, o líder comunitário de Winnipeg Pedro Correia, Michael Nobrega, antigo diretor-geral da OMERS (fundo de pensões do Ontário) e Ana Lopes, dirigente associativa em organizações sem fins lucrativos.

 

 

 

Nelly Furtado mostrou grande “satisfação” e “orgulho” por integrar o Passeio da Fama duma comunidade enorme que marca que tem uma longa história no Canadá.

 

 

“Estou muito orgulhosa em ser portuguesa. Sempre senti essa enorme parte de quem sou e também sinto que como portugueses devemos tentar seguir em frente com coragem e confiança no futuro e nas nossas capacidades com criatividade para tentarmos superar os nossos dilemas pessoais”, afirmou Nelly Furtado à Lusa.

 

 

A cantora, filha de emigrantes açorianos de Ponta Garça (S. Miguel), referiu ainda a importância de ser lusodescendente. “É muito pessoal, em muitos níveis, desde passar algum tempo livre ou férias em S. Miguel (Açores), durante anos e anos, desde expressar a minha musicalidade e as influências que tenho das minhas raízes para a música”, disse.

 

 

Oficialmente, existem 429 mil portugueses e lusodescendentes no Canadá, segundo o recenseamento de 2011, mas as estimativas apontam para 550 mil, estando a grande maioria localizada na província do Ontário.

 

 

Lusa/TPT/8/6/2015

 

 

 

O Santuário do Bom Jesus de Braga vai passar a ser Basílica do Bom Jesus

O Santuário do Bom Jesus, em Braga, será “brevemente” elevado à categoria de basílica, sendo este “um passo significativo” que reforça a candidatura do templo a Património Mundial da Unesco, informou aquela arquidiocese.

 

 

Em comunicado, a Arquidiocese de Braga acrescenta que, no âmbito daquela candidatura estão ainda em curso várias iniciativas “de particular interesse”, como obras de limpeza e requalificação da instância do Bom Jesus, concertos e uma conferência internacional.

 

 

O Santuário do Bom Jesus do Monte é constituído por um conjunto arquitetónico e paisagístico que integra uma igreja, um escadório onde se desenvolve a via-sacra, uma área de mata com 55 hectares, alguns hotéis e um funicular.

 

 

A coordenadora da candidatura a Património Mundial, Teresa Anderson, já se manifestou confiante no sucesso da iniciativa, sublinhando tratar-se de “um lugar único, com uma história de 600 anos, muito bem fundamentada” em várias fontes de informação, com material de natureza monográfica e iconográfica.

 

 

“Neste caso, o material iconográfico é particularmente rico e raro”, enfatizou, para lembrar que a fundamentação da história é um dos fatores que mais pesam nas decisões da Unesco.

 

 

A especialista disse ainda que a UNESCO também dá muita importância à questão da gestão do património a classificar, para que ele não venha a ficar ao abandono.

 

 

“Também esta questão está garantida, já que o santuário é gerido pela Confraria do Bom Jesus”, acrescentou.

 

 

Outros “trunfos” da candidatura assentam no facto de se tratar de um lugar “de muita concentração de arte” e de “muito engenho técnico”, este último relacionado com o funicular movido a água.

 

 

Além disso, “há continuação de investimento” no santuário, o que contribui para a constituição de “um todo homogéneo”, além de ser uma garantia de que há quem vele por aquele património.

 

 

O arcebispo de Braga, Jorge Ortiga, também já manifestou “fé” no sucesso da candidatura, considerando que o Bom Jesus integra um património “de valor incalculável”.

 

 

Como sublinhou, os milhares de turistas que ali vão anualmente são a prova da “dimensão mundial” do santuário.

 

 

 

 

Lusa/11/6/2015

 

Lisboa. Nova taxa começa a ser cobrada em novembro

A Taxa Municipal de Proteção Civil criada este ano pela Câmara de Lisboa vai ser cobrada aos proprietários em novembro, informou o vereador das Finanças da autarquia.

 

 

No orçamento municipal para este ano estava previsto que a liquidação desta taxa anual se realizasse “no segundo semestre de cada ano económico”, isto é, entre julho e dezembro.

 

 

“Vamos propor à Câmara, na próxima reunião, várias alterações ao regulamento de taxas – correções e ajustamentos – e a fixação dessa data que ainda não estava” definida, disse à agência Lusa o responsável pelos Recursos Humanos e Financeiros do município, João Paulo Saraiva, aludindo à escolha do mês de novembro para a liquidação.

 

 

Com a Taxa Municipal da Proteção Civil, que visa financiar investimentos no setor, a Câmara pretende arrecadar 18,9 milhões de euros por ano. Esta nova taxa vem substituir a taxa de conservação e manutenção dos esgotos, que se vai juntar à do saneamento.

 

 

Segundo João Paulo Saraiva, o município definiu a cobrança para novembro com o intuito de “não criar grandes alterações ao ritmo de taxação”, fazendo coincidir a altura de cobrança da antiga Taxa Municipal de Conservação de Esgotos com a da Proteção Civil.

 

 

O autarca dos Cidadãos Por Lisboa (eleito nas listas socialistas) assegurou que os proprietários “não vão sentir diferença, [já que] o valor é muito idêntico” ao que era cobrado anteriormente.

 

 

Contudo, a autarquia vai “penalizar fortemente todos aqueles que deixam os edifícios abandonados, deixando vazios urbanos na cidade que prejudicam as pessoas que [aqui] querem residir”, apontou o responsável, referindo que estas situações também originam “problemas de insalubridade, de risco de incêndio e de risco de criminalidade”.

 

 

Na primeira versão do orçamento municipal para este ano, lê-se que a Taxa Municipal de Proteção Civil incide sobre o “valor patrimonial tributário dos prédios urbanos ou frações destes, situados no concelho de Lisboa”.

 

 

Incide ainda “sobre as atividades e usos de risco acrescido em edifícios, recintos ou equipamentos”, tais como as redes de distribuição de gás, de água e de eletricidade, a rede ferroviária e as infraestruturas aeroportuárias e portuárias.

 

 

A estas últimas entidades será aplicada uma taxa anual de 50 mil euros.

 

 

No que toca aos prédios urbanos, a taxa é de 0,0375% do valor patrimonial tributário, subindo para os 0,3% no caso dos prédios degradados, indica a primeira versão do orçamento.

 

 

Já os proprietários dos prédios devolutos ou em ruínas deverão contar, a partir do próximo ano, com uma taxa de 0,6% do valor patrimonial tributário.

 

 

João Paulo Saraiva informou que estão em vista “investimentos associados ao sistema de proteção civil” na cidade e que se prendem, por exemplo, com a modernização do Regimento de Sapadores Bombeiros, ao nível das instalações, dos equipamentos e da operacionalidade.

 

 

Antes do orçamento deste ano, existia uma taxa que englobava o saneamento básico e a recolha de resíduos urbanos e que estava incluída na fatura da água. Em janeiro, a autarquia autonomizou estas tarifas, no seguimento da imposição da reguladora do setor, o que levou a aumentos nas faturas da água.

 

 

“Estamos a monitorizar” o processo, ao nível do impacto financeiro para famílias e empresas, “mas para podermos apresentar alguns resultados teremos de demorar mais um pouco”, observou João Paulo Saraiva.

 

 

O autarca entrou há cerca de dois meses para o executivo, após a saída do ex-presidente, António Costa.

 

 

Diana Quintela / Global/11/6/2015

 

 

Jornal italiano acusa a FIFA de favorecer a Coreia do Sul no Mundial de 2002

Coreia do Sul comemora a vitória sobre a Espanha nos quartos de final do Mundial de 2002.

 

 

 

A FIFA poderá adicionar mais um escândalo de corrupção à lista. De acordo com o jornal italiano Corriere dello Sport, a federação internacional de futebol teria favorecido a Coreia do Sul durante o Mundial de 2002, realizado conjuntamente entre a Coreia e o Japão. Numa reportagem publicada esta sexta-feira, o jornal afirma que Jack Warner, ex-vice-presidente da FIFA e ex-presidente da CONCAF (Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe), teria influenciado a equipa de árbitros para beneficiar a seleção coreana no jogo contra a Espanha nos quartos de final. O objetivo era favorecer a chegada do país anfitrião à fase final da competição.

 

 

 

Segundo o Corriere dello Sport, Warner escolheu o árbitro egípcio Al-Ghandoury e o assistente tobaguiano Michael Ragoonath para apitar o jogo, marcado pelos dois golos anulados à equipa espanhola e por diversas decisões contestadas pela Espanha, que resultaram num empate a zero até o tempo regulamentar. O jogo foi decidido nos penáltis, com a vitória da Coreia do Sul por 5 – 3.

 

 

 

“[Os italianos] Sempre esperamos o pior possível do presidente da FIFA, Joseph Blatter: tínhamos denunciado o ‘complot’ no campo, agora as investigações do FBI demonstram que a FIFA ia muito, muito mais além”, afirma o jornal.

 

 

 

Apesar de não acusar Warner formalmente pela escolha da equipa de árbitros para o jogo entre a Coreia do Sul e Itália, nos oitavos de final, o Corriere dello Sport também vê com ceticismo o resultado do jogo que deu a vitória de 2 – 1 no prolongamento aos coreanos.

 

 

 

O árbitro equatoriano Byron Moreno, responsável pelo jogo, expulsou o jogador Francesco Totti, decisão que foi duramente contestada após o jogo, além de ter anulado um “golo de ouro” de Tomassi, que garantiria a classificação da Itália aos quartos de final. Moreno foi recentemente libertado de uma sentença de 26 meses por tráfico de drogas em Nova Iorque, segundo avançou a publicação.

 

 

 

Antes, na primeira fase da competição, os coreanos enfrentaram Portugal no Grupo D, num confronto marcado pela expulsão do jogador João Vieira Pinto aos 26 minutos, após uma falta registada pelo árbitro Ángel Sánchez. No mesmo jogo, Beto foi expulso aos 65 minutos de jogo, com acumulação de cartões amarelos. Resultado? A partida terminou com o resultado de 1-0 para os coreanos. A publicação italiana, no entanto, não cita esta partida entre as acusações feitas ao ex-dirigente da FIFA.

 

 

 

Jack Warner esteve detido numa prisão de Trinidad e Tobago, após ser relacionado ao escândalo de corrupção da federação, que indiciou antigos e atuais dirigentes por associação criminosa e corrupção. Ele abandonou a prisão numa ambulância esta sexta-feira, alegando sofrer esgotamento, após pagar uma caução de cerca de 360 mil euros.

 

 

 
Getty Images/Milton Cappelletti

 

 

Observador

 

 

05/05/2015

 

 

 

 

Parlamento Britânico aprova Projeto de Lei que permite Referendo sobre União Europeia

O projeto de lei que vai permitir convocar no Reino Unido um referendo sobre a permanência na União Europeia foi hoje aprovado no parlamento britânico com o voto da maioria dos deputados.

 

 

 

Com a aprovação, a Câmara dos Comuns deu luz verde à legislação que vai permitir ao primeiro-ministro britânico, David Cameron, convocar o referendo antes do final de 2017.

 

 

 

O texto, que prevê questionar os britânicos sobre se “Deverá o Reino Unido permanecer como membro da União Europeia?”, vai agora passar por uma nova fase, durante a qual vão ser debatidas mudanças e emendas a cláusulas em particular.

 

 

 
A oposição trabalhista, que subscreve o pedido de consulta, mas que fará campanha a favor do ‘sim’, defende que a lei deve ser revista para ser autorizado o voto a pessoas com 16 e 17 anos de idade.

 

 

 

O Partido Nacionalista Escocês, com um peso inédito na Câmara do Comuns desde as eleições de 07 de maio, defende que os cidadãos da União Europeia residentes no Reino Unido devem participar no referendo, uma opção vetada no projeto de lei dos conservadores.

 

 

 
O primeiro-ministro britânico comprometeu-se na última campanha eleitoral fechar um acordo com Bruxelas e convocar um referendo antes do final de 2017, mas não descartou a possibilidade de antecipar o referendo para 2016 se as negociações com a União Europeia ficarem concluídas antes do previsto.

 

 

 
Segundo as últimas sondagens, 16% por cento dos britânicos vão votar a favor da permanência na União Europeia, enquanto 12% vai defender a saída.

 

 

 
Dos restantes cidadãos britânicos, que ainda não têm uma posição definitiva, 31% aponta para a permanência na União Europeia, enquanto 28% estão mais inclinados para votar na saída.

 

 

 
O projeto de lei foi aprovado com 544 votos a favor e 53 contra.

 

 

 

 

 
Foto: POOL New

 

 

 
Reuters

 

 

 

 

Juiz dos EUA condena Argentina a pagar 4.700 milhões de euros a credores

Um juiz dos Estados Unidos condenou, esta sexta-feira, a Argentina a pagar cerca de 5,2 mil milhões de dólares (4,7 mil milhões de euros) a aproximadamente 500 credores que querem ser ressarcidos nos mesmos termos de outros detentores da dívida.

 

 

 

O veredito, de 26 páginas, assinala que Buenos Aires incorreu em violação da cláusula de igualdade de tratamento dos seus contratos.

 

 

 

A Argentina encontra-se envolvida numa batalha jurídica com fundos especulativos que recusaram as reestruturações da dívida feitas em 2005 e 2010.

 

 

 

Juiz dos EUA condena Argentina a pagar 4.700 milhões de euros a credores1

 

A cidade de Buenos Aires, capital da Argentina

 

 

 

 

A justiça norte-americana condenou anteriormente Buenos Aires a pagar 1,3 mil milhões de dólares (mil milhões de euros) à NML Capital e Aurelius, dois fundos “abutres” especializados no pagamento de dívidas de risco e detentores de menos de 1% da dívida em causa.

 

 

 

 

A Argentina recusa-se, porém, a pagar sob o argumento de que isso comprometeria toda a reestruturação aceite pela maioria dos credores.

 

 

 

O juiz norte-americano responsável pelo litígio, Thomas Griesa, fez saber da existência de 36 ações, envolvendo cerca de 500 credores, os quais exigem ser ressarcidos nas mesmas condições definidas para os fundos “abutre” norte-americanos.

 

 

 

Griesa tinha decretado que a Argentina não podia fazer pagamentos da dívida reestruturada (dívida relativa à falência de 2001) sem pagar primeiro aos fundos especulativos, NML Capital and Aurelius Capital Management.

 

 

 

Os dois fundos recusaram-se a participar na reestruturação, ao contrário da maioria dos credores, e exigem o pagamento total dos títulos, acrescidos de juros.

 

 

 

A recusa em pagar aos “fundos abutres” e o congelamento dos pagamentos aos restantes credores imposto por Griesa levou o país a nova falência, no final de julho do ano passado.

 

 

 

Estes fundos de investimento, à semelhança dos 500 que ganharam a causa esta sexta-feira, fazem parte dos 7% dos credores que rejeitaram os termos da reestruturação da dívida.

 

 

 

Carmine Boccuzzi, advogado da Argentina, estimou, durante uma audiência realizada no passado dia 29 de maio, que a dívida dos cerca de 500 demandantes representava aproximadamente 5,2 mil milhões de dólares (4,7 mil milhões de euros).

 

 

 

O Ministério da Economia argentino reagiu já, revelando, em comunicado, que pretende recorrer da decisão judicial nos Estados Unidos.

 

 

 

“Estes demandantes são os mesmos fundos abutre que obtiveram uma decisão idêntica no passado, só que agora disfarçam-se em novas causas (…) com o objetivo de exercer mais pressão”, disse o ministério argentino liderado por Axel Kicillof.

 

 

 
ALEJANDRO PAGNI/AFP

 

 

 

06/06/2015

 

 

 

 

Enviado das Nações Unidas para a Líbia avisa que país pode tornar-se um ‘Estado falhado’

O enviado especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Líbia, Bernardino León, avisou que o país “chegou ao limite” e que, se não houver um acordo em breve, a Líbia poderá tornar-se um “Estado falhado”.

 

 

 

“Se as partes [em conflito] não entendem que a Líbia chegou ao limite, o resultado poderá ser a transformação do país num Estado falhado”, declarou, citado pela agência espanhola EFE.

 

 

 

O diplomata espanhol chegou esta manhã à capital argelina procedente do Qatar para preparar uma reunião, prevista para a próxima semana em Marrocos, na qual as partes em conflito na Líbia deverão limar as suas discordâncias.

 

 

 

O encontro, na localidade marroquina de Sirjaat, ainda não foi confirmado, já que até ao momento apenas o Governo internacionalmente reconhecido, estabelecido em Tobruk, confirmou a sua presença.

 

 

 

O grupo que exerce o poder em Tripoli, considerado rebelde, é o mais reticente a aceitar o plano de paz proposto por Bernardino León, já que acredita que este é uma mera manobra para ganhar tempo e que não soluciona os problemas essenciais.

 

 

 

 

Enviado da ONU para a Líbia avisa que país pode tornar-se um ‘Estado falhado’24

 

 

A este respeito, o enviado da ONU insistiu hoje na urgência de que ambas as partes aceitem “renúncias difíceis”, já que o espetro do colapso financeiro e o fortalecimento do ramo líbio do grupo extremista Estado Islâmico (EI) colocam o país “a escassos centímetros do abismo”.

 

 

 

Enviado da ONU para a Líbia avisa que país pode tornar-se um ‘Estado falhado’19

 

 

“A insegurança financeira e a presença do ramo do EI devem unir ambas as partes em conflito”, acrescentou o enviado especial.

 

 

 

A Líbia tem sido palco de conflitos armados internos desde que em 2011 uma revolta contra Muammar Kadhafi degenerou em guerra civil, conseguindo depois de oito meses de conflito derrubar o regime após a intervenção da comunidade internacional.

 

 
Dois governos, um considerado ilegítimo, estabelecido em Tripoli, o outro internacionalmente reconhecido com sede em Tobruk, lutam pelo poder, enquanto grupos extremistas aproveitam o caos para ganhar terreno.

 

 

 

Nos últimos meses, o ramo líbio do EI consolidou a sua posição na cidade de Derna no leste do país, e avançou sobre a localidade costeira de Sirte, a cerca de 250 quilómetros de Tripoli, onde já dominam alguns bairros.

 

 

 

O grupo terrorista ocupou a base militar de Qardabiya, desde a qual se controla o aeroporto civil de Sirte, a 29 de maio.

 

 

 

Segundo testemunhas no terreno citadas pela EFE, o EI já está próximo das ruínas do que um dia foi o projeto megalómano de Kadhafi – o Grande Rio Artificial – e aviões leais ao Governo de Tobruk bombardearam as zonas controladas pelo grupo, sem o conseguir expulsar.

 

 

 

A 31 de maio, um atentado suicida do EI abalou a cidade de Misrata, considerado o último bastião de resistência antes da capital, e o grupo conseguiu avanços militares em Benghazi, segunda cidade do país e cenário desde há um ano de duros combates entre as forças das duas partes em conflito.

 

 

 
AFP

 

 

03/06/2015