Artistas portugueses que vingam lá fora. E contam como

De Lisboa para a série “Gossip Girl” ou como a cultura portuguesa está espelhada em documentários franceses e edifícios na China. As histórias de Ana Romero, Cristóvão Fonseca e Pedro Lucas Feire.

 

 

 

Questionar. Fazer as malas. “Quando achamos que estamos no bom caminho e que finalmente encontrámos o que queríamos, devemos viajar. Para questionar tudo de novo”, diz Pedro Lucas Freire. Arquiteto realizador. E jovem – tem 28 anos. Responde ao Observador na Bélgica, em Antuérpia, onde integra a equipa de arquitetos da Poponcini & Lootens. Pelo meio, China e uma mão cheia de prémios. Diz que saber o que não se deve fazer é mais importante do que saber como fazer. Essencial é “ver tudo de uma outra perspetiva”.

 

 

Pedro Lucas Freire é um dos candidatos ao prémio.

 

 

Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa, que desde 2008 distingue os portugueses que pela sua atividade empreendedora e inovadora se distinguiram além-fronteiras. Com o alto patrocínio do Presidente da República e promovido pela Cotec – Associação Empresarial para a Inovação, este prémio pretende fortalecer a ligação dos portugueses ao país de origem e reforçar a imagem de Portugal no estrangeiro. Mais: pretende refletir a internacionalização da economia e atrair investimento. As candidaturas para a edição de 2015 estão abertas até 31 de março.

 

 

 

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Pedro Lucas Freire tem 28 anos. Quando tinha 20, foi estudar para a Antuérpia, na Bélgica.

 

 

 

Pedro Lucas Feire é natural da Ericeira, mas aos 20 anos saiu do país para estudar Arquitetura e Cinema em Antuérpia. Queria estudar “a componente mais teórica e filosófica do cinema”. Optou por se licenciar em arquitetura, porque sabia que isso não o impediria de continuar a filmar (coisa que não aconteceria se fizesse a escolha inversa). O coração sempre se dividiu entre as duas paixões. Enquanto estudou, realizou curtas-metragens e videoclipes para bandas. Foi um autodidata, que aos 19 anos ganhou prémios e menções nacionais com a curta-metragem “Inquietude”.

 

 
Quando terminou os estudos na Bélgica, foi para a China. Depois de ter passado por alguns ateliês de arquitetura, começou a realizar curtas-metragens documentais para o Shenzhen Center for Design, que corresponde à Ordem dos Arquitetos local. Estava decidido a ficar na cidade, mas desiludido com o método de empregabilidade e com a rede de contactos que tinha construído até então. Não baixou os braços. Recrutou uma equipa de jovens arquitetos estrangeiros e preparou uma apresentação do potencial da equipa ao presidente da CSCEC Shenzhen, construtora estatal chinesa, que está entre as maiores do mundo.

 
“Penso que os elementos-chave foram um forte aperto de mão, boa disposição, uma boa apresentação e a humildade patente no esforço de tentar os primeiros dois minutos de conversação em mandarim, explicando o meu percurso e experiência”, explicou. Dois anos depois de estar a liderar a equipa de arquitetura da única construtora que integra o top 100 do ranking das 500 maiores empresas da Fortune – é uma das três maiores construtoras do país, de acordo com o Fortune 500 China, de 2014 -, voltou para a Bélgica.

 

 

 

“A saudade não é brincadeira. Nem vergonha. Há que tê-la em conta e resistir-lhe até poder.” – Pedro Lucas Freire, arquiteto.

 
Da CSCEC, trouxe uma menção honrosa pelo Grand Theater de Xiangyang. “Um edifício icónico a contrariar a tendência de uma arquitetura mais monumental e de estado. Por ter acontecido nos primeiros seis meses da minha presença, foi um arrojo que fez merecer a continuação do voto de confiança que me havia sido dado”, conta.

 

 
O que é mais difícil quando se quer ter sucesso fora do país que o viu nascer? A ausência da família, dos amigos e do contexto cultural. “Os portugueses perpetuam um sentimento de nostalgia e dor pela distância, que nos persegue desde os Descobrimentos. É importante o espírito de aventura e lembrar que a tecnologia encurta as distâncias”, diz. E lembrar que o melhor amigo, agora, pode ser virtual. Chama-se Skype e ajuda a aproximar as pessoas a milhares de quilómetros de distâncias. As passagens de avião são encaradas quase como bilhetes de autocarros, conta.

 
“A saudade não é brincadeira. Nem vergonha. Há que tê-la em conta e resistir-lhe até poder”, lembra Pedro Lucas Freire. Segredos para o sucesso? Vários. Começando pelo (não problema) de expressão. Um nível de inglês que se quer “incontestável” e talvez o domínio de uma terceira língua. Depois, conhecer bem a realidade do país de eleição. “Estudar os costumes da cultura que iremos encontrar”, diz. E nada existe sem uma rede de contactos, explica Pedro Lucas Freire. Daí ser tão importante que os empreendedores “se misturem” com os locais.

 

 
“Somos um país de descobridores. Porque somos educados numa cultura que nos é extremamente íntima.” – Pedro Lucas Freire, arquiteto.

 
“Não existe mau networking. Todas as pessoas que conhecemos, de uma forma ou de outra ligam-nos e aproximam-nos um pouco mais do próximo passo das nossas vidas”, revela Pedro Lucas Freire. A que se segue a humildade, a ambição e a vontade de aprender. É por isso que diz que a humildade leva as pessoas até onde elas querem de uma forma mais sustentável. E pensa voltar? Pensa. “Porque somos um país de descobridores. Porque somos educados numa cultura que nos é extremamente íntima”, diz.

 
Pedro Lucas Freire lembra os valores de família e os laços de amizade que se sentem em Portugal, diferentes do que se sente noutros países. “O nosso céu azul, o nosso jeito e trato, a nossa gastronomia fazem os portugueses que estão fora sonhar com o dia em que voltam. Com mais ou menos pressa, mais ou menos ansiedade, mas a vontade, essa, é decerto geral”, diz. Sem esquecer o “potencial gigantesco” que o arquiteto acredita que os portugueses têm, bem como o facto de serem dos povos “mais trabalhadores e motivados” que já conheceu.

 
“Desejo que um dia todas as condições estejam reunidas para que os que desejam regressar possam contribuir para o desenvolvimento e crescimento do país e que olhemos para nós próprios como um exemplo de qualidade e não como uma nação na busca de estar ao nível das demais”, explicou.

 

 

“É mais fácil ser artista em França do que em Portugal”

 
O “potencial” de ser português. Mito ou realidade? Para Cristóvão Fonseca, 38 anos, realizador luso-francês, realidade. Sobretudo, em França. É a capacidade de os portugueses saberem desenrascar-se que os distingue, conta. A capacidade de improvisarem face ao inesperado. Como o Estado português não promove tantos apoios à cultura, não hesita: “É mais fácil ser artista em França do que em Portugal”, diz.
Nasceu em Paris, filho de emigrantes, mas é um entusiasta da cultura portuguesa. É por isso que a promove sempre que pode e faz dela objeto central de filmes e documentários. Mais: é por causa desta cultura que não o viu nascer, mas pela qual se apaixonou, que está a lançar uma produtora em Portugal para investir em vários setores da indústria criativa nacional. Objetivo: realizar filmes e documentários que promovam os artistas portugueses fora do país.

 

 

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Cristóvão Fonseca recebeu uma menção honrosa no Prémio Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa, em 2012.

 

 
Esta vontade de levar a voz, a cor e a imagem dos portugueses além-fronteiras já lhe valeu o reconhecimento do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, com a menção honrosa do Prémio Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa, em 2012. Cristóvão Fonseca estudou cinema e jornalismo e colaborou durante dez anos com as principais produtoras e agências de imprensa francesas. Em 2007, lançou uma produtora especializada na realização de documentários e de grandes reportagens para a televisão francesa e internacional. Produziu mais de cinquenta.

 
O reconhecimento tem acompanhado a carreira de Cristóvão Fonseca. Com o filme “Des femmes en blanc”, viu o seu trabalho ser distinguido com o prémio de melhor documentário, em 2008, que foi atribuído pelo público da France Televisions. Mas aquele que lembra como o maior foi o que dedicou aos pais e avós e que veio pela mão do Presidente da República. “Dediquei o prémio aos emigrantes no geral. Acho que foram gerações (a dos meus pais e avós) que nunca foram reconhecidas e que me inspiraram ao longo da minha carreira e vida”, explicou ao Observador.

 

 

A quem quer empreender e ter sucesso lá fora, o realizador lusodescendente sugere que cheguem ao país de destino “com as malas cheias”. O truque está em aproveitar a riqueza do património cultural português. “Nos últimos anos, as pessoas começaram a valorizar. Está a emergir uma paixão sobre a cultura [portuguesa]. A ideia é que as pessoas viajem com as malas cheias dessa cultura e façam a diferença com ela”, diz.

 
“Em Portugal, há a sorte de a indústria ainda estar pouco desenvolvida e há uma espécie de tesouro que está pouco valorizado. Ainda há muito por fazer.”  –  Cristóvão Fonseca, realizador.

 

 

Cristóvão Fonseca conta que a ideia de fazer de Portugal a sua casa cresce de dia para dia. Mesmo sabendo as dificuldades que o país atravessa, diz, acredita que as indústrias criativas são o futuro. E que se aproxima cada vez mais, porque acredita “imenso” na cultura portuguesa. “É a indústria onde temos de apostar. Em Portugal, há a sorte de a indústria ainda estar pouco desenvolvida e há uma espécie de tesouro que está pouco valorizado. Ainda há muito por fazer”, diz. Um tesouro por descobrir?

 
Ana Romero, da costura da avó os estampados de Nova Iorque
Aos 29 anos, Ana Romero Monteiro trocou as ruas de Lisboa pelas nova-iorquinas. A luz amarela pelos ecrãs publicitários de Times Square. E a mudança na direção fez com que na série de televisão “Gossip Girl”, as capas do iPhone de Blake Lively, falassem português. Tudo culpa de uma “paixão por estampados”, que fez com que o Design de Comunicação ficasse pelo caminho.

 

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Ana Romero mudou-se para Nova Iorque quando tinha 29 anos.

 
“Apaixonei-me pelos estampados através da internet, embora as linhas e os tecidos tenham sempre estado presentes na minha vida, desde muito pequena. Aprendi a coser com sete ou oito anos, pelas mãos da minha avó. Acho que foi aí que a paixão começou”, conta. Foi para Nova Iorque por causa de uma proposta de trabalho que o marido recebeu. Na cidade que nunca dorme, começou por criar e vender estampados em feiras de especialidade. Mostrava-os aos clientes, que eram sobretudo startups ou empresas pequenas, em mostras privadas. Mas começou a sentir que os desenhos eram apenas “uma peça na engrenagem” da sua criatividade. Queria ter controlo sobre o produto final.

 
“Ver toda aquela iniciativa inspirou-me a criar a minha coleção. Quis aproveitar ao máximo a oportunidade de estar num dos principais centros de moda e desta vontade de querer fazer coisas que é tão característica do espírito nova-iorquino”, conta. Em 2012, aventurou-se a lançar a marca de acessórios de moda “Ana Romero”, que se dirige ao mercado de gama alta e que tem por base os estampados coloridos, de inspiração ótica e com complexas paletas de cores.

 

 

“Ela garantiu-me que se a Blake Lively gostasse utilizaria na sua personagem e assim foi. Ver o meu produto com aquele destaque no pequeno ecrã foi fantástico.” –  Ana Romero Monteiro, designer.

 

 

“É uma marca jovem, colorida, que aposta na inovação, na criatividade, no design e na qualidade. Há um investimento na utilização de novas tecnologias, como a impressão digital, e em materiais e acabamentos de alta qualidade”, diz. Quando decidiu arrancar com o seu projeto, selecionou os estampados que considerou que melhor representavam o seu trabalho e começou a produzir os primeiros protótipos das capas para iPhone e lenços. Apresentou-os na feira de design International Contemporary Furniture Fair.

 
Foi o ponto de partida para a entrada na loja de artigos de luxo Barneys. Duas responsáveis pelo departamento de compras da loja perguntaram à jovem se poderiam ter as capas para iPhone em exclusivo na Barneys para o período de Natal. Aceitou. “Criámos uma embalagem especial, a pensar no cliente de luxo, e correu muito bem”, conta. Algum tempo depois, voltou a fazer uma coleção exclusiva para a Barneys, que estará à venda em abril.

 

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A personagem Serena a utilizar as capas de Ana Romero no iPhone.

 

 

As capas de iPhone de Ana Romero saíram da Barneys. E chegaram à série que Blake Lively protagoniza com Leighton Meester nos papéis de Serena van der Woodsen e Blair Waldorf, respetivamente, a Gossip Girl. A pessoa responsável pelos adereços da série viu as capas online e contactou a jovem. Ana Romero enviou-lhe algumas amostras. “Ela garantiu-me que, se a Blake Lively gostasse, utilizaria na sua personagem e assim foi. Ver o meu produto com aquele destaque no pequeno ecrã foi fantástico, porque a série tem uma verdadeira legião de fãs no mundo inteiro”, conta, acrescentando que ainda hoje aquele é o modelo mais procurado.

 

 

De Nova Iorque para a Suíça, por questões familiares. E em 2014, o registo da empresa em Portugal. Depois de dois anos mais conturbados, 2015 começou a “dar frutos”, explica Ana Romero. “A minha coleção chega ao Barneys em abril, vou fazer a minha primeira exposição no ‘foyer’ do Grande Auditório do CCB a convite da Metropolitana (5 de Abril), os nossos produtos estão à venda no Harrods numa parceria com a marca Portuguesa Fine&Candy, vou lançar uma coleção de artigos em pele e temos agora uma excelente agente no Reino Unido com bons contactos no mundo inteiro”, explica a jovem.

 

 
“O investimento na internacionalização, como aliás quase tudo num negócio, nunca dá frutos imediatos. É preciso ter resistência e ir perseverando lentamente.” –  Ana Romero Monteiro, designer.

 

 
Além dos Estados Unidos da América (EUA), a marca Ana Romero está presente na Irlanda, no Japão, em Taiwan, no Canadá, em Portugal e no Reino Unido. Sobre as grandes dificuldades de quem quer empreender além-fronteiras, diz que o pior são os custos financeiros. De resto, confessa, só encontra vantagens, porque há um mercado “enorme”.

 
Dicas para quem quer tentar a sua sorte lá fora: expor em feiras internacionais, porque é a melhor forma de dar a conhecer um produto ou serviço no estrangeiro, diz. “Fazem-se contactos valiosos”, refere. Acrescenta a importância de definir objetivos em termos de mercado e concentrar esforços, para que não haja dispersão. “Com isto não quero dizer que devamos ignorar clientes de outros mercados, mas que todo o investimento de captação de clientes em novos mercados deve ser objetivo”, diz.

 

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Ana Romero vende vários acessórios de moda, como capas para iPhone ou lenços.
Confiança no produto e demonstrá-la é outro dos conselhos, bem como a persistência, velha aliada dos empreendedores. “O investimento na internacionalização, como aliás quase tudo num negócio, nunca dá frutos imediatos. É preciso ter resistência e ir perseverando lentamente”, revela. Por último, uma expressão em inglês “Work hard and be nice to people”, ou seja “trabalha muito e sê simpático para as pessoas”.

 

 

Ana Romero Monteiro diz que partilhar o caminho e experiência que se tem com outros empreendedores é extremamente valioso para evitar erros, encontrar soluções ou levantar a moral. “Nunca se sabe de onde pode vir a inspiração ou até um potencial cliente ou fornecedor”, disse. Tem 33 anos, vive na Suíça, e é uma das empreendedoras que leva a marca nacional a viajar pelo mundo.

 

Quem serão os próximos?

 

 

23 /3/2015

Autor: Ana Pimentel / Observador

 

 

 

Português abre loja de armas em Nova Iorque

Parece impensável, mas aconteceu. Para não deixar morrer a discussão sobre o acesso às armas nos Estados Unidos, João Coutinho e a sua agência de publicidade puseram à venda um imenso arsenal.

 
“Mais de 60% dos americanos pensa que ter uma arma tornará as suas vidas mais seguras. Na verdade, ter uma arma aumenta os riscos de homicídio, suicídio e morte acidental”. É com estas palavras que tem início o vídeo, difundido ontem no YouTube e espalhado depois por todos os canais habituais de partilha, que o ramo nova-iorquino da agência de publicidade Grey criou para a organização States United to Prevent Gun Violence.

 
O filme em causa não é uma criação publicitária comum. Resulta, na realidade, de uma ação levada efetivamente a cabo nas ruas de Nova Iorque: a abertura de uma loja de venda de armas de todos os tipos e calibres. Com um convite explícito na montra: “Comprador de armas pela primeira vez? Estamos aqui para ajudar”.

 
O que à partida podia parecer uma despudorada forma de colocar à luz do dia mais centenas de armas nas mãos dos cidadãos era, na realidade, uma forma surpreendente de consciencialização. Porque as armas exibidas eram acompanhadas por uma história: todas elas estavam associadas a dramáticas mortes, fossem homicídios ou acidentais, verificadas nos Estados Unidos num passado recente. As reações dos compradores, captadas por câmaras escondidas, são as de quem leva aquilo a que metaforicamente se chama um murro no estômago.

 
Guns With History, assim se chama a campanha, teve direção criativa do português João Coutinho. O próprio recordou ao Observador que, antes desta, a agência desenvolveu uma outra, intitulada Unload Your 401K, que no ano passado foi amplamente premiada em todo o mundo. “O 401K é uma espécie de reforma, fundo de pensões americano, e os meus colegas na Grey descobriram que algum dinheiro desse fundo era usado para investir em armas. A ideia consistia num site onde as pessoas podiam ver se o seu 401k era usado em armas e, caso fosse, podiam cancelar esse financiamento. Se toda a gente levantar o seu 401K o lobby das armas fica enfraquecido”, explicou o criativo.

 
Desta vez, e ainda de acordo com Coutinho, a campanha é dirigida “às pessoas que querem comprar armas e que acreditam que uma arma as torna mais seguras”. Sabendo-se que “são constantes as tragédias que envolvem armas, muitas vezes compradas para proteção”.

 
O projeto levou cerca de quatro meses a desenvolver. “Apresentámos a ideia em finais de novembro e começámos a produzi-la em dezembro. Como é uma ideia pro-bono, tivemos que pedir muitos favores”, recorda. No início deste mês de março estava finalmente aberta a loja no Lower East Side, em Manhattan.

 
A avaliar pela repercussão que já começou a ter na comunicação social e em muitos outros espaços de discussão pública, particularmente as redes sociais, esta campanha serve para trazer novamente à tona a discussão em torno da facilidade de acesso às armas nos Estados Unidos. Mas antes de mensurado esse impacto, há um outro a que João Coutinho dá particular relevo: “Mais de 65% das pessoas saíram da loja sem vontade comprar uma arma”.

 
João Coutinho, que em fevereiro de 2014 se mudou da Ogilvy de São Paulo (Brasil) para a Grey de Nova Iorque, foi um dos autores da campanha Immortal Fans, para o Sport Club Recife, que entre vários outros prémios lhe valeu o Grand Prix na categoria Promo and Activation na edição de 2013 do Cannes Lions, o mais importante festival de publicidade do mundo. Não é absurdo esperar que esta nova campanha seja também consagrada em festivais pelo mundo fora.

 

Autor: Pedro Gonçalves – Observador -18/3/2015

 

 

 

Historiador quer investigar a guerra colonial

O historiador Nuno Pereira defendeu a necessidade de realizar uma investigação sobre a memória da guerra colonial, “um dos maiores tabus da história portuguesa”, enquanto há ainda testemunhas vivas.

 

 

“A história oficial diz pouco. É preciso aprofundar os factos”, afirma o investigador.

 

 

O historiador Nuno Pereira defendeu esta terça-feira a necessidade de realizar uma investigação conjunta, por especialistas africanos e de Portugal, sobre a memória da guerra colonial, enquanto há ainda testemunhas vivas. “A história oficial diz pouco. É preciso aprofundar os factos (…), devemos aproveitar que ainda há muitas testemunhas”, disse à agência Lusa o historiador, que participa hoje numa conferência sobre a luta pela independência das ex-colónias portuguesas de África.

 

 
Para o historiador, é fundamental desenvolver uma investigação de história e um trabalho de memória sobre este período, em parceria com investigadores dos países africanos e de Portugal. Segundo Nuno Pereira, a guerra colonial é “provavelmente um dos maiores tabus da história portuguesa”.

 

 
Na sua apresentação, o historiador, especialista em militância política, vai abordar os movimentos de solidariedade internacional da Suíça nos anos 1960 e 1970 que apoiaram as lutas de libertação em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.

 

 
Na conferência participa ainda o secretário executivo da Comissão Económica para África da ONU, o guineense Carlos Lopes, que vai abordar o papel e herança de Amical Cabral, o pai das independências da Guiné-Bissau e Cabo Verde.

 

 
Por ocasião dos 40 anos de independência das ex-colónias portuguesas de África, a associação de estudantes de história da Universidade de Genebra, a associação Atelier – história em movimento, o Centro Europa Terceiro mundo, e a Comissão de gestão de taxas de Universidade de Genebra organizam dois dias de debates dedicados à solidariedade internacional e aos movimentos independentistas.

 

 

MÁRIO CRUZ/LUSA – 17/3/2015

 

 

 

Tribunal decide penhora de bens do Consulado de Portugal em São Paulo

Em causa está uma dívida de mais de 10 mil euros a um funcionário que era vigilante no Consulado Geral. Empresa contratada faliu e a responsabilidade passou a ter de ser assumida por Portugal.

 

 

Caso pretenda, o Consulado de Portugal tem até ao dia 25 deste mês para recorrer.

 
Por causa de uma dívida de pouco mais de 10 mil e 700 euros, bens do Consulado Geral de Portugal em São Paulo, no Brasil, serão penhorados. O Tribunal Superior do Trabalho (TST) confirmou, no início deste mês de março, a sentença que, numa primeira decisão, estabeleceu a penhora. O Consulado poderá recorrer desta decisão.

 

 
O Consulado contratou o Grupo Pires Serviços Gerais para assegurar serviços de vigilância, a empresa faliu, um dos trabalhadores desse grupo reclamou uma dívida próxima dos 11 mil euros e recorreu aos tribunais. A justiça brasileira deu-lhe razão e condenou a representação consular “subsidiaramente pelas verbas trabalhistas não pagas.” Ou seja, o Consulado e o grupo seriam obrigados a pagar. Só que o grupo faliu.

 

 
Uma fonte oficial do Tribunal Superior do Trabalho do Brasil explicou ao Observador que Portugal ficou assim abrangido por aquilo que se denomina como “responsabilidade solidária”. O Consulado Geral contratou o grupo, o grupo não pagou e faliu, como terceira parte envolvida o Consulado teria de pagar.

 

 
O juiz de primeiro grau, do Tribunal Regional do Trabalho, “posteriormente, suspendeu a execução contra o Consulado, pela impossibilidade de penhora de bens de representação estrangeira, e determinou a expedição de carta rogatória, transferindo a execução do processo para Portugal”, pode ler-se num resumo da decisão, que está no site do Tribunal Superior do Trabalho.

 

 

O vigilante, defendendo que apenas os bens diplomáticos não seriam penhoráveis, recorreu dessa decisão, mas o Tribunal Regional rejeitou.

 

 
O proceso chegou então ao Tribunal Superior do Trabalho, no resumo elaborado pelo TST lê-se:

 
Para o Tribunal Regional, no entanto, seria praticamente impossível determinar o que seriam ou não bens essenciais à manutenção e administração da missão diplomática. Isso porque a definição de missão diplomática determinada pela Convenção de Viena utiliza termos genéricos e muito abrangentes, como “representar” o país estrangeiro, “proteger”, “negociar” e “promover”.

 

 

Ora, no acórdão da 7ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho o Ministro Relator, Douglas Alencar Rodrigues, diz que a penhora deve recair sobre “bens que não estejam afetados à missão diplomática ou consular”. Esta é a grande dificuldade do processo – saber o que é bem de missão diplomática e o que são bens diplomáticos. O acórdão refere que recusar “a possibilidade de que sejam encontrados bens do Estado estrangeiro que não estejam afetos à missão diplomática e consular” acabaria por enfraquecer a eficácia da condenação judicial.

 

 
A decisão foi tomada por maioria, o que significa que um dos três juízes da 7ª Turma votou vencido.

 
E agora?

 
Fonte oficial do Tribunal Superior do Trabalho (TST) disse ao Observador que Portugal pode recorrer desta decisão, apresentando “Embargos Declaratórios”, pode recorrer para o Supremo Tribunal Federal (Recurso Extraordinário), ou que pode ainda verificar-se um de três cenários: “a realização de um acordo entre as partes; a renúncia à imunidade pelo Estado português (muito improvável) e, finalmente, demonstrar os bens que não estejam vinculados à missão diplomática.”

 
A decisão do TST é 4 de março de 2015, mas o acórdão foi publicado no dia 13. Assim sendo, o Consulado terá até dia 25 de março para entrar com um recurso no TST.

 
O valor total da execução é de 37. 514,10 reais, qualquer coisa como 10. 726 euros.

 
O Observador contactou o Consulado de Portugal em São Paulo que remeteu um comentário para o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE). Contactado, o MNE ainda não emitiu qualquer reação ou comentário sobre o processo.

 

 

Autor: Ricardo Oliveira Duarte / Observador
19 de Março do 2015

 

 

 

Guerra dos Tronos tem novo trailer com muita luta e muitos dragões

Há lutas intermináveis pelo Trono de Ferro, Tyrion Lannister vê os dragões de Daenerys Targaryen pela primeira vez e os Starks continuam a bater-se pela sua linha familiar. Tudo num minuto e quarenta.

 

A pouco mais de um mês da estreia da quinta temporada de Guerra dos Tronos um novo trailer, lançado esta segunda-feira, mostra como a série se vai desenvolver nos próximos episódios. Entre confrontos constantes e dragões à solta, a luta pelo poder em Westeros não parece estar para terminar.

 

O trailer foi lançado no mesmo dia em que Richard Plepler, CEO da Apple, anunciou que a HBO vai integrar o serviço de televisão deste gigante tecnológico. As personagens aparecem com um toque mais sombrio e com Daenerys Targaryen ou a Mãe dos Dragões a mostrar-se pronta para combater pelo Trono de Ferro.

 
A estreia da quinta temporada da Guerra dos Tronos está marcada para 12 de abril.

 
Autor: Catarina Facão – Observador – 09/03/2015
FOTO: Getty Images

 

 

 

Seinfeld pode ficar disponível em streaming

Cada episódio pode render 500 mil dólares

 

 

A Sony está a negociar a venda de cada episódio de “Seinfeld” por mais de 500 mil dólares (cerca de 473 mil euros), o valor pago pelo Netflix em 2014 pela série de sucesso “Friends”.

 

 

Uma das séries mais famosas de todos os tempos, “Seinfeld”, pode estar prestes a chegar à internet, 25 anos depois da estreia em televisão, escreve a revista Variety. A Sony Pictures TV está a vender os direitos da série a sites como o Hulu ou a Amazon.

 

 

Segundo o Wall Street Journal, a Sony está a negociar a venda de cada episódio de “Seinfeld” por mais de 500 mil dólares (cerca de 473 mil euros), o valor pago pelo Netflix em 2014 pela série de sucesso “Friends”. A série completa de “Seinfeld”, que durou dez anos, tem 172 episódios.

 

 

“Seinfeld” tem tido várias reposições em estações de televisão locais e no cabo ao longo destes 25 anos, mas há quem acredite que o seu sucesso pode continuar na internet.

 

 

Criada por “Jerry” Seinfeld, a série de comédia, que se baseia no próprio criador e é protagonizada por este, é uma das mais emblemáticas dos anos 90. O cenário dos quase 180 episódios, espalhados ao longo de nove temporadas, passa-se num pequeno apartamento em Manhattan e gira em torno dos amigos Jerry, George, Kramer e Elaine.

 

 
Foto: AFP/Getty Images
Autor: Catarina Fernandes Martins

Observador – 13/03/2015

 

 

 

Os 80 caprichos de Goya mostram-se em Portugal

A série de gravuras do pintor espanhol mostra uma sátira da sociedade espanhola de finais do século XVIII, sobretudo da nobreza e do clero.

 

 

Depois de 12 de maio, as gravuras seguem para o Porto

 

 

Não é todos os dias que Portugal recebe uma série completa de obras de Francisco de Goya. Mas é isso mesmo que o público português vai poder ver até 12 de maio, no Torreão Poente do Terreiro do Paço, em Lisboa. A exposição segue depois para o Porto e outras cidades portuguesas.

 
Uma das pinturas mais famosas de Goya (1746-1828) está no Museu do Prado, em Madrid. Trata-se do imponente retrato do rei Carlos IV de Espanha e restante família real. Mas, apesar de pintor oficial da corte de Carlos IV, o pintor espanhol foi também um crítico feroz à sociedade em que viveu, como demonstra em “Caprichos”, uma coleção de 80 gravuras feitas no século XVIII que é uma sátira aos vícios mundanos, às instituições políticas, e às injustiças sociais infligidas pelas classes mais privilegiadas, a nobreza e o clero.

 
A exposição insere-se numa iniciativa da UNESCO, em paralelo com o plano Objetivos de Desenvolvimento do Milénio da Organização das Nações Unidas em prol da justiça social, e foi trazida para Portugal pela produtora UAU, em parceria com o Museo Casa Palacio, em Espanha, que alberga as 80 gravuras.

 

 

“Caprichos de Goya” pode ser visitada todos os dias das 10h00 às 19h00. O preço normal é de sete euros e parte das receitas serão destinadas à Organização Não Governamental portuguesa P&D Fator – Associação para a Cooperação sobre População e Desenvolvimento.

 
Autor: Sara Otto Coelho

Observador /14/3/2015

 

 

 

 

Ciganos do Alentejo numa exposição em Nova Iorque

“Maria, João e Isaac” – Pierre Gonnord

 

 

O artista francês Pierre Gonord fotografou os últimos ciganos nómadas do Alentejo e os respetivos animais ao estilo de retratos pictóricos do barroco. A exposição está agora em Nova Iorque.

 
Já não é a primeira vez que Pierre Gonnord, fotógrafo francês com residência em Madrid, se dedica a fotografar comunidades marginalizadas de forma quase pictórica, a fazer lembrar retratos em tela do século XVII ou XVIII. Fê-lo em vilas isoladas de França e Espanha, na América do Sul, com membros da yakuza, no Japão, com jovens sem-abrigo, cegos, agricultores ou mineiros um pouco por toda a Europa.

 
Para este trabalho, contudo, Gonnard veio até território nacional. Inserido numa residência no âmbito da Trienal no Alentejo, com quem colabora em vários projetos, o artista explorou a fronteira raiana junto a Portalegre e encontrou nos ciganos nómadas do Alentejo as personagens perfeitas para The Dream Goes Over Time (originalmente intitulado Au-Delà du Tage).

 

Ciganos do Alentejo numa exposição em Nova Iorque2

Um visitante observa atentamente a obra “Maria, João e Isaac” / DR

 

Mais uma vez, e à imagem do seu trabalho anterior, Gonnard assina uma coleção de retratos íntimos com um estilo pictórico muito acentuado, não só dos membros da comunidade da região mas também dos respetivos animais. O fotógrafo deparou-se com a família, pela primeira vez, quando estes se deslocavam a bordo de uma carroça a caminho do seu acampamento. Viajou e conviveu com eles durante semanas até ganhar confiança e afeto suficientes para os poder fotografar, sendo que muitos deles nunca sequer tinham visto uma câmara até aí.

 
Depois de já ter sido mostrado em 2013, em Évora, no âmbito da Trienal e em 2014 no Centro Andaluz de Fotografia, o trabalho atravessa o Atlântico e chega agora a Nova Iorque: está patente na galeria Hasted Kraeutler até 25 de abril.

 
Tiago Pais/Observador – 11/3/2015

 

 

 

Breve história dos cardeais portugueses

Colégio cardinalício.

 

No fim de semana em que D. Manuel Clemente se torna cardeal, revisitamos alguns dos 43 cardeais portugueses desde o século XIII.

 
Manuel Clemente, de 66 anos, torna-se este sábado cardeal depois de ter sido um dos 15 escolhidos com capacidade eleitoral (com menos de 80 anos) pelo papa Francisco.

 
Sobre esta decisão, considerada importante pela Igreja portuguesa, o cardeal José Saraiva Martins disse à Agência Ecclesia que a cerimónia de sábado será um “momento histórico” para a Igreja Católica em Portugal. Também o cardeal D. Manuel Monteiro de Castro deu conta de uma “grande alegria” por acolher D. Manuel Clemente.

 
A partir deste sábado, Portugal estará representado neste órgão da Santa Sé por três cardeais, sendo que apenas dois (a partir deste sábado, Manuel Clemente, e Monteiro de Castro) têm direito de voto na escolha do líder da Igreja Católica.

 
Na sua história, o país teve, até hoje e contando com a eleição de D. Manuel Clemente, 43 cardeais. É tradição que o patriarca de Lisboa seja indicado para um lugar de cardeal desde que o papa Clemente XII emitiu, em 1737, uma bula que assim o estabelecia.

 

Habitualmente, os patriarcas de Lisboa são feitos cardeais no primeiro consistório após a tomada de posse como líderes da diocese. No momento do primeiro consistório de Manuel Clemente, o patriarca José Policarpo era ainda vivo. Essa é uma das razões apontadas para Manuel Clemente não ter constado da lista de 19 cardeais que o papa Francisco apresentou há um ano, em janeiro de 2014.

 
Para lhe contar a história portuguesa no Vaticano, selecionámos alguns dos 43 cardeais portugueses e apresentamos-lhe um breve perfil destes. Na fotogaleria pode consultar gravuras, fotografias e o nome destes 32 cardeais.

 
Manuel Clemente

 
Manuel José Macário do Nascimento Clemente nasceu em Torres Vedras em julho de 1948. Licenciou-se em História na Universidade de Lisboa, tendo ingressado, em 1973, no Seminário Maior dos Olivais em 1973. Licenciou-se em Teologia seis anos depois, pela Universidade Católica. Em 1992 completou o doutoramento em Teologia Histórica em 1992. Foi ordenado sacerdote em 1979 e nomeado bispo titular de Pinhel, auxiliar do Patriarcado de Lisboa e bispo do Porto.

 
Atualmente, é presidente da Conferência Episcopal Portuguesa e membro do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais. Com diversos livros e estudos publicados sobre História e Teologia, foi “Prémio Pessoa 2009”.

 
José Policarpo

 
José da Cruz Policarpo nasceu nas Caldas da Rainha a 26 de fevereiro de 1936. Licenciou-se em Filosofia e Teologia no Seminário Maior de Cristo-Rei, dos Olivais.

 
Depois da morte do cardeal-patriarca D. António Ribeiro, D. José da Cruz Policarpo sucedeu como 16º patriarca de Lisboa em 24 de março de 1998. Até 2001 foi referido como D. José IV, patriarca de Lisboa. Nesse ano foi eleito cardeal, passando a ser cardeal-patriarca de Lisboa.

 
Em 2011 enviou uma carta ao Papa Bento XVI, renunciando ao patriarcado, uma vez que a 26 de fevereiro completaria 75 anos, idade limite para o exercício do cargo.

 
Manuel Monteiro de Castro

 
Nasceu em Guimarães a 29 de março de 1938.

 
Foi eleito Cardeal em 2012 e nomeado como do Colégio Cardinalício com o lugar de Penitenciário-Mor da Penitenciaria Apostólica. É membro da Congregação para a Causa dos Santos e do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes.

 
José Saraiva Martins

 
Nasceu na Guarda, a 6 de janeiro de 1932. Entrou no seminário das Termas de São Vicente em 1944. Licenciou-se em Teologia na Universidade Gregoriana em Roma. Foi nessa cidade – na Universidade de S. Tomás de Aquino – que depois concluiu o doutoramento. Foi ordenado bispo a 2 de julho de 1988, em Roma. A 21 de fevereiro de 2001 é feito Cardeal.

 
António Ribeiro

 
Nascido em Celorico de Basto em 1928, foi nomeado auxiliar do Arcebispo de Braga em 1967 e patriarca de Lisboa em 1971. Tornou-se cardeal no consistório de 5 de março de 1973, do Papa Paulo VI. Foi o cardeal-patriarca que acompanhou o 25 de abril, fazendo a transição entre a ditadura e a democracia.

 
Manuel Gonçalves Cerejeira

 
O cardeal cujo nome ficará para sempre associado à Concordata que o Governo de Salazar realizou com a Santa Sé, em 1940, nasceu em 1888, tendo-se tornado patriarca de Lisboa em 1929. No mesmo ano foi feito cardeal da Ordem dos Presbíteros. Criou a Universidade Católica.

 
António Mendes Belo

 
Nascido em 1842, António Mendes Belo assumiu a diocese do Algarve em 1884 e o patriarcado de Lisboa em 1907. Em 1911 foi expulso de Lisboa, na sequência da turbulência política e do anticlericalismo que se seguiu à implantação da República, em 1910. Exilou-se em Gouveia durante dois anos. Tornou-se cardeal em 1914, no mesmo Conclave em que foi eleito o Papa Bento XV.

 
Paulo de Carvalho e Mendonça

 
O irmão do Marquês de Pombal foi feito cardeal pelo Papa Clemente XIV em 29 de janeiro de 1770, mas faleceu antes de o anúncio da nomeação ter chegado a Lisboa.

 
Infante D. Afonso

 
O Infante era filho de D. Manuel I, que, quando o seu filho tinha apenas três anos, tentou fazê-lo cardeal, um cargo vedado a menores de 30 anos. Em 1525, no Papado de Leão X, o infante, com apenas 26 anos, foi feito cardeal.

 
Henrique

 
D. Henrique era filho do rei D. Manuel I. Nasceu em Lisboa em 1512 e 22 anos depois era eleito Arcebispo de Braga pelo Papa Clemente VII. Foi feito cardeal em 16 de dezembro de 1545. Ocupou o trono português em 1578, depois da morte de D. Sebastião. Tentando resolver o problema de sucessão, propôs anular os seus votos religiosos, de modo a casar com a rainha-mãe de França, assegurando assim descendência. Morreu dois anos depois, sem descendência. Para ocupar o seu lugar havia nomeado uma regência, mas Portugal acabaria por perder a independência.

 
Pedro Hispano

 
Pedro Hispano ou D. Pedro Julião é o único Papa português até agora. Nasceu em Lisboa em 1215 e foi uma figura importante da ciência, sendo apontado como filósofo, teólogo, médico e autor de obras científicas. Dante refere-se a ele na Divina Comédia. Na sua estadia em Roma, tratou o Papa Gregório X. Foi feito cardeal em 1274 e tornou-se Papa com o nome de João XXI entre 1276 e 1277.

 
Mestre Gil

 
Aquele que também aparece com o nome de Egídio foi o primeiro Cardeal português, eleito pelo Papa Urbano IV (1378 – 1389).

 

 

13/02/2015

Autor: Catarina Fernandes Martins

 

 

 

Ataque de corsários a navio com vinho do Porto cria tradição no Canadá

Um ataque de corsários no século XVII a um barco com Vinho do Porto terá criado um novo circuito de distribuição da produção nacional utilizando o Canadá, disse à Lusa um historiador e investigador vinícola.

 
O navio fugiu de corsários franceses e, depois de o vinho ter repousado no frio da Terra Nova, foi considerado de melhor qualidade no mercado britânico, explica António Magalhães.

 
“No ano de 1679, um navio pertencente à família Newman, proveniente do Porto, carregado de vinho, dirigia-se para Inglaterra, mas ao chegar ao golfo da Biscaia, foi atacado por corsários franceses que o obrigaram a rumar para oeste”, salienta o responsável pela produção de uvas da Fladgate Partership, empresa que adquiriu em 2007 a Quinta da Eira Velha à família inglesa Newman.

 
“Por causa dos ventos já não foi possível voltar para trás. Como era um navio dos Newman, seguiu em direção da Terra Nova, onde eles tinham armazéns. Ficou lá todo o inverno, carregado de vinho. Na primavera seguinte, regressou a Inglaterra. Como foi considerado no mercado de inglês como um vinho melhor, passaram a fazer regularmente esse triângulo entre Portugal, Terra Nova, e Inglaterra”, conta.

 
Sempre que o vinho do porto recebia um estágio nas condições climáticas da Terra Nova, melhorava “incrivelmente”, e depois era exportado para Inglaterra.

 
No entanto, António Magalhães, diz que também há uma “versão menos fantástica do vinho do Porto estagiado na Terra Nova (Matured in Newfoundland), escrita por Edouard S. Gallop, no Ensaio “Vinho do Porto e Bacalhau” e que a Canadian Geographical Journal publicou em 1932.

 
“Em certa ocasião, um dos navios propriedade dos Hunt, Newman e Christopher carregou sal em Cádis (Espanha) e completou a carga com vinho no Porto (Portugal). O vinho foi descarregado em Darthmouth, Devon, mas, na pressa de partir, para aproveitar os ventos favoráveis ou para obter proteção da escolta, algumas pipas de vinho do Porto ficaram esquecidas, cobertas pelo sal, e só foram descobertas quando finalmente o navio atracou na Terra Nova”, frisou.

 
O vinho foi mandado de volta para Inglaterra no ano seguinte, mas, ao fim de duas viagens pelo Atlântico e um Inverno inteiro num clima mais frio, “melhorou tanto” que se tornou uma “prática comum” o envio de Vinho do Porto em tonéis para “estagiar na Terra Nova”.

 
Com o passar do tempo, os Newman, após 300 anos de troca de bacalhau e vinho do Porto, em 1907, desistiram do negócio do bacalhau, dedicando-se inteiramente ao setor vinícola.

 
Contudo, a exportação do vinho do Porto era um marco histórico para a região canadiana. Segundo dados revelados pelos responsáveis da empresa, a Terra Nova recebia em 1830 cerca de 140 pipas.

 
Em 2007, a propriedade da Quinta da Eira Velha, no Pinhão, com cerca de 50 hectares, foi adquirida pela Fladgate Partership, empresa familiar proprietária das de Vinho do Porto Taylor´s, Fonseca, Croft e Delaforce.

 
Atualmente, os “herdeiros” do património da família inglesa continua ainda a produzir o Newman Celebrated Port e o Vintage Port Quinta da Eira Velha, um “verdadeiro tributo à história que persegue”, afirma Magalhães.

 

 

Toronto , Canadá 27/01/2015
SEYM // PJA
Lusa/Fim