Lajes. Porque retiram os americanos? O que perde Portugal? O que vai acontecer?

As respostas que interessam às perguntas que se impõem sobre uma história que ninguém sabe como vai acabar: a do anunciado despedimento de 500 trabalhadores portugueses da base aérea norte-americana na ilha Terceira. Vêm aí tempos ainda mais difíceis para os açorianos.

 

Tiago Miranda “Nos últimos quatro anos, aterraram em média na base das Lajes menos do que dois aviões militares americanos por dia”, informa o embaixador norte-americano em Lisboa.

 

Porque retiram os americanos?

 

A retirada de 985 militares e civis, portugueses e norte-americanos, da Base das Lajes até ao outono enquadra-se num projeto mais vasto de reorganização das infraestruturas militares dos EUA na Europa. Deverá permitir uma poupança anual de 500 milhões de dólares (423,8 milhões de euros) ao Governo norte-americano.

 

Além das Lajes, o processo de Avaliação da Consolidação das Infraestruturas Europeias (EIC na sigla inglesa) prevê a devolução de instalações militares na Alemanha, na Bélgica, na Holanda, em Itália e no Reino Unido.

 

Em comunicado divulgado a 8 de janeiro, o general Philipe Breedlove, comandante das forças norte-americanas na Europa, justifica a redução de forças em curso com “um contexto de segurança em mutação, o desenvolvimento tecnológico e a difícil conjuntura fiscal” dos EUA.

 

Nesse mesmo dia, também em comunicado, o embaixador dos EUA em Lisboa apresenta outros argumentos. “Com o aumento da gama de aviões modernos, a frequência e o volume de voos a necessitar das condições oferecidas pela Base Aérea das Lajes mudou. Nos últimos quatro anos, aterraram, em média, na base das Lajes menos do que dois aviões militares americanos por dia.”

 

Segundo Robert Sherman, a redução de forças nas Lajes representa uma poupança de 35 milhões de dólares (29,6 milhões de euros).

 

A conversão da base nº 65 da Força Aérea dos EUA de “air base wing” em “air base group” foi anunciada pelo Departamento de Estado a 13 de dezembro de 2012 e noticiada em primeira mão pelo Expresso em novembro desse ano.

 

Lajes. Porque retiram os americanos2

 

Tiago Miranda A partir de agosto de 2013, os militares norte-americanos destacados para as Lajes deixaram de trazer as famílias consigo. Os primeiros impactos sobre a economia da ilha Terceira já se fizeram sentir.

 

 

O que perde Portugal?

 
Num relatório entregue em fevereiro de 2013 ao governo regional pela associação empresarial norte-americana vocacionada para as questões da Segurança e Defesa, a Business Executives for National Security (BENS), estima-se que “a contribuição do Governo dos EUA para a economia dos Açores se situe entre 105 milhões e 150 milhões de dólares por ano”, ou seja, “3% do Produto Interno Bruto dos Açores e perto de 14% do PIB da ilha Terceira”.

 

A 9 de janeiro, o presidente socialista da Câmara da Praia da Vitória traçou em conferência de imprensa um cenário bem mais negro. Segundo Roberto Monteiro, quando estiver concluída a redução de 500 postos de trabalho portugueses e 485 norte-americanos, lá para o final do ano, cerca de duas mil pessoas, um quarto da população ativa do concelho, não terão emprego. O autarca socialista estima uma quebra de 30% no PIB do concelho. O dobro do previsto em 2013 pela BENS.

 

Disse ainda Roberto Monteiro que a quebra na economia local começou a fazer sentir-se a partir de agosto de 2013, mês em que os militares norte-americanos viram as comissões de comissão de serviço cortadas para metade, de 24 para 12 meses, e deixaram de poder trazer as famílias.

 

“Estas medidas provocaram uma redução em 50% dos arrendamentos fora da base, reduziram em 20 toneladas por mês as cargas operadas no concelho, com impacto no serviço dos transitários locais, reduziram o consumo no comércio local, particularmente na restauração, e puseram fim a um conjunto de trabalhos associados à presença americana fora da base”, afirmou Roberto Monteiro.

 

Lajes. Porque retiram os americanos3

 

 

Tiago Miranda Terá chegado o momento de rever o denominado “Acordo das Lajes”, defende Luís Andrade, professor universitário e especialista em relações internacionais

 

 

O que vai acontecer?

 

A 6 de janeiro, dois dias antes de ser publicamente divulgado o processo de Avaliação da Consolidação das Infraestruturas Europeias, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, deixou o aviso: “Seria prejudicial para as nossas relações bilaterais que Portugal não tivesse um resultado positivo neste longo e complexo processo.”

 

 

Conhecida a vontade de transformar as Lajes numa bomba de gasolina, o Governo português expressou em comunicado o seu “forte desagrado” pela “decisão unilateral da administração norte-americana” e prometeu uma “análise detalhada de todas as suas possíveis implicações”.

 

 

Para Luís Andrade, professor universitário e antigo representante do Governo regional na comissão de acompanhamento ao denominado Acordo das Lajes, terá chegado o momento de rever o entendimento estabelecido em 1995. “Era bom que as autoridades portuguesas e norte-americanas se sentassem à mesa e que, de uma forma clara, se analisasse friamente esta questão e ver até que ponto o acordo pode e deve ser revisto”, disse à Lusa este especialista em relações internacionais.

 

 

Consciente do impacto negativo na economia do arquipélago, o embaixador Robert Sherman também deixou algumas promessas no seu comunicado de 8 de janeiro. “A embaixada americana já desenvolveu vários programas, em parceria com entidades locais dos Açores, que possam significar um aumento de oportunidades económicas para a população local. O Governo americano também está a considerar o pagamento de uma generosa indemnização aos funcionários portugueses das Lajes afetados por esta decisão.”

 

 

Nesta altura, os cerca de 900 trabalhadores portugueses nas Lajes desconhecem quem estará, afinal, na lista dos 500 a despedir. “Sentimo-nos traídos por uma relação de 70 anos, que foi genuína e em que os terceirenses sempre deram o seu melhor”, disse à Lusa Bruno Nogueira, presidente da Comissão Representativa dos Trabalhadores portugueses na Base das Lajes, a 9 de janeiro.

 

 

 

Carlos Abreu – 14/02/2015

 

Já se pode dizer bem de Passos Coelho?

Cai mal dizer “bem” de Passos Coelho: os bem pensantes enervam-se e o ar do tempo desaconselha. A má fé vigente tomará estas minhas pobres palavras como um despropósito que destoa do coro dos dias.

 

 

Faz hoje um ano o Governo foi enterrado. Tal como a Torre de Pisa, todos os mundos – o político e os outros – se inclinavam só para um lado: naquele belo dia de verão, o Executivo tinha acabado, a maioria tinha-se desfeito.

 
Gaspar saíra na véspera, deixando carta e menos de 24 horas depois, Portas, sem aviso prévio e irrevogavelmente, imitou-lhe o gesto. Deixando comunicado.

 
Havia meses que – relembremo-lo – Gaspar acordara com Passos Coelho o nome da sua sucessora e organizadamente foi isso que ocorreu: o Governo aprovara, o PM propôs o nome de Maria Luis, o Presidente da República aceitou-o, Vitor Gaspar saira a 1 de julho, a posse seria a 2.

 
O Presidente, apanhado no princípio da tarde desse 2 de julho em cerimónias oficiais que o impediam de atender o telemóvel, voltou nesse dia a ser apanhado – mas pela surpresa. Não gostou, nem esqueceu: os estados de alma de Paulo Portas mergulharam Cavaco Silva num cenário de (quase) irracionalidade política, deixando-o a vogar numa “impossível” situação de incerteza, o que em política é dizer o pior.

 
Não fora Passos Coelho e teria desabado a tempestade perfeita. Não desabou, apesar da desconfiança e dos presságios, das apostas e dos vaticínios de fim de ciclo. O primeiro-ministro não deixou. Sem perder a cabeça ou a bússola, sem lhe ocorrer aquele tique nosso conhecido do “abalar”, sem cair na aflição ou no desnorte, tomou em mãos a ocorrência e ao fazê-lo impediu – entre outras coisas – um segundo resgate. Com as fatais – inimagináveis? – consequências que daí adviriam.

 
Passos mostrou estofo e sentido da política. E sentido de Estado, claro está. Não é qualquer um que, naquele incêndio, domestica os acontecimentos e os “ocupa” politicamente, elegendo um desfecho a seu favor. De caminho – e eis o que também não é de somenos – mostrou quem mandava na coligação e quem era o chefe da maioria. Já fizera o mesmo aquando da 7ª avaliação da troika, mas fizera-o longe de nós, nos bastidores do país. O dia 2 de julho ditou-lhe o palco e colocou-o sob os holofotes das instituições.

 

 

Ao final do dia, as oposições à esquerda e os opositores dentro do PSD ainda esperavam em surdina que ele fosse a Belém com uma corda ao pescoço invocar “falta de condições”, mas o primeiro-ministro nunca – que me lembre – se afogou no mar das oposições nem se impressionou por aí além com barões fora de jogo.

 
Depois, claro, choveram “ah” e “oh” de espanto face ao “patriotismo” de Passos Coelho. Como se ele tivesse nascido para a política nesse 2 de julho ou a sua liderança na ação e atuação do Governo (pesem embora erros e excessos que tantas vezes critiquei) não relevassem justamente dessa mesma endurance e resiliência. (Agora, há dias, em tom menor, é certo, também houve umas golfadazinhas de admiração por Pedro Passos Coelho ter vetado a entrega de mais ajudas financeiras ao BES. Voltei a espantar-me: piores cegos são os que nunca querem ver? Mesmo a um palmo de distância?)

 
Cai mal dizer “bem” de Passos Coelho: os bem pensantes enervam-se e o ar do tempo desaconselha a bondade. A má fé vigente tomará estas minhas pobres palavras como um despropósito que destoa do coro dos dias e da pretensão intelectual com que o primeiro-ministro é habitualmente radiografado. Paciência. Já se eu gesticulasse a favor de António Costa – pessoa que me é muito simpática, de resto – seria bem vinda e o mundo seria perfeito.

 
Mas se há algo que tenha aprendido é que esta coisa dos “dois pesos e duas medidas” é uma regra sem exceção: à esquerda tudo é permitido, desde o ter licença de existir, direito de cidadania, poder de ditar das regras, distribuir voz. A direita tem sempre de (lhe?) pedir licença.

 
E pensar que já passaram 40 anos disto.
PS: Sobre o segundo resgate a que aludi acima, ocorreu-me agora de repente relembrar alguns passos de uma saga que nunca existiu mas que durante meses e meses nos foi sempre vendida como uma certeza irrefutável: o “segundo resgate” foi anunciado em todas as televisões sem exceção; previsto por todos os jornais – num deles com data, fonte e primeira página; brandido nas rádios; assustadoramente desejado por jornalistas e comentadores; usado pelas oposições como um trunfo contra o Governo; falado nas elites e nos meios bem informados (?) como um mero fait divers.

 
Até hoje, não houve segundo resgate (e ao primeiro dispensou-se a última fatia). Mas também não houve mais nada: ninguém se importou com o que disse, avisou, ameaçou, prometeu, garantiu, jurou. Ninguém veio dizer “enganei-me”. Ao menos, “precipitei-me”. Não sei se o ressentimento, a fragamentação, a imbecilidade toldam os espíritos ou induzem a cegueira. Talvez induzam. E, por outro lado, ninguém tirou consequência alguma – consequência política seria talvez pedir muito… – sobre o facto de não ter havido a tão anunciada segunda provação. O que lá vai, lá vai. Gente pouco séria.

 

 

Autor: Maria João Avilez

 

 

 

O primeiro dia da vida do Presidente da República Américo Tomás e do Primeiro Ministro Marcelo Caetano no exílio

O ex-Presidente da República de Portugal, Américo Tomás e o presidente do Conselho de Ministros Marcelo Caetano no início da década de 1970.

 

 

O Brasil foi o primeiro país a reconhecer o governo do Portugal democrático em 1974. Mas foi também o país que deu asilo político às duas principais figuras do Estado Novo. Américo Tomás e Marcelo Caetano partiram para o exílio há precisamente 40 anos.

 

 

O primeiro dia da vida de Thomaz e Marcello no exílio2

 

Marcelo Caetano no Rio de Janeiro com a irmã e uma amiga da família.

 

 

Os militares que fizeram a Revolução dos Cravos permitiram que os dois homens fortes da ditadura, o Presidente da República Américo Tomás e o presidente do Conselho de Ministros Marcelo Caetano, voassem de Lisboa para a Madeira na noite de 25 de abril de 1974, onde ficaram detidos em regime de prisão domiciliária no Palácio de São Lourenço, no Funchal.

 
A mulher e a filha solteira de Tomás acompanharam o Presidente deposto. Caetano, que enviuvara em 1971, viajou sozinho. Os dois rostos do poder da ditadura ainda permaneceram mais 25 dias em território português, não tendo sido objeto de qualquer agressão por parte da população da Madeira.

 

 

A 20 de maio de 1974 ¬ partiram para o exílio, depois de uma negociação relativamente rápida entre a Junta de Salvação Nacional e o Governo de Brasil. Paradoxos da política e da diplomacia, o país que acolheu os ditadores depostos – ¬ e várias outras figuras afetas ao Estado Novo – ¬ foi também o primeiro a reconhecer o Governo saído da Revolução dos Cravos, através de uma nota entregue à Chancelaria de Lisboa, a 27 de abril, dois dias depois do golpe dos capitães.

 
Primeira noite no hotel Hilton

 

Caetano e Tomás foram bem recebidos no Brasil, onde aterraram no aeroporto de Viracopos, às 16h45 de 20 de maio. A escolha de Viracopos, a 60 quilómetros de São Paulo, foi uma exigência das autoridades portuguesas que temiam uma manifestação de apoio às duas figuras do Estado Novo por parte da comunidade portuguesa ali emigrada.

 
Acompanhados pela mulher e pela filha de Tomás, Gertrudes e Natália, respetivamente, os governantes depostos instalaram-se no Hotel Hilton [São Paulo] e, efetivamente, contaram desde o primeiro momento com o apoio de muitos emigrantes que custearam quase toda a estada de Américo Tomás [à época com 80 anos] ¬ no exílio.

 

 

Caetano e Tomás mudaram-se para o Rio de Janeiro algumas semanas mais tarde. O primeiro, professor catedrático de Direito, começou a trabalhar a 1 de junho na Universidade Gama Filho e morreu no Brasil em 1980. Américo Tomás regressou a Portugal em 1978, depois do então Presidente da República, António Ramalho Eanes ter dado permissão. Morreu em Portugal a 18 de setembro de 1987.

 

 

Manuela Goucha Soares – 21/05/2014

 

SAPO NOTICIAS

 

 

 

 

Casa da Quintã – Folhada, Marco de Canaveses

Nas verdes paisagens, entre Douro Litoral e Trás-os-Montes, fica situado o Vale do Rio Ovelha, onde podemos encontrar um enquadramento de aldeias preservadas.

 

 

Casa da Quintã2

 

Sala com lareira

 

Casa da Quintã3

 

Panorâmica da paisagem envolvente
A Casa da Quintã, cuja construção inicial remonta aos finais do séc. XVIII, encontra-se situada numa quinta na encosta poente da Serra da Aboboreira, oferecendo um ambiente único de calma e bem estar, rodeados de uma paisagem campestre; perfeito para quem se quer afastar do ritmo movimentado das cidades.

 

 

Casa da Quintã4

 

Dispoe de dois anexos com um quarto de casal cada, c/casa de banho privativa e aquecimento e dispoem ainda de um anexo com dois quartos de casal, um wc, cozinha equipada e uma sala de estar c/tv e aquecimento.

 

 

Casa da Quintã5

 

Casa da Quintã6

 

 

 

 

Casa da Farmácia – Peso da Régua, Vila Real

A Casa da Farmácia é uma casa centenária construída em 1904 tendo sido reconstruída pela nossa família para preservar as suas características mais carismáticas: a bela fachada em granito e as suas paredes em pedra; as suas varandas sobre o jardim e casario da vila de Armamar; a grande lareira e forno usados nos tempos antigos para fazer fumados; e o seu portão exclusivo, único da região com mais de 4 m de altura. O restauro da casa foi feito com esmero para manter o seu encanto rural e dota-la com todas as exigências de conforto dos tempos modernos.

 

Casa da Farmácia2
A Casa da Farmácia tem um encantador pátio, repleto de flores e uma área lounge e bar equipada com TV plasma com canais de cabo, onde os hóspedes podem beber vinhos do Douro, relaxar, ler e jogar jogos de tabuleiro ou consola.

 

Casa da Farmácia3
Há também uma agradável sala de pequenos-almoços e jantares, bem como, 10 suites elegantemente decoradas e equipadas com WC privativo, aquecimento central, TV, ar condicionado e internet sem fios gratuita.

 

Casa da Farmácia4
A Casa da Farmácia tem a melhor localização de Armamar, estando situada no centro histórico da vila e no coração do Douro (região classificada como património mundial pela UNESCO) a apenas alguns quilómetros do rio Douro, próximo de aldeias vinícolas, roteiros medievais e perto de locais repletos de história, cultura e interesse artístico.

 

Casa da Farmácia5

 

Esta localização privilegiada permite aos hóspedes da Casa da Farmácia acederem às belas vinhas e adegas e participarem em experiências de enoturismo e provas de vinho. Os hóspedes podem também visitar os encantadores pomares de maçã que fazem de Armamar a capital da maçã de montanha.

 

 

À chegada, os hóspedes da Casa da Farmácia são recebidos com uma degustação de cortesia de vinho do Porto e licores caseiros. O pequeno-almoço, que está incluído na tarifa do alojamento, é constituído por produtos caseiros e regionais de elevada qualidade dos quais destacamos o sumo de laranja natural, os doces e bolos caseiros elaborados pelas receitas antigas que datam do tempo dos nossos avós e o pão saloio tradicional da região.

 

Casa da Farmácia6

 
Na Casa da Farmácia recebemo-lo com simpatia e dedicação e ajudamo-lo a descobrir a nossa região pois sugerimos rotas, passeios e organizamos programas à medida dos interesses dos nossos hóspedes. Venha e experimente…temos a certeza que irá voltar!

 

 

 

 

 

Recuperação do Jardim De Sant’ana Devolve Identidade Paisagística À Região

As belezas naturais dos Açores não deixam ninguém indiferente mas existe um espaço em Ponta Delgada que também merece uma visita atenta. Descubra os encantos deste espaço verde açoriano.

 

Recuperação do Jardim De Sant'ana2
Importante e imponente museu vivo, mandado construir pelo morgado José Jácome Correia, o jardim e o palácio de Sant’Ana situam-se na cidade de Ponta Delgada, acolhendo atualmente a sede da Presidência do Governo da Região Autónoma dos Açores.

 

Recuperação do Jardim De Sant'ana3

 

O conjunto constitui um dos exemplos mais paradigmáticos da arte paisagista do século XIX, quer no espaço nacional quer internacional, devendo ser considerado, no âmbito da Carta de Florença do ICOMOS-IFLA, International Committee for Historic Gardens, um jardim histórico de elevado valor patrimonial.

 

Recuperação do Jardim De Sant'ana4

 

A evolução e a alteração de funções do jardim, a inevitável deterioração causada pelo passar do tempo, associadas à consciência de que se trata de um elemento patrimonial único que merece estar disponível para o público, estiveram na base da decisão por parte do Presidência do Governo dos Açores, através da área de coordenação dos palácios do órgão, em avançar com um projeto de recuperação, o qual foi desenvolvido pelo atelier Topiaris.

 

Recuperação do Jardim De Sant'ana5

 
O palácio e o respetivo jardim, que estão apenas abertos nos meses de verão, têm sido utilizados para atividades e eventos inerentes à presidência da região, recebendo, simultaneamente, a visita de residentes e turistas. Entre as atrações que justificam a visita, destacam-se a existência de paisagens belas, exemplares botânicos notáveis pela raridade e porte e, ainda, uma vastíssima coleção de cameleiras.

 

 
Como tudo começou

 

O jardim e o palácio de Sant’Ana foram construídos a partir de 1845 por iniciativa de José Jácome Correia (1816-1886), o primeiro marquês de Jácome Correia, segundo as correntes da arte paisagista internacional de meados do século XIX. Os jardins apresentam características de inovação, erudição e riqueza, ocupando 3,2 hectares. O programa para o jardim, a quinta e o palácio era ambicioso e inovador, tendo sido concretizado quase na sua totalidade.

 

Recuperação do Jardim De Sant'ana6

 

É difícil encontrar no contexto nacional e internacional um programa paisagístico completo e tão característico do século XIX, uma vez que o Jardim de Sant’Ana evidencia no seu conjunto influências da escola inglesa e romântica, assim como os novos elementos característicos do séc. XIX, nomeadamente em termos de diversidade de cor, de formalismo simétrico e de linhas retas, em diálogo com a sinuosidade da vegetação, e colecionismo botânico. É composto por quatro zonas distintas:

 

Recuperação do Jardim De Sant'ana7

 

– O jardim frontal e os jardins laterais estabelecem o enquadramento do palácio, permitindo a existência de contextos paisagísticos dominados pela estética do séc. XIX.

 
– A horta ordenada e isolada do palácio como ditavam os cânones da época.

 
– O jardim intimista, afastado do palácio e destinado ao recreio da família e convidados.

 
– A quinta de quartéis, limitados por sebes constituídas por um número elevado de variedades de cameleiras que protegiam as áreas de cultivo.

 
A fragilidade deste jardim é alta, pois o seu desenho é determinado por coleções de plantas de difícil conservação e por extensas áreas de herbáceas anuais. Não obstante, o jardim manteve, apesar da inevitável deterioração, as suas características. Para este facto contribuiu a conservação da propriedade de forma contínua na posse da família Jácome Correia, assim como a manutenção cuidadosa após a aquisição pela Região Autónoma dos Açores.

 
O projeto e a obra de recuperação

 
O projeto de recuperação teve por objetivo devolver ao jardim a identidade e qualidade paisagística que tinham vindo a diminuir devido ao aumento da carga de utilização e à passagem do tempo que foi deteriorando a vegetação e as estruturas construídas. O desenvolvimento do projeto seguiu as convenções nacionais e legislação vigente, garantindo o registo, diagnóstico de patologias e a salvaguarda da sua integridade e significância cultural.

 
Destacam-se as intervenções ao nível da recuperação da coleção botânica, das infraestruturas de drenagem originais, dos elementos decorativos de água e da implementação de um sistema automatizado de rega, o qual permite uma gestão equilibrada e sustentável do recurso água. Um novo sistema de iluminação permite aumentar o período de utilização e a fruição de extraordinárias paisagens noturnas.

 
O acompanhamento da obra por parte da equipa projetista e do cliente, sob uma atitude empenhada da equipa de fiscalização, e com a resposta entusiástica e competente das empresas que executaram, permitiram que os trabalhos fossem decorrendo de modo ponderado, evitando passos que pudessem comprometer a integridade do valioso património que se tinha em mão, conduzindo com sucesso à conclusão dos trabalhos de restauro e reconstrução em 2008.

 
Testemunho de um outro tempo

 
Atualmente, os jardins são mantidos por uma equipa de jardineiros, e respetiva coordenação, trabalho levado a cabo pelos Serviços de Conservação e Manutenção de Jardins, sob a gestão adequada e criativa da entidade responsável, a área de coordenação dos palácios da presidência. O conjunto do Jardim de Sant’Ana encontra-se aberto e é visitado pelo público local e por turistas de diversas partes do mundo.

 

Recuperação do Jardim De Sant'ana8

 

Na verdade, o conjunto dos jardins de São Miguel constitui um valioso património merecedor de estratégias de salvaguarda que promovam a sua fruição pelo público, turismo e gerações vindouras, constituindo a recuperação do Jardim de Sant’Ana um exemplo notável. «É um testemunho do seu tempo, elemento importante na história da arte dos jardins, que deve ser defendido para benefício das próximas gerações», pode ler-se mesmo no site do Governo dos Açores.

 

 

Texto: Luís Paulo Ribeiro (arquiteto paisagista)

 

 

 

Os eternos encantos da Quinta da Bacalhoa

Foi casa de campo de D. João, filho do Rei D. João I, mas acabou nas mãos do comendador Joe Berardo. As obras de requalificação que foram feitas nos últimos anos para atrair visitantes não foram pacíficas.

 

Polémicas à parte, a recuperação da Quinta da Bacalhoa, em Azeitão, veio pôr fim ao estado de quase ruína em que se encontrava e tornou-se num lugar aprazível para visitar.

 

Os eternos encantos da Quinta da Bacalhoa2

 

As minhas deambulações pelos jardins portugueses levaram-me lá recentemente. Confesso que ia cheia de curiosidade porque esta quinta histórica, que é mítica nos meios académicos, foi recentemente objeto de discussão pública.

 

Os eternos encantos da Quinta da Bacalhoa3
Tem estado na mira sobretudo desde que adquirida pelo comendador Joe Berardo, que lhe introduziu uma série de modificações muito discutíveis, segundo os entendidos. Na verdade, a quinta passou de um estado de semirruína a uma conservação absolutamente impecável.

 

Quer a casa, quer os jardins, estão reconstruídos, limpos e bem mantidos o que, a meu ver, é sempre preferível a um completo abandono.

 

 
A Quinta da Bacalhoa foi comprada por D. João, filho de D. João I, que aí construiu uma casa de campo. Chamava-se então Quinta de Vila Fresca de Azeitão. De D. João passou para a sua filha D. Brites, que aí introduziu vários melhoramentos. Mas é em meados do séc. XVI que a quinta adquire a forma que hoje lhe conhecemos, pela mão de D. Brás de Albuquerque, filho de D. Afonso de Albuquerque.

 

Os eternos encantos da Quinta da Bacalhoa4

 

D. Brás de Albuquerque, homem culto e viajado, transportou para Portugal o traçado do Renascimento Italiano que ele muito admirava e a quinta de Azeitão deixa de ser um paço medieval e passa a ser o primeiro edifício renascentista em Portugal. Homem de meios, protegido por D. Manuel I, D. Brás modificou a quinta ao seu gosto, introduzindo elementos característicos do Renascimento, como a ligação entre casa e jardim, as loggias, o jardim de buxo recortado e a Casa de Fresco, com os seus temas mitológicos.

 

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Mas foi ainda mais além. Entrosou estas características típicas do Renascimento, com uma fortíssima presença da nossa influência árabe (o tanque de águas paradas, os azulejos por toda a parte) e com a marca local, nomeadamente as vistas para Lisboa e Sintra, os mármores da Arrábida e as cúpulas gomadas da Torre de Belém. Fez da quinta um monumento à memória do pai, que considerava ter sido injustamente desconsiderado pelos historiadores da época.

 

 
A origem do nome

 

No início do séc XVII, o proprietário da quinta era Jerónimo Teles Barreto de Albuquerque, copeiro do Rei, que tinha a alcunha de Bacalhau. Quando, por sua morte, a quinta passou para as mãos da mulher passou a designar-se, até hoje, por Bacalhoa, nome mais apelativo à imaginação popular. A verdade é que durante muitos anos, a quinta ficou abandonada à destruição do tempo, sem que fosse feita uma manutenção adequada.

 

 
Esse tipo de intervenção só aconteceu já no séc. XX. Teve lugar nos anos da década de 1940, quando foi comprada por uma americana, Ornela Scoville, que procedeu à restauração deste património. Mas, pelo caminho ficaram os medalhões de Della Robbia (agora desaparecidos) e vários bustos, nomeadamente os dos doze homens ilustres que existiam ao longo do percurso para a Casa de Fresco e alguns painéis de azulejos.

 

Os eternos encantos da Quinta da Bacalhoa6

 

Passeei pela Quinta da Bacalhoa durante um par de horas e percorri o seu jardim de buxo, o passeio até à Casa de Fresco, admirei os azulejos e segui o perímetro da quinta até à Casa da Índia, onde D. Brás organizava merendas e de onde se admiravam as vistas.

 

Os eternos encantos da Quinta da Bacalhoa7

 

Entre o jardim de buxo e o tanque da Casa de Fresco havia originalmente um laranjal, que foi arrancado. Essa foi uma das intervenções polémicas.

 

 

Esse pomar foi substituído por uma vinha. Esta decisão foge ao espírito inicial da quinta mas obedece a regras comerciais que a transformaram na sala de visitas da empresa Quinta da Bacalhoa Vinhos, reconhecida pela qualidade dos seus néctares.

 

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O meu passeio terminou num almoço, organizado na loggia, de onde se podia admirar o jardim de buxo, impecavelmente podado, sem arbustos secos ou doentes, o tanque de água ao fundo.

 

Os eternos encantos da Quinta da Bacalhoa9

 

Todo aquele cenário transpira balanço, harmonia e equilíbrio, três características do Renascimento. Antes de me ir embora e abandonar aquele cenário deslumbrante, ainda fui folhear a monografia de Joaquim Rasteiro, publicada com o nome «Quinta e Palácio da Bacalhoa em Azeitão», que data de 1895, em exposição na sala. Há algumas modificações substanciais, claro mas, se isso é o preço da recuperação, que importa?

 

 
Texto: Vera Nobre da Costa

 

 

 

 

Jardim das Amoreiras em Lisboa convida ao lazer

É um dos mais tranquilos espaços ajardinados da capital e surpreende pelos exemplares de ginkgos biloba que lá crescem discretamente, oficializando o desenrolar das estações.

 

A felicidade é uma invenção da cidade. A cidade foi inventada para esconder a morte do nosso quotidiano, para nos fazer crer na omnipotência, na vida eterna, na juventude sem fim, na felicidade. No campo não há felicidade. Há vida, há morte e, entre elas, sobrevivência. É isso que o campo lembra todos os dias a quem lá vive e trabalha. No campo, ao viver os ciclos anuais da vida e da morte, sabemos sempre o que nos espera e com o que contar. A morte. Os jardins na cidade têm essa função.

 

Jardim das Amoreiras em Lisboa convida ao lazer2
A de manter a boa morte presente nos nossos dias. Os jardins, em especial no inverno, são lembretes da nossa natureza cíclica e efémera, lugares onde os velhos aguardam o seu desenrolar e por onde passam, e brincam, crianças agasalhadas.

 

Jardim das Amoreiras em Lisboa convida ao lazer3
O jardim das Amoreiras é um desses belos lembretes, uma embaixada de árvores desenhada entre casas com uma majestosa saída por debaixo de arcos que levam a água até à mãe.

 

Jardim das Amoreiras em Lisboa convida ao lazer4
Este jardim foi coisa do marquês, o de Pombal, que o destinou para pasto de bichos-da-seda.

 

Jardim das Amoreiras em Lisboa convida ao lazer5

 
Mandou plantar 331 amoreiras para que as larvas se alimentassem e, assim, se pudesse alimentar a fábrica da seda.

 

 
Mas não tardou chegou o futuro e com ele a irrelevância dos sonhos dos homens, mesmo dos que são marqueses. A fábrica definhou, as amoreiras foram substituídas por outras árvores e os bichos-da-seda terão arrastado as suas barrigas em direção a outros pastos. Hoje, no centro do jardim, há uma fonte onde os pombos bebem e à volta da qual se dispõem majestosos ginkgos biloba, árvores que são bem capazes de ter um lugar especial no Olimpo da Vegetalia.

 

 
A beleza resistente do ginkgo biloba

 

 
Dizem os da botânica que o ginkgo biloba é a espécie viva mais antiga que se conhece. Há dela registos fossilizados com mais de cento e cinquenta milhões de anos. Quando nós, mamíferos, ainda não passávamos de arganazes. Em 1945, quando o Enola Gay largou a bomba sobre Hiroxima, apenas uma espécie sobreviveu ao impacto atómico, só um ser vivo assim se manteve, um ginkgo biloba. Se não é um deus é, pelo menos, um seu representante na terra.

 

 
Estamos perante uma espécie talvez eterna, uma espécie com raízes neste planeta há mais de cento e cinquenta milhões de anos. Uma espécie à qual, por uso-capitão, o planeta pertence. Talvez o povo escolhido não tenha sido o hebreu, nem o árabe, nem o mamífero, nem tão pouco do reino animal. Talvez o povo escolhido para desfrutar da vida eterna tenha sido o ginkgo biloba do reino vegetal. No Jardim das Amoreiras, os ginkgos biloba parecem sacerdotes a oficiar o desenrolar das estações.

 

 
À volta do lago, onde bebem os pombos e as crianças molham as mãos, os ginkgos, como druidas, assinalam o passar das estações e fazem-no com particular intensidade no outono, quando se vestem de amarelo vivo para anunciar a chegada da estação de morrer. Depois as folhas amarelas caem e os ginkgos ficam nus. Mais a norte, duas tipuanas, que dão tecto às brincadeiras das crianças, manter-se-ão hesitantes todo o inverno. Talvez deixem cair as folhas, talvez não… Tudo depende do sol e da temperatura.

 

Jardim das Amoreiras em Lisboa convida ao lazer6

 

Junto às tipuanas, um quiosque atrai adolescentes que ali se experimentam jogando, entre eles, olhares, sorrisos, poses e palavras.

 

 

 

Adolescentes de sangue quente pela turbulência hormonal mesmo nos dias mais frios do inverno. A sul, longe do altar dos ginkgos, a árvore-do-verniz segregará verniz dos seus frutos, cumprindo o seu estranho e incompreensível cerimonial vegetal. Perto dos ginkgos, mas a uma distância reverente, está uma árvore que a partir do outono, quando estes se vestem de amarelo, dá frutos vermelhos e saborosos por fora mas venenosos por dentro. A árvore chama-se teixo.

 

 
Texto: Pedro Bidarra (autor do livro «Rolando Teixo», publicado pela Editora Guerra e Paz, em 2013, de onde foi extraído este texto)

 

 

 

 

A Natureza Luxuriante De São Tomé E Príncipe

É entre o verde de diferentes tonalidades da floresta e o azul do mar, também com tons distintos, que se faz uma paisagem inesquecível de tão opulenta que é.

 

Este destino tem praias paradisíacas, cascatas imponentes, florestas virgens e vive num ritmo leve leve que contagia quem visita a ilha.

 

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Quando penso em São Tomé e Príncipe, o primeiro pensamento que me vem à cabeça é que é o país, em estado natural, mais bonito que conheço e este é já um namoro antigo. A floresta densa de um verde opulento, as praias paradisíacas pintadas pelo quente mar em diferentes tons de azul, as cascatas no meio do nada e a fruta suculenta que nasce em qualquer canto arrebataram-me.

 

 

Mas nesta terra em que tudo parece ter mão divina, encontrei também um povo hospitaleiro, de sorriso e conversa fácil que acentua ainda mais a beleza natural do país, preservada pela ausência de turismo de massas, apesar da CNN o ter considerado recentemente um dos locais a visitar durante os próximos meses. São Tomé e Príncipe é um arquipélago de origem vulcânica, situado no Golfo da Guiné ao largo da costa do Gabão, no Oceano Atlântico, constituído por duas ilhas principais, São Tomé e o Príncipe.

 

 

A essas, juntam-se pequenas ilhotas. A seguir às Seicheles, é o país mais pequeno de África, por isso não é de admirar que a ilha principal tenha apenas 65 quilómetros de comprimento e 35 quilómetros de largura. Talvez seja a sua pequena dimensão que o torna tão especial, porque o que lhe falta em tamanho, sobra-lhe na diversidade de paisagem, aquela que capta a minha atenção mesmo antes de aterrar em solo são tomense, que visto do alto é uma impactante e densa mancha verde.

 

 

 

Mergulhos acrobáticos para um mar sublime

 

 

A cidade de São Tomé é muito segura e pequena o suficiente para ser percorrida a pé. Um dos seus pontos de interesse é a Baía Ana Chaves, que separa a cidade do mar e que muitos escolhem para descansar e observar os jovens a aventurarem-se em mergulhos acrobáticos para o mar. A Praça da Independência, o Palácio Presidencial, a Igreja de Santa Sé e o Forte de São Sebastião são exemplos da arquitectura colonial que ainda caracteriza a pacata cidade. O último alberga o museu nacional, que conta a história do país.

 

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Este é liderado pelas estátuas dos navegadores lusos, João Santarém, Pêro Escobar e João Paiva, que descobriram o arquipélago no século XV. No museu, não falta sequer uma réplica de uma roça, as infraestruturas construídas pelos portugueses para o cultivo do cacau e do café, o ouro de São Tomé. Hoje, muitas dessas propriedades estão abandonadas, mas outras foram recuperadas e merecem ser visitadas. Um bom exemplo disso é a Roça Agostinho Neto, a maior do país e que ainda produz café, cacau e óleo de palma.

 

 

Mas, voltando à cidade, há outros lugares marcantes, como o Mercado do Ponto e o Mercado Grande. É nestes dois lugares que melhor se sente África por estas paragens. São uma autêntica explosão de cheiros, cores e sons que vêm da afamada fruta, das malaguetas (existe aqui uma das mais picantes do mundo a que se chama fura-cueca), dos panos garridos e dos pregões dos vendedores. Continuando, à procura do que é autêntico, descubro a CACAU, as siglas da Casa das Artes Criação Ambiente Utopias de João Carlos Silva, o famoso cozinheiro do programa televisivo «Na Roça com os Tachos», onde é possível assistir a peças de teatro, concertos e ciclos de cinema, bem como ver exposições de arte contemporânea e, claro, provar a sua comida.

 

 

 

O que pode ver mais a sul

 

 

Da capital parto à descoberta do resto da ilha (é possível fazê-lo alugando um jipe ou contratando um guia), primeiro para sul, depois para norte, por estradas estreitas e esburacadas (na verdade, em São Tomé só existem duas estradas, uma para sul e outra para norte, o que deixa muita área da ilha intacta), pelas quais se avistam aldeias com casas de madeira construídas sobre estacas para que a água corra livremente por baixo das habitações. As crianças brincam à beira das estradas e correm atrás de cada carro que passa a pedir doces.

 

 

 

As mulheres lavam calmamente a roupa (esburacada de tanto uso) nos riachos e estendem- na à beira da estrada, num colorido que me fica na memória visual. Os animais passeiam-se descansadamente. Ouve-se música que sai das casas.

 

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Aqui não há quem não siga o lema do leve leve, não há pressas para nada e é neste ritmo lento que uma viagem a São Tomé deve ser feita. O sul é a parte da ilha mais selvagem. Em muitos locais o verde da paisagem é denso e a vegetação só é cortada pelo Pico Cão Grande.

 

 

 

Esse é o nome do cume vulcânico que parece querer tocar no céu em pleno Parque Nacional do Ôbo e contrasta com o azul das praias de beleza avassaladora, como a de Micondó, a da Piscina (assim chamada porque as rochas negras formam piscinas naturais), a das Sete Ondas, a de Jalé (conhecida pela desova das tartarugas nas noites de dezembro) e a de Inhame.

 

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Qualquer uma delas vale bem a pena o desvio da estrada. Se não fizer, está a perder metade do encanto do arquipélago.

 

 

 

A pujança do oceano num ponto de passagem obrigatório

 

 

Outro ponto de paragem obrigatório é a Boca do Inferno, onde o Oceano Atlântico mostra toda a sua pujança ao embater nas rochas, contrastando com a calma que demonstra na maior parte das praias e que convida a banhos também eles demorados.

 

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Já em São João dos Angolares, as atenções viram-se para a Roça de São João.

 

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Mesmo quem não fica por lá a pernoitar, tem de ir experimentar as iguarias. O proprietário é o já citado João Carlos Silva e a sua criativa gastronomia é por si só um chamariz, uma vez que ele próprio cozinha para os convidados.

 

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Mas, quando descobrir a vista do alpendre ficará simplesmente rendido. Pelo menos, comigo foi assim. Um vale verde é recortado pela praia e pode-se passar ali horas na tal cadência leve leve. Além da Casa Grande, na qual se situa o restaurante e a pousada, o antigo hospital é uma oficina de artes, ou seja, nesta roça reúne-se gastronomia, cultura e agricultura.

 

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Por aqui pode-se aprender muito sobre os usos e costumes da ilha. Ainda na parte sul, situa-se o Ilhéu das Rolas, um dos locais que mais turistas atrai em São Tomé.

 

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Está à distância de uma viagem de barco de 15 minutos de Porto Baleia e quando lá se chega entra-se num resort, situado às portas da pequena aldeia do ilhéu. Esta proximidade faz com que seja comum ver-se as crianças a brincarem alegremente perto do cais, onde também existe uma pequena capela. Os dias podem ser serenamente divididos entre idas à praia privada e mergulhos na enorme piscina do hotel. Mas aconselho a descobrir este pedaço de terra, onde passa a linha imaginária do Equador assinalada devidamente por um marco e por um mapa-mundo.

 

 

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As belezas que pode descobrir na linha do Equador

 

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Basta dar um passo para entrar no hemisfério norte e outro para pisar o hemisfério sul . Não deixe de tirar a fotografia da praxe com um pé em cada hemisfério. A paisagem, essa, mantém-se inalterada.

 

 

 

Por aqui, não há nada que diferencie estes dois lados do mundo. Além desta brincadeira entre o norte e o sul, a vista também é deslumbrante. Mas por falar em vista, recomendo também a subida ao farol e dar a volta à ilha para descobrir mais umas quantas praias fascinantes e quase sempre vazias.

 

 

 

Fixe os nomes delas. Tambor, Furnas e Café! E é nesta que vejo uma criança a sair do mar com um pau a fazer de cana de pesca bem recheado de peixe. Esta é uma das magias de São Tomé, terra de natureza generosa que dá o que comer a uma população muito pobre mas serenamente feliz. Para o fim, deixei o batismo de mergulho, que aconselho a toda a gente. Por estas paragens a água é quente e o fundo do mar tem tanta cor e vida, oferecidas pela rica flora e pelos inúmeros peixes que ali vivem, que transforma um simples mergulho numa experiência de vida.

 

 

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Outro espetáculo proporcionado pela natureza no Ilhéu é o pôr do sol. Sentada na praia do Hotel Pestana Equador, observei o céu a ser pincelado em tons de laranja e rosa, cores que são destituídas pelo negro da noite, que vai adquirindo o tom prateado das estrelas, impossíveis de contar por serem tantas. É impossível não nos deixarmos deslumbrar com um momento de intensa beleza como este, que muitos turistas se vão esforçando por imortalizar com as suas máquinas digitais.

 

 

 

Floresta densa para um cenário perfeito

 

 

 
Está na hora de rumar a norte e ao interior da ilha, a zona de floresta cerrada e o paraíso das caminhadas no Parque Nacional de Ôbo, onde se situa o ponto mais alto da ilha, o Pico de São Tomé, com uma altura de 2.024 metros.

 

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É possível subi-lo em excursão, embora se tenha de ter alguma preparação física, já que são necessários dois dias de caminhada com pernoita no caminho. Esta subida é feita sobretudo durante a estação seca, porque na altura das chuvas é quase impossível lá chegar.

 

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Mas este é só um dos trilhos que podem ser seguidos, há outros como o que leva à Lagoa Amélia, o lugar onde antigamente existia o vulcão que, dizem, deu origem à ilha. O parque cobre quase 60% do território de São Tomé e nele pode-se ver desfilar o colorido das muitas das 150 espécies de aves que vivem no arquipélago (28 das quais são endémicas) e da sua flora intensa. Existem lá mais de 700 espécies nativas, entre as quais 100 só de orquídeas.

 

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O Parque tem várias cascatas, mas é fora dele que se encontra uma das mais deslumbrantes, a de São Nicolau, que se anuncia pelo barulho muito antes da chegada. Depois desta incursão pelo interior, voltei à costa para conhecer as praias do norte.

 

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Dizem que são menos bonitas que as do sul, mas tenho dificuldade em afirmá-lo. São diferentes mas igualmente deslumbrantes. A Lagoa Azul, circundada por embondeiros, é o local ideal para a prática de snorkling, mas há mais, como a das Conchas e do Tamarindo, esta com um extenso areal branco e coqueiros na sua orla. Para outras núpcias ficará a outra ilha do arquipélago, o Príncipe, que dizem ser ainda mais bela e pura e, se assim for, então em terra esculpida por deuses parece que a realeza tem ainda mais força que os santos.

 

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A gastronomia local que importa saborear

 

 

 

Em mar onde se mete a mão e sai peixe, como costumam dizer os são-tomenses, não é de estranhar que o pescado e os mariscos sejam a base da alimentação, tal como a fruta que nasce em qualquer terreno.

 

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Só de banana há sete variedades distintas, mas há também a fruta-pão, cajamanga, ananás, coco, carambola e papaia. A gastronomia do país tem uma forte influência angolana, cabo-verdiana e portuguesa, pois foram estas as nacionalidades que povoaram o território.

 

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O prato típico é o calulu, um ensopado de peixe seco (também pode ser feito com carne) com legumes e óleo de palma. Além dos restaurantes dos hotéis, deve experimentar o Celvas em Guadalupe, o Santola em Neves, a Roça de São João em Angolares e a Casa da Dona Tête, que serve refeições no seu quintal, além do Filomar, na cidade. Na fábrica de Claudio Corallo, um italiano radicado em São Tomé e Príncipe, pode provar o cacau puro, com 100% chocolate sem adição de açúcares ou outras substâncias, uma das matérias-primas do arquipélago.

 

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Nas plantações Nova Moca e Terreiro Velho, Claudio Corallo, que também tem uma loja especializada em Lisboa, localizada numa das ruas da zona do Príncipe Real, tem plantas de cacau que descendem das primeiras que chegaram ao arquipélago e diz que é esse o segredo para fazer o melhor chocolate do mundo. Se as visitar, aproveite para degustar o suculento fruto da planta de cacau. Se não tiver oportunidade de ir a São Tomé e Príncipe tão cedo, não deixe de dar lá um salto.

 

 

Guia de viagem

 

 
A Tap e a STP Airways voam de Lisboa para São Tomé a partir de 900 €. Existem duas estações, a seca e a das chuvas. A primeira decorre de junho a agosto e a segunda de setembro a maio. A temperatura média varia entre os 21º C e os 29º C e o ar é húmido. Qualquer altura é boa para visitar o país. No que se refere à saúde, é obrigatória a vacina da febre amarela e a profilaxia da malária. O ideal é marcar uma consulta do viajante. A moeda local é o dobra e um euro equivale a 24 dobras.

 

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São Tomé e Princípe está longe do turismo de massas e, como tal, não tem uma grande oferta de alojamentos. No entanto, há alguma variedade de categorias.

 

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Por isso, pode escolher entre hotéis de quatro e cinco estrelas, eco-lodges construídos a pensar na defesa da exuberante natureza do país e as roças, onde antigamente se trabalhava o cacau e o café. Estas são algumas das nossas sugestões:

 

 

 

– Hotel Pestana Equador

 

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Situado no Ilhéu das Rolas, é um resort com bungalows de madeira que não ferem a paisagem envolvente. Tem uma enorme piscina de água salgada e um spa. Preços a partir de 118 € por noite com meia pensão.

 

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– Hotel Pestana São Tomé

 

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É um hotel moderno na cidade de São Tomé mesmo em frente ao mar. Possui spa, centro náutico, discoteca, casino, piscina e praia privada, entre outras facilidades. Preços a partir de 172 € por noite com pequeno-almoço.

 
– Hotel Praia Inhame

 

Este eco resort tem 16 bungalows de madeira e situa-se mesmo à beira do mar, na praia Inhame. Há oportunidade de fazer cursos de cozinha local, entre muitas outras atividades. Preços a partir de 60 € por noite com pequeno-almoço.

 

 
Texto: Rita Caetano
SABER VIVER – SAPO VIAGENS E TURISMO

 

Tranquilidade Absoluta Numa Planície Sem Fim

O L’and Vineyards é um luxuoso resort turístico que, além de uma estrela Michelin, também tem uma vista privilegiada para todas as outras estrelas do céu.

 

 

Da celebração do vinho e da paisagem da vinha nasceu em Montemor-o-Novo um resort turístico que não para de receber elogios. E não é só porque integra a arquitetura na natureza típica do Alentejo. Esta unidade hoteleira de excelência desenvolveu um programa turístico de baixa densidade, centrado no conceito de wine resort. A imagem pretendida para a paisagem deste projeto não é a recriação de uma paisagem rural, mas uma paisagem funcionalmente diferente, por razões que se prendem com uma utilização contemporânea e sofisticada.

 

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A partir de uma pré-existência motivadora e justificadora de todo um conceito de intervenção, a atividade vitivinícola e o culto pela apreciação e prova do vinho, estabelece-se uma área nuclear, unificadora e de presença constante, que é a vinha. As zonas públicas são definidas áreas com plantações herbáceo-arbustivas em frente a cada alojamento, funcionando como um buffer entre espaços públicos e privados, com definidos espaços de plantação de árvores e arbustos.

 

 
Estas espécies botânicas ocupam espaços rasgados no pavimento em calçada aos quais se associa mobiliário urbano, muitos deles com uma vista privilegiada para o jardim da vinha, outro dos atrativos desta unidade hoteleira. Acede-se diretamente através do parque de estacionamento ou pelo edifício. Esta zona é caracterizada por uma sucessão de terraços vinhateiros e percursos, estruturados por muretes de pedra. Nestes terraços pretende-se a criação de uma coleção de castas de diferentes regiões vinícolas.

 

 
A vinha e as uvas

 

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A vinha e um grande lago são alguns dos aspetos mais marcantes deste complexo hoteleiro de 22 suites, que também integra um restaurante, o único da região do Alentejo que já foi, por mais do que uma vez, distinguido com uma estrela Michelin, graças ao saber e aos sabores propostos pelo chef Miguel Laffan.

 

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Outra das atrações do resorte é o seu spa, o Spa Vinothérapie da Caudalie, marca francesa que tira partido do poder rejuvenescedor e hidratante da uva nos produtos que comercializa. Um espaço de 800 m2 concebido por Márcio Kogan, usando pedra natural e madeira.

 

 

Terraços verdes adjacentes a cada alojamento

 

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A zona envolvente da piscina é caracterizada por um espaço aberto onde a piscina se funde com o relvado, no qual se definem duas áreas de estadia distintas. Em frente a cada unidade de alojamento são definidos terraços ajardinados estruturados por muretes de pedra.

 

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Os muretes associados à vegetação e a um salto de cota de cerca de meio metro em relação ao percurso que faz a distribuição dos hóspedes pelas unidades, permitem alcançar a privacidade e conforto desejada. Através da criação de espaços intimistas em contraposição com o restante jardim, é sugerida a ideia de espaços partilhados e espaços privados.

 

 
Vegetação

 

 

O elenco de vegetação proposta é quase na sua maioria constituído por espécies de árvores, arbustos e herbáceas autóctones, e por isso adaptadas às condições edafo-climáticas do território. A utilização de vegetação agrícola, essencialmente pomares (laranjal, olival e amendoal) e vinha, constituem práticas agrícolas existentes em todo país e nesta região específica, inclusivamente em propriedades contíguas a esta. A introdução destes vários tipos de vegetação irá, no futuro, contribuir para uma maior diversidade de habitats com um acréscimo significativo da biodiversidade.

 

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Materiais

 
O granito apresenta-se como o principal material inerte que compõem este projeto. Assume-se como constituinte principal dos muros de pedra que delimitam socalcos, canteiros e percursos. Os percursos feitos em macadame, permitem a circulação pedonal dos hóspedes mas também a circulação de pequenas viaturas. A drenagem é assegurada por uma tripla fiada de cubo de granito na lateral dos percursos.

 

 

Texto: João Nunes, Iñaki Zoilo e PROAP, Estudos e Projetos de Arquitetura Paisagista, com edição de Luis Batista Gonçalves