O ex-Presidente Lula da Silva pode tornar-se assessor especial da Presidente brasileira, Dilma Rousseff, caso o Supremo Tribunal Federal (STF) mantenha a nomeação para ministro da Casa Civil suspensa, disse o ministro Jaques Wagner.
“Se não desobstruir no Supremo a nomeação dele, pessoalmente sou favorável a convocá-lo como assessor especial da Presidência”, referiu Jaques Wagner, chefe do Gabinete Pessoal de Dilma Rousseff, num encontro com jornalistas estrangeiros no Rio de Janeiro.
Para Jaques Wagner, o essencial é que Lula da Silva “tenha um grau de institucionalidade para estar em Brasília não como um cidadão, mas como parte de um projeto político e do governo, para conversar com parlamentares e senadores”.
Wagner defendeu que foi correto “convocar o melhor jogador” do Partido dos Trabalhadores (PT) para a maior disputa política já enfrentada pelo partido em 13 anos à frente dos destinos do país. O ministro disse ainda esperar que até ao início da próxima semana Lula da Silva esteja a trabalhar como membro do Executivo.
Lula da Silva foi nomeado ministro da Casa Civil na quinta-feira, mas, no dia seguinte, a nomeação foi anulada pelo magistrado Gilmar Mendes, do STF. O ex-Presidente deverá agora ter de esperar por uma decisão final do plenário do STF, que só voltará a reunir-se a 30 de março.
O chefe do Gabinete Pessoal da Presidente voltou a criticar o processo de ‘impeachment’ (destituição) contra Dilma Rousseff, dizendo que se trata de um golpe da oposição. “Definitivamente não há nenhum crime de responsabilidade. (…) É golpe porque é mau uso do dispositivo constitucional”, afirmou, considerando ainda que a impugnação parece instituir a lógica de que um executivo impopular pode ser objeto de impedimento.
O pedido de destituição baseia-se na acusação de que Dilma Rousseff cometeu atos ilegais, conhecidos como “pedaladas fiscais”, ao autorizar adiantamentos de dinheiro para os cofres do Governo, que foram realizados pela Caixa Económica Federal e pelo Banco do Brasil.
Estes adiantamentos teriam sido solicitados para manipular as contas públicas durante o seu primeiro mandato. Dilma Rousseff foi notificada na quinta-feira sobre a abertura oficial dos trabalhos da comissão especial da Câmara de Deputados que vai analisar o processo de destituição.
Dilma Roussef diz que não vai renunciar ao cargo de Presidente do Brasil
A Presidente brasileira, Dilma Rousseff, assegurou esta segunda-feira que não renunciará ao cargo e que o processo de ‘impeachment’ (destituição) contra ela que segue no Congresso é uma tentativa de golpe.
“O que está em curso é um golpe contra a democracia. Jamais renunciarei”, afirmou a chefe de Estado, em Brasília, durante umencontro com dezenas de juristas que criticaram o processo de ‘impeachment’ e a divulgação de gravações telefónicas da presidente interceptadas pela Operação Lava Jato.
Dilma considerou que a tentativa de derrubá-la é tramada nos “porões da baixa política”.
“Pode descrever-se um golpe de Estado com muitos nomes, mas ele sempre será o que é: a ruptura da legalidade, atentado à democracia”, enfatizou a líder brasileira.
Confessando que preferia não passar pelo que está a viver neste momento, Dilma Rousseff deixou, no entanto, claro que lhe “sobram energia, respeito à democracia e disposição para enfrentar a ameaça à estabilidade democrática do país”.
Segundo a imprensa brasileira, juristas, advogados, promotores, magistrados e defensores públicos participaram do evento denominado “Encontro com Juristas em Defesa da Legalidade”.
O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância, como a divulgação de áudio de conversa telefônica entre Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A presidente da República foi recebida no Palácio do Planalto, onde ouviu por diversas vezes a plateia gritar palavras de ordem como “não vai ter golpe”.
Entre as vozes que se pronunciaram no evento, o ex-presidente da Associação Nacional de Juízes Federais (Ajufe), o governador do Maranhão, Flávio Dino, considerou a divulgação das escutas telefónicas feita pelo juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, “absolutamente ilegais”.
“Estamos assistindo a um crescimento dramático de posições de porte fascista representadas pela violência cometida por grupos inorgânicos sem líderes e em busca de um fuhrer [expressão alemã usada para designar um líder ou um chefe], de um protetor. Ontem, as Forças Armadas. Hoje, a toga supostamente imparcial e democrática”, opinou.
Já o juiz federal Francisco de Queiroz Bezerra Cavalcanti criticou a tese de que Lula da Silva teria sido nomeado ministro da Casa Civil para obstruir a Justiça, dado que ao chegar ao governo passaria a ter foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal, escapando assim ao juiz Sérgio Moro.
Bezerra Cavalcanti frisou que, mesmo estando sob a alçada da Supremo, o ex-Presidente não deixaria de ser investigado.
Entre os áudios divulgados pelo juiz Sérgio Mouro, Dilma Rousseff diz a Lula da Silva que mandou alguém entregar o termo de posse do ex-Presidente como ministro para o caso de ser necessário.
As declarações foram interpretadas como um possível “combinação” para garantir a imunidade de Lula, mas a Presidente esclareceu que falavam na assinatura do seu antecessor para a tomada de posse, porque na altura não era ainda certa a presença de Lula no evento.
Por seu lado, o sub-procurador da República João Pedro de Sabóia Filho, alertou que o estado democrático está “ameaçado” por aqueles que querem “manipular a Justiça” e substituir o Governo.
Dilma pede anulação da divulgação de escutas por estar em risco a “soberania nacional”
O Governo brasileiro pediu esta segunda-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF) a anulação da decisão do juiz Sérgio Moro de retirar o sigilo às escutas telefónicas na investigação contra o ex-Presidente Lula da Silva. De acordo com a Advocacia-Geral da União (AGU), que defende o Executivo, Moro colocou “em risco a soberania nacional, em ofensa ao Estado democrático republicano”.
Os actos do juiz apresentam “vício de incompetência absoluta”, uma vez que só o Supremo poderia ter divulgado as gravações, por envolverem a atual Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, alegou a AGU, citada pelaimprensa brasileira. Na prática, como as escutas já foram divulgadas, se o Supremo entender que o juiz agiu de modo indevido, o conteúdo das gravações pode ser desconsiderado como prova.
Nas escutas divulgadas, Dilma Rousseff diz a Lula da Silva que mandou alguém entregar o termo de posse do ex-Presidente como ministro da Casa Civil para o caso de ser necessário. As declarações foram interpretadas como um possível “combinação” para garantir a imunidade de Lula, mas a Presidente esclareceu que falavam na assinatura do seu antecessor para a tomada de posse, porque ainda não era certa a presença de Lula na cerimónia.
Também esta segunda-feira, a AGU pediu ao Supremo Tribunal Federal para anular a decisão do ministro do Supremo Gilmar Mendes, que suspendeu a posse de Lula da Silva como ministro da Casa Civil e ainda determinou que as investigações envolvendo o ex-Presidente continuem a ser conduzidas pela Justiça do Paraná, ou seja, nas mãos do juiz Sérgio Moro.
O Governo classificou como “ilação” a tese de que o ex-chefe de Estado, investigado no âmbito da Operação Lava Jato, foi nomeado para a Casa Civil para não ser investigado pela Justiça do Paraná. E entende que Gilmar Mendes é suspeito para analisar o caso porque, entre outras questões, deu declarações prévias sobre a situação de Lula, e que a nomeação de qualquer pessoa é um ato privado de Dilma Rousseff, ainda mais em tempos de crise política.
Para a AGU, barrar a nomeação do ex-Presidente para governante por ele ser investigado seria ferir o princípio da presunção de inocência.
Marina da Silva contra a nomeação de Lula de Silva
Marina Silva, porta-voz do partido Rede Sustentabilidade, criticou esta terça-feira a nomeação de Lula da Silva para o ministério da Casa Civil do governo de Dilma Rousseff, e pediu que se faça “adequadamente a leitura das ruas”.
Logo que foi feita a nomeação eu entendi-a como uma espécie de paliativo para a crise, criando ali, num regime presidencialista, a figura do primeiro-ministro. Isso não está previsto na nossa Constituição. Depois de tudo o que aconteceu com essa nomeação, passei a ver [este acto] como um combustível de aprofundamento da crise. É preciso fazer adequadamente a leitura das ruas, que tinham acabado de se manifestar, dizendo que não estão satisfeitas com o que está aí”, disse em entrevista ao jornal Estadão.
Revista Veja revela um “plano secreto” para tirar Lula da Silva do Brasil em caso de prisão
Os conselheiros de Lula da Silva estarão a preparar um plano de fuga para evitar uma eventual ordem de prisão contra o antigo presidente brasileiro. O alegado “plano secreto” é revelado na próxima edição da revista Veja que avança ainda Itália como o destino preferido para este fim. Até agora a revista só disponibilizou no site uma parte desta investigação.
O plano passará por um pedido de asilo a uma embaixada estrangeira, mas não sem antes negociar com o Congresso a obtenção de uma espécie de salvo-conduto que permitiria a Lula deslocar-se até ao aeroporto do qual partiria para o país de destino. Esta seria uma solução política, na medida em que envolveria algum tipo de apoio dos órgãos políticos brasileiro.
Segundo a revista, o staff do ex-presidente chegou a discutir um plano mais radical, no qual Lula da Silva poderia deixar o país no papel de vítima de perseguição ou conspiração. Cuba, Venezuela, Franca e Itália foram os quatro destinos possíveis avaliados neste plano. Chegaram a ser feitas sondagens por parte dos conselheiros de Lula que afastaram logo o país liderado por Nicolás Maduro, devido à instabilidade política. A investigação jornalística diz mesmo que os enviados de Lula conversaram com o embaixador de Itália no Brasil sobre a hipótese deste país receber o antigo presidente.
Embaixada italiana desmente conversas com embaixador
A Embaixada de Itália no Brasil já veio desmentir contactos com o embaixador. “As informações referentes à Embaixada e às supostas conversas do Embaixador Raffaele Trombetta são inverídicas”. A escolha de Itália como destino teria como fundamento o facto da mulher de Lula ter dupla nacionalidade, brasileira e italiana, uma condição que seria extensível aos familiares. O Instituto Lula da Silva ainda não reagiu à reportagem da Veja.
A Veja faz ainda uma cronologia da preparação do plano que arrancou no dia 6 de março, depois de o ex-presidente ter sido detido para interrogatório, no quadro da mega investigação Lava Jato. Foi nesta data que surgiu a possibilidade de Lula Silva ser nomeado para o governo de Dilma Roussef, uma via que foi tentada, mas entretanto suspensa por ordem do ministro do Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Terá sido depois desta suspensão que Lula se envolveu pessoalmente no tal plano que aposta numa solução de saída negociada com os principais partidos da oposição ao PT (Partido dos Trabalhadores).
TPT com: Sebastião Moreira/EPA/Milton Cappelletti/Fernando Bizerra Jr./EPA/Ana Suspiro/OBS/Lusa/ 31 de Março de 2016