When the night has come / Quando a noite vier
And the land is dark / E a terra estiver escura
And the moon is the only light we see / E a lua é a única luz que vemos
No I won’t be afraid / Não terei medo
No I won’t be afraid /Não terei medo
Just as long as you stand, stand by me / Desde que estejas, estejas ao meu lado
And darling, darling stand by me / E amor, amor fica ao meu lado
Oh, now, now, stand by me / Oh, agora, agora, fica ao meu lado
Stand by me, stand by me /Fica ao meu lado, fica ao meu lado
Diferente. Harry e Meghan são diferentes e o seu casamento fez jus a esta propriedade. Na igreja cantou-se Stand by Me, de Ben E King; a palavra foi de um pastor norte-americano, Michael Curry, que apanhou de assalto os presentes; lá fora mais de dois mil “comuns” entraram nos jardins do palácio a pedido dos novos duques de Sussex para assistir à cerimónia. Entre os convidados não há coroas ou chefes de Estado, mas há ilustres, entre os quais Serena Williams e o marido, Oprah Winfrey, Elton John e o marido, Idris Elba, a família Beckham ou George Clooney e Amal.
Quando os convidados estavam a chegar, a casa real emitiu um comunicado informando que a rainha Isabel II de Inglaterra concedeu o título de Duque de Sussex a Harry de Gales. Assim, ditava a monarca, “o príncipe Harry torna-se Sua Alteza Real o duque e de Sussex e Meghan Markle tornar-se-á pelo seu casamento Sua Alteza Real a duquesa de Sussex”.
A cerimónia estava marcada para as 12h00, e tal como dita a pontualidade britânica, assim aconteceu.
Os primeiros convidados começaram a chegar pouco depois das 09h00, entre as ausências ilustres está Theresa May, primeira-ministra do país, o casal Obama, amigos de longa data de Harry, ou pai da noiva, doente e polémico. Porém, não faltaram amigos nesta cerimónia, desde o elenco de “Suits”, a outros ilustres já citados.
Com Meghan a caminho, Harry, o noivo, chegou à capela de Saint-George pelas 11h34, acompanhado do irmão e padrinho, William.
A noiva, por sua vez, fez a viagem com a mãe, mas não entrou com ela, tendo, como manda o protocolo, Dori entrado primeiro. Por fim, a aguardada chegada da noiva, a poucos minutos do 12h00, hora marcada para o início da cerimónia, de sorriso no rosto e a acenar aos milhares que se deslocaram a Windsor para assistir à cerimónia.
Já com toda a família real no interior da capela — com Sua Majestade a Rainha de Inglaterra a ser recebida ao som de trombetas — Meghan, de sorriso no rosto, desfilou até a altar de braço dado com o príncipe Carlos, pai do noivo, sob o muito emocionado olhar da mãe, Doria Ragland.
Thomas Markle, o pai, decidiu não acompanhar a filha ao altar depois de ter vindo a público que estaria a colaborar com “paparazzi” para que estes o apanhassem a experimentar o fato que levaria ao casamento real. Depois da polémica, um problema cardíaco contribuiu igualmente para a sua ausência na cerimónia.
Só quando a agora esposa de Harry chegou à capela é que se respondeu a uma das mais aguardadas questões desde dia: afinal, quem desenhou o vestido da noiva? A escolha recaiu sobre Clare Waight Keller, que se tornou no ano passado a primeira diretora artística na história da casa francesa de moda Givenchy.
“Fiel à herança da casa [Givenchy], as linhas do vestido são conseguidas usando seis costuras meticulosamente colocadas. O foco do vestido é o decote gráfico em barco que graciosamente molda os ombros e enfatiza a esbelta cintura esculpida.
As linhas do vestido estendem-se e a cauda flui em dobras redondas macias, protegidas por uma saia de baixo em tripla organza de seda. As finas mangas de três quartos acrescentam uma nota de modernidade refinada.” — É assim que a casa real descreve o vestido em comunicado.
Sobre o véu, uma particularidade: uma composição floral onde estão representados os 53 países da Commonwealth, um desejo de Meghan, segundo a casa real, e uma forma de agradecer a oportunidade de pertencer e servir esta comunidade. Sobre a cabeça, uma tiara de diamantes, emprestada pela rainha Isabel II, que a herdou da rainha Maria, coroada com o marido, o rei Jorge V, em 1911.
Aceitas este homem/mulher, como teu esposo/esposa? O “Sim, aceito” veio logo ao início, o dele, o dela e o daqueles mais próximos que responderam afirmativamente à responsabilidade de, enquanto família, serem suporte por este casal.
A palavra foi do reverendo norte-americano Michael Curry, que falou sobre um amor redentor, capaz de transformar vidas.
“O Dr. King [Martin Luther King] estava certo, precisamos de descobrir o amor, o poder redentor do amor. Quando o fizermos tornaremos este mundo um novo mundo. Meu irmão, minha irmã, eu amo-vos. Deus vos abençoe”. Nada convencional, o reverendo lembrou que “quando o amor é o caminho, nós tratamo-nos, bem…, como se fossemos mesmo família”.
Pelas vozes do coro “The Kingdom Choir” ouviu-se “Stand by Me, de Ben E King”, uma escolha invulgar para um casamento da família real britânica, um clássico norte-americano.
Seguiram-se os votos e a troca de alianças — feitas em ouro do País de Gales, como manda a tradição. “Declaro-vos marido e mulher”, disse por fim o arcebispo de Cantuária, Justin Welby, oficializando a união entre Harry, de 33 anos, e Meghan Markle, de 36 anos. Depois, as assinaturas — afinal há que formalizar o casório perante a lei — e, por fim, o aguardado beijo, não numa varanda, como aconteceu com o seu irmão William, mas no topo da escadaria da capela, ao som dos gritos entusiasmados das 2.640 pessoas convidadas para assistir no parque do castelo de Windsor ao enlace — entre as quais 1.200 pessoas de todo o Reino Unido e 200 membros de organizações de solidariedade.
E o cortejo: 25 minutos de acenos, de sorrisos, de hurras e de bandeiras pelas ruas de Windsor. De regresso ao Castelo, longe de olhares públicos, Harry e Meghan juntaram-se aos 600 convidados que assistiram à cerimónia na capela e que irão participar da receção, que inclui um almoço, oferecida pela rainha britânica.
Uma receção mais restrita foi oferecida hoje à noite pelo pai de Harry, o príncipe Carlos (o primeiro na linha de sucessão ao trono britânico), na mansão de Frogmore House, situada a cerca de um quilómetro do castelo de Windsor. Duzentas pessoas foram convidadas para este evento.
Apesar de informal, estima-se que este casamento real custe cerca de 32 milhões de libras (36,5 milhões de euros).
O novo casal real, que viverá numa casa campestre situada nos terrenos do palácio de Kensington, em Londres, comprometeu-se após mais de um ano de namoro.
O novo papel de Meghan Markle, a princesa Hollywood
O filho mais novo de Carlos e Diana que, até há bem pouco tempo era visto pelos seus súbditos (ou pela imprensa britânica, sobretudo a tabloide) como o “mal-comportado” da família real, casou-se. Com cada vez maior preponderância no seio da “The Firm” (“A Firma”, a alcunha pela qual a casa real é conhecida), Harry deu o nó hoje, sábado. Mas quem é Meghan Markle, a “princesa de Hollywood” que roubou o coração do “enfant terrible” que nunca será rei?
Rachel Meghan Markle, nome completo, de 36 anos, nasceu a 4 de agosto de 1981, em Los Angeles. Filha de pai branco e mãe negra, estudou num colégio privado católico antes de tirar o curso de Comunicação, na Universidade de Norhwestern. Três anos mais velha que Harry, é divorciada, atriz e ativista.
Meghan Markle ficou conhecida do grande público pelo papel de Rachel Zane na série norte-americana Suits, disponível na plataforma Netflix. Por causa das gravações trocou Los Angeles, onde cresceu, por Toronto, onde viveu até à mudança para Londres.
Depois da faculdade, Meghan Markle chegou a trabalhar na embaixada dos EUA em Buenos Aires. Mais tarde, entre audições, fez uso das habilidades desenvolvidas nas aulas de caligrafia para escrever convites de casamentos e ganhar mais alguns trocos.
O casal conheceu-se em julho de 2016 num “encontro às cegas” promovido por amigos em comum. À imprensa, o príncipe confessou na altura que soube de imediato que a atriz era “a tal” — apesar de Harry nunca ter visto a série onde Markle desempenhava o papel de advogada e a atriz pouco saber sobre a casa real britânica.
Meses depois, a relação foi confirmada pelo Palácio de Kensington e em setembro desse ano dá-se a primeira aparição pública do casal em Toronto, nos Jogos Invictus, uma competição para veteranos de guerra apadrinhada pelo príncipe.
A oficialização do noivado aconteceu no final de novembro de 2017, depois de a rainha Isabel II ter dado a sua aprovação. Católica, Meghan Markle foi batizada em março deste ano segundo o rito anglicano e pedirá no futuro a nacionalidade britânica, que pode demorar vários anos.
Na primeira entrevista depois do anúncio, transmitida pela BBC, na qual o casal nunca largou a mão um do outro, surge a pergunta que todos queriam fazer: como foi o pedido de casamento? Num tom descontraído, que contraria um pouco a imagem da família real, Meghan conta que tudo aconteceu quando o príncipe estava “a tentar assar um frango”. “Mal te deixei acabar o pedido”, disse dirigindo-se ao príncipe. “Eu disse, ‘Posso dizer sim agora?”, partilhou a californiana.
O anel de noivado tem um diamante do Botswana, em memória de um viagem que fizeram juntos pouco depois de se terem conhecido — dois encontros depois, exatamente — e dois diamantes que pertenciam à princesa Diana. “É uma forma de a termos connosco”, afirmou o príncipe na entrevista acima referida. Botswana e Namíbia, no continente africano, foram os locais escolhidos pelo casal para a lua-de-mel.
Este não será o primeiro casamento da noiva do príncipe Harry. Meghan Markle casou em 2011 com o produtor Trevor Engelson, com quem namorou cinco anos, divorciando-se dois anos depois por “diferenças irreconciliáveis”. A atriz não será também a primeira norte-americana divorciada a entrar na vida da família real britânica. No passado, em 1937, a socialite Wallis Simpson obrigou Eduardo VIII a abdicar do trono a favor do irmão, Jorge VI (pai de Isabel II), para casar.
As polémicas da família Markle
Markle é filha de Doria Loyce Ragland, assistente social e professora de yoga, e de Thomas Wayne Markle, diretor de fotografia vencedor de um Emmy. A profissão do pai levou a que Meghan passasse muito tempo, em criança, nos estúdios onde se filmava a sitcom “Married…with Children”. “Um sítio muito divertido mas um pouco perverso para uma menina com um uniforme de colégio católico crescer”, contou numa entrevista à Vanity Fair. O casal divorciou-se quando a filha tinha 6 anos, sendo que atriz tem uma irmã e um irmão mais velhos, fruto do primeiro casamento do pai.
A família da futura esposa de Harry tem vindo a protagonizar uma série de polémicas. Thomas Markle decidiu não acompanhar a filha ao altar depois de ter vindo a público que estaria a colaborar com “paparazzi” para que estes o apanhassem a experimentar o fato que levaria ao casamento real. O pai da noiva disse, depois, que não o tinha feito por dinheiro, mas sim para melhorar a sua imagem pública. Já esta semana, Samantha Markle, meia irmã, afirmou que foi ela quem combinou “o esquema” e disse tê-lo feito “com boas intenções”. Ela que estará a escrever um livro de memórias intitulado “The Diary of Princess Pushy’s Sister”.
Outro filho de Thomas Markle surge na imprensa, e pelas piores razões. Numa carta aberta, escrita à mão e revelada pela revista americana I Touch Weekly, no início de maio, Thomas Markle Jr. terá advertido o príncipe Harry de que o enlace seria “o maior erro na história dos casamentos reais”. Thomas descreve a futura esposa do príncipe, sua meia irmã, como “uma mulher aborrecida e vaidosa” que fará da família real “uma piada”. Antes, em janeiro deste ano, Markle Jr. já fora notícia por ter sido ser preso e acusado de violência doméstica depois de ter apontado uma arma à cabeça da namorada.
A ausência de Thomas Markle, justificada também por problemas de saúde (terá tido um enfarte na segunda semana de maio), deixou durante dias em aberto a questão: quem levará Meghan Markle ao altar? Primeiro surgiu a hipótese de ser a mãe, Doria, com quem a atriz tem uma boa relação e a quem Harry terá pedido permissão para casar com a atriz. Esta sexta-feira, 18 de maio, ficou a saber-se que será o príncipe Carlos, pai de Harry, a fazer as honras.
De Hollywood à casa real britânica
A atriz conta com 30 créditos no IMDB, destacando-se da lista a personagem de “Rachel”, em Suits. Entre 2011 e 2017 entrou em 108 episódios, os últimos transmitidos no mês de abril, na sétima e última temporada da série de advocacia.
A sua estreia no pequeno ecrã aconteceu, aos 21 anos, num episódio da série médica “General Hospital” (2002). A personagem chamava-se Jill e apareceu em apenas num episódio. Seguiu-se a estreia no cinema em “O Amor Está no Ar” (2005), com Ashton Kutcher e Amanda Peet. Sem direto a nome, a sua personagem partilha um voo com Oliver Martin (Kutcher) e aparece referida nos créditos como “hot girl” (rapariga sexy, em português).
Poderá recordar-se ainda de Meghan Markle nas séries “CSI : Nova Iorque” (2006) ou “CSI: Miami” (2010), em “90210” (2008), onde a sua personagem é protagonista de uma cena ousada de sexo oral, em “Fringe” (2009), como a agente do FBI Amy Jessup, ou em “Castle” (2012). Na grande tela, destaque para o filme “Chefes Intragáveis” (2011) onde Markle é Jamie, uma funcionária de um serviço de entregas.
Ao assumir um “papel” na família real britânica, Meghan Markle é obrigada a colocar um ponto final na sua carreira de atriz. Na primeira entrevista, à BBC, depois do anúncio do noivado, a atriz revelou que encara esta fase como “um novo capítulo”, não como se estivesse a “abdicar de algo”.
“Mulher e feminista”
Desde cedo atriz procurou por marcar uma posição, e com apenas 11 anos já combatia o sexismo e a desigualdade de género.
Em 1993, depois de ver um anúncio televisivo em que a multinacional Procter & Gamble insinuava que o seu detergente de loiça era usado só por mulheres (com o slogan “as mulheres em toda a América estão a lutar contra panelas e frigideiras gordurosas”), a jovem Megan Markle, incentivada pelo pai, escreveu uma carta para a empresa, para a então primeira-dama Hillary Clinton, para a apresentadora do programa infantil Nick News Linda Ellerbee e para a famosa advogada defensora de direitos das mulheres Gloria Allred.
Na carta, Meghan pedia que a frase fosse alterada para “as pessoas em toda a América estão a lutar contra panelas e frigideiras gordurosas”. E conseguiu. Semanas depois e para sua surpresa, contou anos mais tarde, recebeu uma resposta de todas as mulheres a quem tinha enviado a carta. O anúncio, esse, foi corrigido e posteriormente emitido com as alteração sugeridas pela noiva do príncipe Harry.
A atriz, que em 2015 discursou nas Nações Unidas sobre a igualdade de género, no Dia da Mulher, confessou que foi nesse momento que deu conta da importância das suas ações e declarou ter orgulho em ser “mulher e feminista”.
Meghan é embaixadora global da World Vision Canada, uma organização não-governamental cristã que ajuda a melhorar as condições de vida das crianças no mundo. A também conselheira da instituição de caridade One Young World trabalha ainda com a Entidade para a Igualdade de Género e Emancipação das Mulheres das Nações Unidas.
Em fevereiro de 2016, Meghan viajou até ao Ruanda no âmbito campanha Clear Water, que luta para melhorar as condições de acesso a água potável. O trabalho humanitário realizado por Markle faz com que, inevitavelmente, a noiva de de Harry seja alvo de comparações com a princesa Diana.
Será princesa?
Não.
Apesar de apelidada, pela imprensa ou pelos seguidores da família real, de “a princesa da América”, Meghan Markl, tal como a sua futura cunhada Catherine ‘Kate’ Middleton, não terá o título de princesa. Esse título está reservado para os descendentes da família real britânica, como é o caso dos príncipes Harry, George e do recém-nascido Louis, ou da princesa Charlotte.
Recorde-se que depois do casamento com o príncipe William, Kate Middleton recebeu o título de Sua Alteza Real, a duquesa de Cambridge. Daí esperar-se que com o casamento, o príncipe Harry receba o título de duque de Sussex, um título que não é usado desde 1843 e Meghan o título de Sua Alteza Real, a duquesa de Sussex.
Sem presença nas redes sociais
A futura esposa de Harry já não tem conta de Twitter, Facebook e Instagram — contas que atraíam milhares de seguidores. Meghan Markle apagou as suas contas nas redes sociais, pouco depois do anúncio do noivado.
Também o seu blogue pessoal, “The Tig”, onde escreveu durante três anos sobre moda, beleza, comida e viagens, foi desativado. Na despedida, em abril de 2017, a noiva do príncipe Harry escreveu: “O que começou como um projeto de paixão evoluiu para uma incrível comunidade de inspiração, apoio e diversão”. Numa das entradas, muito destacada pela imprensa, a futura duquesa de Sussex, ter-se-à descrito como alguém que “nunca quis ser uma mulher que almoça; sempre quis ser uma mulher que trabalha”.
O abandono das redes sociais sob gestão da própria segue o protocolo da casa real. E, à semelhança de outras figuras da família real britânica, como os príncipes William e Harry ou Kate Middleton, será provável que as redes sociais do Palácio de Kensington passem a partilhar com alguma frequência atualizações sobre Markle.
De acordo com o jornal britânico Independent, apenas os membros sénior da monarquia têm contas oficiais de Twitter e Instagram geridas por equipas de redes sociais das suas respectivas casas. E só o duque de Iorque, André, excepção à regra, assina os seus tweets como “AY”.
Os anos a “cinzento”
A atriz diz ter tido vários problemas e crises de identidade ao longo dos anos, na sua vida pessoal e profissional, por ser “bi-racial” (ou multi-racial) e não se sentir “nem uma coisa nem outra”, isto é, nem branca nem negra.
Num artigo assinado pela própria e com data de 2015, Meghan fez questão de partilhar o orgulho que sente nas suas origens — é filha de mãe negra, afro-americana, e pai caucasiano — mas também dos problemas que enfrentou.
Nesse texto, publicado pela edição norte-americana da revista Elle, a noiva do príncipe começa por contar que se sentia diferente quando era pequena, uma vez que vivia num bairro de Los Angeles predominante branco e “com pouca diversidade”.
“Lá estava a minha mãe, cor de caramelo, com a sua bebé clarinha a reboque, e perguntavam-lhe onde estava a minha mãe, porque assumiam que ela era a babysitter”, escreveu Meghan.
Quando tinha sete anos, no Natal, pediu uma família de bonecas “Barbie”. Problema: à venda apenas estavam caixas de família nucleares, intituladas “The Heart Family”, brancas ou negras. Mas o pai rapidamente encontrou uma solução. “Na manhã de Natal, envolta em papel de embrulho brilhante lá estava a minha “Heart Family”: uma mãe preta, um pai branco e um filho de cada cor. O meu pai tinha desmontado os conjuntos e customizado a minha família”.
A “confusão” persistiu na adolescência quando numa aula, no sétimo ano, um questionário exigiu que escolhesse uma de quatro caixas: opção “branca, preta, hispânica ou asiática”. Conta que um professor disse-lhe para escolher a opção caucasiana — “porque é assim que tu és, Meghan”. O comentário fez com que deixasse parte do questionário por preencher.
“Um ponto de interrogação, mais ou menos como me sentia”, conta. O pai, depois de Meghan lhe ter contado a história, aconselhou-a:“Se voltar a acontecer, desenha a tua própria caixa [opção]”.
No início da carreira de representação, a indústria volta a colocá-la num limbo. “Não era suficientemente negra para os papéis de negra nem suficientemente branca para os de branca, ficando algures no meio como um camaleão étnico que não conseguia arranjar trabalho”, conta no texto autobiográfico.
“Enquanto a minha herança mista pode ter criado uma área cinzenta em torno da minha autoidentificação, mantendo-me com um pé em ambos os lados da cerca, eu abraço isso. Para dizer quem eu sou, para compartilhar de onde eu sou e expressar o meu orgulho em ser uma mulher de raça mista forte e confiante”.
Meghan termina o texto dizendo que com os anos que desenhou a sua própria caixa. “Branco e preto dá cinzento. Foi assim que me senti muitas vezes, mas quem é que quer ser essa cor indiferente e presa no meio? Eu certamente não. Por isso, fiz uma escolha: encontrei a minha identidade dentro dessa ‘confusão’ (…). Desenhei a minha própria caixa”.
Os comentários racistas
Quando o namoro com Harry foi anunciado, a atriz foi alvo comentários racistas na Internet e até na própria imprensa, o que obrigou a família real a abrir um precedente e a emitir um comunicado no qual fazia saber que o príncipe Harry estava preocupado com a sua segurança e criticava os media pela “onda de abuso e assédio”.
Portraits of Meghan Markle from eighth, ninth and 12th grades. From her childhood in Los Angeles to her acting career, Markle has said her “ethnically ambiguous” appearance shaped her identity. (John Dlugolecki/Contact Press Images)
A nota acusava a imprensa de “ter ultrapassado os limites” e visava ainda a “difamação na primeira página de um jornal nacional, o tom racista dos artigos de opinião, o sexismo e o racismo dos “trolls” nas redes sociais e nos comentários de artigos online”.
O The Washington Post destaca alguns títulos escritos à data:
“Harry vai casar com realeza de um gangue? Novo amor vem ‘de um bairro dominado pelo crime'” – The Daily Star
“A mãe de Markle é uma senhora afro-americana com rastas, oriunda do gueto” – The Mail on Sunday
“A miúda de Harry é (quase) de Compton [Straight outta Compton, no original, uma referência ao grupo de rap de Los Angeles N.W.A.]“ – The Daily Mail
Na primeira entrevista que deu ao lado do futuro marido Meghan admitiu que o facto da sua raça ser assunto a deixava “triste”.
Os príncipes já não se casam com princesas. Os contos de fadas são agora histórias de mulheres reais. Norte-americana, divorciada, mestiça, católica, atriz e feminista. E Sua Alteza Real a duquesa de Sussex, Meghan Markle, não se resume aqui.
TPT com: AFP//Photo/Pool//Dominic Lipinski//Oli Scarff//Damir Sagolj//Andrew Matthews// Sylvain Gaboury//Danny Lawson// Ben Stansall//Patrick McMullan via Getty Images (2); Rachpoot/MEGA //Owen Humph Reys//Inês F. Alves//Madremedia//Rita Sousa Vieira//Sapo24// 19 de Maio de 2018