4.500 portugueses foram chamados às urnas este fim de semana nas cidades de Washington e Newark

Cerca de 4.500 portugueses registados em Newark e Washington, nos Estados Unidos, começaram a votar no sábado nas eleições presidenciais de Portugal, depois do cancelamento no passado fim-de-semana devido a uma tempestade de neve.

 

 

Apesar de o seu voto não alterar o resultado da eleição, que terminou no domingo com a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa, na tarde de sábado encontravam-se alguns eleitores no consulado de Newark, em Nova Jérsia.

 

 

Luís Pires, diretor do jornal da comunidade Luso-Americano, era um dos presentes.

 

 

“O voto de cada pessoa é importante para consolidar a nossa democracia. Um voto na semana passada vale o mesmo que um voto esta semana”, disse Luís Pires.

 

 

Noutras cidades dos Estados Unidos da América (EUA), a votação aconteceu na semana passada, mas apenas 3,5% dos cerca de 7.800 eleitores inscritos compareceu.

 

 

Marcelo Rebelo de Sousa conquistou 59% dos votos, seguido por Sampaio da Nóvoa (27%) e Marisa Matias (6%).

 

 

“A abstenção é sempre muito alta, por vários motivos. Um deles é a necessidade de um cartão de cidadão atualizado, por exemplo, que muitos não têm. Uma das coisas que melhorariam a abstenção seria o voto eletrónico”, explicou Luís Pires.

 

 

Em Newark, onde estão registados 4.264 dos eleitores que neste fim de semana vão a votos (Washington apenas tem recenseados 289 eleitores), a abstenção nas últimas eleições foi de 96,43%.

 

 

Além da distância que se cria com o país depois de décadas de ausência, alguns dos eleitores vivem em zonas distantes de Nova Jérsia ou até no estado da Pensilvânia e Delaware, que estão incluídos nesta zona consular.

 

4.500 portugueses chamados às urnas este fim de semana em Washington e Newark 2

José Luís Fernandes, juiz de 1.ª instância na Pensilvânia, tinha conduzido cerca de duas horas desde Filadélfia para votar.

 

 

“Vale a pena, claro que sim. É muito importante para a representação da nossa comunidade. Se não votarmos, não podemos mostrar aos políticos em Portugal que existimos e que merecemos a sua atenção”, explicou Fernandes.

 

 

João Machado, que se mudou para os EUA há 21 anos e ainda viveu em Portugal durante a ditadura, diz que o voto é uma forma de honrar a história do país.

 

 

“Além de ser um dever cívico, é um direito que custou muito a conquistar. A nossa comunidade devia entender melhor a importância do voto. Temos população suficiente para ser relevantes e garantir voz às nossas comunidades”, referiu.

 

 

O cônsul de Newark, Pedro Soares de Oliveira, disse à Lusa que “a participação de todos os eleitores é importante”, mesmo que os números sejam quase insignificantes e não influenciem o resultado.

 

 

“A repetição do ato eleitoral nesta assembleia de voto resulta de um imperativo legal que valoriza esse mesmo objetivo”, esclareceu o diplomata.

 

 

Alguns dos portugueses que hoje votaram apreciam essa exigência. Uma das eleitoras tinha caminhado a pé desde Kearny com temperaturas perto de zero, durante cerca de uma hora, para cumprir a distância entre as duas cidades.

 

 

Nos EUA, Marcelo Rebelo de Sousa venceu em todas as áreas consulares já contabilizadas, excluindo São Francisco, onde empatou com Sampaio da Nóvoa.

 

 

Em Boston, por exemplo, venceu com 17 votos, contra 11 de Sampaio da Nóvoa. Em New Bedford, recebeu 69 votos, mais do triplo do que os 20 conseguidos pelo ex-reitor da Universidade de Lisboa.

 

 

No final do dia de sábado, cerca de duas dezenas de pessoas tinham votado no consulado de Newark.

 

 

As urnas fecham às 15:00 de domingo, hora local.

 

 

AYS // ROC/Lusa/TPT/30/1/2016

 

 

 

 

 

A cientista cardiovascular portuguesa Renata Gomes que vive fora de Portugal foi distinguida pelo Parlamento britânico

 Tem na carga genética o gosto pela aventura. Um avô emigrou para a Alemanha; a mãe viveu lá muito tempo; voltaram a Portugal, mas tornaram a sair – primeiro para França, depois para Inglaterra. Renata Gomes aplicou-se, estudou, chegou a Oxford, doutorou-se, tornou-se investigadora de elite na área cardiovascular e já foi premiada pelo Parlamento britânico. Em todo este percurso, o desembaraço é uma das armas favoritas.

 

 

A partir de quando quis ser médica?

 

 
“Desde que, aos três anos, fui operada pelo doutor Jardim, no hospital de Braga, a uma apendicite aguda. Sempre pensei nessa missão e aproveitava qualquer oportunidade que me surgisse. Além disso, a minha mãe e as minhas avós sempre me diziam: ‘Why reach for the moon when we can go for the stars?’ Já que estava no Reino Unido, não tendo o sonho de casar com um príncipe, chegar a Oxford ou Cambridge tornou-se um objectivo”.

 

 

Como tem reagido a família ao seu trabalho?

 

 
“Ficam todos babados com o trabalho, as nomeações e os prémios. Apoiam tudo o que faço, caso contrário era impossível. Dou um exemplo: em 2012, fui à China, voltei a Londres e, poucos dias depois, tinha de ir para a Austrália. A minha irmã que agora é advogada tinha malas diferentes para mim com roupa preparada e etiquetas a indicar para cada país servia – isso salvou-me naquela altura!”

 

 

Que desafios e lutas teve de ultrapassar no caminho para se tornar aquilo que é hoje?

 
“Não foi uma luta, para mim era uma missão, aliás, a minha vida é feita de missões. A minha família já andou pelo mundo inteiro e emigrar não foi um problema. Talvez seja cliché mas temos aquilo do ‘gene tuga’ de as pessoas serem desenrascadas – na minha bata tenho sempre uma chave de fendas e, embora isso não agrade aos engenheiros, se for preciso abrir uma máquina e eles não estiverem, não há problema.

 

Parlamento britânico distingue a cientista cardiovascular portuguesa Renata Gomes 2

A emigração nunca me assustou e às vezes bastaria mudar de norte para sul e ter mudanças drásticas. Tive de adaptar-me depressa. Lembro-me de ser criança e, de um mês para o outro, tornei-me fluente em francês. No fundo, era mais o desafio. Quando fomos para o Reino Unido, depois de ter tornado o francês quase na minha língua-mãe, a gramática do inglês era muito mais simples. Sempre gostei de aventuras e não é assustador, nem quero que digam: ‘Oh, coitadinha!’ Não, até tive muita sorte, porque consegui oportunidades. Nem devemos dizer que é um azar nascer em Portugal – temos essa sorte, pois fazemos parte da Europa, sendo um país desenvolvido e moderno com mentes abertas!”

 

 

Recebeu um prémio do Parlamento britânico: esse facto tão relevante implicou mudanças substanciais na sua vida?

 

 
“Não mudou, mas ajudou em muita coisa. Quando entrei no Parlamento já trabalhava 12 a 16 horas por dia, já dormia muito pouco, já a minha mãe dizia que, para falar comigo, era preciso marcar hora na agenda [risos]. No entanto, receber a medalha de prata da ciência na Biologia fez com que tivéssemos mais exposição perante o público e interessou-me estar em contacto com as pessoas a quem o meu trabalho diz mais directamente respeito. Isso implicou mais responsabilidade e envolvimento em mais projectos.”

 

 

No seu trajecto há pessoas que, além da família, têm sido contributos fundamentais para o sucesso. O que representam para si nomes como os de Oliver Smithies [ndr: Nobel da Medicina em 2007 ao lado de Mario R. Capecchi], Nobuyo Maeda [ndr: professora e investigadora na Universidade da Carolina do Norte e mulher de Smithies] ou Bruce Beutler [ndr: imunologista e geneticista norte-americano que foi prémio Nobel da Medicina em 2011 em conjunto com Jules A. Hoffmann]?

 

 
“Oliver Smithies e Nobuyo Maeda são aquele casal que, caso fosse possível, deveria viver para sempre! Foi uma sorte cruzar-me com eles, o Oliver tornou-se um mentor com quem tenho aprendido muito, é a soma de conhecimento, motivação e inspiração. Nobuyo merece uma admiração imensa, pois parte do meu trabalho na área cardiovascular e do colesterol só existe graças a um sistema que ela desenvolveu a partir de um modelo animal, mesmo tendo à volta toda a comunidade científica a dizer que seria impossível. É um exemplo de que nada é impossível! Já estivemos em Lisboa em 2013 e falava muito comigo sobre o seu percurso. Lembrou que, na sua juventude, era muito bonita e esse preconceito ainda existe, pensam que somos todos um bando de ‘nerds’, não lavamos os dentes ou temos cabelo oleoso! Com Bruce Beutler quero, um dia, fazer um programa, pois é fantástico! Quando acredita no potencial de alguém e esse alguém diz: ‘é para saltar’, ele pergunta: ‘How high?’ Tive muita felicidade de estar com eles e nunca imaginei que, um dia, estaríamos juntos no Santini, à meia-noite, com um prémio Nobel e a mulher, a comer gelados?! Ele tem 90 anos e trabalha todos os dias como se tivesse 40!”

 

 

Foi nomeada para os Óscares da Ciência com outras duas mulheres, não venceu, mas como é que recorda essa experiência?

 

 
“Pensei que era uma piada [risos]. A primeira vez que me telefonaram de Downing Street correu mal, pois às vezes há quem apanhe o nosso número de contacto e pregam-nos umas partidas [ndr: brinca e recupera em inglês o diálogo surrealista com a assistente de David Cameron até perceber que era a sério]. Dois minutos depois da conversa, quando recebi o e-mail de Downing Street, é que percebi ser verdade! Pior: quando lá fui a primeira vez, não sabia que tinham um gato e, sem querer, pisei-o. Fiquei tão atrapalhada que nem me apercebi que tinha de me mexer rapidamente!

 

Parlamento britânico distingue a cientista cardiovascular portuguesa Renata Gomes 3

A nomeação foi uma honra enorme, claro. Três mulheres cientistas nomeadas para a categoria de herói tornámo-nos inseparáveis e, convocando-nos quase sempre às três, passaram a chamar-nos Os Anjos de Charlie porque uma é morena, outra loura e outra ruiva. A Tara, que ganhou, foi promovida a directora de ciências biomédicas na Irlanda, a Ceri é britânica e trabalha em Exeter como espécie de David Attenborough da exploração do Ártico. Sou fã das duas, identificamo-nos de formas diferentes, somos muito unidas e ajudamo-nos em projectos: por exemplo, a Tara trabalha em regeneração ocular, mas também numa especialidade minha, a angiogénese, e trocamos informações. Por norma, aquela nomeação costuma ser para cientistas com carreira estabelecida e eu só comecei a minha investigação científica em 2007 ainda como estudante de doutoramento.”

 

 

Cuidou de assegurar ligações a organizações não governamentais e já apresentou três prémios Nobel numa delas, a Rede de Pequenos Cientistas. Como tem funcionado essa interligação?

 

 
“Juntei-me a esse programa quando já existia há cinco anos. Foi iniciado por três professoras da Escola Secundária de Barcelos que queriam expor os estudantes a mais práticas laboratoriais. Um dos pequenos cientistas é a Ana Ferraz. Há alguns anos, uma das suas frustrações era estar a estudar diferentes tipos de sangue nas aulas, pois queria era testá-los. Isso levou-a a um mestrado numa área em que tem quase concluído o doutoramento e também a um prémio de jovem inovadora.”

 

 

O que é mais fascinante para si no papel de investigadora médica?

 

 
“Mesmo sabendo tanto ainda sabemos tão pouco! Quero desvendar e perceber em maior detalhe esses pequenos mistérios que, ao serem percebidos, dão origem a grandes revoluções como a descoberta das vacinas. Perceber o porquê, não só na medicina e na investigação, mas também nos trabalhos mais recentes que envolvem diplomacia e alguma política. É uma cadeia de porquês mais objectivos, pois estou mais treinada no plano clínico e científico.”

 

 

Como interpreta os cortes no investimento em Ciência tão frequentes nos diversos governos?

 
“Gostava que me explicassem isso, porque é absolutamente ridículo. Educação e saúde devem ser as prioridades para o desenvolvimento. A riqueza a longo prazo de qualquer nação está no seu investimento na ciência. As desculpas são muitas, mas quase todas esfarrapadas.”

 

 

Já confessou sentir-se fascinada pelo coração, o seu músculo favorito, mas muito vulnerável a doenças. Pode dizer que a ciência está num plano desenvolvido do controlo das doenças de foro cardiovascular?

 

 
“Tenho o privilégio de trabalhar com o meu músculo favorito, corrigindo efeitos dos problemas cardiovasculares, mas quase 90% deles derivam da nossa indisciplina, trata-se de doenças dos países desenvolvidos onde prevenção e disciplina com obesidade, inactividade física ou fumar reduziriam a situação a metade. O colesterol é um assassino silencioso e mesmo pessoas com perfeito registo de índice de massa corporal podem ter colesterol elevado. Na área do coração, para o regenerar após acidentes vasculares, já desenvolvemos novas estratégias e descobrimos uma célula que anda por ali sem fazer alguma coisa até sentir um estímulo, libertando tudo e mais alguma coisa para evitar o acidente vascular. Em muitos casos a culpa é nossa, não se trata de um cancro.”

 

 

Estando a viver fora do País, como avalia os quatro anos de ajustamento em Portugal?

 

 
“Em geral foram tempos difíceis, mas, olhando a números e estatísticas, pois não vivo em Portugal, esses quatro anos foram necessários e talvez possam fazer bem ao País a longo prazo. Mas percebo que a austeridade ainda não acabou e vai obrigar a outros sacrifícios.”

 

 

 

TPT/AFP/com: Paulo Jorge Pereira/Económico/29/1/2016

 

 

 

 

 

O Navio Escola Sagres será ‘Casa de Portugal’ nos Jogos Olímpicos do Rio 2016

O Navio Escola Sagres, da Marinha portuguesa, será a ‘Casa de Portugal’ no Rio de Janeiro durante os Jogos Olímpicos de 2016, anunciou o Comité Olímpico de Portugal (COP).

 

 

O protocolo de cooperação entre a Marinha e o COP, assinado a bordo do navio da Marinha, prevê que o Navio Escola Sagres, embaixada itinerante do país, apoie “os atletas portugueses e todas as empresas nacionais interessadas, durante o período dos Jogos Olímpicos”.

 

 

“Pretende-se que este seja um espaço de promoção de Portugal, da língua portuguesa e da sua cultura, assim como uma plataforma de divulgação da excelência do tecido empresarial nacional, através da promoção das empresas e dos produtos nacionais. Desta forma, está prevista a realização diária de eventos, assim como a presença regular de atletas da Missão Olímpica Portuguesa para convívio com os visitantes da Casa de Portugal e simultaneamente para contactos entre eles e a comunicação social lusa que fará a cobertura mediática dos Jogos Olímpicos”, pode ler-se em comunicado.

 

 

Para o COP, os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro serão “uma oportunidade única de promoção do país” e da língua portuguesa, “naquela que será a primeira edição de sempre de uns Jogos Olímpicos numa nação de língua oficial portuguesa”.

 

 

“É um grande prestígio para Portugal estarmos num país estrangeiro mas conseguirmos estar em território nacional quando a bordo do Navio escola Sagres. É importante o apoio do tecido empresarial a este projeto para que seja uma iniciativa de sucesso, que simbolize a união do Portugal Desportivo com o Portugal Económico”, afirmou na ocasião o presidente do COP, José Manuel Constantino.

 

 

O Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Luís Macieira Fragoso, expressou na ocasião a recetividade da Marinha ao projeto.

 

 

“Assim que o COP nos contactou começámos a trabalhar para viabilizar este projeto, procurando apoios que o concretizem. Esperamos no Brasil uma receção entusiástica, pois sempre foi esse o acolhimento que o Navio encontrou sempre que esteve no Brasil. Estamos certos que teremos muitos visitantes, tanto portugueses, como brasileiros, como de outras nações”, afirmou.

 

 

O NRP Sagres estará no Rio de Janeiro entre 3 e 21 de agosto, estando prevista no seu trajeto paragens em Cabo Verde e nas cidades brasileiras de Recife e Salvador da Baía, antes da chegada à cidade-sede dos Jogos Olímpicos 2016.

 

 

O Navio escola Sagres foi construído nos estaleiros da Blohm & Voss, em Hamburgo, em 1937, tendo na altura sido batizado de Albert Leo Schlageter.

 

 

Foi o terceiro de uma série de quatro navios encomendados pela marinha alemã. O navio foi cedido à marinha do Brasil no final da II Guerra Mundial, em 1948, tendo sido adquirido pela Marinha Portuguesa em 1961 para substituir a antiga Sagres.

 

 

Foi precisamente no Rio de Janeiro, a 30 de janeiro de 1962, que decorreu a cerimónia oficial de entrega do navio à Marinha Portuguesa.

 

 

OBS/AFP/TPT/29/1/2016

 

 

 

 

 

Rússia acusa o relatório sobre caso Litvinenko de ter motivação política

A Rússia denunciou o que chamou de investigação com nítida motivação política e carente de transparência, depois da publicação no Reino Unido das conclusões sobre a morte, em Londres, em 2006, do ex-espião da KGB Alexander Litvinenko, que acusa Moscovo.

 

 

“Não havia motivos para esperar que o relatório final sobre esta investigação, com motivação política e com extrema falta de transparência, fosse objetivo e imparcial”, declarou a porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova, em comunicado.

 

Rússia acusa relatório sobre caso Litvinenko de ter motivação política 2

Segundo a investigação britânica que teve os resultados divulgados recentemente o presidente russo, Vladimir Putin, “provavelmente aprovou” o assassinato em Londres em 2006, com polónio, do ex-espião russo Alexander Litvinenko. “A operação do FSB (serviços de inteligência russos) para matar Litvinenko foi provavelmente aprovada por (Nikolai) Patrushev (diretor do FSB na época) e também pelo presidente Putin”, afirma o relatório.

 

 

Se o papel de Putin na morte permanece em aberto, a investigação, presidida pelo juiz Robert Owen, é muito mais contundente sobre a participação do Estado russo. “O Estado russo foi responsável pela morte de Litvinenko”, lê-se nas conclusões, que confirmam também que a execução, com a introdução de polónio num chá durante uma reunião no bar de um hotel em Londres, foi levada a cabo por dois agentes russos, Andrei Lugovoi e Dmitri Kovtun. “Quando Lugovoi envenenou Litvinenko, é provável que o tenha feito sob a direção do FSB. Acrescentaria que vejo isto como uma forte probabilidade. Concluí que Kovtun também teve participação no envenenamento”, afirma o documento de 300 páginas, resultado de um ano e meio de audiências.

 

Rússia acusa relatório sobre caso Litvinenko de ter motivação política 3

Litvinenko teve de ser enterrado num caixão de chumbo para evitar fugas radioativas. A morte do ex-agente do serviço de segurança russo FSB, que trabalhava na época para o MI6 britânico e prestava assessoria à polícia espanhola na luta contra a máfia russa, foi definida como o primeiro acto de terrorismo nuclear da história. No relatório, o juiz Owen afirma que Litvinenko “era considerado por aqueles que estavam no FSB como alguém que tinha traído a organização”.

 

 

Afinal, o que aconteceu no caso Litvinenko?

 

 

Um resumo dos acontecimentos deste caso.

 

2006

 

1 de novembro: Litvinenko reune-se no Hotel Millennium de Londres com os russos Andrei Lugovoi, um ex-agente do KGB que se tornara empresário, e Dmitri Kovtun. Mais tarde, reune-se em outro bar com o italiano Mario Scaramella, que lhe dá um documento sobre o assassinato da jornalista russa de oposição Anna Politkovskaya. Na mesma noite, começa a sentir-se mal.

 

Rússia acusa relatório sobre caso Litvinenko de ter motivação política 4

20 de novembro: Litvinenko entra em cuidados intensivos. Uma fotografia mostra-o sem expressão no olhar e sem cabelos. A investigação é iniciada pelo Departamento Antiterrorista da política britânica Scotland Yard.

 

 

23 de novembro: Litvinenko morre. No dia seguinte, numa carta póstuma, acusa o presidente russo Vladimir Putin de ser o responsável pela sua morte. Putin nega as acusações, denunciando uma “provocação política”. O Departamento de Proteção de Saúde do Reino Unido (HPA) anuncia que Litvinenko foi envenenado com polónio 210, uma substância altamente radioativa.

 

 

6 de dezembro: A Scotland Yard, que investigou em Moscovo, classifica comoo assassinato a morte de Litvinenko, sepultado no dia seguinte em Londres, num caixão de chumbo para evitar fugas radioativas.

 

 

2007

 

22 de maio: o promotor britânico indicia Lugovoi pelo assassinato de Litvinenko e exige sua extradição. A Rússia nega o pedido.

 

 

16 de julho: Londres anuncia a expulsão de quatro diplomatas russos.

 

 

19 julho: Moscovo responde com a expulsão de quatro diplomatas britânicos, a interrupção da cooperação na luta contra o terrorismo, e a suspensão de novos vistos a funcionários britânicos.

 

 

2014

 

Janeiro: a viúva de Litvinenko, Marina, apresenta um pedido ao Supremo Tribunal de Londres para obrigar o governo a abrir uma investigação pública.

 

Rússia acusa relatório sobre caso Litvinenko de ter motivação política 5

22 de julho:  num contexto de tensão com a Rússia devido à intervenção desta na Ucrânia, a ministra britânica do Interior, Theresa May, anuncia que a investigação será realizada.

 

 

2016

 

21 de janeiro: o juiz Robert Owen publica um documento de 300 páginas com os resultados da investigação, no qual afirma que Putin “provavelmente ordenou” o assassinato e que os serviços de inteligência russos (FSB) estiveram envolvidos.

 

 

The Portugal Times: com AFP/Reuters/26/1/2016

 

 

 

 

 

O Tajiquistão, localizado no meio da Ásia, combate a radicalização islâmica arrancando a barba à força

O Tajiquistão é um pequeno país montanhoso localizado no meio da Ásia tendo conquistado a independência depois da queda da União Soviética em 1991. Cerca de 99% dos seus mais de 7 milhões de habitantes são muçulmanos. Mas muitos deles não têm tido dias fáceis na pequena nação asiática.

 

 

A BBC  conta que centenas de homens foram detidos nos últimos anos por utilizarem barba que depois lhes é cortada à força. Esta situação ganha importância e polémica tendo em vista que muitos homens utilizam a barba como parte da tradição muçulmana.

 

 

O canal pegou em nove homens que já passaram por esta experiência e, um deles, Djovid Akramov, relata que “chamaram-me salafista, radical e inimigo público. Não foram nada tímidos com os insultos. E dois deles pegaram-me nos braços e outro cortou-me a barba”. Foi assim que Akramov foi abordado na rua em frente a casa e ao filho de 7 anos tendo sido detido numa esquadra na capital Dushanbe.

 

 

No princípio da semana passada a polícia da região de Khatlon explicou que fez a barba a cerca de 13 mil homens esclarecendo que esta medida faz parte de “uma campanha contra a radicalização”.

 

 

Ou seja, esta campanha tem como objetivo lutar contra as tendências que “não concordem com a cultura do Tajiquistão”. Para além disso o Governo anunciou que quer suster a radicalização daqueles que são inspirados pela propaganda de grupos islâmicos nos países vizinhos como o Afeganistão, Iraque e Síria.

 

 

Mas as medidas não se ficam por aqui: o uso da hijab, ou véu islâmico, pelas mulheres fica também proibido em escolas, universidades e outros locais públicos e oficiais e as autoridades pedem aos pais para que não escolham nomes árabes para os filhos.

 

 

Não adotem costumes estrangeiros, não sigam as culturas do exterior. Usem roupas tradicionais e evitem o negro. Mesmo quando vão a um enterro, as mulheres devem vestir branco e não negro”, afirmou o presidente, Emomali Rahmon.

 

 

No que à barba diz respeito, a polícia decidiu cortá-la aos homens que a utilizem devido ao facto de esta ser uma tradição importante no movimento ultraconservador do Islão, o salafismo.  Se a barba é melhor cuidada no que toca aos muçulmanos mais moderados, os salafistas deixam-na mais desordenada podendo, inclusivamente, cortar apenas a parte de cima da boca – esta é, por sua vez, uma alusão à maneira como o profeta Maomé utilizava a barba.

 

 

 

AFP/Getty Images/Lusa/Obs/TPT/25/1/2016

 

 

 

 

 

OMS avisa que vírus Zika poderá espalhar-se pelo continente americano

A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou que o vírus Zika, transmitido por picada de mosquitos infetados e associado a complicações neurológicas e malformações em fetos, vai continuar a espalhar-se pelo continente americano.

 

 

O vírus está neste momento presente em 21 dos 55 países do continente americano, referiu a agência das Nações Unidas num comunicado, acrescentando que a situação é “um sério motivo de preocupação”. Segundo a OMS, o mosquito Aedes aegypti, que pode igualmente transmitir o dengue e a febre chikungunya, está presente em todos os países do continente, à exceção do Canadá e do Chile.

 

 

Perante tal cenário, a OMS “antevê que o vírus Zika vai continuar a espalhar-se e, provavelmente, atingir todos os países e territórios da região onde o mosquito está presente”.

 

 

“A rápida expansão do vírus Zika a novas zonas geográficas, onde a população regista baixos níveis de imunização, é um sério motivo de preocupação, especialmente devido à possível ligação entre a infeção durante a gravidez e bebés que nascem com microcefalia”, declarou a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, durante uma reunião do comité executivo da organização em Genebra.

 

 

A representante realçou que “a relação de causa e efeito entre a infeção do Zika durante a gravidez e a microcefalia ainda não foi estabelecida”, mas acrescentou que “as provas circunstanciais são muito preocupantes”.

 

 

O aumento significativo de casos na América Latina, nomeadamente no Brasil, país que será anfitrião este ano dos Jogos Olímpicos, levou os Estados Unidos e a outros países a emitirem um alerta para que grávidas evitem viajar para a região.

 

 

No ano passado, 3.174 casos de microcefalia em recém-nascidos foram registados no Brasil, indicou o Ministério da Saúde brasileiro, precisando que os casos estão ligados ao vírus Zika, contraído pela mãe. Em períodos anteriores, existiam em média 160 casos por ano. As autoridades da Colômbia, Equador, El Salvador e Jamaica também aconselharam as mulheres a não engravidar durante os próximos dois anos.

 

 

Em termos de prevenção, a OMS defende que as pessoas devem evitar sobretudo áreas onde existem águas estagnadas (zonas onde abundam mosquitos), utilizar repelentes e usar mosquiteiros para dormir. De acordo com a agência das Nações Unidas, o vírus é transmitido pelo sangue. “Um caso de transmissão por via sexual foi assinalado”, indicou a OMS, realçando, no entanto, serem necessárias mais provas para determinar se o vírus é transmitido através de contacto sexual.

 

 

Não existe um tratamento específico ou uma vacina para esta doença, apenas tratamentos para os sintomas. Os sintomas são muito semelhantes aos de uma gripe normal (febre, dor de cabeça, dores no corpo). Os doentes também sofrem de erupções cutâneas. Os sintomas manifestam-se geralmente entre três a 12 dias após a picada do mosquito.

 

 

 

NELSON ALMEIDA/AFP/Reuters/Obs/25/1/2016

 

 

 

 

Luso-americana na lista da revista Forbes como uma das jovens mais promissoras do mundo da tecnologia

A luso-americana Stacey Ferreira, de 23 anos, está na lista da revista Forbes de 30 jovens promissores com menos de 30 anos, na área de comércio e retalho, incluída na edição de janeiro.

 

 

“Ferreira desistiu da universidade para aceitar uma Bolsa Thiel. É autora de um livro sobre empreendedores ‘millennial’ e fundadora da Forrge, uma ferramenta que permite juntar trabalhos com muita procura com trabalhadores”, escreve a revista sobre Ferreira.

 

 

A Forbes acrescenta ainda que a Forrge “não é a primeira aventura [de Ferreira] nas ‘start-up’, tendo já vendido à Reputation.com o negócio que começou no secundário, o MySocialCloud”.

 

 

Em entrevista ao jornal Luso-Americano, de Newark, Stacey Ferreira explicou as suas origens portuguesas.

“Os meus avós paternos, José e Rosa Ferreira, nasceram em Portugal. A minha avó na Murtosa e o meu avô na Lousã. A minha avó emigrou para os EUA com 15 anos e o meu avô com 10. Conheceram-se no Clube União Portuguesa de Naugatuck, em Connecticut”, disse a jovem.

 

 

Os avós trabalharam numa fábrica de máquinas de escrever, a Uniroyal, como muitos outros portugueses, e ainda hoje vivem no Connecticut, apesar de passarem férias todos os anos em Portugal.

 

 

Stacey Ferreira também vivia no Connecticut quando, depois de terminar o ensino secundário, decidiu criar com o irmão, Scott Ferreira, uma empresa de gestão e armazenamento de palavras passe chamada “MySocialCloud”.

 

 

Dois anos depois, o empresário Richard Branson acabaria por descobrir a empresa através de uma iniciativa na rede social Twitter e investiu um milhão de euros na “MySocialCloud”.

 

 

Stacey Ferreira e o irmão desenvolveram depois a empresa em Los Angeles, que acabariam por vender em 2013, e Stacey ingressou na universidade em Nova Iorque.

 

 

Acabaria por desistir um ano depois, no entanto, para aceitar uma bolsa e se dedicar à criação de um novo projeto online, o Forrge.

 

 

Autora do livro “2 Billion Under 20: How Millennials Are Breaking Down Age Barriers and Changing the World”, a jovem deu mais de 100 palestras e conferências nos últimos anos para falar de empreendedorismo jovem e novas tecnologias.

 

 

Stacey já foi destaque na revista Seventeen, que a colocou na capa, integrou a lista dos “Mais bem sucedidos desistentes da faculdade”, da Business Insider, enquanto que o portal na Internet The Jane Dough considerou-a uma das “30 empresárias a seguir com atenção”.

 

 

AYS // EL/Lusa/Económico/25/1/2016

 

 

 

 

John Kerry no Laos para discutir bombas deixadas pelos EUA

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, esteve esta segunda-feira no Laos para discutir o legado das bombas norte-americanas deixadas por explodir no país e a influência da China no sudeste asiático.

 

 

A viagem a Vientiane serve também de iniciação à cimeira organizada no próximo mês pelo Presidente norte-americano, Barack Obama, na Califórnia (EUA), com os dez líderes da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).

 

 

O Laos assumiu este ano a presidência do bloco regional e será, por isso, palco de intensa atividade diplomática, a culminar com a visita de Obama, o primeiro líder norte-americano a visitar o país.

 

 

Antes de se reunir com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Thongloun Sisoulith, Kerry disse à imprensa que o encontro iria girar em torno da remoção de munições.

 

 

“É bom estar aqui (…) Há muito tempo que trabalhamos neste projeto de remoção de minas e [minimização] dos efeitos da guerra, e vamos continuar”, disse.

 

 

As bombas por explodir que povoam a região são fruto de bombardeamentos em massa dos Estados Unidos da América, durante a guerra no Vietnam, que tinham o objetivo de atingir as rotas de abastecimento ao norte do Vietname, que atravessavam o Laos.

 

 

Esta operação fez do Laos o país mais bombardeado do mundo per capita, com mais de 250 milhões de bombas a serem lançadas sobre a nação. Cerca de 30% não explodiu, incluindo munições de fragmentação.

 

 

Perto de 5.000 pessoas morreram devido a estas munições desde o fim da guerra e dezenas de milhares ficaram mutiladas, incluindo crianças.

 

 

A visita de Kerry surge também num momento em que os Estados Unidos se tentam aproximar do sudeste asiático, uma região onde o domínio da China é forte, particularmente sobre pequenas nações.

 

 

“O Laos é um país como o Camboja, onde a China tem sido o interveniente dominante, tanto em termos económicos como políticos”, disse o secretário de Estado.

 

 

“Assim, é significativo que o Laos tenha — particularmente nos últimos anos e certamente em 2015 — mostrado tanto interesse em fortalecer relações com os Estados Unidos”, afirmou.

 

 

A administração de Obama elevou as relações com a Ásia a prioridade diplomática, em particular no que toca ao fortalecimento da ASEAN como contraparte ao poderio regional da China. Vários países da ASEAN opõem-se ao crescente domínio da China no disputado Mar do Sul da China.

 

 

ANDREW GOMBERT/EPA/Reuters/Lusa/Obs/ 25/1/2016

 

 

 

 

Costa Leste dos Estados Unidos volta lentamente ao normal após tempestade que fez 24 mortos

A vida na cidade de Nova Iorque começa a voltar ao normal, mas Washington continua paralisada na sequência do pior nevão dos últimos anos, que provocou pelo menos 24 mortos nos Estados Unidos.

 

New Jersey e New York voltam lentamente ao normal após tempestade que fez 24 mortos 2

A tempestade “Jonas” foi a segunda maior da história em Nova Iorque. A neve atingiu os 68 centímetros de altura no Central Parque, no sábado à noite.

 

New Jersey e New York voltam lentamente ao normal após tempestade que fez 24 mortos 3

Um total de 13 pessoas morreram em acidentes de viação relacionados com as condições meteorológicas, nos estados do Arkansas, Carolina do Norte, Kentucky, Ohio, Tennessee e Virgínia.

 

New Jersey e New York voltam lentamente ao normal após tempestade que fez 24 mortos 4

O presidente da Câmara de Nova Iorque, Bill de Blasio, diz que agora é tempo de limpar a cidade e pediu à população que evite sair à rua, para que os funcionários municipais possam retirar a neve das estradas.

 

New Jersey e New York voltam lentamente ao normal após tempestade que fez 24 mortos 5

A tempestade “Jonas” está agora sobre o Oceano Atlântico. As temperaturas continuam baixas na costa Leste dos Estados Unidos, mas as previsões meteorológicas apontam para alguns períodos de sol.

 

New Jersey e New York voltam lentamente ao normal após tempestade que fez 24 mortos 10

O governador do estado de New York, Andrew Cuomo, levantou a proibição de viajar nas estradas das zona de Nova Iorque e de Long Island.

 

New Jersey e New York voltam lentamente ao normal após tempestade que fez 24 mortos 7

O estado de emergência continua em vigor. Os transportes públicos também estão a voltar ao normal. A maioria dos autocarros e das linhas de metropolitano voltou estou a funcionar e os comboios para os subúrbios de Nova Iorque também vão voltar a circular este domingo.

A Bolsa de Nova Iorque espera reabrir a negociação, normalmente, na segunda-feira, segundo uma porta-voz.

Do outro lado do rio, em New Jersey, também foram registadas inundações.

 

 

Um nevão que fica para a história

 

 

Em Washington, a neve atingiu os 45 centímetros de altura. Foi o quarto maior nevão na história da capital norte-americana.

 

New Jersey e New York voltam lentamente ao normal após tempestade que fez 24 mortos 8

A presidente da câmara de Washington, Muriel Bowser, convocou quatro mil pessoas para ajudar a limpar a cidade, além dos dois mil voluntários que já se tinham alistado.

 

O metropolitano continua parado este domingo e as escolas públicas vão estar fechadas amanhã, segunda-feira, em New Jersey, Washington, New York e Baltimore.

 

Cerca de 3.750 voos foram cancelados este domingo e 700 não se vão realizar na segunda-feira.

 

New Jersey e New York voltam lentamente ao normal após tempestade que fez 24 mortos 9

No aeroporto John F. Kennedy, em Nova Iorque, os aviões já podem aterrar e ainda este domingo as partidas foram retomadas.

 

Também por causa do nevão, cerca de 150 mil famílias ficaram sem electricidade na Carolina do Norte e 90 mil em Nova Jérsia.

 

 

CNN/TPT/EPA/24/1/2016

 

 

 

 

 

A água potável é um dos recursos finitos que está em fim de ciclo no que toca à sua extração direta

De ameaça passou a crise. 7 biliões de pessoas partilham a ínfima parcela de água potável da Terra: 1%. O documentário Apocalipse Aquático aponta saídas para a sede do mundo.

 

 

O horizonte da água é a terra. É nela que se infiltra e sobre ela se condensa. Fonte de vida e alimento das coisas terrestres, é nuvem que circula na respiração, é chuva fértil a entranhar-se nos campos, é gelo puro acumulado nos mares, é lençol subterrâneo a sustentar o solo que pisamos.

 

 

É cada vez mais difícil encontrar água pura no mundo. Regiões inteiras precisam de investir milhões em tecnologia em estado embrionário que não garante a saciedade dos seus habitantes.

 

 

Com o aumento populacional, aumentam também as tensões internacionais que podem resultar numa crise de dimensão planetária. O último episódio da série Breakthrough, do National Geographic Channel, debruça-se sobre as novas formas de extrair água potável, hoje ao alcance da humanidade. Apocalipse Aquático tem a participação deAngela Bassett, que assina o documentário que estreia no próximo domingo, dia 13 de dezembro.

 

 

Os números são claros: os oceanos concentram 97% da totalidade da água do planeta; nos polos, os glaciares representam 2% dos recursos de água doce. Sobram assim os rios, os lagos, as lagoas e os lençóis subterrâneos que, em conjunto, totalizam 1% da água potável disponível para 7 mil milhões de pessoas e milhões de espécies de animais e plantas.

 

 

O panorama, já de si frágil, agrava-se em resultado das alterações climáticas. Um pouco por todo o mundo, cientistas e engenheiros deparam-se com dificuldades crescentes para encontrar soluções para os problemas da água potável. Querem garantir condições ambientais adequadas às gerações vindouras mas que tenham efeitos práticos agora. E como a água circula sem quaisquer barreiras geográficas, as soluções devem ser pensadas a nível global, regional e local.

 

 

Um relatório recentemente apresentado pelo departamento de investimento e consultoria do Bank of America, a Merrill Lynch, alerta para a iminência de uma crise da água, sublinhando que 750 milhões de pessoas deixaram de ter acesso a água potável. As previsões apontam para que, em 2030, a procura mundial possa ultrapassar a oferta num rácio de 40%.

 

 

Um dos autores, Sarbjit Nahal, dá conta das suas inquietações aoNational Geographic Channel: «Parece inevitável que a água se venha tornar um bem mais escasso do que o petróleo». Estes argumentos juntam-se a outros depoimentos reunidos no episódio Apocalipse Aquático, da série Breakthrough, que faz o balanço dos avanços tecnológicos e apresenta o estado da arte das descobertas mais ecológicas e aplicáveis às necessidades de cada região deficitária em água.

 

 

E as propostas são várias. Algumas passam pela dessalinização da água do mar e dos depósitos subterrâneos, outras exploram a potencialidade de captação da humidade acumulada na atmosfera. Como não poderia deixar de ser, a ecologia e a reciclagem continuam na ordem do dia por se assumirem como garantia no futuro da gestão de recursos.

 

 

Uma das tecnologias em maior expansão encontra-se ao largo da costa da Austrália e responde a duas necessidades urgentes. O sistema CETO 5 aponta, por um lado, para a sustentabilidade e a ecologia, ao contemplar a produção de uma energia livre de emissões de gases com efeito de estufa; por outro, produz água doce. Isto, numa só fábrica, onde o processo se inicia com boias submersas a capturarem a energia das ondas do mar para, de seguida, ser utilizada para bombear a água através de turbinas geradoras de eletricidade.

 

 

O líquido é então encaminhado para a um sistema de dessalinização por osmose inversa, uma membrana que remove o sal e os resíduos sólidos. Uma das grandes vantagens do CETO 5 é que gera a eletricidade necessária para bombear a água através do processo de dessalinização, em vez de recorrer a combustíveis fósseis para alimentar estações de bombeamento em terra.

 

 

O vale central da Califórnia oferece uma abordagem diferente para um problema semelhante: o sal. Esta região goza de uma grande abundância de água nas camadas subterrâneas, no entanto, é inutilizável quer para a agricultura, quer para o consumo direto, devido à sua alta salinidade. Mas a situação está prestes a mudar.

 

 

A empresa WaterFX construiu um protótipo à escala, que é uma verdadeira fábrica de dessalinização alimentada a energia solar, capaz de purificar a drenagem do solo e simultaneamente garantir a futura produção de 7 biliões de litros de água por ano. Em vez da tecnologia de purificação da água do mar por osmose, a WaterFX aposta na energia do Sol para aquecer os resíduos salgados, de modo a fazer evaporar a água que irá condensar-se de seguida como H2O puro.

 

 

No continente africano, o arquiteto italiano Arturo Vittori e a sua equipa encontraram uma solução inovadora para ajudar um dos países com maiores carências de água pura: a Etiópia. A Torre WarkaWater, assim batizada em homenagem a uma árvore indígena, eleva-se até aos 9 metros, exibindo uma enorme rede de malha que serve para capturar a humidade condensada do nevoeiro e do orvalho.

 

 

O processo de captação culmina com o encaminhamento da água para um tanque de armazenamento higienizado, que funciona como uma bica. De acordo com um artigo publicado este ano na revista Wired, os testes apontam para uma capacidade de retenção de água que varia entre os 60 e os 120 litros diários.

 

 

A torre tem um custo de construção de apenas 518€ e pode ser edificada em menos de uma semana com materiais disponíveis localmente. Num país onde as pessoas estão habituadas a percorrer quilómetros para retirar água de lagos contaminados com dejetos humanos, esta é uma inovação que pode, literalmente, salvar vidas.

 

 

A última inovação tem a voz da reciclagem e vem novamente do continente americano, mais precisamente da cidade de Peoria, situada no deserto do Arizona, onde a precipitação é tão rara que os cerca de 150.000 habitantes não podem dar-se ao luxo de desperdiçar a mínima gota de água que seja.

 

 

E é aqui que a empresa Butler Water Reclamation Facility desenvolve um dos seus projetos mais arrojados. As águas residuais contaminadas com uma fuligem negra, oriundas dos esgotos da cidade, passam por um processo de limpeza de seis etapas; incluindo telas que removem detritos e pequenas partículas, filtros de membrana projetados para limpar ainda mais a água, e um biorreator preenchido com bactérias úteis que consomem o material sólido remanescente.

 

 

Na conclusão do ciclo, a purificação passa pelo recurso a raios ultravioleta para desinfetar a água, que é então bombeada para um aquífero subterrâneo onde fica armazenada para futura reutilização.

 

 

As ideias que recebemos do episódio Apocalipse Aquático têm em comum a procura, a captação, a reutilização e a purificação da água, mas são apenas parte da solução. A chave do problema passará provavelmente por uma mudança paralela e substancial da própria organização das sociedades modernas.

 

A água potável é um recurso finito que está em fim de ciclo no que toca à sua extração direta 2

Uma renovação civilizacional é precisa, para que se possa reduzir o consumo global de água e os desperdícios com soluções tão simples como encher autoclismos com a recuperação da água da chuva.

 

 

Amanhã, será ainda a água, a seiva do mundo que sobreviverá ao deserto, à erosão do tempo e dos homens, apesar das nascentes ameaçadas, dos oceanos poluídos e dos lagos que secam. Para que a água se conserve como líquido precioso e indispensável à vida da humanidade, para que chegue a todos os continentes e a todos os povos, para que irrigue terras férteis e dissolva resíduos nocivos, é preciso ter consciência dos perigos que ameaçam o equilíbrio ecológico do planeta e os recursos hídricos globais.

 

 

A ação, no sentido de remediar erros, encontrar soluções e assegurar condições ambientais adequadas às gerações vindouras, pode encontrar inspiração neste documentário do National Geographic Channel.

 

 

Breakthrough – Apocalipse Aquático

 

 

National Geographic Channels/Brendan Bannon/OBS/TPT/24/1/2016