Rússia responde aos EUA expulsando 60 diplomatas e encerrando o Consulado dos Estados Unidos em São Petersburgo

A Rússia decidiu expulsar 60 diplomatas norte-americanos, anunciou esta quinta-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov. O país fez o que já tinha ameaçado e mandou embora exatamente o mesmo número de diplomatas que os Estados Unidos tinham expulsado na semana passada. Além disso, a Rússia decidiu também fechar o consulado dos Estados Unidos em São Petersburgo.

 

 

O envenenamento do ex-espião Russo Serguei Srkipal e da filha, no Reino Unido, tem inflamado as relações diplomáticas entre a Rússia e ocidente, com 27 países a já terem anunciado a expulsão de mais de 140 diplomatas russos. O Kremlin tem negado qualquer envolvimento no caso e acusa Londres de ainda não ter revelado qualquer prova do seu envolvimento.

 

 


EUA ameaça responder a expulsões injustificadas decididas pela Rússia

 

 

 

As expulsões dos diplomatas norte-americanos pela Federação Russa são injustificadas e os EUA reservam-se o direito de responder, afirmou esta quinta-feira a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert. A Federação Russa anunciou hoje a expulsão de 60 diplomatas dos EUA, depois de os EUA o terem feito ao mesmo número de “espiões russos”. Se se acrescentarem as medidas similares tomadas pelo Reino Unido, pela maioria dos Estados membros da União Europeia, bem como pela Ucrânia, Canadá e Austrália, já somam quase 230 os diplomatas que devem ser expulsos em consequência do caso do envenenamento no Reino Unido do ex-espião russo Serguei Skripal.

 

“Não há qualquer justificação para a reação russa”, destacou, durante um encontro com jornalistas. “Reservamo-nos o direito de responder”, continuou, acrescentando que “as opções estão a ser examinadas”. Estimou ainda que Moscovo tinha “decidido isolar-se ainda mais”, ao expulsar os diplomatas norte-americanos e encerrar o consulado dos EUA em São Petersburgo, depois de medidas idênticas tomadas por Washington. Até agora, a Federação Russa anunciou a expulsão de 83 diplomatas ocidentais, aqueles norte-americanos mais 23 britânicos, já expulsos.

 

 

“Quanto aos outros países, (a resposta de Moscovo) vai ser idêntica no que respeita ao número de pessoas que vão ter de abandonar a Rússia”, disse hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov. Antes, os EUA e 18 Estados da União Europeia, além de outros Estados ocidentais, anunciaram, desde segunda-feira, 122 expulsões. Com os 23 russos já expulsos pelo Reino Unido, em 20 de março, são 145 os diplomatas russos que foram objeto de expulsão.

 

 

A estes, têm ainda de se acrescentar os sete membros da representação russa na sede da NATO, em Bruxelas, aos quais a Aliança Atlântica anunciou hoje ir retirar a acreditação. O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, indicou que “medidas suplementares, incluindo novas expulsões, não estavam excluídas nos próximos dias e próximas semanas”. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, inquietou-se hoje por a tensão atual entre os EUA e a Federação Russa começar a assemelhar-se com a da Guerra Fria.

 

 

Reino Unido agradece “solidariedade” de Portugal por chamar embaixador em Moscovo

 

 

 

O chefe da diplomacia britânico, Boris Johnson, agradeceu esta quinta-feira a Portugal “a solidariedade” para com o Reino Unido, destacando “a seriedade” da decisão de chamar o embaixador português em Moscovo após o ataque ao ex-espião russo no Reino Unido. Numa mensagem enviada esta quinta-feira ao ministro dos Negócios Estrangeiros português, a que a agência Lusa teve acesso, Boris Johnson agradece “pessoalmente pela ação” de Portugal, ao ter chamado o embaixador português em Moscovo para consultas após o ataque com um agente químico em Salisbury (sudoeste de Inglaterra), a 04 de março, ao ex-espião Serguei Skripal, e à filha Yulia.

 

As autoridades britânicas afirmaram que os dois foram envenenados com um agente neurotóxico de tipo militar e responsabilizaram a Rússia pelo incidente que classificaram como um ataque. “Não subestimo nem por um momento a seriedade desta decisão. Aprecio profundamente as vossas ações e a vossa solidariedade para com o Reino Unido”, afirma o governante britânico, na mensagem ao homólogo português. Johnson refere que “apenas uma resposta coletiva internacional seria eficaz” após o “odioso ataque químico” em Salisbury.

 

 

“O padrão de comportamento disruptivo e imprudente do governo russo representa uma ameaça para todos nós. As expulsões coletivas sem precedentes que temos visto até agora representam um sinal poderoso da nossa determinação em respondermos juntos, de forma apropriada e firme, a esta ameaça”, considera. O ministro britânico apela a que os países ocidentais se mantenham unidos: ” É importante que (…) continuemos a desenvolver a nossa resiliência às ameaças russas à nossa segurança e desafios aos nossos valores”. “Espero poder contar com o seu apoio enquanto levamos este importante trabalho em diante”, afirma ainda na carta.

 

 

O caso Skripal já deu origem a uma ação concertada de 27 países, entre os quais dois terços dos Estados membros da União Europeia (UE), além de Estados Unidos, Canadá e também NATO, de expulsão de mais de 140 diplomatas russos. Portugal mantém-se entre os países que optou por não expulsar funcionários diplomáticos russos, argumentando que “a concertação no quadro da União Europeia é o instrumento mais eficaz para responder à gravidade da situação presente”. Santos Silva anunciou na terça-feira que chamou o embaixador português em Moscovo, Paulo Vizeu Pinheiro, “para consultas”. Esta quinta-feira, Moscovo anunciou a expulsão de 60 diplomatas norte-americanos e o encerramento do consulado norte-americano em São Petersburgo.

 

 

Guterres: “Estamos a chegar a uma situação que é similar ao que experimentámos durante a Guerra Fria”

 

 

 

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou esta quinta-feira que a tensão entre os Estados Unidos e a Rússia começa a assemelhar-se à Guerra Fria, depois do anúncio da expulsão de dezenas de diplomatas russos devido ao caso Skripal. “Penso que estamos a chegar a uma situação que é similar, em grande medida, ao que experimentámos durante a Guerra Fria”, disse António Guterres.

 

No total, mais de 140 diplomatas russos na Europa, América do Norte, Ucrânia e Austrália são afetados por uma expulsão devido a uma ação coordenada de apoio a Londres, que acusou Moscovo de envenenamento de um ex-espião no Reino Unido O secretário-geral das Nações Unidas disse estar “muito preocupado” devido à inexistência de um mecanismo para aliviar as tensões, como os canais partilhados de informações entre Washington e Moscovo que foram desmantelados com o fim da Guerra Fria.

 

 

“Acredito que é a altura de serem tomadas precauções do mesmo tipo, garantindo uma comunicação eficaz, com capacidade para evitar uma escalada” acrescentou. O caso Skripal já deu origem a uma ação concertada de 27 países, entre os quais dois terços dos Estados membros da União Europeia (UE), além de Estados Unidos, Canadá e também NATO, de expulsão de mais de 140 diplomatas russos. Portugal mantém-se entre os países que optou por não expulsar funcionários diplomáticos russos, argumentando que “a concertação no quadro da União Europeia é o instrumento mais eficaz para responder à gravidade da situação presente”. Santos Silva anunciou na terça-feira que chamou o embaixador português em Moscovo, Paulo Vizeu Pinheiro, “para consultas”.

 

 

Esta quinta-feira, Moscovo anunciou a expulsão de 60 diplomatas norte-americanos e o encerramento do consulado norte-americano em São Petersburgo. O ex-espião duplo de origem russa Serguei Skripal, de 66 anos, e a sua filha Yulia, de 33 anos, foram encontrados inconscientes a 4 de março em Salisbury, no sul de Inglaterra, após terem sido envenenados com um componente químico que ataca o sistema nervoso. O Reino Unido atribuiu o envenenamento à Rússia, que tem desmentido todas as acusações e exigido provas concretas sobre esta alegação.

 

 

TPT com: Reuters//AFP//Lusa// Mário Cruz//EPA// Zach Gibson// POOL/EPA//Olga Maltseva//AFP//29 de Março de 2018

 

 

 

 

 

Centenas de milhares de pessoas marcharam nos Estados Unidos, por maior controlo sobre a aquisição e posse de armas

A “Marcha pelas nossas vidas” é uma reação ao massacre de 14 de fevereiro numa escola de Parkland, na Florida, onde um jovem de 19 anos, com uma arma semiautomática, matou 14 estudantes e três adultos.

 

 

A mobilização nacional contra as armas de fogo reuniu mais de meio milhão de manifestantes na capital, Washington.

 

 

Este massacre, o último capítulo de um drama que periodicamente se repete no país, gerou uma onda de consternação e foram os próprios estudantes a assumir a frente dos protestos.

 

 

Mas o movimento que começou alavancado por adolescentes cansados dos banhos de sangue adquiriu força própria e várias personalidades se juntaram ao movimento.

 

O ator George Clooney e a sua esposa, Amal, doaram meio milhão de dólares (405 mil euros ao câmbio atual) ao movimento. Oprah Winfrey e Steven Spielberg também manifestaram o seu apoio, e o ator Bill Murray comparou as marchas deste sábado aos protestos contra a guerra do Vietname na década de 1960.

 

 

Para a concentração na Constitution Avenue, em Washington, figuras populares entre os jovens americanos como os músicos Ariana Grande, Jennifer Hudson, Demi Lovato, Justin Timberlake e Miley Cyrus também marcaram presença.

 

Em Fort Lauderdale, na Flórida, centenas de pessoas pedem endurecimento nas leis que permitem a compra de armas de cano longo nos EUA.

 

Mas as maiores estrelas do protesto são os adolescentes que sobreviveram ao ataque na escola de Parkland, na Flórida.

 

“Estas manifestações não teriam acontecido sem o massacre na minha escola. Por isso, será um momento difícil”, disse à AFP o estudante Carlos Rodríguez, que escapou ileso daquele fatídico 14 de fevereiro. “Sinto-me orgulhoso de ser um dos estudantes que começou com este movimento”, acrescentou.

 

Todavia, o dia em que os estudantes saem à rua, fica marcado pela morte, ontem, de Jaelynn Willey, de 16 anos, que foi ferida num tiroteio numa escola secundária em Maryland, ocorrido a 20 de março.

 

 

O lema: “agir”

 

 

Aalayah Eastmond já está em Washington para participar da grande manifestação e prestar homenagem aos seus companheiros de escola que não sobreviveram. “Perdi dois amigos da minha turma e outros seis foram feridos”, contou a jovem de 17 anos à AFP. “É necessário agir. Isto não pode acontecer de novo. Se passaram 36 dias e não foi feito nada, vamos lutar para que isso mude”, afirmou.

 

A revolta dos jovens tem um alvo preciso: a incapacidade dos poderes executivo e legislativo de agir em relação ao acesso às armas, que muitos americanos consideram um direito fundamental.

 

 

O dilema não é novo. Alcançou o que parecia um ponto de mudança depois da morte de 20 crianças numa escola em Sandy Hook, em 2012, mas o governo não conseguiu vencer a indústria de armas e a Associação Nacional de Espingardas (NRA, em inglês).

 

O ex-presidente Barack Obama chegou a reconhecer a derrota diante do multimilionário lobby da NRA, e agora, mesmo depois de ter deixado a Casa Branca, expressou o seu apoio à manifestação estudantil.

 

 

De acordo com o site do comité organizador, este sábado tiveram lugar 830 “marchas irmãs” em diversas cidades do país onde as armas de fogo deixam mais de 30.000 mortos a cada ano.

 

 

Ontem, sexta-feira, o governo de Donald Trump propôs formalmente a proibição completa dos dispositivos que permitem que armas semiautomáticas disparem rajadas.

 

 

A medida proposta pelo Departamento de Justiça ordena a entrega ou destruição de mais de meio milhão destes dispositivos que se estima terem sido vendidos na última década.

 

 

Estes dispositivos foram usados pelo atirador que massacrou a multidão que assistia a um espetáculo em Las Vegas, a 1 de outubro de 2017, deixando 58 mortos e mais de 850 feridos.

 

 

 

Testemunhas diretas

 

 

 

A geração que sai à rua este fim de semana é geralmente identificada como “geração Columbine”, numa referência ao ataque numa escola no Colorado, em 1999, onde dois estudantes mataram a tiro 12 alunos e um professor.

 

Essa geração passou quase a totalidade da sua vida escolar sob o medo de que suas escolas fossem cenário do mais recente assassinato em massa.

 

 

Todos os estudantes americanos habituaram-se aos exercícios de emergência nas suas escolas para casos de tiroteios e ataques com armas de fogo.

 

 

Segundo o jornal Washington Post, desde o massacre de Columbine, em 1999, mais de 187.000 estudantes americanos foram testemunhas diretas de ataques em massa e tiroteios nas escolas do país.

Na capital, Washington, os jovens ocuparam todo o espaço que vai desde a Casa Branca até o Capitólio, sede do Congresso.

 

 

Vai mudar alguma coisa? “Olhem à volta. Nós somos a mudança”

Guardian convidou dois estudantes da escola de Parkland para serem correspondentes do jornal britânico durante a marcha. Ambos convidaram George Clooney para uma entrevista.

 

 

O actor recusou o convite e justificou a decisão através de uma carta: “Esta é a vossa marcha. O vosso momento (…) O facto de nenhum adulto ir discursar ao palco em Washington é uma mensagem poderosa para o mundo. Se nós não conseguimos fazer alguma coisa acerca da violência com armas, então vocês vão conseguir”, escreveu o actor. “Vocês fazem-me sentir orgulhoso no meu país outra vez. Obrigado”.

 

No palco montado em frente ao Capitólio, o centro da iniciativa que se tornou global, Cameron Kasky, estudante da escola de Parkland atingida pelo tiroteio no mês passado, leu o nome de todos os 17 mortos. Terminou com Nicholas Dworet: “Guardei o Nicholas para o fim porque é o aniversário dele”. “Nicholas, estamos aqui todos por ti. Parabéns”.

 

 

“Desde que o movimento começou, as pessoas perguntam-me: ‘Pensas que isto vai provocar alguma mudança?”, referiu Kasky. “Olhem à vossa volta. Nós somos a mudança”.

 

 

Milhares de pessoas juntaram-se à iniciativa e marcharam em centenas de cidades por todos os EUA. Mas a marcha ultrapassou as fronteiras norte-americanas. Reino Unido, Espanha, Austrália, Índia ou Israel são apenas alguns países onde se organizaram manifestações semelhantes.

 

 

Em Tóquio, falaram os pais de Yoshi Hattori, estudante de 16 anos que, em 1992, foi morta a tiro no Louisiana a caminho de uma festa de Halloween. “Sinto que alguma coisa está a mudar. Espero que os adultos que têm senso comum tomem medidas com os jovens para que os EUA sejam um país mais seguro. O futuro é dos mais jovens”, disseram ao Guardian.

 

 

Em Los Angeles, um dos jovens a subir ao palco foi Edna Chavez, estudante de 17 anos. “Sou uma sobrevivente. Vivi no centro de Los Angeles a minha vida toda e perdi muitos dos meus entes queridos por causa da violência. Isto é o normal”. Referindo-se à morte do irmão durante um tiroteio na cidade californiana, afirmou: “Eu perdi mais do que o meu irmão naquele dia, perdi o meu herói. Também perdi a minha mãe, a minha irmã e a mim mesma para o trauma e ansiedade”.

 

 

Christopher Underwood, de apenas 11 anos, também subiu ao palco na capital norte-americana, para falar no irmão que morreu em 2012, baleado com 14 anos. “Na altura, tinha apenas cinco anos. Transformei a minha dor e raiva em acção”, disse. “As nossas vidas começam a terminar no dia em que permanecermos em silêncio sobre as coisas que importam”, afirmou ainda, citando Martin Luther King.

 

Donald Trump não assistiu à marcha. Deixou Washington na noite de sexta-feira para o seu resort de Mar-a-Lago, na Flórida. Durante o dia, o Presidente não fez declarações sobre a iniciativa mas a Casa Branca emitiu um comunicado a elogiar a “coragem de muitos jovens americanos” e a afirmar que “garantir a segurança das nossas crianças é uma prioridade do Presidente”. O comunicado acrescenta que será aprovada legislação para enfrentar o problema da violência das armas, incluindo a proibição de venda dos chamados bump stocks (um mecanismo que aumenta o poder das armas semiautomáticas, que são legalmente comercializadas nos EUA).

 

 

Nos Estados Unidos, país do “fogo e fúria”, ocorreram nos últimos dois anos dois dos maiores massacres jamais observados. As armas de fogo já são mais numerosas do que os habitantes. Enquanto se tenta desencorajar o crime com a pena capital, a promoção das armas continua.

 

 

“Estou aqui a representar as centenas de milhares de estudantes que vivem diariamente com a paranóia e medo no seu caminho de e para a escola”, disse a estudante Zion Kelly no palco em Washington, cujo irmão foi morto em Setembro durante um assalto. “O meu nome é Zion Kelly e tal como muitos de vocês, estou farta”.

 

 

TPT com: AFP//Reuters//Washington Post//Shawn Thew//EPA// Washington Post // AFP//Rhona Wise//Guardian// 24 de Março de 2018

 

 

 

 

 

Nicolas Sarkozy e Kadhafi: uma história de negócios obscuros, alianças e traições

 Sarkozy é suspeito de ter recebido dinheiro de Kadhafi para financiar a sua campanha de 2007. Conheça a sombria história entre ambos, marcada por alianças, negócios e uma traição que matou o ditador.

 

 

A detenção para interrogatório de Nicolas Sarkozy esta terça-feira de manhã é o mais recente episódio de uma história que envolve malas cheias de notas de €500, viagens misteriosas entre a Líbia e França e a venda de quadros e de mansões a preços suspeitos.

 

 

Depois de ter feito uma carreira política que começou na militância de base e culminou na presidência de França, o perfil público do político de centro-direita tem sido marcado por suspeitas nalguns dos casos mais sonantes da justiça francesa. Seis anos depois de ter deixado o poder, Nicolas Sarkozy é um político que vive debaixo de uma constante nuvem carregada de dúvidas.

 

 

Porém, antes de todos esses casos onde Nicolas Sarkozy é suspeito, já tinham sido levantadas suspeitas em torno do possível financiamento da sua campanha eleitoral de 2007 com dinheiro da Líbia de Muhammar Kadhafi. Ao longo de vários anos, Nicolas Sarkozy e pessoas da sua confiança viajaram até àquele país do norte de África, anunciando ao mundo os acordos e os contratos alcançados entre as duas partes.

 

 

Mas será que, entre a pompa e circunstância com que era anunciado o sucesso das relações entre a França e Líbia, Nicolas Sarkozy terá acordado com Muhammar Kadhafi um esquema ilícito de financiamento da sua campanha eleitoral de 2007, com valores entre os 5 e os 50 milhões de euros?

 

 

Esta pergunta voltou à ordem do dia na manhã desta terça-feira, depois de o ex-presidente francês ter sido detido pelas autoridades francesas para depor perante os juízes de instrução pela primeira vez a propósito deste caso. Nicolas Sarkozy poderá ficar sob custódia até 48 horas — ao longo das quais os juízes de instrução procurarão passar a pente fino a relação entre Nicolas Sarkozy e Muhammar Kadhafi, repleta de alianças, traições e esquemas.

 

 

 

Quando a Líbia de Muhammar Kadhafi era um pária

 

 

 

Na Europa e nos EUA, havia razões de sobra para considerar a Líbia de Muhammar Kadhafi um Estado pária.

 

 

O primeiro sinal foi em 1985, quando, em simultâneo, terroristas árabes dispararam e atiraram granadas no aeroporto de Roma e de Viena, matando 19 pessoas. Os EUA apontaram o dedo à Líbia, acusando o regime de Muhammar Kadhafi de financiar aquele ataque. Em 1986, aquele país do Norte de África voltou a ser acusado de estar por trás de um atentado bombista numa discoteca em Berlim Ocidental, onde morreram três pessoas, entre os quais dois militares norte-americanos.

 

 

O golpe mais mortífero aconteceu em 1988, com o atentado contra o voo Pan Am 103. Partiu de Frankfurt, com escala prevista em Londres e destino final nos EUA, mas acabou por explodir enquanto sobrevoava Lockerbie, na Escócia. Morreram as 270 pessoas que estavam a bordo, entre as quais 179 tinham nacionalidade norte-americana. Abdeldaset al-Megrahi e Lamin Khalifah Fhimah, dois funcionários da companhia estatal líbia, sendo que o primeiro tinha ligações aos serviços secretos de Muhammar Kadhafi, foram anunciados como suspeitos de preparar o atentado.

 

 

Em 1989, um novo atentado. Desta vez, o voo UTA 772 explodiu enquanto sobrevoava o Níger, matando cada uma das 170 pessoas que seguiam a bordo. Entre as vítimas, a nacionalidade mais comum era a francesa, com um total de 54 mortos. Mais tarde, as autoridades de Paris viriam a identificar seis suspeitos, todos de nacionalidade líbia. Entre eles, destacava-se Abdallah Senoussi, cunhado de Muhammar Kadhafi e então número dois das secretas líbias.

 

 

Além disso, a Líbia era também suspeita de ajudar o terrorismo um pouco por todo o mundo. Grupos terroristas na Palestina, o IRA na Irlanda, a ETA no País Basco, a Frente Revolucionária Unida na Serra Leoa ou o Abu Sayyaf nas Filipinas fazem parte da lista de organizações que terão recebido apoio financeiro, logístico ou militar de Muhammar Khadafi.

 

 

Tudo isto levou a um isolamento internacional da Líbia.Primeiro, foi submetida a um embargo norte-americano em 1986. Depois, em 1992, juntaram-se as sanções das Nações Unidas, que proibiram a venda de armas à Líbia e também as ligações aéreas àquele país.

 

 

As sanções tiveram o resultado desejado. Isolado e a braços com uma crise económica por não conseguir vender petróleo aos principais compradores mundiais, Muhammar Kadhafi e a Líbia não voltaram a ser acusados de ligações a atentados terroristas. A travessia no deserto que durou grande parte da década de 1990 terminou em 1999, quando o ditador líbio decidiu cooperar com as autoridades europeias que investigavam os atentados de Lockerbie e do voo da UTA. Um a um, Muhammar Kadhafi entregou às autoridades britânicas e francesas os principais suspeitos, para serem julgados. Além disso, a Líbia indemnizou as famílias de cada uma das vítimas destes dois atentados.

 

Não por acaso, no maior atentado com aviões que aconteceu após o volte-face de Muammar Kadhafi, o ataque ao World Trade Center de 11 de setembro de 2001, o ditador não só lamentou o sucedido como partilhou com os EUA informações que acreditava serem úteis para investigar o caso.

 

 

À altura, as palavras de Muhammar Kadhafi de reação ao 11 de setembro apanharam meio mundo de surpresa.“Independentemente do conflito com a América, enquanto seres humanos temos o dever de demonstrar compaixão com o povo americano e de estar ao lado deles depois deste incidente horroroso, que deve alertar a consciência humana”, disse o ditador líbio.

 

 

Tudo isto, dito pela boca do homem que menos de duas décadas antes tinha sido acusado de estar por trás da morte de centenas de civis europeus e norte-americanos, não era menos do que um desesperado grito de ajuda. E, em França, ele foi bem ouvido. À escuta, entre outros, estava Nicolas Sarkozy.

 

 

 

Quando Chirac e Sarkozy abriram França ao dinheiro da Líbia

 

 

 

Não havia tempo a perder. As sanções internacionais contra a Líbia foram totalmente levantadas em 2004 e, precisamente nesse ano, Jacques Chirac foi o primeiro Presidente francês a fazer uma visita oficial àquele país desde a declaração de independência, em 1951. E, antes do chefe de Estado francês, já lá tinham estado Tony Blair (primeiro-ministro doReino Unido), José Maria Aznar (presidente de governo de Espanha), Silvio Berlusconi (primeiro-ministro de Itália), Gerhard Schröder (chanceler da Alemanha) e William Burns (então responsável pela  Médio Oriente do Departamento de Estado dos EUA). Em 2005, também Portugal se estreou naquelas andanças, com o então primeiro-ministro José Sócrates a ser recebido em Tripoli por Muhammar Kadhafi.

 

Quando chegou à Líbia, Jacques Chirac tinha ao seu lado vários empresários franceses prontos a investir na Líbia, sobretudo na área do petróleo e da construção.

 

 

Além disso, também a Líbia investiu nos países que, até há pouco tempo, o tinham como um Estado-pária. Segundo um relatório de setembro de 2010 da Autoridade Líbia para o Investimento, um fundo soberano público, a Líbia tinha 64 milhões de dólares em ações nalgumas das empresas mais conhecidas em todo o mundo: Coca-Cola, McDonald’s, Exxon Mobil, Bayer ou Siemens. No caso particular da França, a Líbia investiu nalgumas das empresas mais importantes do país: empresas de telecomunicações (France Telecom e Vivendi), energéticas (GDF e EDF), o Grupo Danone ou a farmacêutica Roche.

 

 

A aproximação económica entre os dois países é preparada por dois homens, que o Le Monde descreve como “rivais”. De um lado, está Ziad Takieddine, logo em 2004. Do outro, está Alexandre Djouhri, que chegou mais tarde, em 2005.

 

 

Ainda como ministro do Interior, Nicolas Sarkozy fez uma visita à Líbia em 2005. Nessa ocasião, terá estado reunido com aqueles dois homens — e o alegado conteúdo, e também resultado, dessas conversações estão por trás desta sua detenção, 13 anos depois.

 

 

Pouco depois do início da sua presidência, Nicolas Sarkozy viajou em visita oficial para a Líbia. Na primeira vez que o fez, em agosto de 2007, conseguiu a libertação de um médico palestiniano e de cinco enfermeiras búlgaros, presos na Líbia por alegadamente terem contaminado centenas de crianças com o vírus VIH de forma deliberada. Este feito foi uma espécie de coroa de louros para o Presidente francês.

 

 

Mas a sua relação com a Líbia também foi alvo de críticas logo no início — sobretudo por ter fechado contratos de vendas de armas ao regime de Muhammar Kadhafi. Sobre este último caso, Nicolas Sarkozy, já quando era Presidente, responderia assim aos ataques que lhe dirigiram: “Criticam-me porquê? Por conseguir contratos? Por criar empregos para os trabalhadores franceses?”. Ziad Takiedinne, o primeiro intermediário dos franceses na Líbia, terá estado por trás do negócio da venda de armas.

 

 

 

E quando Sarkozy ajudou a derrubar Kadhafi

 

 

 

A polémica levou quatro anos até estalar — e numa altura em que, depois de um breve interregno, a Líbia de Muhammar Kadhafi voltou a ser considerada um país inimigo. Em 2011, o ano da Primavera Árabe, depois da Tunísia e do Egito, tornou-se evidente que a Líbia seria a próxima peça do dominó a cair. Ou, em concreto, o regime de Muhammar Kadhafi, que durou 42 anos.

 

A queda de Muhammar Kadhafi deixou de ser uma questão de “se” para passar a ser uma questão de “quando” no momento em que a coligação da NATO decidiu fazer bombardeamentos aéreos contra posições militares do regime líbio. A ideia foi apoiada por vários países (Reino Unido, EUA, entre outros), mas surgiu de um país e de uma pessoa em particular: a França de Nicolas Sarkozy.

 

 

“Os bombardeamentos serão feitos apenas numa perspetiva defensiva, caso Kadhafi utilize armas químicas ou faça ataques aéreos contra manifestantes pacíficos”, propôs, em março de 2011. “Kadhafi tem de sair”, sublinhou Nicolas Sarkozy. No mesmo mês, a França foi o primeiro país a reconhecer a legitimidade dos rebeldes líbios, pedindo-lhes que destacassem diplomatas da sua escolha para França, ao mesmo tempo que deixou de reconhecer os diplomatas de Muhammar Kadhafi.

 

 

Aos poucos, Nicolas Sarkozy recolheu apoio por toda a Europa e nos EUA para ajudarem neste esforço. Até a Itália de Silvio Berlusconi, que ainda hoje sublinha que era amigo de Muhammar Kadhafi, participou nos bombardeamentos — apesar de o então primeiro-ministro dizer que foi o parlamento que o deixou de “mãos e pés atados”, sem meios para impedir essa via.

 

 

É neste contexto que a polémica finalmente estala, quando o filho mais velho de Muhammar Kadhafi, Saïf Al-Islam Kadhafi, dá uma entrevista à Euronews. Nela, acusa Nicolas Sarkozy de receber dinheiro líbio para financiar a sua campanha presidencial de 2007. “Para já, Sarkozy tem devolver todo o dinheiro que aceitou da Líbia para financiar a sua campanha eleitoral”, disse o filho de Muhammar Kadhafi. “Fomos nós que financiámos essa campanha, temos todos os detalhes e estamos prontos para torná-los públicos. Por isso, a primeira coisa que pedimos a esse palhaço do Sarkozy é que devolva o seu dinheiro ao povo líbio. Ajudámo-lo a chegar a Presidente porque achámos que isso ia ajudar o povo líbio, mas ele desiludiu-nos.”

 

 

A entrevista de Saïf Al-Islam Kadhafi foi para o ar a 16 de março de 2011. Três dias mais tarde, começavam os bombardeamentos da NATO, idealizados por Nicolas Sarkozy. Só viriam a terminar no dia 31 de outubro — um dia depois de o regime de Muhammar Kadhafi ser deposto, facto consumado pelo seu assassinato em plena rua, em Sirte. Desde então, a Líbia nunca mais voltou a ter um governo nacional e continua a ser o palco de uma guerra civil e de uma crise humanitária sem fim à vista.

 

 

 

As malas de dinheiro, os quadros sobrevalorizados e as mansões ao quintuplo do preço

 

 

 

A partir da entrevista de Saïf Al-Islam Kadhafi, as dúvidas formaram um imenso burburinho que veio a explodir em março de 2012, menos de dois meses depois das eleições que Nicolas Sarkozy viria a perder para François Hollande. Nessa altura, o jornal Mediapart deu conta de um documento oficial sírio onde era referido um acordo de financiamento de 50 milhões para a campanha de Nicolas Sarkozy em 2007. Os detalhes teriam sido acertados com Brice Hortefeux, amigo pessoal de Nicolas Sarkozy, de quem chegou mais tarde a ser ministro da Imigração (2007 a 2009) e do Interior (2009 a 2011).

 

 

Brice Hortefeux negou as acusações. Reconhecendo que teve uma reunião com Ziad Takieddine, desmentiu ainda assim ter sido discutido o financiamento da campanha de Sarkozy em 2007. “Nunca falámos de questões de financiamento político, nem de perto nem de longe”, reagiu, em 2012. E o porta-voz de Nicolas Sarkozy também negou rotundamente as acusações: “Há anos que uns e outros tentam fazer declarações deste tipo, mas nunca acabam por demonstrar provas, ficando-se pela tentativa de ligar o chefe de Estado a um caso que não lhe diz respeito”.

 

 

O próprio Nicolas Sarkozy tem desmentido todas as suspeitas levantadas em seu torno neste caso, acusando o filho de Muhammar Kadhafi de ser um “fala-barato”.

 

 

Porém, ao longo dos anos que se seguiram, Ziad Takieddine — que está em França depois de ter sido detido com uma mala de 1,5 milhões, cujo fim não é conhecido — falou várias vezes sobre o caso. A primeira vez que o fez em maior detalhe foi numa entrevista ao jornal online Mediapart, onde contava ter ele mesmo feito a passagem de três malas cheias de dinheiro desde a Líbia até a próximos de Nicolas Sarkozy ou ao próprio.

 

 

No relato feito ao jornal online Mediapart, Ziad Takieddine detalhou que as malas continham notas de €500, “totalmente novas”. Em duas ocasiões em que entregou o dinheiro, o empresário libanês e francês conta que encontrou o próprio Nicolas Sarkozy. “Acredito que ele soubesse muito bem o que é que eu estava a fazer ali”, disse ao Mediapart o homem que disse haver um “sistema mafioso” com o ex-Presidente “à cabeça”.

 

 

A seguir às revelações feitas ao Mediapart, Ziad Takieddine foi constituído arguido pelas autoridades francesas, com as quais tem colaborado com depoimentos que podem ajudar a incriminar Nicolas Sarkozy e alguns dos homens mais próximos do ex-Presidente. Os depoimentos do empresário libanês-francês levaram as autoridades francesas a abrir oficialmente a investigação do caso Sarkozy-Líbia em 2013.

 

 

Segundo os relatos do empresário de dupla nacionalidade libanesa e francesa, houve três envios de dinheiro. Dois foram feitos para o chefe de gabinete de Nicolas Sarkozy no ministério, Claude Guéant — homem que, mais tarde, viria a ser chefe de gabinete de Nicolas Sarkozy no Eliseu e também ministro do Interior. O outro foi feito diretamente com o então candidato a Presidente.

 

 

A primeira mala com dinheiro a partir da Líbia em direção a Paris terá chegado em 2006. Teria 1,5 milhões de euros. Dez dias depois, uma nova mala transportaria outros 2 milhões de euros. Por fim, um novo carregamento de notas no valor 1,5 milhões de euros seria entregue “diretamente a Nicolas Sarkozy”, de acordo com Ziad Takieddine. Enquanto isso, Claude Guéant alugou um cofre de grandes dimensões na agência do banco BNP na zona de Opéra, em Paris — sendo que o próprio dizia que ali guardavam discursos e arquivos.

 

 

Estas alegadas trocas também foram corroboradas por Abdallah Senoussi, o cunhado de Muhammar Kadhafi suspeito de ter estado por trás dos atentados aos aviões de Lockerbie e do Niger, e que está atualmente preso na Líbia.

 

 

“Para estender o apoio [da Líbia] a personalidades ocidentais de modo a que estas chegassem ao poder, um total de 5 milhões de euros foi canalizado para a campanha do Presidente francês Nicolas Sarkozy em 2006 e 2007”, disse Abdallah Senoussi, num depoimento possível através de um protocolo de cooperação judicial entre França e as autoridades líbias. “Da minha parte, supervisionei pessoalmente a transferência dessa soma através de um intermediário francês, o chefe de gabinete do ministro do Interior. Sarkozy era então ministro do Interior”, disse. E depois acrescentou: “Confirmo que aquela soma foi recebida com sucesso por Sarkozy”.

 

 

Terá sido o próprio cunhado de Khadafi a interpelar Ziad Takkiedine, no sentido de ser encontrado um esquema de financiamento da campanha de Nicolas Sarkozy. Num dos seus depoimentos perante a justiça francesa, contou a conversa que o cunhado do ditador teve consigo. “O senhor Senoussi perguntou-me diretamente se sabia qual seria o custo de uma campanha presidencial em França. Eu perguntei-lhe porque é que queria saber e eu dei-lhe uma ideia, dentro dos meus poucos conhecimentos do tema, que seria cerca de 20 milhões de euros”, contou. “Ele respondeu-me: ‘O teu amigo pediu uma ajuda para o financiamento da sua campanha ao Líder’.”

 

 

Por “teu amigo”, entenda-se Nicolas Sarkozy. Por “Líder”, leia-se Muhammar Kadhafi.

 

 

Há ainda outro eixo do alegado esquema de financiamento da campanha de Nicolas Sarkozy: Alexandre Djouhri, o segundo intermediário dos franceses na Líbia de Muhammar Kadhafi. Detido em Londres desde janeiro deste ano, Alexandre Djohri (originalmente Ahmed), mudou o nome para homenagear Alexandre o Grande.

 

 

Descrito frequentemente pela imprensa francesa como um homem “excêntrico”, Alexandre Djouhri terá estado por trás de um pagamento no valor de 500 mil euros a Claude Guéant do artista flamenco Andries van Eertvelt a Sivajothi Rajendram, advogado residente da Malásia. A venda daqueles dois quadros, que terão sido comprados pela mulher de Claude Guéant, entretanto falecida, em 1993, despertou a atenção das autoridades francesas, pelo seu elevado valor — poderia aquele meio milhão de euros ter tido outro destino?

 

 

Os investigadores perceberam que, dois dias antes da compra dos dois quadros, o advogado malaio tinha recebido duas transferências cuja soma era próxima de 500 milhões de dólares. O depositante era o empresário saudita Khaled Bugshan que, por sua vez, tinha participações no fundo da Autoridade Líbia para o Investimento.

 

 

As autoridades suspeitam que aqueles 500 milhões de euros tenham sido transferidos para financiar a campanha eleitoral de Nicolas Sarkozy em 2007 — e chegaram a colocar em causa que Claude Guéant alguma vez tenha sido proprietário dos dois quadros de Andries van Eertvelt.

 

 

As suspeitas em torno de Alexandre Djouhri também contemplam a venda de uma casa em Mouguins, localidade a 15 minutos de Cannes, ao fundo da Autoridade Líbia para o Investimento por 10 milhões de euros — um valor cinco vezes superior ao valor real daquela casa.

 

Poucos apostam numa conclusão rápida deste caso que começou com as declarações do filho mais velho de Muhammar Kadhafi. Este, por sua vez, já reagiu à notícia da detenção para interrogatório de Nicolas Sarkozy. “É uma pena que a detenção aconteça com atraso e depois de sete anos de guerra. É uma pena, porque eu já apresentei as provas deste caso, mas nem a justiça francesa nem a justiça internacional se mexeram na altura”, disse.

 

 

Saïf Al-Islam Kadhafi falou esta terça-feira, um dia depois de ter anunciado que é candidato às eleições presidenciais líbias, previstas para antes de setembro deste ano. E lançou um apelo ao atual Presidente francês, Emmanuel Macron. “Peço ao Presidente Macron que tome as medidas necessárias para apoiar as eleições na Líbia, para que estas possam corrigir aquilo que o seu antecessor fez”, disse. Estará à vista uma nova aliança entre um Presidente francês e um Kadhafi?

 

 

 

TPT com: AFP//Reuters//Observador// Roy Letkey//Imed Lamloum//AFP// 20 de Março de 2018

 

 

 

 

 

 

Vereador morto a tiro no Brasil uma semana depois da morte da vereadora Marielle Franco

Paulo Teixeira, um vereador suplente foi hoje morto em Magé, município da região metropolitana do Rio de Janeiro, Brasil, uma semana depois da morte da vereadora Marielle Franco num tiroteio, anunciaram hoje fontes oficiais.

 

 

De acordo com a Polícia Militar, Paulo Henrique Dourado Teixeira estava no seu carro quando foi atingido por vários tiros que causaram a sua morte. Uma outra pessoa que o acompanhava no carro sofreu ferimentos ligeiros.

 

 

O Comissário Evaristo Magalhães, da divisão de homicídios da Baixada Fluminense, disse que, embora a informação ainda seja preliminar, uma das linhas de investigação é crime político.

 

 

Paulo Teixeira foi nomeado para o Conselho em 2016 pelo Partido Trabalhista do Brasil (PTB) na lista do deputado regional Renato Cozzolino. Ele recebeu 536 votos e era vereador suplente, no Conselho de Magé.

 

 

O crime ocorreu uma semana após a morte, no centro do Rio de Janeiro, da vereadora Marielle Franco e do seu motorista Anderson Gomes, situação que causou uma forte contestação no Brasil e em vários países, com manifestações a apelar ao fim da violência.

 

 

Marielle Franco, uma crítica da intervenção militar na segurança no Rio de Janeiro e caracterizada pelo seu ativismo como defensora dos direitos humanos, tinha condenado a violência policial um dia antes do crime.

 

 

O Estado do Rio de Janeiro está desde há um mês sob intervenção federal (por decisão do Presidente Michel Temer) por questões de segurança. Esta decisão implica a mobilização e destacamento de militares nas ruas da cidade como forma de manter a ordem pública.

 

 

O eurodeputado português Francisco Assis condena morte de vereador brasileiro Paulo Teixeira

 

 

Uma semana depois da vereadora e ativista Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes terem sido mortos a tiro no Rio de Janeiro, é assassinado na mesma situação o vereador suplente Paulo Texeira.

 

 

De acordo com a Polícia Militar, Paulo Henrique Dourado Teixeira estava de carro quando foi atingido por vários tiros que lhe tiraram a vida. Uma outra pessoa que o acompanhava sofreu ferimentos ligeiros.

 

Franciso Assis, eurodeputado do PS e presidente da Delegação para as relações com o Mercosul, já condenou mais esta morte, apontando o dedo em nome do Parlamento Europeu à escalada de violência que tem assolado o Brasil.

 

 

“Não conhecia o vereador, mas aqui no Parlamento Europeu estamos a seguir com atenção esta violência terrível que vem a aumentar desde o ano passado”, disse ao DN.

 

 

Preocupado com o facto de serem “os direitos humanos os mais afetados”, Francisco Assis reconhece que, principalmente o Rio de Janeiro está a sofrer com “o narcotráfico” e com a “incapacidade das forças de segurança e do governo”.

 

 

Recorde-se que há uma mês que o estado do Rio de Janeiro está sob intervenção federal (por decisão do Presidente Michel Temer) por questões de segurança. Esta decisão implica a mobilização e destacamento de militares nas ruas da cidade como forma de manter a ordem pública.

 

 

A União Europeia não está indiferente à situação e promete ficar atenta. “A União Europeia demostra o seu descontentamento e toma uma posição quer na perseguição dos culpados, como na persecução da segurança das populações”.

 

 

Assim, recebida a notícia deste novo assassinato, Francisco Assis promete falar com ativistas brasileiros e políticos procurando articular uma posição conjunta que expresse a insatisfação contra a política brasileira, tal como as muitas manifestações que têm ocorrido um pouco por tudo o Brasil e por Portugal.

 

 

Quem era o vereador brasileiro assassinado

 

 

Paulo Teixeira foi nomeado para o Conselho em 2016 pelo Partido Trabalhista do Brasil (PTB) na lista do deputado regional Renato Cozzolino. Ele recebeu 536 votos e era vereador suplente no Conselho de Magé.

 

 

O crime ocorreu uma semana após a morte, no centro do Rio de Janeiro, da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

 

 

Marielle Franco, uma crítica da intervenção militar na segurança no Rio de Janeiro e caracterizada pelo seu ativismo como defensora dos direitos humanos, tinha condenado a violência policial um dia antes do crime.

 

 

 

Ex-Presidente do Brasil espera que morte de Marielle seja início do fim da violência

 

O ex-Presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso mostrou-se esta segunda-feira expectante de que a morte da vereadora e ativista dos direitos humanos do Rio de Janeiro Marielle Franco seja o começo de uma sociedade em que a violência possa ser contida.

 

 

“Violência inaceitável. Uma execução”, foi assim que Fernando Henrique Cardoso classificou a morte de Marielle Franco, numa declaração aos jornalistas em Lisboa, no final de uma reunião do conselho de curadores da Fundação Champalimaud, de que faz parte.

 

Fernando Henrique Cardoso, que foi Presidente do Brasil entre 1995 e 2003, considerou “lamentável” que todos os dias ocorram muitas mortes no país e de várias origens: “Em função da violência, do crime organizado e às vezes da própria incompetência das administrações de fazerem frente a isso”.

 

 

“Desta vez, acho que houve uma repulsa tão grande da sociedade que o tema vai passar a ser tomado mais rotineiramente em consideração”, afirmou, revelando ser essa a sua expetativa. “Que não seja só a manifestação da república — que já é importante — mas que seja o começo da sociedade em que a violência possa ser contida”, adiantou.

 

 

Para o ex-Presidente, “a violência está nas ruas, mas tem ligação com a corrupção, da polícia, do poder político”. “Tudo isso criou um clima político de desorganização, de anomia e esse clima tem de ser terminado e o término dele depende de muitas ações e decisões que dependem de todos nós que têm algum peso na liderança do Brasil”.

 

 

O assassínio de Marielle Franco gerou grande comoção no Brasil e também no exterior. No Rio de Janeiro, centenas de pessoas acompanharam o velório e enterro de Marielle Franco na quinta-feira. A cidade também foi palco de manifestações que reuniram milhares de pessoas na região central, que foram organizadas em homenagem a ela e ao condutor.

 

 

Houve também protestos em São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Salvador e noutras capitais do país. Em Portugal, realizam-se esta segunda-feira manifestações em Lisboa, Braga e Porto com o objetivo de prestar homenagem a Marielle Franco e denunciar a violência policial, racista e misógina que marca o dia a dia do Brasil, sobretudo nas favelas, segundo a organização.

 

 

O caso também gerou comentários de repúdio de membros do Governo brasileiro e da ONU e de organizações ligadas à defesa dos direitos humanos como a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch.

 

 

TPT com: AFP// Reuters//DN//Artur Machado/ Global Imagens//Agência Lusa//Observador// 20 de Março de 2018

 

 

 

 

 

 

Morreu Stephen Hawking, o físico que desafiou os limites do Cosmos e da doença

O físico britânico Stephen Hawking, cujo trabalho se destacou na área da relatividade e dos buracos negros, morreu hoje aos 76 anos de idade, na sua casa em Cambridge, anunciou a sua família em comunicado.

 

 

“Estamos profundamente tristes com a morte, hoje, do nosso adorado pai. Foi um grande cientista e um homem extraordinário, cujo trabalho e legado permanecerão por muitos anos”, escreveram os filhos do cientista, Lucy, Robert e Tim, num texto divulgado pela agência britânica Press Association.

 

 

No texto, os filhos de Stephen Hawking acrescentam que a sua coragem e persistência, assim como a sua inteligência e humor inspiraram pessoas por todo o mundo.

 

 

“Ele disse um dia que ‘este não seria um grande universo se não fosse a casa das pessoas que amamos’”, acrescentam os filhos.

 

 

Diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA) aos 21 anos, doença que causa a morte dos neurónios responsáveis pelos movimentos voluntários, Hawking desafiou as previsões dos médicos, que lhe tinham dado uma expectativa de vida de apenas alguns anos, e prosseguiu como professor e astrofísico ao longo de mais cinco décadas, apesar de confinado a uma cadeira de rodas.

 

 

“A sua valentia e persistência, aliadas ao seu brilhantismo e humor, inspiraram pessoas em todo o mundo”, destacaram os filhos. 

 

 

Hawking, que tinha o estatuto de uma estrela rock, era o cientista mais popular desde Albert Einstein. É unanimemente considerado um génio tendo desvendado vários segredos do universo numa vida marcada pela luta contra uma doença degenerativa à qual nunca se rendeu. Vida essa que foi retratada no filme “A Teoria de Tudo”, de 2014, que valeu o óscar de melhor ator a Eddie Redmayne.

 

 

Nasceu a 8 de janeiro de 1942 em Oxford, na Inglaterra, 300 anos após a morte de Galileu. Aos oito anos mudou-se para St. Albans, cidade localizada a cerca de 30 km de Londres.

 

Estudou na University College, de Oxford – pretendia dedicar-se à Matemática, mas acabou por escolher Física, área em que se licenciou em 1962. Será, contudo, no campus rival de Cambridge que estuda astrofísica, área em que faz doutoramento.

 

Foi professor de Matemática em Cambridge, professor lucasiano emérito – posição também ocupada por cientistas como Charles Babbage, Isaac Newton e Paul Dirac, e dirigiu o departamento de Matemática Aplicada e Física Teórica da mesma universidade.

 

Em 1974 tornou-se num dos mais jovens membros da Royal Society, com apenas 32 anos.

 

As suas principais áreas de estudo foram a astrofísica teórica e a gravidade quântica.

 

 

 

“O meu objetivo é simples. Entender completamente o Universo, por que é, como é, e simplesmente o seu motivo de existir”.

 

 

 

Muitos dos seus trabalhos concentraram-se em alinhar a relatividade à teoriaquântica para explicar a criação e o funcionamento do Universo. Hawking testou as teorias de Newton em 2007, quando aos 65 anos realizou um voo em gravidade zero nos Estados Unidos, e esperava ainda fazer um voo sub-orbital.

 

 

“Penso que a raça humana não tem futuro senão no espaço”, defendia. “Acredito que a vida na Terra está perante um risco cada vez maior de ser destruída por um desastre, como uma guerra nuclear repentina, um vírus geneticamente criado ou outros perigos”.

 

 

Hawking foi autor de 14 livros, como “O universo numa casca de noz” e “Uma nova história do tempo”.

 

 

“Tratei de levar a vida mais normal possível e de não pensar na minha doença ou lamentar as coisas que não posso fazer, que não são tantas”

 

 

Aos 21 anos foi diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) e foi perdendo progressivamente a capacidade de se mover, falar, engolir e até respirar. Acabou assim confinado a uma cadeira de rodas e dependente de um sistema de voz computadorizado para comunicar, mas derrubou todos os prognósticos médicos sobre sua expectativa de vida.

 

 

“Tratei de levar a vida mais normal possível e de não pensar na minha doença ou lamentar as coisas que não posso fazer, que não são tantas”, escreveu certa vez.

 

 

Casou-se em 1965 com Jane Hawking, com quem teve os seus três filhos, separando-se em 1991. Quatro anos depois, casou-se com a enfermeira Elaine Mason, de quem se divorciou em 2006. Disse uma vez disse que o único enigma que não conseguiu desvendar foram “as mulheres”. “Um mistério total”.

 

 

O cientista britânico tornou-se um nome reconhecido pelo grande público pelo seu trabalho científico, coragem de vida, best-sellers e até pela participação em séries televisivas como Os Simpsons ou A Teoria do Big Bang.  O astrofísico trabalhou até ao final da vida, sem perder a curiosidade e a humildade perante os mistérios da ciência. “Parece que acabo de perder 100 dólares”, admitiu em 2012 após a descoberta do bosão de Higgs, a partícula proposta Peter Higgs e considerada como o Santo Graal da astrofísica.

 

 

 

“Sou um otimista e acredito que podemos criar inteligência artificial para o bem do mundo”

 

 

A importância da ética no mundo da tecnologia, nomeadamente no caso da Inteligência Artificial, foi um dos debates fundamentais da edição de 2017 da Web Summit e contou com Stephen Hawking no evento de inauguração.

 

Recordando a sua própria experiência de uso de tecnologia, nomeadamente na luta contra a esclerose lateral amiotrófica (ELA), o cientista, que ajudou a compreender nomeadamente o papel dos buracos negros, referiu que esta nova revolução tecnológica talvez possa fazer anular os danos infligidos no mundo natural pela industrialização.

 

 

“Não conseguimos prever o que podemos alcançar quando as nossas mentes são ampliadas pela Inteligência Artificial (IA). Talvez com as ferramentas desta nova revolução tecnológica nós consigamos corrigir algum do dano causado ao mundo mundo pela industrialização. Vamos finalmente erradicar doenças e a pobreza. Todos os aspetos da nossa vida mudarão”, afirmou Hawking.

 

 

“Sou um otimista e acredito que podemos criar Inteligência Artificial para o bem do mundo. Que isso pode funcionar em harmonia connosco. Nós simplesmente temos de estar conscientes dos perigos, identificá-los. Talvez alguns dos que me ouvem hoje já têm solução ou respostas para questões relacionadas com IA”, disse o professor  antes de sublinhar que um mau uso desta tecnologia também pode ter um mau fim: “podemos ser destruídos por ela”. Todos temos um papel a cumprir “para que possamos atingir o nosso potencial e criar um mundo melhor para toda a raça humana”, observou.

 

 

O cientista enumerou algumas eventuais consequências pelo mau uso, como armas autónomas, que podem destruir seres humanos, para resumir que a AI pode ser o “melhor ou o pior que acontece à humanidade”.

 

 

O vídeo da intervenção do cientista foi lançado pelo português Nuno Sebastião, fundador e dirigente da Feedzai, que opera na área da Inteligência Artificial para prevenir fraudes.

 

 

TPT com: Reuters//AEP//Madre Media//Press Association// 14 de Março de 2018