Segundo a ONU 34 milhões de crianças e adolescentes não frequentam a escola em países afetados por conflitos

Os dados integram um novo texto, divulgado hoje, do relatório de acompanhamento da iniciativa Educação para Todos (EPT) da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

 

 

O último relatório sobre a EPT, divulgado em abril, mostrava que apenas um terço dos 164 países que há 15 anos lançaram a iniciativa atingiram os objetivos fixados e identificava os conflitos como um dos maiores obstáculos ao progresso.

 

 

O novo texto indica que “as crianças em países afetados por conflitos têm mais do dobro das probabilidades (…) de estarem fora da escola que as dos países não afetados”, enquanto para os adolescentes a probabilidade é dois terços maior, segundo um comunicado da UNESCO.

 

 

A organização das Nações Unidas refere que uma das “principais razões” para o problema “é a falta de financiamento”. “Em 2014, a educação recebeu apenas 2% da ajuda humanitária”, adianta.

 

 

Os 2,3 mil milhões de dólares (2 mil milhões de euros) que a UNESCO considera necessários para fazer regressar à escola os 34 milhões de crianças e adolescentes nos países em conflito correspondem a 10 vezes o valor da ajuda disponibilizada para a educação atualmente.

 

 

A agência da ONU refere ainda que a atenção dos media leva a que alguns países sejam priorizados, o que explica que “mais de metade da ajuda humanitária disponível para educação tenha sido atribuída a apenas 15 dos 342 pedidos feitos entre 2000 e 2014”.

 

 

Em 2013, foram identificados nos países em conflito como precisando de apoio ao nível da educação 21 milhões de pessoas. No entanto, apenas oito milhões foram incluídas nos apelos e destes só três milhões receberam ajuda, adianta.

 

 

“Voltar à escola pode ser a única centelha de esperança e de normalidade para muitas crianças e jovens em países mergulhados em crises”, sublinha a diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova, citada no comunicado.

 

 

Cerca de 58 milhões de crianças estão fora da escola em todo o mundo e 100 milhões não conseguem completar o ensino primário.

 

 

 

PAL // EL/Lusa/29 de Junho de 2015

 

 

 

A NATO reagiu com dureza à intenção da Rússia reforçar ainda este ano o arsenal nuclear estratégico

Depois de Vladimir Putin ter anunciado um incremento de 40 mísseis balísticos com capacidade para desafiar os sistemas de antimísseis mais avançados, o secretário-geral da Organização do Tratado Atlântico Norte acusou os russos de “bravata nuclear.

 

O norueguês Jens Stoltenberg acusou a ameaça do presidente russo de ser “injustificada, destabilizadora e perigosa”. Numa conferência de imprensa em Bruxelas, o homem forte da NATO garantiu que “vamos responder, assegurando que a NATO será também no futuro uma aliança que protege os seus membros contra o inimigo”.

 

Stoltenberg acrescenta que a retórica de Moscovo justifica a disposição crescente da organização em intervir para defesa países que fazem parte da NATO.

 

 

O anúncio de Vladimir Putin foi feito esta terça-feira num fórum de armamento nos arredores da capital. Um reforço da capacidade ofensiva no leste europeu, através de novos mísseis com alcance de 5500 quilómetros, por parte da Federação Russa seria um ato inédito desde 1989. No entanto, este cenário tem estado em cima da mesa desde a escalada do conflito com foco na Ucrânia que arrastou o tom das relações entre o Ocidente e a Rússia para níveis da guerra fria.

 

A NATO reagiu com dureza à intenção da Rússia reforçar ainda este ano o arsenal nuclear estratégico 2

O presidente russo não avançou detalhes sobre a localização do novo armamento. Putin tem defendido que Moscovo deve manter o seu poder de dissuasão nuclear, perante o que qualifica de ameaças à segurança russa, tendo já admitido instalar armas deste tipo na península da Crimeia, região da Ucrânia que passou para a esfera russa no ano passado.

 

 

Na sequência deste conflito, Moscovo pretende gastar mais de 400 mil milhões de dólares na modernização do seu dispositivo militar. Ameaçada pelas sanções internacional e pelo recuo das cotações do petróleo, Putin aposta no investimento na defesa para reanimar a economia.

 

 

ALEXEI DRUGINYN / KREMLIN POOL/EPA/26/6/2015

 

 

 

México responde a Donald Trump que os imigrantes ajudaram a desenvolver os Estados Unidos da América

Durante o discurso de apresentação da sua candidatura à presidência dos Estados Unidos da América, Donald Trump acusou o México de levar “drogas e violadores” para o país. “Os Estados Unidos tornaram-se numa lixeira para os problemas dos outros”, disse o empresário. Miguel Angel Osorio Chong, Secretário do Interior mexicano, já respondeu aos comentários.

 

 

Ao contrário dos outros candidatos, que têm procurado atrair a atenção da comunidade latino-americana, Trump não poupou críticas (e comentários xenófobos) aos imigrantes mexicanos. No discurso,considerado “excêntrico” pelo Guardian, Trump acusou o país vizinho de “enviar pessoas que têm muitos problemas”, que depois os “trazem para cá”.

 

 

“[O México] está a enviar pessoas que têm muitos problemas, e que trazem esses problemas para cá. Trazem drogas, crime e violadores“, disse o empresário no discurso de terça-feira.

 

 

De modo a impedir que as “drogas” e os “violadores” entrem nos Estados Unidos, Trump pretende construir um muro ao longo da fronteira mexicana. “Os Estados Unidos tornaram-se numa lixeira para os problemas dos outros”, referiu.

 

 

Trump, que pela primeira vez formalizou uma candidatura a presidente dos EUA, garante que, se for eleito, irá ressuscitar o sonho americano. “Infelizmente, o sonho americano está morto. Mas, se for eleito, irei trazê-lo de volta. Maior, melhor e mais forte do que nunca”.

 

 

Desde terça-feira que não têm parado de chover críticas. Lisa Navarrete, porta-voz da La Raza, a maior organização latina de direitos civis, foi uma das primeiras pessoas a comentar a situação. Trump é “um homem extremamente parvo” com uma “necessidade patológica por atenção”,disse ao Guardian. Miguel Angel Osorio Chong, Secretário do Interior mexicano, também já comentou publicamente as palavras do empresário norte-americano, refere o El País.

 

 

Para Osorio Chong, os comentários de Trump foram “absurdos e tendenciosos”. “O senhor Trump desconhece a contribuição de todos os migrantes, de quase todas as nações do mundo, para o desenvolvimento dos Estados Unidos”, disse o Secretário do Interior.

 

 

“São os mexicanos e mexicanas que lá estão, por circunstâncias diferentes, que ajudam, sem dúvida, a desenvolver os Estados Unidos e a fortalecê-lo enquanto potência mundial”.

 

 

 

Rita Cipriano/Obs/18/6/2015

 

 

 

 

Exportação de castanhas de caju da Guiné-Bissau vai atingir 20 mil toneladas

A exportação de castanhas de caju na Guiné-Bissau vai atingir 20 mil toneladas e mais de 91 mil toneladas já se encontram nos diversos armazéns aguardando encaminhamento para mercado internacional, garantiu Jaimentino Co, Director-geral de Comércio e Concorrência.

 

 

Em declarações à PNN, no âmbito de um retiro que o Ministério do Comércio organiza esta sexta-feira 5 de Junho em São Domingos, Jaimentino Co, Director-geral de Comércio e Concorrência disse que até este momento tudo indica que a campanha decorra na maior normalidade. “Se as coisas continuarem assim, tudo indica que vamos ter uma boa campanha. Já saiu o primeiro navio que levou 10 mil toneladas o outro ainda esta a proceder carregamento e no final do processo podemos contabilizar com uma soma perto de vinte mil toneladas”, disse Jaimentino Co.

 

Exportação de castanhas de caju da Guiné-Bissau vai atingir 20 mil toneladas 2

 

Em termos dos stocks deste produto, o Director-geral do Comércio disse que actualmente mais de 91 mil toneladas já se encontram nos diversos armazéns aguardando encaminhamento para mercado internacional. “Os dados que nos chegam a partir dos nossos postos de controlo, indicam que já temos 96 mil toneladas de castanhas em Bissau, subtraindo a quantidade de 10 mil já exportada podemos contar com aproximadamente 91 mil toneladas de castanha a exportar”, disse.

 

 

Sobre a previsão inicial do Governo de exportar este ano 200 mil toneladas de castanha de caju, o responsável da Direcção-geral do Comércio argumentou com a mudança climática que terá tido repercussões negativas nesta campanha, contudo está confiante numa boa colheita e comercialização de castanha de caju devido ao controlo apertado nas linhas fronteiriças da Guiné-Bissau.

 

“Para não ser muito optimista, posso dizer que ainda temos castanhas, talvez devido a mudanças do clima, já estamos na época das chuvas, existe castanha ainda nos cajueiros, mesmo que não atingirmos o valor inicial, 150 ou 180 mil toneladas de castanhas exportadas, seria um bom resultados para nós, isto também porque temos um controlo muito apertado sobre a saídas clandestinas de castanhas a nível das fronteiras”, disse Jaimentino.

 

 

No encontro desta sexta-feira em São Domingos, na qual também participa o titular da pasta do comércio António Serifo Embalo, vão ser discutidos, entre outros assuntos, a questão da fiscalização desta campanha, ambiente dos negócios, seu impacto, variação do preço de castanha no mercado desde início da campanha e a exportação da castanha.

 

 

PNN Portuguese News Network/TPT/5/6/2015

 

 

 

Banco central angolano faz injeção recorde de dólares para travar crise cambial

O Banco Nacional de Angola (BNA) aumentou na última semana o volume da venda de divisas à banca comercial angolana em mais de 134 por cento, para 936 milhões de dólares (840 milhões de euros).

 

 

A medida está em linha com o anúncio feito a 28 de maio pelo governador do BNA, José Pedro de Morais Júnior, sobre o aumento do número de leilões semanais de divisas à banca comercial, uma das medidas previstas, por instrução do Governo, para “descomprimir” a atual crise cambial no país.

 

 

De acordo com o relatório semanal sobre a evolução dos mercados monetário e cambial do BNA, ao qual a Lusa teve hoje acesso, as vendas de divisas entre 01 e 06 de junho foram concretizadas a uma taxa média de referência do mercado cambial interbancário de 117,473 kwanzas (90 cêntimos) por cada dólar.

 

 

Esta taxa de câmbio corresponde a uma desvalorização semanal do kwanza de cerca de 6%, concretizada pelo BNA apenas entre quinta e sexta-feira, outra medida adotada tendo em conta o atual mercado cambial, neste caso para travar a especulação (a compra pelos clientes chega a 180 kwanzas por cada dólar) sobre divisas no mercado informal, alternativa face à escassez de moeda estrangeira nos bancos.

 

Banco central angolano faz injeção recorde de dólares para travar crise cambial2

 

A injeção de divisas na banca angolana na primeira semana de junho representa máximos de um ano, contrastando com os 400 milhões de dólares vendidos pelo BNA na semana anterior, o que por si só já tinha representado um aumento semanal superior a 30%.

 

 

Com a redução das receitas do petróleo, situação que se vem a agravar desde outubro, também a entrada de divisas (dólares) no país está em queda, complicando as necessidades de moeda estrangeira que Angola tem para garantir as importações, de alimentos a matéria-prima e máquinas.

 

 

Desde o início do ano, as vendas semanais do BNA chegaram a ser de menos de 200 milhões de dólares.

 

 

O Governador do banco central reconheceu, no final de maio, que a redução de 30% na injeção de divisas por parte do BNA na banca comercial, que se regista desde o início do ano, por comparação com 2014, devido à quebra nas receitas com a exportação de petróleo, está a refletir-se na atividade empresarial do país.

 

 

“O BNA recebeu mandato [do Governo] para tomar as medidas necessárias para descomprimir, na medida do possível, esta pressão ao nível do mercado cambial, para evitarmos situações de roturas de ‘stock’, para resolvermos alguns problemas que se começam a colocar com grande acuidade a nível dos operadores económicos”, apontou José Pedro de Morais Júnior.

 

 

Alguns empresários admitiram nas últimas semanas a possibilidade de pararem a produção devido à falta de matéria-prima, tendo em conta os atrasos nos pagamentos de faturas internacionais, dependentes da disponibilização de divisas.

 

 

Depois das restrições à injeção de divisas, devido à projeção inicial macroeconómica devido à quebra na cotação do barril de crude no mercado inicial, o governador diz que o BNA tem hoje “elementos para flexibilizar esta gestão”, passando pelo aumento de dois para três leilões semanais, para regularizar o fluxo de divisas à banca comercial.

 

 

“Com as medidas que vamos tomar, cremos que a situação se vai começar a resolver paulatinamente”, disse o governador.

 

 

 

ANTONIO COTRIM/Lusa/28/6/2015

 

 

 

 

 

 

Paulo Rangel diz que programa da coligação “pode mudar políticas europeias”

O eurodeputado do PSD Paulo Rangel afirmou esta que acreditava que as linhas orientadoras que a coligação PSD/CDS vai apresentar na quarta-feira têm condições para “mudar políticas europeias”, as quais permitirão “aliviar e melhorar a qualidade de vida dos portugueses”.

 

 

“Como está ancorado na credibilidade e na confiança que este Governo criou nas instâncias europeias ao longo dos últimos quatro anos, tem condições para mudar políticas europeias que podem aliviar e melhorar a qualidade de vida e o nível de vida dos portugueses, que tanto sofreram nestes anos de ajustamento”, respondeu Paulo Rangel aos jornalistas quando questionado sobre o plano [linhas orientadoras para o programa eleitoral] que a coligação apresenta esta quarta-feira em Lisboa.

 

 

O eurodeputado falava na Casa da Música, no Porto, à margem da conferência do Jornal de Notícias “Por Portugal”.

 

 

Segundo o social-democrata, é aí que a proposta da coligação se vai “diferenciar muito” da do PS, partido que “tem ideias utópicas para a reforma da Europa que não permitem depois ter consequências para Portugal”.

 

 

Questionado sobre o que espera das bases programáticas da coligação PSD-CDS, Paulo Rangel respondeu “ser possível esperar uma melhoria na estabilidade e na continuidade”.

 

 

 

“Portugal tem tido grandes resultados do ponto de vista da confiança e da credibilidade que criou nos mercados, nos credores e parceiros europeus”, sustentou.

 

 

Na opinião de Rangel, mantendo “essa confiança haverá espaço para o crescimento e uma melhoria gradual” das condições de vida dos portugueses.

 

 

O social-democrata elogiou as “propostas muito arrojadas, muito ousadas”, que o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, fez para “uma reformulação da zona euro”.

 

 

 

“Basicamente a ideia é: nós criamos confiança, criamos credibilidade e agora já podemos propor à Europa que mude algumas políticas em favor dos portugueses”, sustentou.

 

 

Questionado sobre as eleições presidenciais, designadamente a ausência de um candidato do centro-direita, Rangel reafirmou que ficará satisfeito com Marcelo Rebelo de Sousa ou Rui Rio.

 

 

 

“Eu ficarei satisfeito com qualquer um deles, têm todas as condições para ganhar. São dois perfis diferentes, mas ambos têm capacidade para responder aos desafios” dos próximos cinco anos, disse.

 

 

Paulo Rangel considerou ainda que “não há cá pressas [para apresentar uma candidatura], mas também não há demora”, encarando o assunto com “naturalidade”.

 

 

Observador/2/6/2015

 

 

Há 200 anos, a sul de Bruxelas, Wellington enfrenta Napoleão na Batalha de Waterloo

18 de Junho de 1815. Em Waterloo, a sul de Bruxelas, Wellington enfrenta por fim Napoleão. E depois de horas de feroz e indeciso combate, a chegada dos prussianos decide a batalha a favor dos aliados.

 

 
Entre 1809 e 1814, no seguimento da 3.ª Invasão Francesa, as forças britânicas, portuguesas e espanholas, lideradas por Sir Arthur Wellesley – futuro duque de Wellington – logram sucessivas vitórias sobre o exército gaulês, ainda na Península Ibérica. Seguidamente, já em território francês, contribuem decisivamente para a queda de Napoleão Bonaparte. O imperador abdica, em 20 de Abril de 1814, e parte para o exílio na ilha de Elba. Wellington conseguia, assim, vergar um dos mais brilhantes generais de todos os tempos, mas sem nunca ter tido a oportunidade de com ele se confrontar, cara a cara, num campo de batalha. Mas o destino encarregar-se-ia de, volvidos cerca de 14 meses, proporcionar esse inesquecível frente-a-frente.

 

 
Da ilha de Elba ao confronto com os aliados

 

A 26 de Fevereiro de 1815, Napoleão evade-se da ilha de Elba, onde cumpria o exílio imposto pelas potências vencedoras, e, menos de um mês depois, entra em Paris. Ao mesmo tempo que Luís XVIII se põe em fuga, Bonaparte reassume a sua condição imperial, iniciando os Cem Dias da sua segunda e efémera passagem pelo poder.

 
Percebendo que os aliados não demorarão a fazer-lhe a guerra, tenta reorganizar o exército para lhes fazer frente. Embora seja notório o entusiasmo que a sua reaparição provocara nas fileiras do exército, Napoleão não tarda a perceber que lhe faltam grandes chefes militares para comandar os corpos de exército.

 

 

Dos marechais ainda vivos, o imperador nomeia Davout para as funções de Ministro da Guerra e Soult para Chefe do Estado-Maior. Com quem mais é que pode contar? Berthier falecera; Marmont, Gouvion Saint-Cyr, Pérignon, Victor e Macdonald mantêm-se leais ao rei Luís XVIII; Masséna está demasiado velho; Mortier encontra-se enfermo; aceita Ney, mas rejeita a oferta de Murat. Com este panorama, é obrigado a recorrer aos generais de divisão que lhe parecem mais aptos para o comando dos corpos.

 

Há 200 anos, o fim de Napoleão em Waterloo2Napoleão conseguiu regressar em glória, mas por apenas cem dias

 

 

 
Apesar de todas estas dificuldades, o Napoleão consegue reunir, em apenas dez semanas, um exército de 124.000 homens. Com esse exército, tirando partido da configuração plana do território belga, espera poder conduzir uma campanha rápida, que, uma vez vitoriosa, produza resultados políticos favoráveis.

 

Os aliados, por seu turno, contam com um exército anglo-holandês de 106.000 homens, directamente sob as ordens de Wellington, que se concentra nas imediações de Bruxelas.

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Num movimento convergente, marcham ao encontro deste exército mais duas outras formações aliadas: os Prussianos de Blücher, totalizando 117.000 soldados, e os Austríacos de Schwarzenberg, com um efectivo de 210.000 homens, mas que têm um itinerário mais longo a percorrer para se juntarem aos outros dois exércitos.

 

Há 200 anos, o fim de Napoleão em Waterloo3O marechal Gebhard Leberecht von Blücher, comandante do exército prussiano

 
Em 15 de Junho de 1815, o exército napoleónico põe-se em movimento. Procurando evitar a junção das forças de Blücher com as de Wellington, movimenta-se por linhas interiores e vai tentar batê-las separadamente.

 

 

Quando a ala esquerda do exército francês, comandada pelo marechal Ney, procura cumprir a missão de se apoderar do estratégico nó de Quatre-Bras – situado cerca de 10 km a sul do local da batalha de Waterloo e dominando o eixo Namur-Bruxelas, itinerário mais curto entre os Prussianos e os anglo-holandeses –, vai encontrar a posição já ocupada por uma brigada do exército de Wellington.

 

 

Pensando que atrás da brigada se encontra todo o exército inimigo, Ney não se atreve a desencadear uma acção ofensiva em forma, optando por uma atitude prudente de concentração de todas as suas forças. A ala direita, sob o comando do marechal Grouchy, empenha-se, em Ligny, contra 3 dos 4 corpos de Blücher. Napoleão, com o grosso das tropas imperiais, segue à retaguarda, pronto a influenciar qualquer decisão que pareça mais difícil.

 

Há 200 anos, o fim de Napoleão em Waterloo4O Duque de Wellington, comandante do exército anglo-holandês

 
Entretanto, na noite desse mesmo dia, parecendo não valorizar demasiadamente o risco da movimentação do exército napoleónico, o duque de Wellington e os oficiais do seu estado-maior participam, no mais elegante estilo, no baile da duquesa de Richmond, em Bruxelas.

 

 
Enquanto a acção da ala esquerda, sob o comando do marechal Ney, se mantém indecisa em Quatre-Bras, Napoleão ordena a Grouchy o ataque contra as tropas prussianas, em Ligny. Tardando a desenhar-se a vitória, Napoleão vê-se obrigado a reforçar o ataque de Grouchy com as tropas de reserva, alcançando um sucesso claro, mas à custa de 8.000 baixas, contra 15.000 dos Prussianos.

 

 

Para evitar males maiores, o comando das tropas prussianas entende que é melhor poupar o resto do seu exército, retirando para norte, na direcção de Wavre. Mas não abandona a ideia de, logo seja possível, voltar a tentar a junção com as forças de Wellington.

 

 

Pela sua parte, e a partir de tal situação, Napoleão não pensa noutra coisa que não seja em bater o exército de Wellington rapidamente e tudo fazer para impedir que tal junção possa concretizar-se.

 
Wellington escolhe o terreno da batalha

 
A 17 de Junho, ao saber do movimento dos Prussianos para norte, Wellington dá ordens ao seu exército para recuar para a posição de Mont St. Jean, a pequena distância, para sul, de Waterloo.

 

 

 

Nessa posição, o exército anglo-holandês, além de ocupar terreno ligeiramente dominante, dispõe de diversos edifícios rústicos e valados que permitem uma boa cobertura para a condução de uma defesa. Napoleão, que, após o fim da batalha de Ligny, resolvera dar descanso aos seus homens, só nesse dia, cerca das 11 horas, decide ir com o grosso das suas forças juntar-se às tropas de Ney, enquanto ordena a Grouchy, com uma força de 30.000 homens, para ir no encalço dos Prussianos.

 

 

Estes, desde o dia anterior, já lograram alcançar um significativo avanço, aproveitando a passividade dos Franceses. Grouchy, por seu turno, executa a ordem de perseguição a um ritmo incompreensivelmente lento, sem qualquer hipótese de impedir a junção entre Prussianos e Britânicos.

 

Há 200 anos, o fim de Napoleão em Waterloo5Napoleão atrasou o início da batalha devido ao terreno estar empapado pelas chuvas que tinham caído durante a noite

 
Ainda a 17 de Junho, o grosso do exército francês aproxima-se do Mont St. Jean. Verificam-se, na ocasião, condições meteorológicas extremamente adversas, com a queda de chuvas diluvianas, factor que vai condicionar negativamente as operações ofensivas, uma vez que o terreno enlameado impedirá a infantaria de tirar o máximo partido do poder de choque das suas colunas, ao mesmo tempo que favorecerá quem adoptar uma postura defensiva.

 

 

O mesmo é dizer que tudo se conjuga para dificultar a missão do atacante e beneficiar a acção de quem defende. Ao findar o dia, os dois exércitos encontram-se frente-a-frente.

 

 

Na manhã de 18 de Junho, com o início do ataque aprazado para as 9 horas, Napoleão vê-se forçado a um adiamento de duas horas e meia, na esperança de ver reduzir o grau de humidade que empapa o terreno e impede a velocidade dos movimentos. Assim, pelas 11h30, a ala esquerda francesa ataca a direita aliada, na posição semifortificada de Hougoumont.

 

Cerca das 13h30, perante a contrariedade de não terem ainda terminado os sangrentos combates por Hougoumont, onde os Britânicos resistem galhardamente às furiosas investidas dos Franceses, Napoleão ordena o ataque frontal, ao centro, conduzido pelo 1.º Corpo, de Drouet d’Erlon.

 

 

Mas também nessa ocasião, os homens de Wellington, utilizando nos valados a técnica de posicionamento de contra-encosta, furtam-se aos efeitos da artilharia francesa, para, logo de seguida, sentindo a aproximação da infantaria inimiga, subirem à crista, dizimando o adversário com os seus implacáveis fogos de atiradores em linha.

 
Para piorar a situação das tropas imperiais, não tardam a perceber que o 4.º Corpo do exército de Blücher – o único que não estivera na batalha de Ligny e que, portanto, também não fazia parte das forças que haviam retirado para Wavre –, comandado por Bülow, se aproxima pela direita do dispositivo francês.

 

 

São expedidas ordens para Grouchy alterar a sua missão e vir atacar Bülow pela retaguarda. De nada valem esses esforços, porque Grouchy só pelas 17 horas recebe a mensagem enviada por Soult, o chefe do estado-maior do exército imperial.

 

Há 200 anos, o fim de Napoleão em Waterloo6A carga da cavalaria francesa liderada pelo marechal Ney

 
Falhado o ataque de d’Erlon, Napoleão lança mão da cavalaria, executando duas incursões que rasgam o dispositivo aliado, sem, contudo, o forçarem a um recuo.

 

 

As tropas britânicas, ao verem-se submergidas pela cavalaria francesa, rapidamente passam à formação de quadrado, continuando a disparar, em todas as direcções, com assinalável eficácia. «Cada quadrado – escreveria mais tarde Victor Hugo, em Os Miseráveis – era um vulcão, atacado por uma nuvem».

 

 

Os prussianos entram em campo

 
Entretanto, cerca das 16h00, inicia-se o ataque do corpo de Bülow ao flanco direito francês, em Placenoit, obrigando a desviar forças para garantir, no mínimo, o controlo do itinerário de retirada. No centro da batalha, cerca das 18h30, depois de diversas cargas da cavalaria francesa, a posição fortificada de La Hayne-Sainte cai na posse das tropas de Ney.

 

 

Por uns breves instantes, constatando que a sua linha cedera na parte central, Wellington admite que a manutenção da defesa se encontra em risco e, mais do que nunca, espera que a chegada dos Prussianos de Blücher o salvem da situação crítica em que o êxito da cavalaria francesa o coloca. Pensando dar o golpe de misericórdia ao adversário, mediante o empenhamento da Guarda Imperial, ainda intacta, Napoleão recebe a notícia da tomada de Plancenoit pelas tropas de Bülow.

 

 

Perante este novo revés, decide atrasar o ataque ao centro. Ordena, então, que uma fracção da Guarda Imperial retome a posição de Plancenoit, o que vem a acontecer entre as 19h00 e as 19h30. Graças a esta inesperada trégua, Wellington consegue refazer o seu dispositivo, empenhando as reservas de que ainda dispõe.

 

Há 200 anos, o fim de Napoleão em Waterloo7Uma caricatura da época mostra Napoleão encurralado entre as tropas anglo-holandesas e as tropas prussianas – entre Wellington e Blücher

 
Confrontado com este reajustamento das forças inimigas – a que se somava a cada vez maior probabilidade de estar para breve a chegada do exército de Blücher –, mandaria a prudência que Napoleão ordenasse a retirada, procurando salvar o que restava do seu exército.

 

 

Todavia, não tendo perdido a esperança na chegada do corpo de Grouchy e acreditando na sua boa estrela, Napoleão decide jogar a última cartada, mandando avançar a Guarda Imperial.
Nesta unidade de elite, restam nove batalhões, ou seja, menos de 5.000 infantes. Dada a ordem de ataque, a Guarda progride na direcção das posições aliadas, com a mesma determinação e imponência dos tempos áureos. Subitamente, do lado do inimigo, ouvem a voz: Stand-up, guards!

 

 

Do meio do trigo, 1.500 diabos vermelhos passam da posição de joelhos à posição de pé e disparam à queima-roupa, em salvas sucessivas, por linhas paralelas. À primeira descarga a Guarda hesita e à segunda, ante a surpresa geral, recua. Ao mesmo tempo, no flanco direito francês, a recém-chegada cavalaria de Blücher inunda o campo de batalha. De Grouchy, nem sombra de notícias.

 

 

Há 200 anos, o fim de Napoleão em Waterloo8No final da batalha, Napoleão mandou avançar a temida Guarda Imperial, mas a forma como os soldados de Wellington (aqui com o seu Estado-Maior) reagiram provocaram a sua debandada

 
A derrota de Napoleão, embora assinalada por gestos de enorme bravura, concretiza-se numa debandada precipitada e em grande desordem, a lembrar os infaustos tempos da campanha da Rússia. Chega ao fim, com uma derrota infligida pelo seu mais cotado opositor, a extraordinária carreira militar de um dos maiores cabos-de-guerra de todos os tempos. À derrota militar segue-se o exílio para Santa Helena, onde acabará os seus dias.

 

 

David Martelo/Observador/14/6/20

 

 

 

 

 

Luís Vaz de Camões: a história e cinco dúvidas de um nome incontornável da cultura portuguesa

Em pleno Dia de Portugal, regressámos ao século XVI e fomos “chatear o Camões”. Descobrimos histórias arrojadas, cinco coisas que talvez não saiba e um teste que põe à prova o seu sangue lusitano.

 

Hoje é Dia de Portugal. É dia de recordar os grandes empreendimentos marítimos dos Descobrimentos, de enaltecer o amor de Pedro e Inês, de sublinhar a ambição de D. Afonso Henriques ou de mostrar orgulho na língua. Hoje é dia das Comunidades Portuguesas. É dia de lembrarmos os tempos coloniais e de olhar para aqueles que abandonaram o país em busca da mesma sorte que os antepassados.

 

Mas convém lembrar que hoje se passam também 435 anos da morte de um dos maiores poetas nacionais: Luís Vaz de Camões, um nome incontornável da cultura portuguesa e uma personagem cujo trabalho tem tanto de atualidade como de misticismo. Hoje também é o seu dia. Por isso, o Observador embrenhou-se na História em busca do percurso de Camões. E foi isto que descobriu.

 

A vida de Luís de Camões

 

Diz-se que terá nascido em Chaves. Diz-se que terá vindo ao mundo em 1524. Diz-se que a bagagem cultural de que era dotado foi absorvida em Coimbra. E diz-se – apenas se diz – muito mais sobre este poeta, porque certezas há poucas.

 

A história de Luís Vaz de Camões confunde-se com as memórias de um Portugal em expansão. Mas está pendurada com muitos pontos de interrogação. Ainda assim, há datas que vale a pena serem realçadas: explore a linha do tempo da biografia daquele que é considerado o maior poeta português de todos os tempos.

 

Cinco coisas que talvez não saiba sobre Camões

 

Quando Camões se dirigiu aos aos heróis portugueses que deixaram a terra firme da “ocidental praia lusitana” para dar “novos mundos ao mundo” entre “mares nunca antes navegados”, não tinha noção que também ele iria fazer parte daqueles “que por obras valorosas se vão da lei da morte libertando”. É que embora o trabalho de Camões tenha sido algo menosprezado em vida, hoje é o arquétipo do patriotismo português. E se há muitas histórias por descobrir no percurso camoniano, há um número igual de curiosidades por conhecer. O Observador explorou cinco.

 

1 — Há duas “primeiras edições” da obra Os Lusíadas

 

Depois das enormes aventuras que Camões protagonizou na luta contra os mouros em África e depois na Índia, o poeta português chegou a Portugal com um poema épico de mil cento e duas estrofes que narrava os feitos lusitanos por mares nunca antes navegados. Com o apoio de D. Sebastião – que recebeu o cognome de “O Encoberto” – Luís de Camões viu a obra publicada em 1572.

 

Camões a história e cinco dúvidas2

Esta é a capa que ilustra a primeira edição d’Os Lusíadas de Luís de Camões.

 

 

Nada de anormal até aqui. Pelo menos se ignorarmos a lenda que conta que Camões sofreu um naufrágio junto à costa do Camboja, a caminho de Portugal, que o obrigou a seguir a nado até à praia usando apenas uma das mãos para salvar “Os Lusíadas” com a outra.

 

Mas o verdadeiro mistério começa quando descobrimos que existem duas edições do poema épico no mesmo ano e ninguém tem a certeza de qual delas é a primeira.

 

Existe uma descrição para essa primeira (dupla) edição: no final de 1920, o diretor da Biblioteca Nacional de Lisboa – Jayme Cortezão – dirigiu-se ao Real Gabinete Português de Leitura a fim de pedir a esta entidade uma transcrição da versão original d’Os Lusíadas.

 

Devo lembrar a V. Exª que, a par da 1.ª edição verdadeira que nos propomos reproduzir, existe uma outra, falsa, da mesma data. A verdadeira distingue-se por ter o bico do pelicano da portada voltado para a esquerda do observador e por, no 7.º verso da 1.ª instância do Canto I, ter as palavras “E entre” em vez de “Entre” simplesmente.

 

O Real Gabinete aceitou auxiliar a Biblioteca Nacional, mas deparou-se com um problema: alguns membros da instituição diziam estar na posse da versão original, enquanto outros insistiam que o exemplar existente nas prateleiras do Real Gabinete era a “segunda edição”.

 

Em busca da verdade, Alexandre de Albuquerque ficou responsável por estudar a obra e encontrar a original. O trabalho resultou na obra “As duas edições dos Lusíadas de 1572″, publicada em 1921 com 101 páginas. Descobriu-se que a portada utilizada para ilustrar a capa do poema já havia sido utilizada por Gil Vicente e que a segunda edição era a que tinha sido publicada por António Gonçalves.

 

Crê-se que a versão original da obra capital de Luís de Camões está na posse do Ateneu Comercial do Porto, mas existem vários livros fac-simile – isto é, cópias fieis – d’Os Lusíadas. Há um ano, soube-se da possibilidade de o Ateneu vender a obra para abater parte de uma dívida de 110 mil euros, algo que nunca veio a concretizar-se.

 

2 — Ninguém sabe quando morreu Camões

 

Apesar de ter eternizado os feitos históricos portugueses e de ter exaltado o espírito aventureiro da “ocidental praia lusitana”, Luís de Camões morreu na miséria e sem a consideração que merecia após lançar Os Lusíadas. Em que ano? Essa é mais uma incógnita que assombra a história do poeta português.

 

Só houve uma pessoa preocupada em oferecer um túmulo mais digno a Luís Vaz de Camões: tratou-se de D. Gonçalo Coutinho, um fidalgo que mantinha amizade com o poeta. Foi ele quem mandou construir uma lápide de mármore na Igreja de Sant’Ana, onde foi sepultado para ficar perto do local onde vivia a mãe. O amigo do poeta mandou gravar as palavras:

 

Aqui jaz Luís de Camões. Príncipe dos poetas do seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente e assim morreu, no ano de 1579. Esta campa lhe mandou aqui pôr D. Gonçalo Coutinho, na qual não se enterrará pessoa alguma.

 

Foi desta informação que veio o erro que se perpetuou na história: a morte de Camões foi tão pouco notada que ninguém se deu conta do verdadeiro ano em que o poeta perdeu a vida. A data verdadeira terá sido descoberta quando os historiadores tiveram acesso ao documento que Filipe I de Portugal entregou à mãe de Camões, onde a morte do poeta é datada em 1580.

 

3 — Os restos mortais de Camões… podem não ser dele

 

Durante cento e setenta e cinco anos o corpo de Camões ficou sepultado da Igreja de Sant’Ana. Embora tudo apontasse para que o poeta estivesse enterrado do lado esquerdo da entrada principal do edifício, existia a possibilidade de os restos mortais terem sido depositados na fossa da igreja.

 

Até que o terramoto de 1755 agitou Lisboa e destruiu o túmulo. Os restos mortais de Luís de Camões perderam-se no espaço e no tempo e o poeta perdeu a única homenagem digna que lhe foi feita.

 

Em 1880, no entanto, o ministro do Reino – Rodrigo da Fonseca – foi nomeado para encabeçar uma comissão que tinha como missão encontrar a sepultura e as ossadas de Camões. Nessa altura festejava-se o terceiro centenário da morte do autor português. Os investigadores seguiram então para a reconstruída Igreja de Sant’Ana em busca de pistas. E terão encontrado: no relatório apresentado ao rei D. Luís I foi escrito o seguinte:

 

A uma certa altura viram-se ossos em forma que se lhe não tinha mexido. Alguns d’estes pois sem dúvida os de Luís de Camões; mas quais se nem era possível distinguir a sepultura.

 

Ainda assim, mesmo sem encontrar a pedra de mármore, a transladação iniciou-se e as ossadas foram levadas para o Mosteiro dos Jerónimos. As palavras dúbias do ministro levam Vítor Aguiar e Silva, escritor que se dedica aos estudos camonianos e autor do livro “Dicionário de Luís de Camões” a alertar: os restos mortais presentes na sepultura implantada naquele monumento podem não ser do aclamado poeta lusitano.

 

Camões a história e cinco dúvidas3

Este é o túmulo onde alegadamente estão depositados os restos mortais de Camões. O Panteão Nacional também detém uma arca tumular como homenagem ao poeta.

 

No século XIX, assumiu-se que aquelas eram as ossadas de Camões. Não havia um modo científico de determinar a identidade da descoberta, mas a exaltação patriótica impunha-se e era necessário homenagear o autor d’Os Lusíadas. Por isso, os ossos encontrados foram levados para o Mosteiro dos Jerónimos, mesmo sem as certezas necessárias. Estão depositados na ala sul do mosteiro, enquanto o lado norte é reservado a Vasco da Gama – um herói em Os Lusíadas. 

 

De resto, o Panteão Nacional também detém uma arca tumular sem corpo como homenagem ao poeta.

 

4 — Luís de Camões pode ter amado um homem

 

Que o poeta português nutriu paixões assolapadas por várias mulheres ao longo da vida, não é novidade para ninguém: além das descrições d’OsLusíadas, são conhecidos muitos poemas românticos que Camões terá dedicado às mulheres com quem se cruzou ao longo da vida. Uma delas terá sido D. Maria, a irmã do rei D. João III: reza a história que ambos viveram um amor platónico, impedido de ser consumado pelas diferenças sociais que os separavam. Mas existem mais histórias.

 

Era Luís de Camões muito jovem quando se tornou funcionário em casa de D. Francisco de Noronha, conde de Linhares, e de D. Violante e Andrade. Ninguém sabe ao certo o emprego que tinha, mas foi referido alguma vez como “cavaleiro-fidalgo” nas tenças (remuneração pela prestação de um serviço) que o nobre lhe entregava. Ora, a mulher do patrão foi mais um objeto do amor de Camões. E o sentimento terá sido correspondido: Violante havia casado por conveniência com um homem muito mais velho, por isso decidiu atender à paixão de Camões.

 

Mas o galã português do século XVI não se ficou por aqui: quando o romance com Violante terminou, logo o poeta se deixou encantar por D. Joana, uma das filhas do casal que já estava na adolescência. Outra mulher que terá caído nos braços de Camões foi Catarina de Ataíde, uma dama da rainha a quem o poeta escrevia versos. Os historiadores ainda não conseguiram determinar que Catarina era esta, já que havia três com o mesmo nome: a mulher de um nobre de Aveiro, a neta de Vasco da Gama ou a filha de um nobre amigo daquela família.

 

Se o amor camoniano invadiu todos os quartos femininos daquela casa, saiba que Camões também terá nutrido um romance com António de Noronha, também ele filho dos donos da casa. O jovem nobre nasceu em 1536 e era pupilo do poeta. Trocavam muita correspondência onde transparecia o carinho entre o nobre com cerca de 15 anos e Camões na casa dos 26.

 

Até que, a 29 de abril de 1553, António de Noronha morre numa batalha em Ceuta contra os mouros. Luís de Camões terá sofrido muito com a notícia e dedicou um soneto ao jovem morto aos 17 anos. A primeira quadra da composição dita assim:

 

Em flor vos arrancou, de então crescida
(Ah! senhor dom António!), a dura sorte,
Donde fazendo andava o braço forte
A fama dos Antigos esquecida.

 

Se esta quadra é um exemplo de um soneto dirigir indubitavelmente a António de Noronha, outros parecem ser mais discretos – mas também mais emocionalmente intensos. É o exemplo disso os últimos dois tercetos de um poema, onde se lê:

 

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

 

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

 

Apesar das inúmeras publicações dedicadas à vida e obra de Camões, a eventual homossexualidade do poeta nunca foi muito abordada entre toda a bibliografia.

 

5 — Luís de Camões era pago tarde e em más horas

 

Estávamos em 1552 quando Luís de Camões agrediu um membro da Corte de D. João III e foi preso. Ficou na cadeia de Tronco, em Chaves, durante um ano. Depois saiu, perdoado pelo rei, para se mudar para a Índia e se tornar provedor dos defuntos e ausentes.

 

Se Lisboa lhe deu uma vida boémia e incerta, o Oriente também não parecia ser para ele. Por isso, voltou para casa à conta de amigos como Diogo de Couto, que lhe pagavam as viagens e as despesas. Vinha com Os Lusíadas na mala e correu para se encontrar com D. Sebastião para lhe mostrar a obra prima. O rei ofereceu-lhe 15 mil reis anuais, a serem entregues durante três anos, e permitiu a publicação do poema.

 

Ora, uma coisa é certa: Luís de Camões morreu tão pobre como antes e sobrevivia graças à amizade de letrados com mais posses. Até ao momento em que a peste o levou, existem relatos de que era um escravo chamado Jau – que tinha viajado com o poeta desde a Índia – que o sustentava, mendigando pão de porta em porta para depois entregar a Camões.

 

A maior parte das pessoas acredita que a carteira do poeta estava vazia por culpa de uma desorganização alarmante e do olhar leviano que Camões lançava à vida. É que a pensão que recebia era razoável para a época e podia servir perfeitamente para levar uma vida confortável. Isto se o pagamento acontecesse a horas.

 

Na verdade, a história não é tão linear quanto isso: parece que D. Sebastião não cumpria com as datas de pagamento, pelo que o dinheiro do escritor português esgotava sempre. Chegados a 1578, a situação agravou-se com a morte do rei e substituição por Filipe II de Espanha.

 

A saúde de Camões deteriorou-se gravemente a partir daquele momento: se a peste lhe atacava o corpo, a perda da independência portuguesa corroía-lhe a alma. E a desilusão era tão grande que, no leito da morte, Luís Vaz de Camões terá dito:

 

Enfim acabarei a vida e verão todos que fui tão afeiçoado à minha Pátria que não só me contentei de morrer nela, mas com ela.

 

Portanto conclui-se que, embora Camões gostasse de levar uma vida desregrada, esse não terá sido o único fator que conduziu o poeta português para a miséria.

 

 

Observador/TPT/10/6/201

 

 

 

Cristiano Ronaldo salvou a selecção do desastre na Arménia

Dificilmente Portugal irá falhar a fase final do Campeonato da Europa de 2016 que se vai realizar em França. Ganhou na Arménia por 3-2 e lidera o Grupo I com folga suficiente para garantir um dos dois primeiros lugares que dão acesso directo à prova. Mas isso não significa que esteja a ser uma qualificação brilhante. Mais uma vez, a selecção orientada por Fernando Santos sentiu enormes dificuldades, mais uma vez, foi Cristiano Ronaldo a elevar-se acima da mediocridade e, com três golos, desbravar um tortuoso caminho para a vitória.

 

Sim, a campanha com o Euro tinha começado com uma derrota em Aveiro com a Albânia que significou o fim da era Paulo Bento e a entrada de Fernando Santos. Sim, depois da mudança foram quatro vitórias consecutivas e alguma tranquilidade posicional. Mas é justo dizer que nenhuma das vitórias foi convincente. Antes, foram todas pela margem mínima e, se não fosse Cristiano Ronaldo, a situação seria bem diferente. Dos sete golos marcados por Portugal, cinco foram do avançado do Real Madrid e todos valeram vitórias.

 

POSITIVO/NEGATIVO

 

Cristiano Ronaldo

 

Não será um exagero assim tão grande dizer que, se não fosse ele, Portugal não estaria nada confortável na qualificação. Todos os golos que marcou neste apuramento (cinco) valeram vitórias e, frente à Arménia, a selecção arriscava-se mesmo a perder o jogo. Em Yerevan, marcou três, o último dos quais num remate espectacular após uma recepção perfeita.

 

Rui Patrício

 

Foi o espelho da desinspiração geral da selecção. Não será o único culpado no primeiro golo, mas deveria ter agarrado a bola no remate que daria origem ao segundo golo arménio. Resta-lhe o mérito de ter feito um passe a longa distância para Ronaldo marcar o terceiro golo português.

 

Em Yerevan, Fernando Santos cumpria o seu último jogo de castigo afastado do banco e Ilídio Vale voltava a ter as funções de treinador de campo, isto em casa de um adversário ao qual Portugal nunca tinha ganho — dois empates em dois jogos na Arménia. A ideia inicial de Fernando Santos foi um 4x4x2 com Ronaldo e Danny na frente, apoiados nas alas por Nani e Fábio Coentrão, mais Tiago e Moutinho no meio, mas era evidente o défice no meio-campo, bem aproveitado pelos arménios, bem conduzidos por Pizzelli e, principalmente, por Mkhitaryan.

 

Não se podia falar, propriamente, de superioridade da equipa da casa, mais de desinspiração portuguesa. Aos 14’, essa desinspiração foi acompanhada de desconcentração e a Arménia colocou-se em vantagem. A equipa da casa beneficiou de um livre que não parecia representar um perigo imediato. Pizzelli, o internacional arménio nascido em São Paulo que joga no Cazaquistão, viu no livre uma oportunidade de golo e, em vez de cruzar, rematou à baliza e foi feliz. Apanhou toda a defesa portuguesa, Rui Patrício incluído, distraída e fez o golo.

 

Portugal levou algum tempo a reagir, mas ainda conseguiu o empate antes do intervalo. João Moutinho foi carregado na área da Arménia por Mkhitaryan e, na conversão do penálti, Cristiano Ronaldo começou a deixar a sua marca no jogo. Tinham passado 29 minutos e ainda havia mais de uma hora para jogar. A selecção portuguesa podia embalar para uma vitória convincente e tranquila, mas aconteceu o contrário. Na segunda parte, houve uma mudança de estratégia de forma a reforçar o meio-campo, deixando Ronaldo como único avançado, e o que se pode dizer é que resultou. Não pelo envolvimento colectivo de Portugal, mas pelo inconformismo do seu capitão.

 

Aos 55’, o avançado do Real Madrid aproveita um erro de Mkoyan, avança para a baliza e, com a proximidade do guarda-redes Berezovsky, pica a bola por cima e concretiza a reviravolta. Pouco depois, aos 58’, a bola sai directamente do pé de Rui Patrício, vai ter a Ronaldo e, pouco depois, já estava no fundo da baliza arménia, fruto de um grande pontapé de fora da área. Com 3-1, a vitória tranquila estava ao alcance, mas Portugal voltou a complicar. Tiago viu o segundo cartão amarelo aos 62’, foi expulso e deixou a selecção a jogar com dez.

 

Ilídio Vale foi obrigado a reequilibrar a equipa com William Carvalho a entrar para o lugar de Danny. A Arménia aproveitou a superioridade numérica para investir mais no ataque e, aos 72’, reduziu mesmo para 3-2. Mkoyan foi oportuno após uma primeira defesa incompleta de Patrício e fez o golo, num lance com muitas culpas para o guarda-redes do Sporting. Adrien entrou logo a seguir para o lugar do desinspirado Coentrão e, aos 78’, os 37 anos de Ricardo Carvalho deram sinal e obrigaram à sua substituição por José Fonte.

 

Para os últimos minutos, a missão era aguentar e, a muito custo, foi o que aconteceu. Ronaldo, que termina a época com 66 golos, não merecia outro desfecho.

 

MARCO VAZA /DAVID MDZINARISHVILI/REUTERS/13/6/2015

 

 

 

Cantor lusodescendente ganha lugar no Passeio da Fama de Toronto

O cantor Shawn Desman e o jogador de hóquei no gelo John Tavares são dois dos lusodescendentes que ganharam lugar no Passeio da Fama para Luso-canadianos em Toronto, disse à agência Lusa uma fonte da organização.

 

Cantor lusodescendente ganha lugar no Passeio da Fama de Toronto3

 

“Vamos homenagear este ano cinco personalidades: a título póstumo, José Mário Coelho (antigo líder comunitário), o cantor Shawn Desman, o jogador profissional de hóquei em patins John Tavares, a juíza Maria de Sousa, e o empresário José Correia”, afirmou o empresário Manuel da Costa, presidente da comissão do Passeio da Fama.

 

 

 

A distinção teve lugar no domingo, em Toronto, na Camões Square, na College St, onde está localizado o monumento de homenagem a luso-descendentes que se notabilizaram no Canadá.

 

Cantor lusodescendente ganha lugar no Passeio da Fama de Toronto1

 

O Passeio da Fama foi criado há três anos pelo empresário com o objetivo de “promover aqueles que façam a diferença no dia a dia da comunidade”.

 

 

“Às vezes, temos de acreditar e investir em coisas em que acreditamos. A cultura sempre foi muito importante. E por isso fiz estes projetos para oferecer à comunidade, que espero que aprecie e que lhe dê continuidade. Isto não é um projeto privado, é da comunidade, temos uma comissão que gere todas as nomeações”, sublinhou.

 

 

Além de ser o responsável por aquela obra, Manuel da Costa criou há 13 anos a Galeria de Arte para os Pioneiros Portugueses, trabalhos que foram reconhecidos pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, que o agraciou a 28 de fevereiro de 2014, com a Comenda da Ordem de Mérito.

 

Cantor lusodescendente ganha lugar no Passeio da Fama de Toronto2

 

O Passeio da Fama já distinguiu figuras ilustres da comunidade como é o caso de cantora Nelly Furtado, do primeiro carteiro oficial do Canadá Pedro da Silva, um dos pioneiros da imigração, o pai do ministro das Finanças do Ontário, António Sousa, o líder comunitário de Winnipeg Pedro Correia, Michael Nobrega, antigo diretor-geral da OMERS (fundo de pensões do Ontário) e Ana Lopes, dirigente associativa em organizações sem fins lucrativos.

 

 

 

Nelly Furtado mostrou grande “satisfação” e “orgulho” por integrar o Passeio da Fama duma comunidade enorme que marca que tem uma longa história no Canadá.

 

 

“Estou muito orgulhosa em ser portuguesa. Sempre senti essa enorme parte de quem sou e também sinto que como portugueses devemos tentar seguir em frente com coragem e confiança no futuro e nas nossas capacidades com criatividade para tentarmos superar os nossos dilemas pessoais”, afirmou Nelly Furtado à Lusa.

 

 

A cantora, filha de emigrantes açorianos de Ponta Garça (S. Miguel), referiu ainda a importância de ser lusodescendente. “É muito pessoal, em muitos níveis, desde passar algum tempo livre ou férias em S. Miguel (Açores), durante anos e anos, desde expressar a minha musicalidade e as influências que tenho das minhas raízes para a música”, disse.

 

 

Oficialmente, existem 429 mil portugueses e lusodescendentes no Canadá, segundo o recenseamento de 2011, mas as estimativas apontam para 550 mil, estando a grande maioria localizada na província do Ontário.

 

 

Lusa/TPT/8/6/2015