OE 2017 em Portugal terá medidas para aumentar impostos indirectos em 210 milhões de euros

Para compensar o efeito do desaparecimento da sobretaxa do IRS e da redução do IVA na restauração, o Governo está a planear, para 2017, a adopção de medidas que garantam o aumento da receita de impostos indirectos em 210 milhões de euros. Para 2018 e 2019, o agravamento dos impostos indirectos continuará, com mais 90 milhões de euros de receita em cada um dos anos.

 

 

Numa tabela que não constava da primeira versão do Programa de Estabilidade, mas que o Governo decidiu fazer chegar à Assembleia da República e a outras entidades que fiscalizam as contas públicas portuguesas, incluindo a Comissão Europeia, o Executivo dá conta do impacto das medidas de consolidação orçamental que espera colocar em prática no período de 2017 a 2020.

 

 

O documento, a que o PÚBLICO teve acesso, mostra que o Governo prevê que as medidas que irão ser aplicadas (e em alguns casos já aplicadas) irão resultar numa redução da receita de 60 milhões de euros em 2017 e num corte da despesa de 406 milhões, o que representa um contributo positivo para o défice de 346 milhões de euros.

 

 

Isto significa que, da redução prevista para o défice de 2017 de cerca de 1500 milhões de euros (o equivalente a 0,8 pontos percentuais do PIB), apenas 346 milhões se devem a medidas de consolidação orçamental efectivamente tomadas. Há depois 450 milhões de euros relativos à receita extraordinária esperada com o acerto de contas no BPP, sobrando assim cerca de 700 milhões de euros de redução do défice que o Executivo está a contar obter por via do efeito orçamental positivo do crescimento económico.

 

 

A dificultar as contas do Governo está o facto de algumas medidas adoptadas já em 2016 prolongarem o seu efeito negativo nas finanças públicas para 2017. É o caso do desaparecimento da sobretaxa do IRS que, foi iniciado no ano passado, e que conduzirá a uma redução da receita fiscal em 2017 de 380 milhões de euros. De igual modo, a redução do IVA na restauração, irá reduzir as receitas em mais 175 milhões de euros no próximo ano (o primeiro em que a medida irá estar em vigor do princípio ao fim do ano).

 

 

Para compensar esta perda de receita fiscal, o Governo planeia adoptar medidas que resultem num aumento da receita de outros impostos indirectos (com excepção do IVA). Na tabela, não se especifica que impostos poderão estar em causa, mas o acréscimo de receita esperado com essas medidas é de 210 milhões de euros no próximo ano. Em 2018 e 2019, o aumento de receita previsto é de 90 milhões de euros em cada um dos anos.

 

 

O agravamento de outros impostos indirectos já foi a estratégia seguida em 2016, através do agravamento do imposto sobre os produtos petrolíferos, o imposto sobre o tabaco e o imposto de selo.

 

 

A medida com que o Governo conta ajudar mais na redução do défice está do lado da despesa. Está previsto um congelamento das despesas de consumo intermédio (excepto as PPP) que representa um contributo positivo para a melhoria do saldo orçamental de 300 milhões de euros em 2017.

 

 

Depois, o Governo conta poupar 186 milhões de euros, com medidas como a amortização antecipada dos empréstimos do FMI e 122 milhões de euros com a redução do número de funcionários públicos. É este tipo de medidas que compensa o efeito na despesa da reposição do nível salarial dos funcionários públicos, que será em 2017 de 257 milhões de euros.

 

 

Para os anos seguintes, o Governo espera que as medidas por si tomadas tenham um efeito directo mais forte na redução do défice.

 

 

Para 2018, um impacto positivo estimado é de 581 milhões de euros, um valor um pouco abaixo de 0,3 pontos percentuais, quando a redução total do défice prevista para esse ano é de 0,5 pontos percentuais.

 

 

Em 2019, o impacto positivo previsto das medidas ascende a 706 milhões de euros e, para 2020, as estimativas do Governo apontam para um efeito de 377 milhões de euros.

 

 

No período de 2018 a 2020, é o congelamento das despesas de consumo intermédio (as despesas de funcionamento dos serviços públicos) e a redução das despesas com juros que mais contribuem para a redução do défice.

 

“Sim, sim, é geringonça, mas funciona”, atira Costa à direita

 

 

 

 Sem perguntas difíceis por parte dos partidos à esquerda, António Costa permitiu-se esta quinta-feira uma tirada sobre o termo “geringonça” em resposta aos comentários ruidosos da direita durante o debate quinzenal.

 

OE 2017 em Portugal terá medidas para aumentar impostos indirectos em 210 milhões de euros 2

Estava o primeiro-ministro a responder a Catarina Martins e a dizer que os partidos à esquerda têm “conseguido resolver muitos problemas que à partida eram difíceis tendo em conta o ponto de partida de uns e de outros e temos surpreendido…” quando se levantaram algumas vozes na bancada mais à direita, partilhada por deputados do CDS e PSD.

 

 

António Costa começou ríspido: “Sim, sim, é geringonça, mas funciona. É uma grande vantagem, estão a ver? É geringonça mas funciona.” E continuou, depois das palmas da esquerda: “E até posso acrescentar mais: a nós não nos incomoda nada ser geringonça, mas a vocês incomoda-vos muito que funcione.”

 

 

Antes, a porta-voz do Bloco pegara na notícia do PÚBLICO, que refere que 10 milh~oes de euros sairam de Portugal para os paraísos fiscais entre 2010 e 2015, para desafiar António Costa a apoiar as propostas legislativas apresentadas pelos bloquistas no Parlamento sobre os offshores. “Podemos contar com a vontade do Governo e do PS para que alguma coisa mude e o assalto dos offshores ao nosso país não continue?”

 

 

Para responder, António Costa puxou prontamente de uma pequena folha onde trazia anotadas as medidas do orçamento que previam a troca de informação internacional sobre offshores e outras que o Conselho de Ministros vai esta quinta-feira à tarde aprovar em matéria de informação sobre paraísos fiscais, como o acordo com EUA sobre comunicação financeira. Disse também que o ministro das Finanças tomou medidas como a regulamentação da comunicação de pagamentos offshore, alargou as competências da unidade de grandes contribuintes para abarcar empresas e singulares, e decidiu pela disponibilização estatística das transferências, “escondidas há cinco anos” por a divulgação não ser até aqui autorizada.

 

 

“Este é num combate no qual o BE não está sozinho e no qual pode contar com o Governo para combater os offhores que são uma ameaça para a concorrência, transparência e combate à criminalidade organizada e transnacional”, assegurou António Costa.

 

 

Mudando a bitola para o Novo Banco, a dirigente bloquista voltou a insistir, como há 15 dias, na solução de nacionalizar aquele banco e exigiu de Costa a “garantia de que não será vendido se a venda for feita cm prejuízo”. Mas o primeiro-ministro não se desviou do que tem dito sobre o assunto: “Eu não fecho porta nenhuma (…) Entre a solução de manutenção do controlo público, a de nacionalização, a de fusão com outra entidade pública ou de alienação ou qualquer outra, não a devemos fechar antecipadamente. Eu não a fecho antecipadamente.”

 

 

Disse ter sido um “atrevimento ligeiro ter-se apresentado a resolução do Novo banco como uma solução sem custos para os contribuintes”. E acrescentou que a única coisa com que se compromete é não defender, “nunca, nada que não seja a melhor solução para o contribuinte”.

 

 

Costa promete ao PCP campanha de valorização da produção nacional

 

A Jerónimo de Sousa, que defendeu que a “solução para os problemas nacionais não é a submissão à União Europeia” e que é preciso “romper com os constrangimentos” ditados por Bruxelas – numa alusão indirecta aos programas de estabilidade e de reformas com que o PCP não concorda -, António Costa haveria de dizer que “nem sempre é possível compatibilizar” as várias mudanças necessárias.

 

 

O líder do PCP haveria depois de propor que o Governo invista numa grande campanha de valorização dos produtos portugueses e marcas nacionais junto dos consumidores e das grandes superfícies comerciais como forma de aumentar a produção do país e substituir as importações. E defendeu a necessidade de, em simultâneo, cortar nos custos da energia limitando os preços máximos e facilitar o acesso ao crédito. António Costa pegou novamente nos papelinhos para lembrar, por exemplo, que o preço do gás baixa em Julho, que a taxa de passagem por Espanha está a ser negociada e que o Governo vai relançar a campanha Portugal Sou Eu.

 

 

Regressando ao tema dos paraísos fiscais, Jerónimo de Sousa quis saber se o Governo PS arranjou forma de salvaguardar os processos à guarda do Banco de Portugal dos casos dos regimes especiais de regularização tributária (RERT) de 2005, 2010 e 2011 que o líder do PCP apelidou de “lavadouro público para dinheiro sujo de grandes capitalistas e banqueiros”. É que seria suposto os dossiers serem destruídos no final de 10 anos. “Há pessoas que beneficiaram do RERT e aparecem agora envolvidas nos Papéis do Panamá, e podem ser abertos processos pelo Ministério Públicos”, lembrou o secretário-geral comunista. O primeiro-ministro disse que as Finanças estão a “adoptar medidas para assegurar, nos termos da lei, que os documentos não serão destruídos”.

 

 

“A Europa precisa de nós”

 

 

Já no final do debate, o líder da bancada do PS, Carlos César, deixou um recado para as instâncias europeias. “Senhor primeiro-ministro quando levarem estes programas a Bruxelas apresente os nossos cumprimentos e diga-lhes que nós precisamos deles mas que a Europa também precisa de nós”, recomendou. Costa agarrou na deixa para sublinhar o recado e elogiar o programa nacional de reformas: “A Europa precisa de nós, de Portugal a crescer”.

 

 

O primeiro-ministro aproveitou a resposta à interpelação de Carlos César para rebater os argumentos do PSD e do CDS-PP. “A dificuldade que a oposição tem em atacar as medidas do Governo. E por isso é sempre amanhã que os mercados é que se vão assustar, que a Comissão Europeia não vai permitir, amanhã é que vai ser. Os amanhãs vão passando e vão transformando-se em ontem”, disse, passando depois a dirigir-se à bancada do CDS onde voltou a focar boa parte da sua intervenção. A bancada do PS aplaudiu de pé.

 

 

Já depois de todas as intervenções, o líder da bancada do PSD pediu para esclarecer o teor do quadro disponibilizado aos deputados por Costa. “Não é nenhum plano de contingência. Este documento é aquilo que disse que era. É um documento de trabalho, nem secreto nem escondido”, respondeu o primeiro-ministro, reiterando que se trata de uma discriminação, dos valores agregados do Plano de Estabilidade. Uma posição que deixou Luís Montenegro satisfeito.

 

 

TPT com: Sérgio Aníbal/Núno Ferreira Santos/MariaLopes/Público// 28 de Abril de 2016

 

 

 

 

Isabel dos Santos trava continuidade de Fernando Ulrich à frente do BPI

 À semelhança de outras assembleias gerais (AG), Isabel dos Santos voltou esta quinta-feira a travar várias decisões do BPI, com destaque para a alteração de estatutos que deveria permitir a continuação de Fernando Ulrich na presidência executiva do banco.

 

 

A blindagem de estatutos do BPI, que limita os direitos de voto ao máximo de 20%, trava assim a continuação de Ulrich, que tem sido apontado como aliado do maior accionista, o Caixabank.

 

 

Sem a blindagem de estatutos, a proposta seria aprovada por mais de 75% do capital presente na AG.

 

Isabel dos Santos trava continuidade de Fernando Ulrich à frente do BPI 2

Em conferência de imprensa, Fernando Ulrich fez questão de referir que o actual mandato só termina em Abril de 2017 e que a alteração dos estatutos não era dirigida a ele.

 

 

Os actuais estatutos impedem que Fernando Ulrich possa ser reconduzido para mais um mandato, por ter ultrapassado o limite de 62 anos. Com a alteração, que poderá avançar depois da desblindagem de estatutos, que se admite para breve, deixará de haver limite de idade para exercer esse cargo.

 

 

A posição de Isabel dos Santos acontece numa altura em que foram retomadas as negociaçõs com o Caixabank, com vista a ultrapassar o braço-de-ferro que mantém há longos meses por causa de várias decisões estratégicas, com destaque para a resolução da exposição a Angola, que o banco tem de reduzir por imposição do Banco Central Europeu ( BCE).

 

 

O impasse gerado sobre esta questão levou o Governo a avançar com um decreto-lei que vai facilitar a desblindagem de estatutos.

 

 

Entretanto, o Caixabank avançõu com uma oferta pública de aquisição de acções do BPI com vista a tentar obter o controlo da instituição. É a segunda tentativa, através de uma OPA, com que os espanhóis tentam garantir o domínio do banco, já que, devido aos estatutos, apesar de terem 44% do capital só votam com 20%.

 

 

O outro ponto travado foi o que permitiria ao conselho de administração deliberar sobre aumentos de capital até 500 milhões de euros.

 

 

Os accionistas aprovaram o relatório e contas de 2015 e a proposta de aplicação de resultados.

 

 

A habitual conferência de imprensa que se seguiu à AG já não contou com a presença do administrador António Domingues, entretanto escolhido para presidir à Caixa Geral de Depósitos.

 

Caixabank acredita em sucesso da OPA sobre BPI

 

O Caixabank acredita que a OPA sobre o BPI estará concluída no terceiro trimestre deste ano, uma vez que o novo decreto-lei que permite a desblindagem dos estatutos do banco português apenas entra em vigor a 1 de Julho.

 

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O Caixabank é o maior acionista do BPI, com 44,1% do capital, e lançou nas últimas semanas uma Oferta Pública de Venda (OPA) sobre o restante capital do banco português, condicionada à eliminação dos estatutos de bloqueio na entidade financeira portuguesa, que lhe limitam os direitos de voto a 20%. Entretanto, foi publicado a 20 de Abril em Diário da República um diploma que abre caminho à desblindagem dos estatutos no BPI.

 

 

Em conferência de imprensa de apresentação de resultados do primeiro trimestre, o administrador-delegado do Caixabank, Gonzalo Gortázar, considerou este novo decreto fundamental para toda a operação. “Em algum momento terá de haver uma assembleia-geral de accionistas do BPI para decidir se levanta ou não as limitações estatutárias. De acordo com o novo decreto-lei aprovado pelo Governo português, o Caixabank não estará limitado no nosso direito de voto, portanto será uma assembleia-geral diferente da do ano passado”, disse o responsável.

 

 

Em Fevereiro do ano passado, o banco catalão já tinha apresentado uma OPA com condições semelhantes, mas que falhou quando os restantes accionistas do BPI votaram contra o levantamento do bloqueio aos direitos de voto.

 
“Estamos confiantes de que [desta vez] o resultado será positivo. O decreto-lei entra em vigor a 1 de Julho, portanto estamos a falar de um processo que vai levar o seu tempo. O nosso objectivo é que a operação se possa concluir no terceiro trimestre [até Setembro], mas estas operações dependem de muitos factores pelo que não se pode ser taxativo”, ressalvou.

 

 

O caso de Angola

 

 

Questionado pela Lusa sobre se o Caixabank manteve negociações com representantes do Governo português sobre este novo decreto-lei, que os accionistas angolanos da Santoro Finance descrevem como um decreto “à medida” do banco espanhol, Gonzalo Gortázar preferiu não comentar. “Prefiro não responder”, disse o responsável, acrescentando que “tem o maior respeito pelo executivo português e por Portugal, também pelo de Angola”. O Caixabank assumiu hoje que “já não é tempo de negociar com outros acionistas do BPI sobre a estrutura de capital”, uma vez que apresentou uma OPA, admitindo apenas dialogar sobre o problema da exposição ao risco de Angola.

 

 

O BPI continua exposto ao risco de Angola, uma vez que detém mais de 50% do Banco Fomento e Angola, que Gonzalo Gortázar descreveu como “uma jóia”. Caso o BPI não reduzisse a exposição a Angola até 10 de Abril, arriscava-se a pagar uma multa diária de 160 mil euros. Essa sanção foi suspensa – mas ainda sem uma decisão definitiva – com o anúncio de um pré-acordo e com a apresentação da OPA.

 

 

PSD tem dúvidas sobre diploma “feito à medida” do BPI

 

 

O vice-presidente da bancada do PSD, António Leitão Amaro, expressou “estranheza” e “dúvidas” sobre o decreto.lei da desblindagem dos estatutos da banca que “serve aparentemente a resolução de um caso concreto”, ou seja, do BPI.

 

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“Estranhamos as palavras do primeiro-ministro sobre um acordo que não chegou a acontecer”, começou por dizer aos jornalistas Leitão Amaro, no Parlamento, referindo-se ao fracasso do entendimento entre a holding da empresária angolana Isabel dos Santos e o Caixabank, ambos accionistas do BPI.

 

 

O social-democrata disse ter as “maiores dúvidas” da situação em que o Governo “aprove uma lei para um caso concreto” e que a solução seja “suficiente” para a situação do BPI, que precisa de deixar de ter exposição a Angola.

 

 

Publicado em Diário da República esta quarta-feira, o diploma permite permite aos bancos a reavaliação periódica dos estatutos no que diz respeito a detenção e direitos de voto e entra em vigor a 1 de Julho. A lei estabelece um regime transitório que dá mais seis meses às entidades de crédito com limites de voto nos estatutos para realizarem assembleias-gerais e decidirem sobre a manutenção ou revogação desses limites.

 

 

O deputado nunca se referiu directamente ao BPI nem à empresária angolana, mas lembrou que têm vindo a ser colocadas dúvidas sobre a “imparcialidade” do Governo neste caso. Foi a própria Isabel dos Santos que acusou o executivo de ser “parcial” neste processo.

 

 

Leitão Amaro reiterou que o PSD condena a “interferência” do Governo na relação entre accionistas privados.

 

 

BPI e BCP têm até ao final do ano para decidir desblindagem de estatutos

 

 

O decreto-lei que permite uma solução para o BPI, mas que se aplica também ao Millennium bcp, foi publicado esta quarta-feira em Diário da República. O diploma que permite aos bancos a reavaliação periódica dos estatutos no que diz respeito à detenção e direitos de voto só entra em vigor a 1 de Julho e estabelece um regime transitório que dá mais seis meses às entidades de crédito, que tenham limites de voto nos estatutos, para realizarem assembleias gerais e decidirem sobre a manutenção ou revogação desses tectos. Assim, o BPI e o BCP têm de se pronunciar até ao dia 31 de Dezembro.

 

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Este novo decreto-lei, que, tal como o PÚBLICO noticiou, criou tensão no Governo, estabelece ainda que, caso não exista “uma deliberação válida e eficaz” em assembleia geral sobre a questão da blindagem dos direitos de voto até ao final deste ano “caducam automaticamente, nessa data, salvo decisão judicial, os limites à detenção ou ao exercício dos direitos de voto em vigor”. Ou seja, a desblindagem é aplicada por ausência de decisão.

 

 

Segundo o diploma, se a convocação da votação for feita pelo conselho de administração, a proposta deixa de estar sujeita às limitações de voto em vigor. Isto é, no momento de decisão sobre a desblindagem deixa de haver restrições, podendo cada accionista votar de acordo com o seu peso no capital. No caso do BPI, isso significa que o Caixabank iria votar com 44% do capital, deixando de estar limitado à blindagem de 20% que está em vigor. Actualmente, devido aos estatutos, o maior accionista tem tanto peso como a Santoro, de Isabel dos Santos, que controla 21% do banco, directa e indirectamente (18,6% via Santoro e 2,7% via BIC Angola).

 

 

O conselho de administração do BPI já tinha anunciado, a 4 de Fevereiro, que aprovara uma iniciativa da comissão executiva, liderada por Fernando Ulrich, de submeter à assembleia geral uma proposta de alteração dos estatutos do banco “com vista à eliminação do limite estatutário à contagem dos votos”. A referida reunião magna de accionistas ficou sem data marcada. Conforme explicou então o conselho de administração, liderado por Artur Santos Silva, “a existência de uma limitação estatutária à contagem de votos” poderia condicionar o “envolvimento de actuais ou futuros accionistas”.

 

 

Mesmo sem blindagem, uma decisão sobre alterações aos estatutos requer uma maioria qualificada, ou seja, de dois terços. Mas este universo refere-se ao capital presente na assembleia geral.

 

 

Nesta altura, e num momento em que está a lançar uma nova OPA sobre o BPI, bastava apenas ao Caixabank ter a Allianz do seu lado para somar 52,4% do total de votos que marcariam presença nessa assembleia geral.

 

 

O sucesso da operação do Caixabank depende de factores como a detenção da maioria do capital e a eliminação da limitação ao exercício dos direitos de voto “na data de encerramento da oferta”. De acordo com o calendário indicativo do Caixabank, a OPA deverá ter as devidas autorizações dos reguladores em Agosto e Setembro, para depois se proceder ao seu registo oficial. A expectativa do grupo catalão é de concluir a operação até ao final de Setembro.

 

 

A Santoro já se pronunciou sobre esta iniciativa do Governo (aprovada em Conselho de Ministros na passada quinta-feira, sem que tal fosse comunicado), que foi depois promulgada pelo Presidente da República. A nota da empresa de Isabel dos Santos, divulgada já depois do anúncio da ruptura nas negociações com o Caixabank sobre o futuro do BPI e a exposição a Angola (que o BCE diz ser excessiva), afirmava que o diploma era uma “medida historicamente sem precedentes e declaradamente parcial”.

 

 

Quanto ao caso do BCP, este também tem os estatutos blindados a 20%, mas nenhum accionista tem uma posição acima desse valor. O maior investidor é a Sonangol, com 17,8%. Esta quarta-feira, as acções do BPI continuaram com o preço abaixo do oferecido pelo Caixabank (1,113 euros) ao descer 0,45% para 1,095 euros. Já o BCP subiu 11,17% para 0,038 euros.

 

 

No diploma em causa, o Governo defende estar a tomar uma “solução de equilíbrio” que “atribui aos accionistas de instituições de crédito a possibilidade de periodicamente reavaliarem a justificação dos limites estatutários em matéria de detenção e exercício dos direitos de voto”. E estabelece um período de reavaliação “de cinco em cinco anos”. Esta proposta de revisão temporal já tinha sido feita pelo regulador do mercado de capitais, a CMVM, mas aplicava-se a todas as empresas e não apenas às sociedades financeiras.

 

 

Hoje, o vice-presidente da bancada do PSD, António Leitão Amaro, disse ter as “maiores dúvidas” da situação em que o Governo “aprove uma lei para um caso concreto” e que a solução seja “suficiente” para a situação do BPI.

 

 

Marcelo promulgou diploma que facilitará desblindagem de estatutos do BPI

 

 

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já deu luz “verde” ao diploma do Governo que vai facilitar as desblindagens de estatutos das empresas cotadas, uma iniciativa legislativa de âmbito abrangente, mas que pretende resolver a situação do BPI, depois da ruptura das negociações entre os dois maiores accionistas.

 

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A blindagem de estatutos limita os direitos de voto a uma determinada percentagem do capital social, que no caso do BPI é de 20%. Mesmo que um accionista tenha 44% do capital social do banco, como é o caso dos espanhóis do CaixaBank, só pode votar com os 20%. Já Isabel dos Santos, com uma participação de 18,6%, tem conseguido travar várias propostas do maior accionista e da gestão do banco.

 

 

Na falta de acordo, o Caixabank anunciou esta segunda-feira uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre as acções do BPI que ainda não controla, que está condicionada à desblindagem de estatutos.

 

 

O diploma aprovado no Conselho de Ministros da última quinta-feira seguiu em segredo (já não constava do comunicado oficial daquele órgão) para o Presidente da República, que não atrasou a sua aprovação, o que facilita a vida ao Governo, que quer a legislação em vigor a 1 de Julho. O decreto-lei deverá ser publicado em Diário da República nos próximos dias, permitindo conhecer melhor os contornos da alteração, designadamente o período em que tem de ocorrer a reavaliação dos accionistas.

 

 

Numa nota publicada no seu site, a Presidência da República justifica a promulgação do diploma atendendo à sua razão de ser, “em particular o reforço da solidez do sistema financeiro” e “ao facto de corresponder à solução defendida pelas duas entidades reguladoras”, o Banco de Portugal e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

 

 

A nota acrescenta ainda que entre a última pronúncia dos reguladores e a concretização da iniciativa legislativa decorreu “tempo suficiente para não interferir em eventual operação em curso” e destaca a circunstância “de só entrar em vigor em 1 de Julho e a deliberação das assembleias gerais poder ocorrer até 31 de Dezembro”.

 

 

Assim, “tendo presente o interesse nacional”, Marcelo Rebelo de Sousa “acabou de promulgar o Decreto-lei que procede à 41.ª alteração do Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras (…), visando conferir aos accionistas de instituições de crédito a possibilidade de reavaliarem periodicamente a justificação dos limites estatutários em matéria de detenção e exercício dos direitos de voto”.

 

 

O Presidente da República, que tem acompanhado de perto a situação do BPI, ainda manifesta alguma esperança em novo entendimento entre os dois maiores accionistas. Segundo a Lusa, durante uma visita à Escola José Gomes Ferreira, em Lisboa, Marcelo afirmou aos jornalistas que o diploma “foi retido” durante um mês porque o Governo e a Presidência da República quiseram primeiro tentar que houvesse acordo entre accionistas. Acrescentando que esta legislação tem, ainda assim, uma vantagem, que é a de só entrar em vigor no dia 1 de Julho deste ano, o que “ainda dá um tempo” que pode ser aproveitado para “haver uma solução”.

 

 

O aspecto mais importante da reavaliação periódica dos limites, em assembleia geral de accionistas (AG), pende-se com o facto de, nessa votação, deixar de existir qualquer limitação de direitos. Ou seja, mesmo que os estatutos já se encontrem blindados, nessa AG cada acção corresponde a um voto. Será, ao contrário do que acontece agora, uma AG desblindada.

 

 

Com esta alteração, que já tinha sido proposta pela CMVM, os accionistas poderão continuar a manter a blindagem dos estatutos, se esse for o interesse de uma maioria qualificada.

 

 

No sector financeiro, e tal como o BPI, também o BCP tem os direitos de voto limitados a 20%.

 

 

A decisão de blindagem é normalmente acordada entre grandes accionistas para defenderem os seus interesses, designadamente o de poder travar Ofertas Públicas (OPA) hostis.

 

 

Em Portugal e para além dos dois bancos, há mais quatro empresas cotadas com estatutos blindados. Trata-se da Compta (10%), da Inapa (33%) e ainda da EDP (25%) e da REN (25%). Nestes dois últimos casos, as limitações decorrem de constrangimentos resultantes do quadro da privatização de empresas prestadoras de serviços públicos.

 

 

 

TPT com: Albert Gea/Reuters/Lusa/AFP/Rosa Soares/ Rui Gaudêncio/Sofia Rodrigues/ Liliana Valente e Sofia Rodrigues/ Público/Patrícia de Melo Nogueira/ Rosa Soares/Raquel Martins/Cristina Ferreira/AFP// 28 de Abril de 2016

 

 

 

 

 

Presidente da APREN prevê fim da era do carvão em Portugal em 2030

O presidente da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), António Sá da Costa, defendeu na Cimeira do Clima (COP21) em Paris que em 2030 “de certeza” que não haverá centrais elétricas a carvão em Portugal.

 

 

António Sá da Costa disse durante a conferência de apresentação na COP21, do “Compromisso português para o Crescimento Verde”, que as duas centrais a carvão em Portugal, a de Sines e a do Pego, “não são eternas” e que, em média, “duram entre 30 a 40 anos”, apontando inicialmente a “ida para a reforma” das duas centrais para a década de 2020.

 

 

O também vice-presidente da Federação Europeia de Energias Renováveis sublinhou que Portugal tem “muito bons recursos renováveis” e que “é um desperdício” não se aproveitar “a matéria-prima que é de borla”, bastando construir os equipamentos, “ao passo que no carvão ou no gás natural” gasta-se dinheiro no equipamento e “ao longo da vida das centrais a comprar combustível”.

 

 

“Muitas vezes, diz-se: ‘Ah, mas somos pequeninos, não tem peso’. Se cada um dos pequeninos fizer o seu papel, ficamos bem na fotografia e o planeta melhora. Se continuarmos a pensar que o problema não é nosso então isto continua num processo que vai degenerar para quem vai sofrer mais com as alterações climáticas”, continuou, alertando que “na Europa, Portugal será dos mais afetados”.

 

 

António Sá da Costa defendeu ainda que é possível Portugal atingir “100% de eletricidade renovável na década de 40 deste século”, apontando que “se no ano 2000 a eletricidade tinha cerca de 30 por cento de renováveis, não é nada do outro mundo passar, em 20 anos, para 60%, nos dez anos seguintes para 80% e na década seguinte de 80 para 100%”.

 

 

O presidente da APREN criticou também “as metas indicativas” que se estão a esboçar na COP21 porque “quando não existe penalidade por não cumprir, ninguém cumpre”.

 

 

TPT com: AFP/OBS/Lusa/27 de Abril de 2016

 

 

 

 

 

O rei Felipe VI de Espanha vai convocar as eleições legislativas antecipadas para 26 de Junho

Sem surpresa, os espanhóis voltam às urnas. Foram quatro meses dominados pelo tacticismo num país onde se cruzam inúmeras crises. As sondagens não prevêem mudanças drásticas no tabuleiro político.

 

 

Felipe VI comunicou ao fim do dia que, à falta de um acordo entre os partidos, dissolverá as Cortes na terça-feira e convocará eleições antecipadas para 26 de Junho. É a primeira vez na Espanha democrática que tal acontece. O Rei constatou que, ao fim de quatro meses, nenhum partido reúne a maioria necessária para poder ser investido. O prazo para um acordo expirava a 2 de Maio mas a terceira ronda de consultas ontem realizada foi inútil. A decisão foi comunicada ao presidente do Congresso, Patxi López. A Casa do Rei informou também que Felipe VI não indicaria nenhum nome para tentar formar governo.

 

 

De manhã, e depois de uma iniciativa do Compromís valenciano (coligação de esquerda que se separou do Podemos e conta com 4 deputados), os socialistas apresentaram uma proposta de “última hora”, rapidamente anulada. Seria um governo de unidade de esquerda “à valenciana”, dirigido pelo PSOE e integrando independentes próximos dos vários partidos de esquerda. Prometia submeter-se a uma moção de confiança ao fim de dois anos. Mas isto implicava a adesão do Cidadãos, que imediatamente recusou a solução: “Podemos e Cidadãos já manifestaram a sua incompatibilidade”, respondeu o vice-presidente, José Manuel Villegas.

 

 

O líder socialista, Pedro Sánchez, recusava um executivo sem o apoio do Cidadãos, com quem fez um pacto de governo, que lhe é vital para poder afirmar que não quer um governo esquerdista mas de centro-esquerda.

 

 

Depois da audiência com o rei, também Albert Rivera, líder do Cidadãos, declarou-se convencido de que a Espanha estava “condenada a eleições”. Desvalorizou as propostas do Compromís: “Vi três páginas para governar a Espanha com seis partidos distintos.” Concluiu: “A Espanha é uma democracia sã e cabe aos espanhóis decidir como termina isto e o papel de cada um de nós.”

 

 

Seguiu-se Pablo Iglesias, que centrou as críticas no PSOE por ter dito “não” a um “governo à valenciana” para não romper com o Cidadãos. Atacou pessoalmente Sánchez: “A política não é um casino nem um jogo de póquer. Temos de ser sérios e coerentes.”

 

 

Sánchez e Mariano Rajoy foram os últimos a ser recebidos. O líder socialista leu no fim uma declaração. Reconheceu que haverá novas eleições e acusou dois adversários. “Sofremos um duplo bloqueio, o do senhor Rajoy e o do senhor Iglesias. O de Rajoy entendo-o, porque queremos mudar as suas políticas. O de Iglesias parece inexplicável. Os espanhóis exigiam-nos mudança que não fosse património de uma única formação política, mas agora vamos a uma repetição eleitoral, por falta de vontade do senhor Iglesias (…) que sobrepôs a ocupação de cargos à mudança. Nunca quis pactuar com o PSOE.”

 

 

Esta troca de galhardetes anuncia uma das faces da duríssima campamha eleitoral que se anuncia e em que o PSOE e o Podemos — talvez aliado à Esquerda Unida — disputarão a hegemonia da esquerda e da oposição ao PP. Sánchez e Iglesias jogam ambos as suas lideranças.

 

 

PP quer eleições

 

 

Rajoy repetiu o que disse ao rei em Fevereiro quando recusou o encargo de formar governo: “Fiz-lhe saber que não tenho apoios para ser candidato à Presidência do Governo.” Lamentou que o PSOE e o Cidadãos não tenham aceite a sua proposta de grande coligação “como na Alemanha. (….) Seria um governo apoiado por partidos em que pensam do mesmo modo sobre temas fundamentais, como a unidade de Espanha ou a política europeia. (…) O PSOE quis pactuar com dois ao mesmo tempo: com o Podemos e com o Cidadãos. Como era previsível não chegaram a parte nenhuma e os resultados estão à vista.”

 

 

O PP desejava as eleições. A sua estratégia, escreve Enric Juliana, director-adjunto do La Vanguardia, consistirá no apelo ao voto útil para recuperar sufrágios perdidos para o Cidadãos e para a abstenção. Tentará polarizar o debate contra a “ameaça” Podemos, “em detrimento dos desorientados socialistas”.

 

 

Confrontado com um elevado desgaste político decorrente dos escândalos de corrupção, não tem ilusões em obter uma grande votação. As sondagens não prevêem uma mudança drástica do tabuleiro político. O objectivo será obter uma vantagem negocial, colocando o PP “em melhores condições para pressionar o PSOE a favor de uma grande coligação” ou, se não for possível, forçá-lo à abstenção de modo a viabilizar um executivo PP-Cidadãos.

 

 

TPT com: AFP/ POOL/ANGEL DIAZ/El Mundo/Jorge Almeida Fernandes/Pub/ 27 de Abril de 2016 

 

 

 

 

 

Augusto e Mark Amador lançam “O Paredão” em Newark como ponto de referência no regresso à Murtosa

“Ter um destino é não caber no berço onde o corpo nasceu; é transpor as fronteiras, uma a uma, e morrer sem nenhuma”.

 

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Augusto e Mark Amador, residentes no estado de New Jersey, levaram a efeito o lançamento de um livro bilingue com o título “O Paredão”. O livro tem 150 páginas  constituídas por prosa, poesia, ilustração e… “histórias de vida”…

 

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O evento decorreu (9 de Abril) no Avenue A Club, em Newark e contou com mais de uma centena de convidados, entre eles várias personalidades políticas, empresariais, associativas, e culturais de Newark.

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O livro, da autoria de Augusto Amador, tem ilustrações de Mark Amador e prefácios de Maria Ascensão Rodrigues e João S. Martins.

 

 

Augusto Amador diz no seu livro que “visitar o paredão, como as gentes da terra lhe chamam, é obrigatório para quem regressa, ainda que por uns dias, à Murtosa e às suas casas fechadas. Entre memórias de gestos adiados e o rumor do mar, ergue-se a voz do meu “amigo americano” sem que alguém tenha a coragem de o interromper ou, até mesmo, contestar. De costas voltadas para o mar, recolhe lembranças e desprende a voz tentado, tanto quanto possível, falar acima das arquivoltas do grupo que se formou para o ouvir”.

 

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Maria da Ascensão Rodrigues que não pôde estar presente no lançamento do livro, escreveu no seu prefácio que esta obra de Augusto Amador “é uma narrrativa nostálgica, repleta de carinho e afeto pelas figuras que vivenciaram a sua infância e adolescência, “e se perpetuam no alvorecer daquela idade em que vamos caminhando pela vida com os vivos mas também com os mortos, que vão connosco”, como disse Jorge Amado.

 

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A terra da gente passa por estas páginas de palavras tranquilas nas quais Augusto Amador se mostra grato pelo que lhe transmitiram. E, se os anos despreocupados do autor deixaram por cá raízes profundas, transposto o Paredão, esperavam-no desafios adultos e sérios, que abraçou com denodo e sem hesitação, de forma responsável e solidária. Talvez, por isso, visto do paredão, o sol escorrega e segue viagem pelos caminhos do oceano, que lhe lança desafios num apêlo irrecusável”, diz Maria da Ascensão Rodrigues.

 

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João S. Martins, escritor e poeta, deu início ao protocolo do qual também fez  parte a entoação dos hinos dos Estados Unidos e Portugal, aqui interpretados pela jovem Alexandra Marques.

 

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Entre os ilustres convidados encontravam-se os vereadores da cidade de Newark, Anibal Ramos Jr. e Luis A. Quintana, o membro directivo do Partido Democrata, de New Jersey, Joseph Parlavechio, os escritores e poetas Glória de Melo, Baldomiro Soares, Luís Pires, os activistas comunitários Nancy Zake e Arnold Cohen, Doag Sarini, o jornalista e director do jornal Brasilian Voice, Roberto Lima e ainda o reitor (principal) do East Side High School de Newark, Dr. Mário Santos e esposa.

 

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Sintetizando a obra, João S. Martins fala ainda que “em cada visita ao Paredão há um encontro com os olhos da noite, com o tempo da ausência, há ânsias de caminhar de encontro às memórias, porque em cada visita há sempre uma distância, um partir e voltar, de onde para onde… “E volto sempre…”

 

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“Será Newark um outro Paredão? Paredão de silêncios e memórias, agora do lado de cá, depois de ver o mar e o sonho americano, ou será o próprio mar “aquele outro Paredão” das lamentações, afogadas, lavadas nas águas, também elas de cá e de lá… Constantemente divididos… saudade inquieta do coração partido…

 

Augusto e Mark Amador lançam “O Paredão” em Newark como ponto de referência no regresso a Portugal 29Augusto e Mark Amador lançam “O Paredão” em Newark como ponto de referência no regresso a Portugal 30Augusto e Mark Amador lançam “O Paredão” em Newark como ponto de referência no regresso a Portugal 31

A América é um sonho, uma herança adoptada… Há raízes, esperança, cicatrizes, solidão, resgate, acolhimento, música, diálogo civizacional, aspirações, utopia, mudança, comunidade que religa as raízes e mantém vivo o sonho…de ficar…e o do regresso”, escreve o autor do prefácio.

 

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Durante esta iniciativa houve também uma interpretação poética pela atriz brasileira Alana Rosa que declamou magistralmente os poemas “Na minha cidade” e “Poema de Amor”.

 

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Seguiram-se depois as actuações dos jovens cantores Alexandra Marques e Brian de Jesus, que mostraram o seu talento e a sua rendição a Leonard Cohen’s, entre outros autores.

 

Após o momento musical de Alexandra Marques e Brian de Jesus a animação ficou a cargo do Dj Luís Neves que proporcionou aos convidados um bom ambiente para que estes degustassem em clima de alegre convívio a lauta e variada refeição, onde não faltou o leitão assado à boa maneira portuguesa.

 

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Depois dos petiscos e do jantar seguiu-se a tradicional sessão de autógrafos que foi muito participada.

 

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Augusto Amador, lembra também no livro o motivo da sua aventura chamada América.

 

 

“A América era um sonho que herdei do meu pai e adotei dos meus irmãos. A inquietação que senti quando cheguei a Newark ainda hoje a sinto. Nesta nova realidade americana, aos poucos, fui-me afastando das manhãs claras feitas com flores de cores de tom azulado e a imobilidade do silêncio foi substituída pelo conflito áspero da negro do alcatrão…”

 

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O autor de “O Paredão”, fez questão de agradecer na sua obra a hospitalidade desta terra que escolheu para sua segunda Pátria. Escreve Augusto Amador na página 128 que  “no espaço da tua ambiguidade colorida encontrei a côr verde das ondas que deixei atrás. Na tua rigorosa mão, que me guia e me acolhe em dias de liberdade incompleta, sinto a força das manhãs de sol e esperança que despontam sempre que a tua voz se ergue. Na singeleza dos teus ombros descanso das viagens sem trégua e procuro refúgio quando a força do adeus me apoquenta como fogo lento. Aprendi a amar-te com violência cega entre uma dor flutuante e uma vontade de viver para lá da distância e da ausência. Sei que me acolheste no esplendor dos teus segredos e me ofereceste a possibilidade de criar novas raízes, com o tamanho e a força da ternura das tuas cidades incautas e estranhas. Obrigado!”

 

 

Augusto Amador “o vereador poeta”

 

 

Augusto Amador nasceu na Murtosa, onde fez a escola primária e secundária antes de emigrar para os Estados Unidos, em 1966, com apenas 16 anos de idade.

 

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Em Newark, onde ainda reside, frequentou o Universidade Rutgers, como estudante trabalhador.  É casado e tem dois filhos; o Mark e a Nicole. E tem também a genra Cathy, casada com o Mark.

 

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O seu envolvimento na vida comunitária passa por várias associações e clubes luso-americanos. Em 1992 participou e venceu as eleições para o Conselho Escolar de Newark, ganhando com uma percentagem de votos jamais alcançada por um candidato ao cargo. Esta vitória despertou-lhe o interesse para a vida pública e em 1998 concorreu e ganhou as eleições para vereador do Bairro Leste da cidade de Newark, cargo que ainda hoje ocupa.

 

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O seu gosto pelas letras levou-o a escrever o seu primeiro livro (re) “Cantos da Viagem”, composto por uma colectânia de poesia e prosa, obra esta ilustrada pelo pintor e ceramista Fernando da Silva. O livro retrata, acima de tudo, um amor à terra natal, a Murtosa, que nunca esqueceu.

 

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No epílogo do livro “O Paredão”, Augusto Amador recorda ainda que, “desde os tempos de menino, vividos na quieta proteção das mulheres que definiram a minha vida, até aos dias consumidos por esta obsessão de servir a comunidade onde vivo, muito foi contado. E muito ficou por contar. Para além das histórias que saltaram do baú das recordações, este livro deu-me a oportunidade de revelar a arte colorida do meu filho Mark e a forma como ele expressou na tela o que fui escrevendo ao longo do tempo. Obrigado Mark!”

 

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Em conversa com o The Portugal Times, Augusto Amador refere a saudável cumplicidade que existe entre ele e o seu filho Mark. “Ser pai não é apenas o simples acto da concepção. É muito mais. É dar-lhe os braços como guarida e o mundo como legado. É ser, o filho, para nós, uma extensão fora do corpo; e é ter alguém com quem multiplicar o presente e dividir a vida no porvir. Ser pai é um acto de amor, amizade, parceria fiel. E como recompensa, ganhar um companheiro para seguir a longa estrada da existência, até ao fim dos dias”.

 

 

Quem é Mark D. Amador?

 

 

Mark D. Amador, é filho do veredor Augusto Amador, e nasceu em Livingston, New Jersey, mas viveu em Newark durante a maior parte da sua vida.

 

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Frequentou a Universidade Rutgers onde se formou em Psicologia. O gosto pela pintura vem desde os seus anos de criança e esta colaboração no livro “O Paredão”, da autoria de seu pai, é o seu primeiro trabalho público.

 

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Mark é considerado um artista que de forma autodidata sabe levar para a tela as nuances dos seus traços e das suas colorações variadas, nunca atrapalhando a natureza, mas extraindo dela o que oferece de melhor em termos de possibilidades de criação artística.

 

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Casado com Cathy (1ª na foto à esq.), Mark e a esposa vivem actualmente em Cedar Grove, New Jersey, com dois cães e um gato.

 

Em conversa com o The Portugal Times, Mark Amador acredita que “a arte é muito importante para não ser compartilhada”,  e deixou bem claro que se sente muito honrado por ter participado na publicação de “O Paredão”.

 

 

Comentando o companheirismo que existe entre ele e o pai, Mark lembra antes de mais que “o meu herói de toda uma vida não é protagonista de nenhuma história em quadradinhos, filme de ação ou lenda antiga. Pelo contrário, ele é bem real e eu, entre muitos outros favores devo-lhe a minha vida!

 

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Por isso, hoje, neste dia tão especial, não posso deixar de agradecer ao meu pai, mais uma vez, por diariamente me dar o seu exemplo de um grande homem, generoso, honesto, persistente e lutador, e por estar sempre presente e constante, quando preciso da sua força e estabilidade. Obrigado pai! És a minha inspiração e referência!”

 

 

Entre os convidados era notória a satisfação que reinava quer pela iniciativa de Augusto e Mark Amador, quer pelo significado do conteúdo da obra, cuja parte das receitas da venda desta edição, será doada ao “Ironbound Animal Rescue Organization”.

 

 

“Há uma terra para além do mar que me engole os olhos e me consome em dias de ausência. Há um país para lá do paredão…”, refere Augusto Amador.

 

 

A verdade é que eu também sinto que, às vezes, “bate aquela nostalgia”. Uma saudade do que fui, de momentos que não voltam, de pessoas que não estão mais aqui. Precisamos reviver, eu bem sei, mesmo que só na lembrança, voltar à nossa antiga casa, rever a nossa infância e todos os momentos felizes que lá passamos.

 

 

Só que “regressar é despertar do sonho, é voltar as costas ao Sésamo real; ficar é prolongar o martírio”. Por isso, consciente do desequilíbrio a que o espírito está sujeito, também eu quero regressar um dia ao meu “Paredão”!…

 

 

JM/The Portugal Times/24 de Abril de 2016

 

 

 

 

 

 

 

 

Secretário-geral da ONU Ban Ki-moon vai visitar Portugal em maio

O Presidente da República revelou, este sábado, que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, vai estar em Portugal “dentro de duas semanas”, ocasião que o chefe de Estado vai aproveitar para promover a candidatura “muito forte” de Guterres àquele organismo.

 

 

“Em princípio está prevista a vinda dentro de duas semanas” e “vai ser uma boa oportunidade para falar da candidatura nacional de António Guterres. É uma candidatura muito forte”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

 

 

Durante uma visita ao certame agropecuário Ovibeja, que está a decorrer até segunda-feira em Beja, o Presidente da República, questionado pelos jornalistas, confirmou que o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, vai estar em Portugal, em maio.

 

 

“Vou receber várias visitas [em maio]. Uma delas, que vem a Portugal para estar também com o primeiro-ministro e com o Presidente da República, é Ban Ki-moon, que está numa visita de despedida como secretário-geral das Nações Unidas”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

 

 

Prometendo abordar a candidatura de Guterres a secretário-geral da ONU com o ainda titular do cargo, o Presidente da República elogiou o antigo primeiro-ministro português, que na última década foi Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados.

 

 

António Guterres “esteve magnífico nas audições [na assembleia-geral da ONU, já este mês]. Penso que tem condições para, realmente, conseguir um apoio crescente e isso seria muito bom para Portugal” e “seria muito bom para as Nações Unidas”, argumentou Marcelo Rebelo de Sousa.

 

 

A deslocação de Ban Ki-moon a Portugal já tinha sido abordada pelo  chefe de Estado durante a visita à Ovibeja quando passou pelo “stand” da Câmara de Ourique, a “capital do porco alentejano”, onde lhe ofereceram um presunto e recebeu uma lição rápida sobre como o cortar.

 

 

“Isto vai dar para não sei quantos jantares em Belém”, disse, em jeito de brincadeira, Marcelo Rebelo de Sousa, referindo que vai acolher “agora vários chefes de Estado e o secretário-geral das Nações Unidas”, a quem vai dar a provar o presunto alentejano.

 

 

TPT com: REUTERS/Brendan McDermid/JN/ 24 de Abril de 2016

 

 

 

 

Obama mal recebido na Arábia Saudita seguiu para Londres onde deu a mão a David Cameron na campanha pela UE

Não foi preciso esperar que Barack Obama chegasse a Londres, com toda a sua comitiva e a aura de estrela que sempre o acompanha nas viagens ao estrangeiro, para que a comoção se instalasse perante aquela que promete ser a intervenção externa de maior peso na campanha para o referendo de 23 de Junho. Downing Street aguarda com ansiedade a injecção de adrenalina que representa o apoio do Presidente norte-americano à permanência do Reino Unido na União Europeia. Para os eurocépticos, tudo o que ele disser soará a “hipocrisia” e “ingerência” da superpotência na política interna britânica.

 

 

A visita a Londres – possivelmente a última antes de deixar a Casa Branca, em Janeiro de 2017 – coincide com as celebrações dos 90 anos da rainha Isabel II, com quem Obama almoça nesta sexta-feira no Castelo de Windsor. Mas, como escreveu o Financial Times, “a prenda que o Presidente dos EUA traz do outro lado do Atlântico é para David Cameron”, o primeiro-ministro com quem vai partilhar uma conferência de imprensa à porta do famoso n.º 10.

 

 

Ao responder aos jornalistas, e no artigo que escreveu para o eurocéptico jornal Daily Telegraph, Obama vai caminhar sobre gelo fino. Terá de evitar a imagem do “homem mais poderoso do mundo” que vai a Londres dar lições, mas não quer que restem dúvidas sobre a importância que, para Washington, representa a participação britânica na UE. É pouco provável que, em qualquer momento, coloque na equação a “relação especial” tão cara aos dois países – embora, em privado, responsáveis da Casa Branca avisem que a eventual saída teria consequências nesta íntima relação diplomática.

 

 

Obama deverá antes louvar a UE como garante da paz e da estabilidade europeia e alertar os britânicos que, fora dela, a perda de influência do país será inevitável. “O Reino Unido tem exercido uma enorme influência no mundo nos últimos séculos. Esperamos que essa influência se mantenha e acreditamos que, no mundo de hoje, a melhor maneira de o fazer é através do multilateralismo”, disse ao FT Charles Kupchan, conselheiro para os assuntos europeus da Casa Branca.

 

 

Outros antes dele usaram os mesmos argumentos – e ele próprio deixou-os claros na entrevista que deu no Verão à BBC. Mas ao ir a Londres, com a campanha já no terreno, Obama dá a Cameron um muito aguardado impulso, depois de semanas em que o primeiro-ministro viu a sua popularidade ser minada pelo escândalo dos “Panama Papers” e a corrida para o referendo abriu brechas no Governo que serão difíceis de fechar.

 

 

Em Downing Street, escreveu o Guardian, há a esperança de que a visita confirme uma viragem no rumo da campanha, depois de uma vaga de relatórios e tomadas de posição contrárias aos partidários do Brexit. “É cada vez mais claro que a campanha deles não tem recursos suficientes e é incapaz de explicar o que seria o Reino Unido fora da UE. Nós temos Obama do nosso lado e quem é que eles conseguiram? Marine de Le Pen”, disse ao jornal um responsável do Governo, citando a notícia de que a líder da Frente Nacional planeia participar na campanha.

 

 

Fúria eurocéptica

 

 

As seis sondagens divulgadas nesta semana apontam para uma subida nas intenções de voto no “sim” à permanência, mas a vantagem para o “não” é ainda insuficiente para confirmar a reclamada viragem. Mais uma razão para Cameron dar todo o palco possível a Obama, que continua a ser o mais popular dos presidentes americanos na Europa. “Ele é o homem certo para convencer os que não estão realmente mobilizados. Ele vai captar-lhes a atenção”, antecipa o antigo ministro trabalhista e comissário europeu Peter Mandelson.

 

 

A popularidade de Obama é uma das razões que explicam a indignação com que a campanha pelo “não” reagiu à notícia de que o Presidente democrata não iria abster-se de comentar os assuntos internos britânicos. Mais de uma centena de deputados, na maioria conservadores, assinaram uma petição dirigida ao embaixador norte-americano em Londres para denunciar a “ingerência” de Obama.

 

 

A reacção mais indignada partiu de Boris Johnson, o mayor de Londres que acusou a Casa Branca de “hipocrisia pura” quando argumenta que o Reino Unido perderia peso internacional fora da UE. “É bizarro estarmos a receber lições dos americanos sobre a perda de soberania quando eles nem sequer sonham em partilhar a sua.” Ian Duncan Smith, que deixou o Ministério da Segurança Social já com a campanha em andamento, ridicularizou também o entusiasmo de Cameron com a visita, dizendo que Obama só acedeu participar “porque o primeiro-ministro foi ajoelhar-se aos seus pés pedir-lhe que ‘viesse para o ajudar a intimidar os britânicos’”.

 

 

A ferocidade das críticas soaria menos estranha se viesse da ala esquerda dos trabalhistas – para quem Obama quer apenas garantir o apoio de Londres no TTIP, a parceria transatlântica em negociação entre os EUA e a UE. Ao invés, partem de políticos tradicionalmente pró-americanos, que defendem que, livres das amarras de Bruxelas, Londres seria livre para fazer acordos comerciais mais favoráveis, incluindo com Washington, apesar de a Administração americana ter dito não estar “particularmente interessada em acordos com países a nível individual”.

 

 

“É possível perceber porque é que a campanha pela saída está tão alarmada com as intervenções de Obama”, escreveu Philip Stephens, director adjunto do FT, afirmando que o Presidente vem a Londres “espetar uma adaga no coração do campanha do Brexit”, fazendo “explodir o falso argumento de que há uma escolha entre o outro lado do Canal [da Mancha] e o Atlântico”.

 

 

Arábia Saudita recebe Obama com frieza inédita

 

 

Um Presidente dos Estados Unidos está habituado a recepções fortes quando visita outros países, especialmente tratando-se de importantes aliados. Não foi isso que aconteceu quando Barack Obama aterrou em Riade. À sua espera estava uma pequena delegação chefiada pelo governador local e a chegada nem sequer teve direito a transmissão televisiva, como em 2015.

 

Obama mal recebido na Arábia Saudita foi a Londres dar a mão a Cameron na campanha pela UE 2

Em diplomacia, os pequenos gestos contam. O reino saudita quis deixar bem claro que não está contente com a recente conduta da Administração Obama, especialmente a aproximação ao Irão, grandes rivais pela hegemonia regional. A recepção do Presidente norte-americano contrastou com aquela que foi oferecida aos chefes de Estado dos membros do Conselho de Cooperação do Golfo Pérsico (CCG) — em Riade para uma cimeira com Obama esta quinta-feira —, que tiveram direito à presença do rei Salman no aeroporto. A Casa Branca disse não ter atribuído um carácter político à ausência do rei saudita e explicou que foi oferecido pelo palácio um almoço de boas-vindas, ao qual Obama não pôde comparecer por questões de agenda.

 

 

A tarefa do Presidente dos EUA nesta última deslocação à Arábia Saudita era tentar apaziguar o descontentamento dos seus aliados na região, assegurando que o levantamento das sanções ao Irão não significa uma viragem na política externa de Washington. A nota oficial da Casa Branca sobre o encontro entre os dois líderes tenta fazer a quadratura do círculo, ao qualificar como “provocatórias” as acções do Irão na região, mas sublinhando “a importância de uma abordagem inclusiva para o desanuviamento dos conflitos regionais”.

 

 

Entre os restantes temas discutidos no encontro entre o rei Salman e Obama esteve a campanha de bombardeamentos aéreos contra posições do autoproclamado Estado Islâmico no Iraque e na Síria e conflitos regionais como a guerra civil no Iémen, onde Arábia Saudita e Irão protagonizam um confronto por procuração. De uma forma geral, o mesmo memorando dá conta de “trocas de pontos de vista” entre os dois líderes, mas não há qualquer referência a acordos alcançados ou mesmo coincidência em abordagens.

 

 

A frieza da Arábia Saudita face a Washington é partilhada pelos restantes membros do bloco regional, que se reuniu esta quinta-feira com o terrorismo e as relações com o Irão no topo da agenda. “A segunda cimeira EUA-CCG chega numa altura em que os pontos de vista dos Estados Unidos e do Conselho de Cooperação do Golfo acerca da política regional são drasticamente diferentes”, escreve na Al-Jazira a analista Hala Aldosari.

 

 

“Nas questões centrais, há um acordo sobre onde queremos chegar”, disse Ben Rhodes, um dos conselheiros de Obama para a segurança nacional, antes do encontro do Presidente com os países do Golfo Pérsico. “Esta cimeira permite-nos alinhar as nossas abordagens e estratégias”, acrescentou o responsável, citado pela Reuters.

 

 

Nas palavras que dirigiu aos líderes regionais, Obama deixou uma mensagem clara contra as divisões tendo por base as diferenças religiosas, numa alusão à crescente tensão entre sunitas e xiitas – representada pela rivalidade Arábia Saudita-Irão. “Se as pessoas se vêem a si próprias não como cidadãs de um país, mas como membros de um particular ramo do islão, isso é uma receita para os países colapsarem.”

 

 

TPT com: AEP/ KEVIN LAMARQUE/Reuters/Ana Fonseca Peraira/Público/ 22 de Abril de 2016

 

 

 

 

Passos Coelho diz que a estratégia de crescimento de médio prazo se mostra demasiado modesta

O presidente do PSD considerou hoje que a estratégia de médio prazo que o Governo está a desenhar aponta para um crescimento “demasiado modesto” e defendeu a necessidade de um programa com objetivos “partilhado por todos”.

 

 

“A estratégia que está desenhada não nos permitirá crescer nos próximos anos mais do que 1 a 2% ao ano. Se isso acontecer, o crescimento será sempre demasiado modesto, não será o suficiente nem para pagar as nossas dívidas, nem para reabsorver o desemprego desde a crise”, afirmou o líder social-democrata, em declarações aos jornalistas à saída de uma conferência promovida pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD).

 

 

Escusando-se a fazer comentários sobre o Programa de Estabilidade e o Programa Nacional de Reformas hoje aprovados em Conselho de Ministros por não querer fazer apreciações apenas com base nas notícias que foram sendo avançadas, Passos Coelho admitiu, contudo, que “as perspetivas de crescimento para Portugal nos próximos anos precisavam de mudar de uma forma mais impressiva” porque são “muito modestas”.

 

 

“Estamos a falar de uma perspetiva que vai até 2020”, sublinhou, lamentando que a estratégia económica que tem sido apresentada seja apenas “uma extensão daquilo que o Governo tem apresentado nos últimos meses”.

 

 

“Ser cauteloso não tem nada a ver com ter uma estratégia económica arrojada”, acrescentou, reiterando a necessidade de cautela porque o país não tem “muita margem para errar do ponto de vista das contas públicas.

 

 

Antes, durante a conferência, o líder do PSD e antigo primeiro-ministro já tinha abordado a questão do crescimento económico, apresentando o exemplo da Irlanda, que cresceu 7% em 2015 porque conseguiu atrair investimento estrangeiro.

 

 

“Se os irlandeses foram bem-sucedidos nesse processo não há nenhuma razão para Portugal também não o ser”, vincou, ressalvando, contudo, que para isso acontecer são necessárias políticas consistentes com esse objetivo.

 

 

Considerando que isso não deve ser motivo de disputa entre governos e quem está na oposição, Passos Coelho argumentou que todos têm “a ganhar em que esse processo seja bem-sucedido”, quer aqueles que estão hoje a governar, quer “aqueles que têm a perspetiva de vir a estar no futuro”.

 

 

Desta forma, continuou, é necessário “ter um programa de médio prazo com objetivos que possam ser partilhados por todos e que não sejam tão genéricos que percam significado”.

 

 

“Isso pode ser decisivo para conseguirmos captar o investimento externo que precisamos para dar a oportunidade ao país de aliviar o fardo de anos anteriores em que dívidas foram contraídas sem que se tivesse gerado um retorno económico e social adequado”, declarou.

 

 

Na intervenção que fez na conferência da FLAD, perante políticos lusodescendentes, o líder do PSD falou ainda brevemente da questão da Base das Lajes, nos Açores, admitindo que “as coisas não correram manifestamente bem” e que “não foi um marco muito eloquente” do relacionamento entre Portugal e os Estados Unidos da América.

 

 

“O melhor que temos a fazer não é fazer de conta que não aconteceu nada, é aprendermos como é que aconteceu para melhorar daqui para a frente o relacionamento entre dois países, defendeu.

 

 

Observador com: Pedro Motrim/Lusa/21 de Abril de 2016

 

 

 

 

Portugal avalia suspensão da reciprocidade de vistos com os Estados Unidos

Portugal está a acompanhar “muito de perto” os impactos de uma possível suspensão de reciprocidade de vistos entre a União Europeia e os Estados Unidos. Na prática, esta decisão faria com que os cidadãos norte-americanos fossem obrigados a pedir um visto nas deslocações de curta duração à Europa. Neste momento apenas precisam ter o passaporte válido nos três meses seguintes à entrada num país do Espaço Schengen. O país quer salvaguardar “as estreitas relações de cooperação” que mantém com os aliados transatlânticos.

 

 

A Comissão Europeia adiou para julho a decisão de suspender a reciprocidade de vistos com os EUA e o Canadá, depois destes dois países continuarem a exigir aos cidadãos da Roménia e à Bulgária vistos para estadias de curta duração. Até lá, o Parlamento Europeu e os Estados-membros têm de se pronunciar sobre esta iniciativa que pertence à Comissão. Portugal, um país que mantém relações próximas com os Estados Unidos e com o Canadá, não só comerciais, mas também com muitos emigrantes portugueses a residirem naqueles países, está a acompanhar a situação, embora ainda não tenha posição definida.

 

 

“Portugal acompanha de muito perto a situação e está ainda a avaliar os impactos dos vários cenários possíveis, de modo a contribuir positivamente para uma posição comum no seio do Conselho da União Europeia que salvaguarde, da melhor maneira possível, os interesses da União Europeia e dos seus Estados-membros”, esclareceu fonte oficial da secretaria de Estado dos Assuntos Europeus ao Observador. O Governo lembra ainda que é preciso salvaguardar “as estreitas relações de cooperação que mantemos com os nossos aliados transatlânticos”.

 

 

Os Estados Unidos e o Canadá deveriam ter abolido os vistos para todos os Estados-membros da União Europeia entre abril de 2014 e abril de 2016, mas os dois países ainda mantêm a exigência de vistos para cidadãos romenos e búlgaros. A Comissão Europeia pode avançar agora com uma suspensão da reciprocidade dos vistos, o que pode resultar na mesma prática por parte do lado dos norte-americanos, obrigando a que o cidadãos que queiram atravessar o Atlântico tenham obrigatoriamente de pedir vistos mesmo para visitas turísticas ou curtas viagens de negócios.

 

 

TPT com: Tiago Petinga/LUSA/Catarina Falcão/Obs/ 21 de Abril de 2016

 

 

 

 

 

Nas primárias de Nova Iorque Clinton bateu Sanders e Trump leva quase 70% dos votos

Hillary Clinton (democratas) e Donald Trump (republicanos) são os vencedores das eleições primárias no estado de Nova Iorque que decorreram esta terça-feira nos Estados Unidos.

 

 

A projeção das estação de televisão MSNBC poucas horas após o fecho das urnas (início da madrugada em Lisboa) apontavam para, no campo dos democratas, uma vitória da ex-senadora com cerca de 60% sobre o seu adversário Bernie Sanders, que se fica pelos 35%.

 

 

Para Clinton é um resultado que ganha importância por interromper uma série de três vitórias consecutivas.

 

 

Do lado republicano, voltou a refletir-se a vantagem de Donald Trump sobre os seus rivais, com a CNN a prever que conquistará 68,6% dos votos. Ted Cruz, o segundo classificado e principal adversário, não passará dos 13,6%, abaixo de John Kasich, governador do Ohio (obterá 17,8%).

 

 

Trump e Clinton lideram em Nova Iorque, Sanders promete luta

 

 

 

“Se ganharmos em Nova Iorque, vamos chegar à Casa Branca.” A declaração não pertence nem à líder da corrida democrata, Hillary Clinton, nem ao líder da corrida republicana, Donald Trump, que estão à frente nas intenções de voto para as primárias do estado de Nova Iorque, esta terça-feira.

 

Nas primárias de Nova Iorque Clinton bateu Sanders e Trump leva quase 70% dos votos 2

A declaração foi proferida por Bernie Sanders, o senador pelo Vermont nascido e criado em Brooklyn que, nas últimas semanas, ganhou em sete dos oito estados que levaram a cabo primárias democratas, num inesperado golpe à vitória pré-anunciada de Clinton.

 

 

A ex-secretária de Estado que foi senadora por Nova Iorque sempre acreditou que a vitória desta noite estava garantida e os inquéritos de opinião sempre apontaram que seria mesmo ela a chamar a si a maioria dos 291 delegados democratas em disputa.

 

 

Se assim for, irá cimentar a liderança da corrida e ficar um passo mais perto da nomeação do partido na convenção de julho. Mas se esta corrida presidencial tem provado alguma coisa é que há sempre espaço para novas surpresas e uma vitória inesperada de Sanders, apesar de mantê-lo atrás da rival em número de delegados, galvanizaria a sua campanha e abriria a fase mais renhida da corrida democrata.

 

 

O mesmo se passa do lado republicano com o incendiário Donald Trump, nascido em Nova Iorque, onde criou o império de imobiliário e hóteis que fez dele um multimilionário. Só que no caso do populista, uma derrota inesperada terá um sabor mais amargo do que para Clinton, afastando-o ainda mais do mínimo necessário de 1237 delegados para garantir a nomeação republicana.

 

 

Esta terça-feira, Trump disputou com o senador Ted Cruz e com o governador do Ohio, John Kasich, 95 dos 769 delegados que ainda estão por atribuir até à convenção nacional de julho. Neste momento, Trump conta com 743, contra 543 para Cruz e 144 para Kasich (para além dos 171 que tinham sido escolhidos para apoiar o candidato Marco Rubio, que desistiu da corrida, e que ainda não foram redistribuídos).

 

 

Se, ao contrário do que previam as sondagens, Trump não vencesse, seria possível que a 26 de abril, na próxima etapa da corrida à nomeação do partido, perderia de vez todas as esperanças em disputar a Casa Branca pelo Partido Republicano.

 

 

Nesse dia, vão a votos os estados do Connecticut, Delaware, Maryland, Pensilvânia e Rhode Island — estando em disputa um total de 172 delegados republicanos (os 16 de Delaware serão atribuídos ao primeiro classificado e os 109 de Maryland e Pensilvânia quase todos a quem sair a ganhar nesses estados). Do lado democrata haverá 462 delegados a serem disputados entre Clinton e Sanders.

 

 

Entre o magnata, a senadora ou o socialista com sotaque, quem teve a melhor noite em Nova Iorque?

 

 

Em Manhattan, é difícil não reparar nos imponentes edifícios de Donald Trump, alguns até com o seu apelido disposto em letras douradas à porta. Ali perto, com uma ponte pelo meio, está Brooklyn, o borough [subúrbio] onde Bernie Sanders nasceu e cresceu, numa altura em que os afro-americanos lá ainda eram poucos, os hipsters ainda nem sequer tinham sido inventados e em que a maior parte da população ainda era composta por imigrantes e operários. E foi para o estado de Nova Iorque que os Clinton se mudaram depois de Bill sair da Casa Branca acossado por um escândalo sexual — e, pouco depois, dando início ao projeto de poder da sua mulher, Hillary, que foi senadora por aquele estado entre 2001 e 2009.

 

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Cada um à sua maneira, Trump, Hillary e Bernie jogam em casa nas eleições primárias no estado de Nova Iorque, nesta terça-feira. No Partido Republicano, disputam-se 95 delegados (de um total nacional de 2 472) , sendo que quem tiver mais de 50% dos votos pode ficar com (quase) todos. No Partido Democrata, disputam-se 291 delegados (entre 4 765 no plano nacional). Tanto de um lado, como do outro, Nova Iorque pode ser um estado crucial. Desde que os democratas começaram a realizar primárias neste estado, em 1972, o vencedor em Nova Iorque ganhou mais tarde a nomeação do partido 67% das vezes. E, do lado dos republicanos, desde 1976, ganhar em Nova Iorque tem sido sempresinónimo de vencer a nomeação do partido.

 

 

Trump pode ter maioria absoluta contra Cruz, o candidato anti-Nova-Iorque

 

 

Ainda assim, olhando para as sondagens, há algumas coisas que parecem claras como água — nalguns casos, bem mais clara do que a água do poluído rio Hudson, que banha o estado de Nova Iorque em quase toda a sua extensão.

 

 

O mais evidente é que esta foi uma noite muito boa para Trump — algo de que bem precisa, depois de três derrotas consecutivas contra Ted Cruz no Utah, Wisconsin e Colorado.

 

 

“Olhemos bem para ele! Ele é uma celebridade, nasceu em Queens [outroborough da cidade de Nova Iorque], há prédios com o nome dele por todo o lado”, aponta Keena Lipsitz, professora de ciência política e especialista em comportamento eleitoral da City University of New York. O tom é de graça, mas mesmo assim carrega alguma verdade. Mas existem outros fatores que permitiram uma vitória retumbante a Trump no seu estado, como explica aquela académica, ao telefone com o Observador. “Os republicanos do estado de Nova Iorque têm uma tendência para serem menos conservadores do que a média dos republicanos, e isso encaixa que nem uma luva no perfil de Trump”, diz Lipsitz.

 

 

No lado oposto está Cruz, o texano ultraconservador, estudioso da Constituição e maior adversário de Trump nesta fase. Em janeiro, quando a procissão ainda ia no adro — ou, mais propriamente, as eleições primárias ainda não tinham começado — o senador do Texas decidiu criticar Trump num debate, evocando, de forma negativa, os “valores de Nova Iorque”. “Toda a gente percebe que os valores da cidade de Nova Iorque são socialmente liberais, são a favor do aborto e do casamento gay, e andam em torno do dinheiro e dos media”, disse Cruz, que também não tem coisas simpáticas a dizer sobre Washington DC. Dúvidas houvesse de que o alvo era Trump, Cruz tratou de dissipá-las: “Não há muitos conservadores que saem de Manhattan”.

 

 

A jogada correu mal a Cruz. Trump respondeu, evocando os bombeiros e polícias que responderam aos atentados de 11 de setembro de 2001. “Esta afirmação de Ted foi muito insultuosa”, respondeu o magnata nova-iorquino. No dia seguinte, o New York Daily News, um tablóide liberal, fez capa com a Estátua da Liberdade a dedicar um gesto obsceno ao texano e a dizer-lhe: “Morre, Ted”. E, mais abaixo, uma referência ao facto de Cruz ter nascido fora dos EUA: “Hey, Cruz, não gostas dos valores de Nova Iorque? Volta para o Canadá!”.

 

 

Se é verdade que a afirmação podia cair bem no eleitorado conservador rural (duas semanas mais tarde, Cruz venceria a primeira eleição no Iowa), também era certo que tinha de chegar o dia em que Cruz teria de justificar aquelas palavras. Tentou fazê-lo, explicando que não quis atacar os nova-iorquinos em geral, mas antes Trump. Segundo explicou na CNN, a sua tirada teve como base uma entrevista que Trump deu em 1999, onde terá usado a expressão “valores de Nova Iorque”, para defender uma causa à qual hoje em dia se opõe — a despenalização do aborto.

 

 

Não é líquido — e até é algo improvável — que a justificação de Cruz tenha surtido o efeito que este desejaria. Mas, para Lipsitz, isso pouco importa. “Cruz nunca se daria bem no estado de Nova Iorque, mesmo se não tivesse feito esses comentários”, diz. “Simplesmente, conservadores deste tipo não apelam ao eleitorado republicano de Nova Iorque.”

 

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Sobra ainda Kasich, o governador do Ohio que, apesar de aparecer em segundo lugar nas sondagens de Nova Iorque, está consideravelmente atrás de Cruz e Trump na contagem de delegados. Ainda assim, não deixa de ser irónico que um republicano moderado como Kasich não se dê bem no estado de Nova Iorque. “À partida, os republicanos de Nova Iorque poderiam votar em alguém com as ideias de Kasich, mas a verdade é que ele, pessoalmente, tem muitas dificuldades em ganhar eleitores. As pessoas nem conhecem o nome dele”, diz Lipstiz. Ao contrário da “celebridade” Trump. Além disso, também não terá ajudado o facto de Kasich ter sido apanhado pelas câmaras a comer uma pizza com um garfo — pecado capital em Nova Iorque, mesmo que a fatia estivesse “a escaldar”, como o candidato mais tarde explicou.

 

 

Assim sendo, o que é que aconteceu aos “republicanos moderados” de Nova Iorque? Segundo Lipsitz, foram ofuscados. Por quem? Trump, claro. E os seus apoiantes. “A questão aqui é que Trump não está a receber os votos de republicanos que outrora ajudaram a nomear republicanos mais moderados”, como foi, por exemplo, o caso de John McCain em 2008, alguém que está nos antípodas do magnata nova-iorquino. “Trump está a apelar a novas pessoas, gente que nunca votava ou que não ligava a política. Estas não são as mesmas pessoas que votaram em McCain”, diz. A verdade é que o “fenómeno Trump” levou a que a participação nas primárias republicanas deste ano atingissem valores recorde — mas, como já escrevemos anteriormente, isso não é sinónimo de vida fácil para o Partido Republicano nas eleições de 8 de novembro.

 

 

“Quem disser que tem uma bola de cristal está a vender banha da cobra”

 

 

Mas, antes dessa data, o Partido Republicano terá ainda de ultrapassar os três dias da convenção nacional, entre 18 e 21 de julho. Isto porque, neste momento, torna-se cada vez mais provável o cenário em que nenhum dos três candidatos republicanos consegue obter 1 237 delegados até à convenção — o mínimo necessário para ter maioria absoluta e ganhar a nomeação. Para já, de acordo com o The New York Times, Trump tem 743, Cruz tem 543 e por fim Kasich está com 144. Além disso, Marco Rubio, que desistiu depois de perder no seu estado da Florida, ainda tem 171 delegados e ainda não disse a qual candidato é que pretende cedê-los.

 

 

Neste momento, de acordo com as previsões do site FiveThirtyEight, Trump deverá ficar em primeiro lugar, mas aquém dos 1 237 delegados necessários para uma nomeação direta. Se assim for, o jogo fica completamente aberto — e passará a haver uma batalha para conquistar delegados de maneira informal. De repente, Cruz ou até Kasich podem juntar os delegados necessários para serem nomeados após uma primeira votação inconclusiva. E existe também a hipótese de uma quarta personalidade surgir na convenção e assumir-se como um candidato consensual, mesmo que não tenha disputado as eleições primárias. Falou-se na hipótese de Paul Ryan, speaker dos republicanos na Câmara dos Representantes, poder ser esse dark horse em julho, mas ele já negou: “Deixem-me ser claro. Eu não quero, e não vou aceitar, a nomeação do nosso partido”.

 

 

Uma coisa é certa: no que toca ao lado dos republicanos, reina a incerteza. Quando lhe pedimos para apostar numa nomeação de Trump ou de Cruz, Lipsitz recusou amigavelmente o convite. “Quem quer que esteja a dizer neste momento que sabe ao certo o que vai acontecer e que tem uma bola de cristal está a vender banha da cobra”, disse. “A maneira como tudo isto tem acontecido, tem sido uma lição de humildade para todos os cientistas políticos que têm tentado fazer previsões.”

 

 

Hillary e Bernie: proximidade vs. sotaque

 

 

Do lado dos democratas, as coisas parecem bem mais simples do que no campo dos republicanos.

 

 

“Vai ser uma batalha decisiva entre Sanders e Clinton”, diz a professora de ciência política Keena Lipsitz. “Ele precisa de uma grande vitória em Nova Iorque e as sondagens dizem-nos que isso não é muito provável. Eu acho que as coisas vão correr muito bem a Hillary Clinton. Ela é muito conhecida e já foi eleita pelos nova-iorquinos como senadora duas vezes. Ela conhece o estado de uma ponta à outra, conhece os problemas políticos locais. E, mesmo que Sanders venha de Brooklyn, a verdade é que ele saiu de cá e foi para Chicago estudar aos 18 anos e depois nunca mais voltou”, explica a académica. Hillary Clinton, que nasceu em Chicago, escolheu viver no estado de Nova Iorque e a partir dali lançar a sua carreira política. Bernie Sanders saiu e afirmou-se como político socialista no Vermont. “A única coisa que ainda lhe resta de Nova Iorque é o sotaque“, graceja Lipsitz.

 

 

A desfavor do socialista está o facto de a votação dos democratas no estado de Nova Iorque não estar a aberta a todos os eleitores, mas apenas àqueles que estão registados no partido. Aqueles que estavam registados como independentes tinham de se registar como democratas, em outubro, para poderem, agora, mais de meio ano depois, votar nas primárias — algo que está mais próximo do perfil do eleitor típico de Bernie Sanders (jovem, primeiras eleições) do que o de Hillary Clinton (mais de 40 anos).

 

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Com a vitória de Clinton na noite de terça-feira, Bernie Sanders vê a sua missão ainda mais dificultada. Segundo escreveu o FiveThirtyEight, a 30 de março, naquela altura o senador do Vermont precisava de 57% dos delegados a disputar doravante para conseguir a nomeação em julho. Com o passar do tempo, e apesar de entretanto ter vencido no Wisconsin e no Wyoming, a tendência deverá ser para este número crescer — e, assim, diminuírem as possibilidades de Bernie vingar.

 

 

Mas não é por isso que o entusiasmo em torno do candidato socialista tenha esmorecido — no fim-de-semana, atraiu um recorde de 28 mil pessoas para um comício no Prospect Park, em Brooklyn. “Sanders persiste, porque há um espaço à esquerda dos democratas que tem estado vazio até há pouco tempo e que ele conseguiu ocupar, aproveitando-se do crescimento do sentimento anti-establishment, contra os banqueiros e Wall Street”, diz Lipsitz. “Finalmente há alguém que consegue levar esta mensagem à política mainstream e isso é algo que é notório e não desaparece da noite para o dia.”

 

 

Tanto que, segundo uma sondagem de 6 de abril, 1 em cada 4 dos apoiantes de Bernie Sanders disseram que não votariam em Hillary Clinton, caso ela fosse a candidata do Partido Democrata nas eleições de 8 de novembro. Mesmo assim, Lipsitz desvaloriza esse número: “Mesmo que muita gente diga agora que não vai votar na Hillary Clinton, eles vão. O que vai acontecer é que, quando ela ganhar, já depois de o partido ter sarado as suas feridas, Sanders vai declarar-lhe o seu apoio e os fãs dele irão atrás”. Até porque ainda falta muito tempo para essa altura, garante. “Estamos a mais de seis meses das eleições. Em tempo político, seis meses é uma enormidade. Até lá, a raiva destas pessoas, que muitas vezes é pessoalmente dirigida diretamente contra Hillary Clinton, vai descer. Vão ficar mais racionais.”

 


Sanders precisa de ganhar em Nova Iorque. Trump lidera sondagens no estado

 

 

Os partidos Democrata e Republicano realizaram esta terça-feira primárias para as presidenciais norte-americanas de 8 de novembro, com o democrata Bernie Sanders a precisar de vencer para ter hipótese relativamente a Hillary Clinton, enquanto do lado republicano Donald Trump reúne favoritismo.

 

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O Estado de Nova Iorque foi a votos para as duas primárias, processo pelo qual os membros de um partido designam os seus candidatos presidenciais.

 

 

Com 291 delegados dos quais 44 são super-delegados, Nova Iorque representa para os democratas um grande desafio, sendo o segundo Estado com mais representantes atrás do da Califórnia.

 

 

O senador do Vermont, que se diz “muito orgulhoso em ser de Nova Iorque”, acredita numa vitória depois de ter juntado milhares de pessoas – 20.000 segundo as contas de Sanders – durante um comício no Prospect Park, da sua Brooklyn natal.

 

 

Segundo as intenções de voto divulgadas pelo portal na Internet RealclearPolitics.com, Hillary Clinton, antiga senadora de Nova Iorque, lidera com 53,5% contra os 41% de Bernie Sanders.

 

 

Clinton que já conseguiu eleger cerca de 1.700 delegados nas primárias anteriores lidera com vantagem relativamente aos cerca de 1.100 delegados eleitos por Sanders.

 

 

Para se ser designado candidato presidencial pelo partido Democrata são precisos 2.383 delegados.

 

 

No lado dos Republicanos, Donald Trump esteve confiante, seguro de ganhar em Nova Iorque, que elege 95 delegados.

 

 

As sondagens apontam igualmente para um êxito de Trump, que tem uma intenção de voto de 52,2%. Os seus adversários, John Kasich e Ted Cruz recolhem, respetivamente, 23,2% e 17,8% das intenções de voto.

 

 

Donald Trump está no topo da corrida às primárias republicanas mas ficou, desde a vitória de Ted Cruz no Estado do Wisconsin, preocupado em não conseguir a maioria absoluta que lhe permitiria uma investidura automática do partido, para o que são necessários 1.237 delegados.

 

 

O milionário republicano acusa nomeadamente o partido de querer bloquear a sua nomeação, e denuncia a existência de regras intencionalmente deturpadas de atribuição de delegados que variam consoante o Estado.

 

 

Para travar Cruz Trump reorganizou a sua equipa de campanha e está a conseguir aparentemente controlar melhor a sua mensagem, tendo passado a falar com auxílio de apontamentos e mais contido nos ‘tweets’ que publica na sua conta da rede social Twitter.

 

 

A eleição dos delegados pelos dois partidos começou no passado dia 1 de fevereiro e acaba, no caso dos republicanos, a 7 de junho, e no dos democratas a 14 de junho.

As eleições presidenciais realizam-se no dia 8 de novembro.

 

 

Giuliani apoia Trump: “a melhor escolha”

 

 

No dia das primárias em Nova Iorque, o favorito à nomeação republicana recebeu o apoio do antigo presidente da câmara. Mesmo depois de ter cometido uma gafe e trocado a data dos atentados terroristas do 11 de setembro de 2001.

 

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Em vez de nine-eleven, Donald Trump disse seven-eleven. Mas o facto de o milionário ter trocado a data dos atentados do 11 de Setembro de 2001 nos EUA com o nome de uma loja de conveniência deverá ficar apenas como uma nota de rodapé na sua previsível vitória nas primárias republicanas de Nova Iorque, onde estavam 95 delegados em jogo. As sondagens colocavam-no 30 pontos percentuais à frente dos adversários, Ted Cruz e John Kasich. E isto ainda antes de ter conseguido o apoio do ex-presidente da câmara Rudolph Giuliani, que disse que ele era “a melhor escolha”.

 

 

O republicano Giuliani, que foi mayor de Nova Iorque entre 1994 e 2001, confirmou o apoio a Trump numa entrevista à CNN, explicando contudo que não se envolverá na campanha. “Não me chamam para dar conselhos, exceto algumas vezes quando me ofereci para os dar. Não faço parte do aparelho da campanha. Não quero que as pessoas pensem que faço”, disse.

 

 

“Ele é a melhor escolha para Nova Iorque. Ele é a melhor escolha para o país. Ele é o único que consegue derrotar Hillary Clinton”, acrescentou Giuliani. Nas primárias democratas havia 291 delegados em jogo e a ex-secretária de Estado surgia dez pontos à frente do senador Bernie Sanders nas sondagens.

 

 

A vitória parecia certa para Trump em Nova Iorque (os resultados eram esperados durante a madrugada em Lisboa). A preocupação para o milionário no seu estado natal era outra: o processo por difamação que deu entrada nos tribunais, interposto pela consultora de comunicação Cheri Jacobus.

 

 

Tudo terá começado no final de janeiro, com uma crítica dela à campanha de Trump. Em declarações à CNN, Jacobus disse que, nos debates e entrevistas, o candidato republicano “parece um aluno da terceira classe a fingir que sabe de temas de atualidade numa prova oral”.

 

 

Em resposta, o diretor de campanha de Trump, Corey Lewandowski, e o próprio candidato alegaram que ela estava chateada por não ter sido contratada. Jacobus “implorou-nos por um trabalho. Dissemos que não e ela tornou-se hostil. Muito estúpida!”, disse Trump no Twitter, alegando que ela tinha “zero credibilidade”.

 

 

Jacobus alega que as acusações são falsas (terá sido Trump que a quis contratar e ela recusou) e que causaram “enorme prejuízo” à sua “carreira e reputação”. Por isso, pede um indemnização de quatro milhões de dólares (3,5 milhões de euros). “Este é só mais um processo frívolo e uma tentativa de ganhar notoriedade às custas de Donald Trump”, respondeu uma porta-voz do candidato republicano, Hope Hicks. Um advogado de Jacobus admite que é difícil provar estes casos de difamação, mas está confiante. “Trump excedeu claramente os limites legítimos da liberdade de expressão”, indicou Jay Butterman, citado pelo The New York Times.

 

 

 

TPT com: JUSTIN LANE/EPA/João de Almeida Dias/Obs/ AEP/ Reuters/ Lucas Jackson/ REUTERS/ EPA/ORLANDO BARRIA /Joana Azevedo Viana/Expresso/ 19 de Abril de 2016