Diretor de Hockenheim garante GP da Alemanha em 2016

O diretor do circuito de Hockenheim garantiu este sábado que o Grande Prémio da Alemanha de Fórmula 1 vai regressar em 2016, depois de ter ficado este ano fora do calendário pela primeira vez desde 1960.

 

 
“É 100 por cento certo, até 1000 por cento certo [que vai haver prova]. Temos um contrato para o próximo ano e nós sempre cumprimos o nosso contrato”, disse Georg Seiler, à agência SID.

 

 
Pela primeira vez 55 anos não vai haver GP da Alemanha, devido a problemas contratuais com o circuito de Nurburgring, que acolhe a prova alternadamente com Hockenheim.

 

 
Apesar de os bilhetes para o GP da Alemanha de 2016 já estarem à venda há três semanas, o patrão da Fórmula 1, Bernie Ecclestone, recusou confirmar, em março, a realização da prova no próximo ano.

 

 

 

Lusa

 

 

19/05/2015

 

 

 

Estudante de Abrantes sagra-se campeão mundial de cálculo mental pelo segundo ano consecutivo

João Silva Bento, 13 anos, estudante do 7º ano na Escola Secundária Manuel Fernandes, em Abrantes, sagrou-se campeão mundial de cálculo mental pelo segundo ano consecutivo, tendo obtido o recorde mundial da prova deste ano.

 

 

 
Num ano em que Portugal ficou em primeiro lugar na geral do SuperTmatic – concurso de cálculo mental com jogo de cartas destinado ao treino das operações básicas da matemática -, e com vários estudantes lusos a conquistarem posições cimeiras nos diversos escalões etários, João Bento conquistou o 1º lugar no seu escalão e o melhor tempo mundial, com um tempo de resolução de 33,66 segundos às 15 equações que lhe foram apresentadas.

 

 

 

“Estou muito feliz porque consegui o meu objetivo, que era o de melhorar o tempo do ano passado, e reduzi esse tempo de resposta de 42,5 para os 33,6. Foi muito bom e foi mesmo o melhor tempo mundial, de entre todos os participantes da edição deste ano”, disse hoje à agência Lusa o jovem estudante da escola secundária de Abrantes, resultado que atribuiu ao “trabalho e ao treino”.

 

 

 
João Bento, residente em Alferrarede, no concelho de Abrantes, teve um tempo médio de resposta às 15 perguntas de 2 segundos e 22 milésimos de segundo, totalizando 33,6 segundos, recorde mundial em todos os escalões da competição. O segundo classificado do seu escalão ficou a uma distância de 12 segundos, tendo obtido o tempo de 46,2 segundos. O décimo classificado, um britânico, demorou 51:37 segundos a resolver mentalmente os problemas matemáticos apresentados no concurso.

 

 

 

“A vitória do ano passado deu-me estímulo para fazer mais exercícios e treinei mais para esta edição do que para o do ano passado. Mas 12 segundos de diferença é muito tempo, sim”, destacou João Bento.

 

 

 

A notícia foi confirmada na noite de segunda-feira, 11 de maio, no site da Eudactica, uma editora de materiais didáticos dedicados a estimular a agilidade mental e o desenvolvimento cognitivo, de acordo com a própria empresa.

 

 

 

A organizadora do evento mundial disponibilizou na sua página na internet a classificação parcial da competição, tendo divulgado a classificação dos primeiros 20 países no concurso SuperTmatik 2014/2015, e a classificação dos 10 melhores alunos de cada escalão.

 

 

 

A competição relativa aos Campeonatos SuperTmatik, que decorrem anualmente e online, envolveu no ano passado 36 725 finalistas de 61 nacionalidades diferentes, tendo o estudante português, João Bento, conquistado o 1º lugar no seu escalão, com um tempo de resolução de 42,5 segundos às 15 equações que lhe foram apresentadas.

 

 

 

“O João Bento tem uma velocidade cálculo mental inacreditável, desde pequeno que demonstrava ter esta capacidade, que é inata”, disse à Lusa o pai de João Bento, Jorge Bento, tendo observado que o seu filho “é um aluno mediano, um pouco nervoso, mas muito metódico”.

 

 

 

“Obter o recorde da prova em todos os escalões e dar 12 segundos de avanço ao segundo classificado do seu escalão, é revelador do seu potencial. Este ano trabalhou mais, preparou-se melhor, e obteve este resultado fantástico. É inacreditável e estou muito satisfeito, por ele, mas ao mesmo tempo algo apreensivo, porque não sei quem o possa ajudar a ir mais além”, contou.

 

 

 

“É um caso muito sério e acho que preciso de ajuda, de ir à procura de alguém que o possa direcionar para ele poder continuar a evoluir”, disse ainda o pai do jovem campeão do cálculo mental.

 

 

 

A vitória no ano passado deu a João Bento um troféu de cristal e a possibilidade de jantar com o Presidente da República, Cavaco Silva, a convite deste.

 

 

 

“O jantar foi bom. Se me convidar, vou outra vez”, antecipou o campeão.

 

 

 
Lusa

 
12/05/2015

 

 

 

Morreu o rei B.B. King, o rosto popular dos blues

B.B. King morreu aos 89 anos em Las Vegas.

 

 

 

Riley Ben King não era tão bom quanto o seu primo a apanhar algodão. Era miúdo, em idade de escola, mas passava muitas vezes os dias numa quinta algures no delta do Mississípi dedicado a esse trabalho duro que começava cedo. Uma boa jornada significava que os tios se mantinham calmos. A sua ambição futura era então moldada pela ideia de que talvez um dia pudesse vir a conquistar a sua pequena porção de terra que trabalharia montado num tractor, voltando a casa para uma mulher bela e para os filhos que tivesse trazido ao mundo. Não parecia fadado para grandes voos. Nem sequer no algodão.

 

 
Os horizontes dessa quinta idealizada foram-se estreitando à medida que os seus bolsos e dos amigos, com o passar dos anos, continuavam quase vazios; ao mesmo tempo que, em sentido contrário, os relatos da música que vinham de uma Memphis que parecia imensamente distante começavam a soar mais promissores. B.B. King fez a sua parte ao mudar-se para a cidade; o destino, que já o marcara com um nome de realeza, tratou de lhe mostrar o caminho para o estúdio de Sam Phillips.

 

 

Se era de bênção que ia à procura, não poderia ter calhado em melhores mãos. Phillips era o fundador dos Sun Studios e da mítica Sun Records, por onde passaram Elvis Presley, Johnny Cash, Howlin’ Wolf e tantos outros fazedores da alma musical norte-americana. Sintomaticamente, logo na década de 50, o talento daquele jovem músico que começara por tocar guitarra com grupos de gospel, não escaparia aos ouvidos de Phillips.

 

 

Dificilmente se adivinharia, ainda assim, que ali estava um dos músicos que faria história ao transportar a linguagem original acústica dos blues para a expressão eléctrica.

 

 

 
Falecido aos 89 anos, em Las Vegas, na noite de quinta-feira, B.B. King foi provavelmente o maior responsável pela popularização dos blues. Vivendo com diabetes tipo II desde a década de 80, foram as complicações decorrentes da doença a vitimá-lo.

 

 

As reacções de pesar rapidamente se avolumaram nas redes sociais nas horas a seguir à sua morte, vindo de todos os quadrantes. De Ringo Starr a Snoop Dogg, de Bryan Adams ao vocalista dos Kiss Gene Simmon. Eric Clapton, assumido seguidor de King, afirmara ao Los Angeles Times, em 2005, que “B.B. toca em algo universal; não pode ser confinado a um único género.”

 

 

É naturalmente impensável desviar B.B. King dos blues, tendo sido uma das suas figuras maiores e das raras a conquistar uma dimensão global, mas é um facto que a sua linguagem, ao tomar-se de electricidade, acabaria por colher ensinamentos no jazz de Charlie Christian, nas big bands de Count Basie, numa ampla galeria de bluesmen que ele ampliaria através de uma linguagem apelidada “Memphis Blues” – que partilhava com a génese do rock’n’roll uma sonoridade mais inflamada e intensa.

 

 
Memphis seria igualmente o berço da formação de B.B. King, cujas iniciais haviam de ser repescadas na sua designação de DJ na rádio – Blues Boy. Primeiro, através de uma lição de humildade: “Achava que era realmente bom. Mas quando cheguei a Memphis e fui ao Handy Park – na altura chamava-se Beale Street Park – e ouvi aquelas pessoas, era como se houvesse uma universidade nas ruas!

 

 

 

E descobri então que não cantava assim tão bem”, recordou em entrevista ao site Academy of Achievement. “Via gente na rua a dançar e eu nem sequer sabia andar.” Depois, teve as suas únicas lições a sério, encomendando, comprando e estudando obsessivamente manuais de guitarra numa loja local.

 

 
Parecendo um pormenor, não o é. A curiosidade e a vontade de explorar a guitarra faria de B.B. King não um mero perpetuador de uma música que lhe tinha sido legada pela região do Mississípi, mas um instigador de novos caminhos. Concentrando em si boa parte da tradição musical negra, montada em torno dos blues, B.B. King falava de Frank Sinatra, Nat King Cole, Bach e Beethoven como lendas a cujo patamar sonhava chegar. “A minha única ambição é ser um dos grandes cantores de blues e ser reconhecido”, disse King ao jornalista musical Michael Lydon, citado agora pelo Washington Post.

 

 

 

Na mesma publicação, o historiador de blues Peter Guralnick não lhe nega esse estatuto na História: “Tem o mesmo lugar nos blues que Louis Armstrong tinha no jazz. É um embaixador para a música.”

 

 

O CANTO DE LUCILLE

 

 
Mais do que a sua colecção de 15 Grammy, mais até do que os milhões de discos que terá vendido em todo o mundo, B.B King deu um rosto popular aos blues. Para uns quantos, Howlin’ Wolf, Muddy Waters ou Robert Johnson serão nomes mais emblemáticos desta música. Mas mais ainda do que Buddy Guy ou John Lee Hooker, B.B. King alcançou um reconhecimento muito para além da sua origem musical, tendo trabalhado ao longo da carreira com alguns dos nomes mais importantes do rock como Eric Clapton, George Harrison, Rolling Stones, David Gilmour, U2 ou Joe Cocker.

 

 

Em parte, como nota o crítico do New York Times Jon Pareles, pela sua infatigável vida na estrada, tocando por todo o mundo em toda as oportunidades que se lhe apresentassem – em Portugal, foram várias ocasiões, a primeira em 1973, tendo chegado a partilhar o palco com Rui Veloso. Era habitual fazer anos com mais de 250 concertos.

 

 

 

 

Foto: FABRICE COFFRINI/AFP

 
Gonçalo Frota

 
Joana Amaral Cardoso

 

 

15/05/2015

 

 

 

 

Já se pode falar sobre os sindicatos?

Há décadas que governos, oposições e jornalistas mantêm viva a ficção de que os sindicalistas são trabalhadores que defendem os trabalhadores e as empresas, quando muitas vezes acontece o contrário.

 

 

 
Há quantos anos o electricista Arménio Carlos deixou de trabalhar em electricidade? O que sabe Mário Nogueira da realidade das escolas onde deixou de dar aulas há mais de vinte anos? E, por fim mas não por último, em que serviço, balcão, secretaria, cartório, departamento… da função pública trabalhou Ana Avoila antes de o seu nome se ter tornado num prefixo da Frente Comum de Sindicatos da Função Pública?

 

 

 

 

Na verdade o que sabemos sobre os dirigentes sindicais, um cargo quase vitalício em Portugal? Sabemos pouco, muito pouco. A divisão que a greve decidida pelo Sindicato dos Pilotos de Aviação Civil gerou dentro da TAP – com trabalhadores a manifestarem-se contra esta greve – chamou a atenção para alguns aspectos pouco ou nada noticiados sobre a vida sindical: de repente percebemos que os sindicatos, ou pelo menos alguns, têm assessores que ganham tanto mais quanto mais assessorarem, ou seja, quanto mais conflitualidade existir. Percebemos também que um sindicato se pode comportar como se fosse dono e senhor da empresa.

 

 

 

 

E de repente esse mundo do qual pouco mais nos chega que os slogans, o debitar das acusações, as garantias de vitória, esse mundo sindical está um pouco mais exposto. Coisa rara. Pois tendo sido a unicidade sindical derrotada em 1975, em termos informativos mantém-se inalterada: há décadas que governos, oposições e jornalistas mantêm viva a ficção de que os sindicalistas são trabalhadores que defendem os trabalhadores e as empresas. As greves são sempre apresentadas como de defesa do ensino, dos transportes, do SNS… mesmo quando literalmente os destroem.

 

 

 

 

Não sei se os jornalistas sofrem de algum interdito psicológico mas seja por que razão for as notícias sobre sindicatos pouco mais são que a transcrição dos seus comunicados e declarações. Às vezes lá vem uma notícia, quase sempre breve, sobre o despedimento de umas empregadas de limpeza e logo tudo volta à ordem natural das coisas. Ao silêncio portanto.

 

 

 
Esta opacidade começa logo na própria representatividade dos sindicatos: “Os dados relativos aos indicadores de filiação sindical e de densidade sindical em Portugal carecem de rigor, são descontínuos e fragmentados, não são objecto de qualquer recolha e tratamento organizado, credível e com garantias de independência. Os estudos avulsos existentes, meritórios embora, reflectem estas dificuldades.” – escreve Henrique José Carvalho de Sousa em “Sindicalização: a vida por detrás das estatísticas (alguns problemas metodológicos)”.

 

 

 
Às vezes esta espécie de indefinição conveniente é quebrada por declarações como as que foram feitas por Henrique Figueiredo, presidente do Sindicato Nacional de Oficiais de Polícia (SNOP) ao semanário SOL: “Não há qualquer limite ao número de dirigentes que um sindicato pode ter. Podem ser cinco, dez, 50 ou 100. Só depende da criatividade de quem fez o estatuto. E os delegados é a mesma coisa. (…) Actualmente, cerca de 10% de todo o efectivo da polícia tem funções sindicais.(…) a dispensa sindical não está sujeita a autorização, só a mera comunicação. (…)

 

 

 
Havendo 2100 elementos na polícia que têm direito a essas dispensas, é evidente que existem esquadras que não têm capacidade para assegurar as suas funções mínimas. (…) Os delegados têm direito a um dia e meio por mês e os dirigentes a quatro dias. Em cada esquadra, como há 12 sindicatos, acumulam-se delegados e dirigentes. (…) Um elemento do meu serviço contou-me, uma vez, que recebeu um email de uns agentes que começava assim: “Queres ter dias de folga? Vamos fazer um sindicato novo.” Há delegados que não sabem onde é a sede do sindicato a que pertencem.”

 

 

 

 

Como é mais que óbvio estas declarações foram prontamente esquecidas não fossem elas beliscar esse mundo que nos dias pares faz declarações sobre os direitos dos trabalhadores e nos dias ímpares tem os seus elementos mais radicais a protagonizar uma espécie de cortejos etnográficos de saudosos do estalinismo. A coisa não iria muito além do ridículo não fosse o sistemático boicote de muitos sindicatos (e não apenas dos de extrema-esquerda) a tudo o que signifique progresso dentro das empresas e nas nossas vidas: das low cost na aviação ao horário dos supermercados tudo é um ataque, um mal a combater.

 

 

 
Não por acaso uma sondagem publicada esta semana em França (país com o qual Portugal revela uma similar erosão sindical) revelava que os franceses têm melhor imagem dos patrões do que dos sindicatos: 54% dos inquiridos avaliavam positivamente o patronato enquanto só 33% o faziam em relação aos sindicatos. Qual seria o resultado de uma sondagem destas em Portugal?

 

 

 
O proteccionismo aos sindicatos acabou por gerar a mediocridade e ditar o esvaziamento dessas mesmas estruturas: um estudo recentemente efectuado por três sociólogos, um dos quais se chama Carvalho da Silva, revelava que em 34 anos a taxa de sindicalização em Portugal desceu 41,8 pontos percentuais. Ou seja, caiu de 60% para 19%. Aliás Portugal está no grupo de países em que a quebra da sindicalização é mais elevada – quem o diz são Pedro Portugal e Hugo Vilares numa análise do Banco de Portugal intitulada “Sobre os sindicatos, a sindicalização e o prémio sindical”.

 

 

 

E aqui chegamos a uma espécie de beco para o qual temos de encontrar saída pois se os sindicatos cada vez representam menos gente, a lei continua a tratá-los majestaticamente: o artigo 56º da Constituição garante aos sindicatos o monopólio da representação coletiva dos trabalhadores no processo negocial. (Uma das vozes que se tem destacado na denúncia deste monopólio sindical é precisamente Mário Centeno, o economista que se destacou na apresentação das propostas do PS). Na prática, seja porque a linguagem dos sindicatos está desligada da realidade, seja porque independentemente de se estar ou não sindicalizado se acaba a ser atingido por aquilo que os sindicatos acordam, a verdade é que a contratação colectiva é negociada pelos governos com estruturas de representatividade cada vez mais diminuída.

 

 

 
Segundo Pedro Portugal e Hugo Vilares “em 2010 a negociação coletiva determinou as tabelas salariais pelas quais se regiam cerca de 88,5% dos contratos dos trabalhadores por conta de outrem do setor privado, e que serviram de referência para a negociação dos Acordos de Empresa que subsequentemente se realizaram. Assim, embora as confederações sindicais tenham influenciado diretamente 92,3 por cento dos vínculos contratuais do setor privado, apenas representavam 10,9 por cento, da mesma massa de trabalhadores. Visto doutra perspetiva, os salários base de cerca de 50 por cento dos trabalhadores são influenciados por acordos salariais em que a representatividade sindical é inferior a 5 por cento.”

 

 

 
Não é preciso saber fazer grandes contas para concluir que o poder e o papel dos sindicatos têm de ser discutidos. Para faz de conta já chega.

 

 

 

PS. Num momento de exaltação a agência Lusa noticiava enlevada que este ano em Atenas o 1º de Maio fora “singular, já que pela primeira vez um Governo saiu à rua ao lado dos cidadãos para reclamar os mesmos objetivos, acabar com as políticas de austeridade e restaurar os direitos laborais.” Realmente há coisas singulares: como é que um governo que não governa e anda a fazer de conta que é oposição consegue esta boa e militante imprensa?

 

 

 

 
Helena Matos

 

 
13/05/2015

 

 

 

 

A Política está cheia de Surpresas?

A menos que apareça um sorriso de assentimento político de Costa a Marcelo e então tudo estaria explicado: não é verdade que lhes facilitaria as respectivas ambições? Outra surpresa? Nem tanto.

 

 

 

1. O adeus autárquico de António Costa espantou alguns: retórica inflamada, elogios a rodos, holofotes televisivos, plateia escolhida a dedo, cerimónia ao milímetro. Mas poderia ser de outro modo? Não. Mais que a despedida do ex-presidente da Câmara, o que se encenava nos salões doirados do Município eram os restos de glória de António Costa: a aura com que há poucos meses aterrou na liderança do PS, o sopro de invencibilidade de que o diziam portador, a garantia de todas as vitórias.

 

 

 

Durou pouco e ele sabe. A confiança esmoreceu, a percepção mudou e sabe-se o valor que as percepções assumem na contabilidade política: podem ser fatais e dar cabo de tudo. Hoje no PS há mais chatices que ideias, mais disputa que união, mais vozes que nozes. Ninguém consegue explicar capazmente esta, digamos, vertiginosa derrapagem, não se sabe muito bem o que aconteceu ao herói de ontem. Sabe-se é que a desilusão substituiu a aura. Para quem já é alvo de polémica entre os seus e tem andado politicamente aos trambolhões – do Syriza a Nóvoa, passando pela sua passividade face à “mão” de Soares no PS – dizer adeus a Lisboa diante da plateia do país e devidamente envolto em auto-elogios, consentia o remake de todas as ilusões.

 

 

 

Costa endereçou a momentânea glória para o Largo do Rato, fez cópia para S. Bento e por escassos momentos pode ter esquecido o caminho de pedras que o espera. As trapalhadas “presidenciais” em que o PS se meteu ou (o que é pior) deixou que o metessem e os seus próprios desmentidos, não ajudam e embaciaram-lhe a imagem. Acima de tudo, custa politicamente a crer na história com Guterres: quem disse o quê, a quem e quando? Tanto tempo a alimentar esperanças presidenciais afinal tão vãs? Costa sempre soube que António Guterres nunca viria mas não queria avisar o povo? Houve mudança de ideias? Ou é um compasso de espera e o desaparecido engenheiro afinal ainda pode reaparecer para salvar a honra do convento socialista, desamarrando-o de um candidato presidencial “impossível”? Seja o que for, uma (não desfazendo) récita de amadores não produziria pior efeito.

 

 

 

Já sabíamos que a verdadeira corrida política de António Costa começaria no dia em ele que se despedisse de Lisboa. Não sabíamos que o corredor partiria com tão grande desvantagem. A vida é uma surpresa.

 

 

 

2. Apesar de detestar (sintoma de pobreza mental?) usar vocabulário futebolístico na linguagem política, não me ocorre melhor do que dizer que estou fora de jogo. Deste, das presidenciais. Um pastiche mascarado de “tudo pela pátria”.

 

 

 

Se lhe perguntassem, a pobre pátria certamente recusava ser salva pelos pretendentes à sua felicidade, mas para nossa desdita a pátria não fala. Fala-se por ela, o que não é exactamente a mesma coisa.

 

 

 

Misteriosamente todos os dias nos surgem cavalheiros a “querer” ser Presidentes da República, mas talvez não se tenha visto pior desde 1974: a qualidade não parece a regra, os processos não se recomendam, os silêncios são hipócritas, tudo é oco e tudo parece passar-se na sub-cave. E como a nada somos poupados, houve também aquele inesquecível mas tão leve, tão “in”, tão actual “não estou nem aí” de Paulo Portas. (Um dia talvez se descubra, tal como Santana já o fez, que Portas sempre “estivera aí”… E para onde é que ele há-de ir ao fim de tantos anos de bons e leais serviços?)

 

 

 

Mesmo sabendo que a vida tem de continuar e a “media” tem de reportar, pasma-se porém com a desarmante naturalidade com que se analisa, detalha, interpreta, explica, sinaliza esta soma mal amanhada de contributos (?) cívicos. Ou a sua polca de contributos orais: palpites, explicações, intrigas, remoques, recados, debates, entrevistas.

 

 

 

Pasma-se que se tome tudo isto por “bom” e racional e verosímil em nome de serem “caras novas”, o que em si mesmo pode interessar muito pouco e não querer dizer nada. Há também quem confunda esta erupção de gente que se atribui a si própria um destino, com uma “salutar” vontade de “participação”; quem rejubile com a aterragem de (falsos) independentes no jogo político, mesmo ignorando-se de quê ou de quem são “independentes”; e há quem se extasie com o sinal de vitalidade que significaria esta tômbola de candidatos. Há enfim por parte da plateia – ou parece haver – apetite, volúpia e curiosidade face ao vaudeville do palco.

 

 

 
Mas o caso é que não se vê nada disso canalizado para algo de politicamente substancial ou de nacionalmente relevante. Nem tão pouco se percebe o propósito de tudo isto a não ser uma inopinada vontade de dizer coisas como quem tem vontade de comer um chocolate. Talvez seja preciso deixá-los a falar sozinhos até virem, à sobremesa, os candidatos “verdadeiros”, que devem ser esses que há anos (décadas) estão nisto. Nisto de terem feito de si mesmos auspiciosas promessas para Belém.

 

 

 

Notei também que abriu a época da caça ao voto útil, uma outra forma de chantagem política: “ah, se à esquerda é o Nóvoa, então ao menos é melhor preferir o Marcelo”… Uma espécie de segunda mão, mas “preferi-las” em política costuma ser um péssimo sinal e um péssimo princípio. Um desestabilizador-mor em Belém?

 

 

 
É verdade que tendo aqui defendido há tempos a candidatura presidencial de Jaime Gama, nunca alimentei grandes esperanças sobre essa desejável possibilidade. Fiz parte de um pequeno e artesanal grupo de simpatizantes dessa veleidade que a vinham alimentando por nos parecer não uma boa ideia, mas a melhor ideia. Quando o escrevi, juntei-lhe outro excelente cidadão, Francisco Balsemão. (A simples menção destes dois nomes isola de imediato a questão presidencial do ébola da feira de vaidades e de quinquilharia em que está hoje).

 

 

 

Não tive sorte. Mas talvez seja como nas marés: depois da baixa, vem a alta. A menos que a alta seja um sorriso de assentimento político de Costa a Marcelo e então tudo estaria explicado: não é verdade que lhes facilitaria as respectivas ambições? Outra surpresa? Nem tanto.

 

 

 
Maria João Avillez

 

 

08/05/2015

 

 

 

 

A desestatização é crucial para mudar o país

Do que se trata é de desestatizar o tecido social e de afastar o controle dos partidos e clientelas sobre a vida do país, das empresas aos cidadãos, estejam estes a estudar, a trabalhar ou na reforma

 

 

 
É bom recordar aos mais jovens, que só conhecem do 25 de Abril a retórica da democracia conquistada, que o último ministério detido pelo Partido Comunista em Portugal, já perto do final do PREC, era o Ministério dos Transportes do 6.º Governo provisório, assegurado pelo Eng.º Veiga de Oliveira…

 

 

 

Décadas passadas, percebemos que não foi à toa que isso sucedeu. Ainda hoje se sente o controle que o Estado conquistou sobre o tecido sócio-económico do país. Até à bancarrota; até se tornar bandeira de todos os soberanismos, incluindo à direita, como no caso dos Estaleiros de Viana, para não falar do PS e dos seus apoiantes, em suma, dos partidos que tenham herdado o património estatizado pelo PCP.

 

 

 
Com efeito, se algo se deve criticar ao actual governo é não ter feito a maior parte das reformas exigidas pela crise, como a da segurança social, ou seja, a reforma das pensões perante o envelhecimento brutal da população e as desigualdades igualmente brutais que reinam entre nós nesse campo que consome praticamente um terço da despesa pública.

 

 

 

Tão importante ou mais como essa, outra das tarefas que o actual governo tinha de levar a cabo a fim de evitar uma nova bancarrota mas que apenas encetou, está a desestatização. Em especial a das empresas de transportes colectivos nacionalizadas no 25 de Abril e que sobreviveram até hoje sob a designação populista de «empresas públicas», cuja dívida acumulada sobe a mais de 20 mil milhões de euros.

 

 

 
Entre essas empresas, conta-se a TAP, cuja deterioração atingiu por estes dias a selvajaria moral de um acto de destruição deliberada por parte de um limitado grupo de funcionários estatais que se encontram entre os mais bem remunerados do país. O PS e os seus apoiantes, encabeçados neste caso pelo próprio António Costa, estão particularmente mal colocados para atacar a desestatização da TAP (gradual, para mais), quando o governo Guterres, do qual faziam parte os ministros Cravinho e o mesmo Costa, iniciou o processo de alienação da TAP no final de 1997 e só não a vendeu à Swisssair porque esta faliu antes, como de resto já aqui tive oportunidade de recordar. Foi nessa altura aliás que o PS, se não prometeu, deu a entender aos pilotos que poderiam vir a possuir a fatia da companhia que agora exigem…

 

 

 

E antes disso, já em 1991 o governo Cavaco preparara a empresa para a desestatização, transformando-a em sociedade anónima. Na altura, tive oportunidade de me pronunciar a favor da «empresa de bandeira» para salvaguardar o «hub» de Lisboa e até recebi uma carta do sindicato dos pilotos a agradecer a minha tomada de posição…

 

 

 

 

Só que hoje a liberalização económica do espaço aéreo e o surgimento das companhias «low cost» tornaram inviável a manutenção de monstros de gastos e de regalias insustentáveis como a TAP. Sobretudo numa altura em que o turismo em Portugal cresce, como está a acontecer neste momento, com percentagens de dois dígitos por ano, assumindo o papel de indústria transaccionável capaz de aumentar as nossas ainda escassas exportações.

 

 

 
É tudo isto que está em causa e é tudo isto que o PS, assim como os «patriotas de serviço», pretendem a todo o custo impedir. É isso que tem sucedido também às tentativas de desestatização das empresas urbanas de transportes colectivos. A CGTP já nem esconde que não está a fazer greve dia sim, dia não – seja no Metro, na Carris ou nos transportes do Porto – para defender os interesses dos trabalhadores, como reza o mantra sindical, mas sim contra a perda de controle estatal – em suma, controle político-partidário – sobre as empresas, os seus funcionários e os seus utentes.

 

 

 

 

Uma vez mais, António Costa, como antigo autarca de Lisboa mas agora também como candidato a primeiro-ministro, promete reverter as privatizações que o governo lançou tarde de mais a fim de reduzir as dívidas e libertar a população das grandes cidades da ditadura sindical. Esta estratégia corporativa do PS cheira demasiado às manobras semelhantes do Syriza de chantagear funcionários e utentes…

 

 

 
Do que se trata, pois, é de desestatizar o tecido social e de despolitizar o controle exercido pelos partidos e as suas clientelas sobre a vida do país, desde as empresas até aos cidadãos, estejam estes a estudar, a trabalhar ou na reforma.

 

 

 

Balsemão não foi muito coerente na sua breve prática política, mas tinha razão quando apelava, entre muito boa gente, à «libertação da sociedade civil» estrangulada pelos poderes do Estado, a começar pelo controle dos ordenados dos funcionários públicos e das pensões, os quais representam mais de 50% de uma despesa pública que já chegou a 53% do PIB nas vésperas da derrota de Sócrates, sem falar do que andava escondido em PPPs e quejandos.

 

 

 

Ainda há quem pergunte de onde vêm as dívidas do país? A dívida é o preço que nós estamos a pagar pelo controlo que os partidos exercem sobre nós!

 

 

 
Manuel Villaverde Cabral

 

 
14/05/2015

 

 

 

 

 

E se Portugal fosse o país mais florido do mundo?

Chama-se Evadream. O sonho do Paraíso juntou-se ao pragmatismo de Martin Luther King e fez-se português. A primeira iniciativa deste movimento chama-se “Bairros Floridos de Lisboa”.

 

 

 

Imagine o leitor que um dia é assaltado por um sonho persistente e aparentemente desconexo do seu contexto atual. E que nesse sonho vê um País inteiro em transformação. De repente, uma simples flor assume uma importância vital para um grande plano que, como acontece na natureza, ultrapassa a dimensão das pequenas coisas simples. Tal como o oxigénio, que nem se vê, é a fonte de toda a vida do Homem.

 

 

 

O primeiro impulso seria um vigoroso beliscão a pedir uma prova de que estamos cá. Logo a seguir, uma sensação de arrepio a vibrar por todo o corpo, como quando temos a certeza absoluta de que algo faz sentido, mesmo que a mente nos trave.

 

 

Finalmente, o duro confronto com a realidade diária e a necessária abertura ao escrutínio da sociedade. Se não reconhece este processo na sua história, certamente já se terá cruzado com outros que o relataram ou, no mínimo, terá sabido de percursos semelhantes. Eu conheço vários. É a loucura de que falava Steve Jobs – a dos que pensam que conseguem mudar o mundo. E alguns conseguem mesmo.

 
Hoje venho falar-vos de um sonho muito especial. E porque todos os sonhos começam numa pessoa, apresento-vos um verdadeiro Romano de apelido, apesar de não ser de Roma. Tó para os amigos. Responsável pela criação de uma das maiores agências de modelos, histórica, em Portugal – a Central Models. Figura conhecida e respeitada.

 

 

Arquiteto de formação, sempre viveu na estética, embrenhado nas possibilidades associadas à beleza, aos seus cânones e à influência que podem ter no nosso bem-estar (bem diferente do fugaz estar bem). A sua vida mudou quando, há 6 anos, sonhou o sonho mais bonito que alguém pode sonhar para o seu País – um Portugal em flor. Mas, sobretudo, um Portugal cheio da frágil força que a flor representa. Dos afetos que gera.

 

 

Do sentimento positivo que desperta. Uma visão validada pela constatação do quanto todos nós precisamos de tudo isso.

 

 
Mas, como os grandes sonhos se fazem na Terra, o nosso Romano viu o reflexo deste País Flor na economia que nos sustenta. As flores às janelas dos portugueses trariam movimentos de turismo a uma terra que já tem muitas cartas dadas nesta área.

 

 

 

Um turismo que iria muito além daquele, o do Sol, que sempre guiou o principal eixo de diferenciação neste setor e que se resume a um ou dois meses do ano: – Sim, porque em Portugal, temos flores que podem ser plantadas em todas as alturas do ano! Diria ele, se estivesse aqui agora.

 

 

Estas criaturas simples, que tudo aceitam, com os seus cheiros e cores, dariam origem a conteúdos e conteúdos que, alimentados pelo efeito viral típico da sociedade de informação atual, contagiariam o país e o Mundo. E fariam ecoar as vozes da Lusitânia, o sítio da Luz que lhes dá vida. Um exemplo disruptivo de uma onda positiva a nascer, aparentemente como um oásis, no meio de uma conturbada realidade económica.

 
Depois das flores, viriam, pois, os frutos. E, com eles, os produtos ligados à natureza, a terra e o interior. Um vislumbre de uma possibilidade democrática de protagonismo de todas as regiões que passariam a exibir as suas próprias flores a uma janela que mostrariam a todos, com orgulho.

 

 

Os empreendedores sociais que todos somos em potência, encarregar-se-iam de dinamizar as economias locais, em conjunto com as organizações e as pessoas. E Portugal poderia ambicionar ser o Jardim à beira-mar plantado que sempre, nostalgicamente, afirmou ser. E tudo a nascer de uma Ilha de Flores, como a dos amores de Camões.

 

 

Agora que já estão bem situados dentro deste grande sonho de um homem comum, vem a parte que todos, inevitavelmente, esperamos ansiosamente saber. O plano. Porque para passar do sonho á realidade, precisamos disto – do racional e, claro, da logística. E, acreditem, existe um, está em movimento e a ser implementado. Como sempre acontece para que algo grande se torne real, foi preciso que muitos se juntassem ao sonho, para criarem um movimento.

 

 

 

Chama-se Evadream. O sonho do Paraíso juntou-se ao pragmatismo de Martin Luther King e fez-se português. A primeira iniciativa deste movimento chama-se “Bairros Floridos de Lisboa”.

 

 

 

Com a parceria entusiástica da Câmara Municipal de Lisboa, do EGEAC, do Instituto Superior de Agronomia e da Associação Nacional de Produtores de Plantas – Flores Naturais, o Evadream desafiou a CML e todas as freguesias de Lisboa a escolherem um local simbólico da sua jurisdição para florirem. O primeiro vai ser a Praça do Município.

 

 

Muitas freguesias estão já a congeminar instalações inesperadas. Apenas para, depois de terem dado o mote, desafiarem moradores, comerciantes e quem quiser aderir a fazerem o mesmo nas suas casas, montras, esplanadas e recantos.

 
Juntam-se também à iniciativa muitas caras conhecidas de todos, figuras carismáticas de bairros típicos, uma moda de “flower selfies”, desafios a criativos e mobilização de empresas e organizações sociais. E, com isto, está criado o cenário para começar a gerar, à semelhança do que já aconteceu antes, uma enorme onda. Uma onda que, bem regada, vai florir e fazer florescer. E chegar a todo o território nacional. Já são muitas as regiões a quererem entrar nesta Barca.

 

 

 

Portugal conhece bem a força e o simbolismo das flores. Desde a rainha Santa Isabel e o milagre que as gerou, às que foram ícone e imagem da mudança para o sistema democrático que hoje conhecemos. É verdade que os grandes sonhos parecem difíceis de imaginar na sua “versão vida real”. Por isso são grandes. E se chamam sonhos. Mas também é verdade que, sem criarmos essa possibilidade dentro de nós, nada acontece. Por essa razão, o desafio que quero hoje deixar é este – em vez de cortarem pela raiz esta flor, abram-se à pergunta: E se…?!

 
Eu já fiz isso. Eu sonho e sou Evadream. Hoje, ofereci uma flor a uma pessoa desconhecida. E só vi esperança no seu olhar.

 

 
Frederico Vital

 
10/05/2015

 

 

 

 

Mas será que a guerra já terminou na Europa?

O Kremlin organizou paradas militares em mais de uma dezena de cidades russas, exibindo, pela primeira vez em público, alguns dos últimos êxitos, ainda secretos, do complexo militar russo.

 

 

 

Foram e são muitos os europeus que consideram que a guerra no Velho Continente é uma coisa que pertence a um passado cada vez mais distante e que dificilmente se poderá repetir, mas a realidade é outra. As celebrações do 70º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial mostram que a Europa não só continua dividida, mas mergulhada numa profunda crise, sem capacidade de encontrar novas soluções para resolver os problemas.

 

 

 

O Kremlin organizou paradas militares em mais de uma dezena de cidades russas, exibindo, pela primeira vez em público, alguns dos últimos êxitos, ainda secretos, do complexo militar russo. É verdade que algumas das novidades falharam em momentos nada apropriados, mas a justificação veio logo a seguir: o homem ainda não está preparado para trabalhar com máquinas tão sofisticadas.

 

 

 
Exemplifico: durante o ensaio geral da parada militar em Moscovo, o motor de um dos tanques mais modernos russos, o Armata, foi abaixo e o monstro metálico ficou parado no meio da rua. Dmitri Rogozin, o vice-primeiro-ministro encarregado do rearmamento das Forças Armadas russas, justificou assim a falha: “na realidade, neste caso concreto, a causa está na adaptação insuficiente do condutor a uma máquina tão complicada. Olhem para isso com calma. Trata-se de uma nova máquina muito complicada. Não se trata de um passo em frente, mas de dois”.

 

 

 

Na cidade de Tchita, no Extremo Oriente russo, uma plataforma de mísseis “BUK” começou a deitar demasiado fumo durante a parada, mas os bombeiros chegaram a tempo de resolver o problema.

 

 

 

Poucas ou nenhumas novidades se esperavam do discurso de Vladimir Putin na Praça Vermelha, o que acabou por acontecer. Foi uma no cravo, outro na ferradura. Ele constatou, e parece que ninguém discorda, que “os princípios básicos da cooperação internacional são cada vez mais ignorados nos últimos anos”, mas certamente que não teve em vista a anexação da Crimeia ou o seu apoio militar aos separatistas pró-russos no Leste da Ucrânia.

 

 
O Presidente russo fez uma coisa que não é muito normal na actual Rússia, ou seja, reconhecer o papel de outros povos na vitória sobre o nazismo: “Estamos gratos aos povos da Grã-Bretanha e França, dos Estados Unidos pelo seu contributo para a Vitória. Gratos aos antifascistas de diversos países que lutaram abnegadamente nas guerrilhas e clandestinidade, inclusive na própria Alemanha”.

 

 

 

Alguns poderão interpretar essas palavras como um sinal de que o Kremlin está disposto a dialogar com o chamado Ocidente a fim de normalizar as relações em vários sectores, mas o certo é que as armas não se calam no Leste da Ucrânia e um conflito em grande escala pode recomeçar a qualquer momento.

 

 

 
Não tenhamos ilusões, porque a guerra ainda não terminou na Europa.

 

 
P.S. Cada um tem o direito de convidar quem quiser para as paradas militares. Putin, entre muitos outros, convidou o actor americano Steven Segal, aquele que, no cinema, resolve tudo a tiro e bofetada, bem como o ditador do zimbabweano Mugabe.

 

 
Outro ditador: o presidente da Bielorrússia Alexandre Lukachenko, fez-se acompanhar, na parada militar que organizou no seu país, do seu filho mais novo. Embora com apenas 11 anos, a criança já trazia vestida a forma de comandante-chefe das Forças Amadas da Bielorrússia.

 

 

 
José Milhazes

 

 

 
13/05/2015

 

 

 

 

O império ortográfico

O Acordo Ortográfico é, entre nós, a última manifestação de um paroquialismo colonial que se voltou contra si próprio: não podendo aportuguesar o Brasil, vamos abrasileirar Portugal.

 

 

 

O chamado “Acordo Ortográfico” tornou-se obrigatório esta semana – ou talvez não, pois que tudo nesta matéria é confuso. O Brasil ou Angola são, geralmente, as razões dadas para passarmos do acto ao ato.

 

 

Mas o Brasil nunca mostrou demasiado entusiasmo ou pressa em partilhar uma mesma ortografia com Portugal – a nova grafia ainda nem sequer é obrigatória por lá. Quanto a Angola, continua a pensar. A parte portuguesa andou aqui à frente. Porquê?

 

 

 

Para perceber o Acordo Ortográfico, não basta recuar a 1990. É preciso, pelo menos, voltar a 1961. Nesse ano, o ditador Salazar, sem consultar o país, decidiu que Portugal desenvolvera com os povos extra-europeus sujeitos à administração portuguesa uma relação tão especial, que se justificava defender essa administração contra tudo e contra todos.

 

 

Em 1974, a direcção revolucionária das forças armadas, também sem consultar o país, decidiu abdicar dessa administração e abandonar territórios e populações à ditadura e à guerra civil dos chamados “movimentos de libertação”. Não renunciou, porém, ao mito da relação especial.

 

 

 

Essa relação teve uma novo avatar enquanto “solidariedade anti-imperialista”, quando uma parte do MFA também quis ser “movimento de libertação”, para depois, em democracia, se redefinir como “comunidade de língua”.

 

 

 

Foi assim que, para além das independências, as oligarquias democráticas mantiveram o império numa versão linguística, a que era consentida por uma das “línguas mais faladas do mundo”. Alguém então se terá lembrado que Fernando Pessoa escreveu algures que “a minha pátria é a língua portuguesa”.

 

 

Nunca importou a ninguém o que Pessoa quis dizer com a frase, logo entendida como o direito de qualquer português continuar a sonhar com mapas onde Portugal, sendo talvez pequeno, tem uma língua muito grande (“a sexta mais falada do mundo”, etc.). Acontecia, porém, que, entre Portugal e o Brasil, havia diferenças. Era preciso apagar esses vestígios de fronteiras, pelo menos no papel.

 

 

Só assim (argumentava-se), a língua poderia emergir como única e grandiosa, reunindo o que se separara e impondo-se ao que resistia. No fundo, este acordo ortográfico é apenas o sintoma de uma descolonização mal resolvida.

 

 

 

Dir-me-ão: mas não temos ou não deveremos cultivar as tais relações especiais com os Estados onde o português é língua oficial? Sim, claro. Mas é importante, a esse propósito, não esquecer duas coisas. A primeira é que relações especiais não significam necessariamente ausência de diferenças e de distâncias.

 

 

Estas diferenças e distâncias são aliás, no que diz respeito ao Brasil, muito mais profundas e irreversíveis do que convém admitir ao imperialismo linguístico. O português escrito no Brasil não se distingue apenas pela ortografia, mas pelo vocabulário e sobretudo pela sintaxe. A existirem, as relações especiais não deviam depender de quaisquer homogeneizações, irrelevantes ou impossíveis, mas de uma maior intensidade de comunicação, que habituasse portugueses e brasileiros às características de escrever e de falar uns dos outros.

 

 

 

Ao reconhecer isso, há porém que reconhecer isto: não há assim tanto interesse de um lado e do outro num intercâmbio demasiado enérgico. As culturas que tradicionalmente mais fascinam portugueses e brasileiros não são as dos outros países de língua portuguesa, mas, por muitas razões, a das grandes potências do Ocidente, como os EUA. Este Acordo Ortográfico é, portanto, uma ilusão.

 

 

Mas há uma segunda coisa: a língua portuguesa não nos une apenas ao Brasil ou a Angola ou a Moçambique, mas também à Espanha, à Itália, à França, mesmo à Inglaterra e a outros países europeus ou de formação europeia. E a esse respeito, o Acordo Ortográfico tem um efeito perverso: afasta o português escrito dessas outras línguas europeias, com as quais tem raízes comuns, por via da rejeição, como em reformas anteriores, da grafia etimológica.

 

 

 

A palavra acto assim escrita ainda sugere a palavra act para um inglês que não fale português. Ato, não. Num momento de integração europeia, optamos por uma grafia tropical, destinada a complicar a decifração do português pelos nossos vizinhos e parceiros mais próximos (como se já não bastasse a nossa pronúncia impenetrável). Não vou reclamar o regresso da philosophia.

 

 

 

Mas é pena que tivéssemos deixado de ter uma palavra que evocasse imediatamente a philosophie francesa ou a philosophy inglesa. Era aliás assim que Pessoa gostava da sua pátria: “Philosopho deve escrever-se com 2 vezes PH porque tal é a norma da maioria das nações da Europa, cuja ortografia assenta nas bases clássicas ou pseudo-clássicas”.

 

 

 
O Acordo Ortográfico é, entre nós, a última manifestação de um paroquialismo colonial que se voltou contra si próprio: não podendo aportuguesar o Brasil, vamos abrasileirar Portugal, a ver se salvamos o mapa onde não somos pequenos. Mas é precisamente assim que parecemos e somos pequenos.

 

 

A grandeza, hoje em dia, deveria consistir em tratar os países que têm o português como língua oficial sem fraternidades falsas, paternalismos deslocados, ou sujeições ridículas. E passa também por perceber que há muito mais populações, para além das que falam português, com quem temos uma história e um destino em comum.

 

 
O resultado de todos estes devaneios de imperialismo linguístico é que deixámos de ter uma ortografia consensual. O regime tenta agora compensar isso através do terrorismo escolar exercido sobre crianças e jovens. O que começou como um disparate acaba numa indignidade.

 

 

 

Rui Ramos
Observador
16/05/2015

 

 

 

 

A verdade (ilustrada) a que temos direito

Nos jornais reina a hipocrisia e quando a realidade não é compatível com a ideologia omite-se. Mete-se em letras pequeninas. Arruma-se num cantinho. Faz-se quase de conta que afinal não aconteceu nada.

 

 

Estas primeiras páginas do PÚBLICO e do Jornal de Notícias do dia 8 de Maio – um dia após as eleições britânicas – são uma eloquente introdução ao jornalismo português. Onde estão os resultados?

 

 

A verdade (ilustrada) a que temos direito1

 

 

Em Portugal as redacções são de esquerda, facto em si mesmo nem bom nem mau e que nada tem de original. O problema, ou melhor dizendo o nosso problema, é que essa pertença traduz-se num fenómeno do domínio do paranormal pois só o esoterismo consegue explicar que tendo as redacções como propósito fazer notícias e dependendo o seu sucesso da sua capacidade para as produzir acabem a esconder notícias relevantes simplesmente porque elas põem em causa a sua narrativa prévia sobre o mundo.

 

 

Uma narrativa que garante que os partidos que cabem no espectro do progressismo (seja isso o que for!) são invariavelmente os vencedores e que se tal não acontece essa anormalidade só se explica por chapeladas, manipulação ou obscurantismo dos eleitores.

 

 

 

E assim, como a maior parte das nossas redacções está convicta de que nenhum povo poderá votar num partido que além de se dizer conservador defende a austeridade, a derrota de Cameron foi dada como certa. Como tal não aconteceu, apesar de todas as certezas prévias dos enviados especiais, só resta escondê-lo.

 

 

 

Pelo mundo fora há quem proteste. Há quem dê conta da sua fúria como fez o Daily Mirror que naquela que considero a melhor capa sobre o resultado destas eleições britânicas, clama contra o que considera serem mais cinco anos de governo do primeiro ministro David Cameron.

 

 
Pode ou não concordar-se com a posição do Daily Mirror mas a capa é indiscutivelmente boa. Contudo em Portugal nunca se faria uma capa destas. Nós somos todos oficialmente neutros. E confundimos esses estado de sonsismo a que chamamos neutralidade com rigor e independência.

 

 

 

Ninguém toma posição a favor ou contra. (Curiosamente, uma das raras vezes que um meio de comunicação tomou posição – a Rádio Renascença aquando do referendo ao aborto – a sua cobertura jornalística foi não só rigorosa como equilibrada.)

 

 

Na prática a hipocrisia reina e quando a realidade não é compatível com a ideologia omite-se. Mete-se em letras pequeninas. Arruma-se num cantinho. Faz-se quase de conta que afinal não aconteceu nada e varre-se para debaixo do tapete.

 

 

 

Estas primeiras páginas do Jornal de Notícias e do PÚBLICO tornam-se ainda mais eloquentes quando colocadas ao lado daquelas que essas mesmas publicações dedicaram há bem poucos meses à vitória do Syriza. Esse exercício de comparação foi feito pelo blogue Insurgente (que também englobou o Diário de Notícias). O resultado fala por si.

 

 

A verdade (ilustrada) a que temos direito2

 

 

 

A verdade (ilustrada) a que temos direito3

 

 

A incapacidade de noticiar o que não cabe no enquadramento ideológico que os rege é uma característica que tem acompanhado os jornalistas portugueses na democracia. Livres do exame prévio é como se continuassem previamente a ter a certeza do que vai acontecer, do que devem escrever e dizer.

 

 
Para a História e memória dessa sobranceria iluminada dos jornalistas logo no nascimentos da democracia ficou aquela reportagem da RTP aquando das eleições de 1975 em que, na fase da apologia do voto em branco, para “todos os que não saibam em quem votar”, o jornalista pergunta no Minho a uma mulher vestida de negro (símbolo para qualquer jornalista do Portugal rural e atrasado que naturalmente não sabia em quem votar) se ela sabia o “que é uma Assembleia Constituinte?” Ao que a mulher respondeu prontamente com outra pergunta:“E o senhor sabe o que é um almude?”

 

 

 

A resposta definitiva chega na pergunta seguinte: “Então porque vai votar?” pergunta com algum paternalismo o jornalista. Sem perder mais tempo ela diz: “Pelo futuro de Portugal”. A reportagem acabou ali.

 

 

 

O lápis azul da censura do Estado Novo passou automaticamente a lápis mental rosa, às vezes vermelho na democracia. Graças a ele os jornalistas portugueses deitaram fora a oportunidade de fazer algumas daquelas que podiam ter sido as suas melhores reportagens. Veja-se o caso dos retornados.

 

 

Só depois de milhares e milhares de pessoas terem fugido e dos seus caixotes começarem a atravancar os portos é que vemos os primeiros retornados nos jornais. Mas daí até entrevistá-los foi um passo que demorou frequentemente anos.

 

 

E mesmo assim com os jornalistas a fazerem enquadramentos vários sobre se eram retornados ressentidos ou não ressentidos, se tinham sido exploradores ou explorados, colonialistas ou vítimas do colonialismo.

 

 

Mais, de Angola e Moçambique, entre Julho de 1974 e meados de 1975, foram expulsos pelas autoridades militares portuguesas vários jornalistas e líderes políticos acusados de “agressão ideológica” sem que tal perturbasse em Lisboa a classe que até 25 de Abril de 1974 se mostrara tão sensível às prepotências do poder.

 

 

 

Em boa verdade se tivesse de escolher um lema para ilustrar o pensamento dominante em muitas redacções optaria pelo slogan do desaparecido O Diário, jornal afecto ao PCP que se anunciava como trazendo “a verdade a que temos direito”.

 

 

De facto O Diário dava aos seus leitores a verdade a que os comunistas achavam que eles tinham direito. Como os leitores achavam aquela verdade muito especial ou por assim dizer pequenina, O Diário foi perdendo leitores e não resistiu ao desmoronar do mundo comunista: fechou abruptamente em Junho de 1990.

 

 
Ironia das ironias, como nesse ano os feriados se colaram ao fim-de-semana o seu desaparecimento quase só se percebeu uma semana depois e, perante a indiferença geral, os seus trabalhadores foram despedidos ao abrigo das alterações à lei laboral levadas a cabo pelo então primeiro-ministro Cavaco Silva que o mesmo PCP acusava dos crimes mais nefandos por causa de querer instituir no país o despedimento colectivo.

 

 

 
O Diário fechou mas o conceito de “verdade a que temos direito” esse manteve-se. E nem é na política que causa maior dano este circunscrever das notícias à verdade a que os leitores têm direito na óptica do pensamento avançado das redacções.

 

 

Afinal há sempre um dia em que os resultados eleitorais desmontam essas certezas. E ao contrário do que se possa pensar nem sempre os líderes amados pelas redacções acabam beneficiados por esse fervor.

 

 

Veja-se o caso de António Costa que levado em ombros pelas redacções como o líder que seria capaz de fazer o PS descolar nas sondagens está agora com uma imagem de perdedor porque não consegue obter os resultados que a boa imprensa associava automaticamente ao seu nome.

 

 

 

Mas como disse não é no noticiário político que este vigorar da “verdade a que temos direito” tem mais impacto. É sim nas notícias sobre o quotidiano e naqueles temas que se tornam causas que essa “verdade a que temos direito” se torna na verdade indiscutível.

 

 

 

Assuntos como o aquecimento global, racismo, igualdade, insegurança tornam-se no pretexto para a divulgação de um pensamento único em que nem se admite o simples acto de discordar.

 

 

 

Podia dar centenas de exemplos daquilo a que nos conduziu esta “verdade a que temos direito” levada ao extremo. Mas vamos ficar por outra imagem. Esta reproduzida na página 10 do Diário de Notícias de 6 de Outubro de 2013. Era acompanhada de uma pequena legenda onde se lia “Homenagem aos Bravos da Rotunda. Sargentos.

 

 

 

Os “Nove Bravos da Rotunda” foram ontem homenageados numa iniciativa do jornal O Sargento, na Praça do Marquês de Pombal, em Lisboa. Acampados na praça de 4 para 5 de outubro de 1910, decidiram ali continuar, numa “ação determinante” para o êxito da revolução”.

 

A verdade (ilustrada) a que temos direito4

 

 

Mas se repararmos bem na imagem lá ao fundo desfilam vários manifestantes. O que quereriam? A legenda desta foto não o diz. Nem eles são referidos em parte alguma dessa edição do jornal. Nem dos outros jornais. Alguns blogues deram conta da sua estranheza mas o assunto não mereceu qualquer destaque.

 

 

 

Aliás segundo um dos participantes nessa manifestação mediaticamente invisível, José Ribeiro e Castro, à excepção da Lusa e da Rádio Renascença não houve qualquer outra referência àquela manifestação que vemos ao fundo nesta fotografia. Como foi isto possível?

 

 

 

Foi possível porque aquela manifestação não cabia no conceito de verdade a que temos direito: aqueles manifestantes desfilavam contra o aborto e a verdade a que temos direito só nos dá o direito a sermos informados sobre manifestações a favor do aborto.

 

 

 
Esta fotografia é um símbolo do jornalismo a que temos direito em Portugal: o repórter fotográfico saiu da redacção do Diário de Notícias, que por sinal ficava mesmo ao lado, e foi fazer a foto da homenagem aos revoltosos de 1910. De entre as fotos que fez seleccionou-se a melhor.

 

 

Na redacção alguém fez uma legenda a explicar o que faziam aquelas vinte ou trinta pessoas ao pé da estátua do Marquês de Pombal. Lá ao fundo passava uma manifestação. Reunia centenas de pessoas: 500 para a Lusa, mais de mil para os organizadores. Mas sobre ela caía o manto da invisibilidade da verdade a que temos direito.

 

 

 

Helena Matos

 

 

10/05/2015