A Académica jogará assim na Liga 3 em 2022/23, depois de 88 épocas consecutivas entre a primeira e a segunda divisões do futebol luso.
A histórica Académica, vice-campeã nacional em 1966/67, caiu hoje, pela primeira vez na sua história, para o terceiro escalão do futebol português, ao empatar a zero com o Penafiel, em jogo da 30.ª jornada da II Liga.
Em Coimbra, o empate consumou a oitava descida da história da Académica, a primeira ao terceiro escalão, uma vez que, com quatro rondas por disputar, os ‘estudantes’ matematicamente já não podem deixar os lugares de despromoção: somam 16 pontos, menos 11 do que o Académico de Viseu, também em zona de despromoção direta, e 12 do que o Trofense, que ocupa o lugar reservado ao ‘play-off’ de manutenção, com estas duas equipas a defrontarem-se ainda hoje.
A Académica, um dos históricos clubes nacionais, jogará assim na Liga 3 em 2022/23, depois de 88 épocas consecutivas, desde 1934/35, entre a primeira e a segunda divisões do futebol luso, num trajeto que até hoje contava com sete descidas e 24 presenças na divisão secundária.
Apesar desses ‘percalços’, a história da ‘Briosa’ fez-se, sobretudo, no escalão principal, entre os ‘grandes’ e tem como ponto alto o segundo lugar conquistado na época 1966/67, na qual lutou até ao fim com o ‘grande’ Benfica, de Eusébio, que na época seguinte jogou a final da Taça dos Campeões.
Artur Jorge, Rui Rodrigues, Vítor Campos, Rocha, Maló, Celestino, Ernesto, Marques, Gervásio, Crispim, Curado, Vieira Nunes, Mário Campos, Serafim e Toni foram nomes que entraram para a ‘lenda’ da Académica, como vice-campeões nacionais.
Os ‘estudantes’, que acabaram a prova com 18 vitórias, quatro empates e quatro derrotas, ainda lutaram pelo cetro até à 19.ª jornada, de 26, na qual comprometeram o ‘sonho’, ao perderem por 1-0 na receção ao Benfica, que acabaria campeão.
Na divisão ‘maior’, a Académica não mais lutou pelo título, mas conquistou outros lugares muito honrosos, nomeadamente os quartos de 1964/65 e 1967/68, o quinto de 1970/71 e os sextos de 1965/66 e 1968/69, nesta última edição com 19 golos de Manuel António, que acabou como melhor marcador da prova.
A ‘Briosa’ fechou o ‘top 5’ pela última vez em 1970/71, sendo que até essa altura só tinha falhado a divisão principal uma vez, em 1948/49, época em que venceu a fase final da II divisão, após o 14.º e último lugar de 1947/48.
Depois, as presenças no segundo escalão começaram a aumentar, duas ainda na década de 70, cinco na de 80, um recorde de oito na de 90, na qual só esteve entre os ‘grandes’ em 1997/98 e 1998/99, duas na primeira do século XXI e quatro na segunda.
A Académica somou a sétima descida ao segundo escalão em 2015/16 e, depois disso, nunca mais voltou, embora tenha acumulado sempre boas classificações: sexto lugar em 2016/17, quarto em 2017/18, quinto em 2018/19, sétimo em 2019/20 e quarto na temporada transata.
Para a presente época, os ‘estudantes’ perderam muitos dos ‘craques’ que brilharam em 2020/21, começaram desde cedo a acumular treinadores e, a ‘longas’ cinco rondas do fim, têm confirmada a descida ao ‘abismo’, numa inédita participação no terceiro escalão do futebol luso, agora denominado Liga 3.
Esta é a oitava descida da história da Académica, depois de sete do primeiro para o segundo escalão, em 1947/48, 1971/72, 1978/79, 1980/81, 1987/88, 1998/99 e 2015/16, sendo que, só em dois ciclos, cumpriu mais de três épocas seguidas no segundo, nove entre 1988/89 e 1996/97 e seis de 2016/17 a 2021/22.
Nas passagens pela segunda divisão, nas zonas Norte e Centro, na II Honra ou na II Liga, os ‘estudantes’ tinham acabado sempre no ‘top 8’, sendo exceção a época 1995/96, na qual se ficaram pelo 15.º posto, um acima da zona de descida.
A Académica só garantiu a manutenção na 33.ª de 34 jornadas, acabando apenas dois pontos à frente do Nacional, que ficou no 16.º posto e caiu para a então II divisão B.
Essa temporada tinha sido, porém, a exceção, com os ‘estudantes’ a ficarem sempre mais perto de subir do que de descer, como aconteceu na época 2020/21, em que acabaram imediatamente atrás das três formações promovidas, uma delas, o Arouca, depois de bater o Rio Ave no ‘play-off’.
Um ano depois, a queda ao terceiro escalão é quase certa, de um clube que, há menos de uma década, em 2012/13, estava a disputar a fase de grupos Liga Europa, na qual conseguiu vencer os espanhóis do Atlético de Madrid (2-0 em Coimbra).
Esta presença aconteceu depois da histórica vitória na edição 2011/12 da Taça de Portugal, com um triunfo por 1-0 sobre o Sporting, selado por Marinho, na final do Jamor, a reeditar o triunfo da edição inaugural (4-3 ao Benfica, em 1938/39).
Em 2013/14, a Académica conseguiu outro feito invulgar nos últimos anos, ao acabar o campeonato principal no oitavo lugar, a melhor classificação desde o sétimo posto de 2008/09, o outro ‘top 10’ do século XXI.
Para 2022/23, o programa de ‘festas’ perspetiva-se bem mais desinteressante, com a participação na Liga 3, na qual estão esta época outros históricos do futebol português, como o Vitória de Setúbal, a União de Leiria ou o Alverca.
Presidente da Académica considera descida à terceira divisão “página negra”
Pedro Roxo, presidente da Académica Académica de Coimbra, considerou hoje que, desportivamente, a descida à terceira divisão, pela primeira vez em 134 anos de história, é a página “mais negra” do futebol do clube.
“Obviamente, que este é um momento desportivamente muito negro”, disse Pedro Roxo, em conferência de imprensa, no final do jogo da ‘Briosa’ com o Penafiel, realizado esta manhã, que terminou empatado sem golos e que sentenciou a descida de divisão.
O dirigente assumiu que a “época desportiva falhou” e que assume todas as responsabilidades, salientando que a Académica “não pode terminar por aqui”, já que tem uma “histórica rica, que nos fará reerguer”.
Na conferência de imprensa que se seguiu ao final do jogo, Pedro Roxo anunciou um parceiro (Athlon) para a constituição de uma Sociedade Anónima Desportiva (SAD), referindo que se candidatou com o projeto de alterar a atual estrutura do clube.
“A Académica tinha e tem dificuldades que não lhe permitem ombrear com as outras equipas dos campeonatos profissionais”, disse o líder academista, recordando que o parceiro escolhido aceita as condições e regras impostas pela direção-geral da Associação Académica de Coimbra, que é a casa mãe do OAF.
O presidente da direção da ‘Briosa’ assumiu também a responsabilidade de “tornar a Académica mais forte, competitiva e com futuro”, embora não tenha assumido que é recandidato ao cargo nas eleições agendadas para 15 de maio.
Salientando que o projeto de constituição da SAD não é “desta direção, mas da Académica”, Pedro Roxo referiu que este passo é a solução que vai permitir ao clube “ter viabilidade e um futuro”.
O dirigente lamentou que só agora tenha sido possível apresentar o parceiro e disse que assim que a comissão criada no seio do Conselho Académica para estudar a proposta se pronuncie, os sócios estarão em condições de votar o projeto da SAD.
“A Académica vai voltar mais forte, mas precisa de se unir para recuperar rapidamente”, sublinhou.
“Futebolisticamente falando, somos muito ignorantes”, disse José Castro
Declarações de Zé Castro, capitão da Académica, no dia em que ficou consumada a descida da Briosa ao terceiro escalão do futebol português.
Reação a descida de divisão: “O futebol ensina-nos muita coisa, o futebol é isto mesmo, uma aprendizagem para todos. Os jogadores, para o bom e para o mau, para mim, são os principais culpados. Temos de assumir as responsabilidades, no bom e no mau. É o futebol. Faz parte. Temos de mudar um bocado a nossa cultura futebolística, ninguém é melhor por perder ou ganhar. Temos de deixar de pensar isso. Futebolisticamente falando, somos muito ignorantes. Não somos analfabetos, porque analfabetismo é quem nunca pôde aprender. Quem pôde aprender e não quer, é ignorante. A nível de futebol ainda somos um país bastante ignorante. Temos muito que aprender.
Impacto da descida: “Para a Académica é um passo atrás. O clube pode destruturar-se, mas pode depois dar dois passos à frente. Oxalá seja assim. A Académica é o meu único clube e vai ser sempre o meu único clube. Isto acontece. Um dia a uns, outro dia a outros. A nossa cultura tem de mudar um bocado um bocado. Temos de nos preparar para mudar isso. Cada vez há menos gente a gostar de futebol. Cada vez há mais gente a querer só ganhar e não gosta dos clubes, aproveita-se. Temos de gostar de futebol primeiro e depois seguir em frente. Não desresponsabilizar os jogadores. Oxalá a Académica cresça. Não tenho de pedir desculpas, porque quem dá tudo não tem de pedir de desculpas. Espero que o clube suba já no próximo ano e consiga aquilo que merece, que é estar no patamar mais alto do futebol.”
É o fim da sua carreira como jogador? “Era o meu último ano como jogador, os meus colegas sabem, toda a gente sabe. Mas é o menos importante. Nunca me aproveitei das coisas.”
E agora? “Vou estar fora do futebol pelo menos por um ano. O futebol dá muito e tira muito. Neste momento momento não sou nada nem ninguém. Nem quero saber de mim neste momento. Não quero pensar em mim, farei a minha vida. A Académica é muito mais importante do que qualquer jogador e qualquer pessoa. As pessoas devem sempre tentar ter mais conhecimento com quem sabe.”
TPT com: Sportinforma / Lusa// Sapo//16 de Abril de 2022