Joe Pinto, um lutador luso americano na América, com coração de guerreiro

Joe Pinto tem 45 anos e nasceu no Ironbound, Bairro Leste da cidade de Newark, no estado de New Jersey.

É filho de pais do concelho de Cantanhede, Distrito de Coimbra e começou a praticar karaté quando tinha apenas 4 anos de idade. Depois de ter participado em vários campeonatos e ter ultrapassado vários escalões ao longo dos anos, Joe Pinto teve a sua primeira luta profissional de “Vale-Tudo”(UFC), aos trinta e oito anos de idade.

 

Na sua estréia profissional, Joe Pinto derrotou Darren Costa por TKO na segunda rodada na CFFC 24 (CAGE FURI FIGHTING CHAMPIONSHIP), mostrando estar preparado para qualquer situação dentro da luta.

 

Joe Pinto nos seus combates entra bastante agressivo, mas com técnica, dosando na hora certa. Ele não é de se expôr, é um atleta maduro, que sabe a hora de ser agressivo e a hora de não ser, buscando o nocaute ou a finalização, mas sempre com inteligência.

 

Em conversa com o The Portugal Times.com,  e, em bom português, o atleta luso-americano referiu entre outros temas que, “dentro da UFC é quase impossível lutar com um atleta que não seja ágil e duro”, explicou.

 

Especialista em várias modalidades de artes marciais, Joe Pinto reuniu, e ainda reune condições físicas para defontrar lutadores de alto nível técnico para não só competir, mas também para se tornar vencedor em qualquer categoria disputada.

 

Treinado pelos técnicos da UFC Jim Miller e Dan Miller, junto com os notáveis ​​Micky Gall e Sean Santella, Joe Pinto recorda-nos uma das lutas mais marcantes da sua carreira. “Quando derrotei o lutador Daniel Holmes em viril combate no CFFC 48”.

 

 

Como é de compreender, os treinos para este género de desporto também não são nada fáceis. Sobre a preparação física e técnica  para um combate de título, Joe Pinto diz que “um combate de título envolve muito mais do que o choque frontal de dois adversários em luta pelo mesmo objetivo. A preparação do combate requisita o esforço combinado de saberes físicos e psicológicos, a fim de que o atleta esteja nas melhores condições no dia do desafio”. Para Joe Pinto, “vencer o combate é, sem dúvida, o objetivo maior de qualquer atleta, mas importa não esquecer que acima de tudo tem de reinar o espírito desportivo. Realizar o desafio dentro do fair play e da civilidade indispensáveis, são requisitos que não devem nunca ser menosprezados”.

 

A pensar nos novos lutadores e em jeito de conselho para a juventude e outros atletas, Joe Pinto alerta que é importantíssimo que o atleta siga uma dieta alimentar equilibrada e rica em todos os nutrientes necessários à saúde, e que se alimente, o melhor possível, face à exigência da sua actividade e que se abstenha de noitadas, consumo de álcool e de outras substâncias ilícitas. “É de toda a utilidade que o atleta pratique um conjunto de regras de vida saudáveis aonde o deitar cedo, respeitando um número mínimo de horas de repouso indispensáveis ao bom funcionamento físico e mental, ocupe lugar de destaque. Também é fundamental que o atleta se autopreserve de exposições a elementos prejudicais à saúde tais como fumos de cigarros, fumos de escapes de automóveis etc., pois todos esses agentes poluentes se refletem na forma como respira, prejudicando o rendimento em combate. Depois, e como compreende, o que qualquer treinador, adepto e o público em geral requer do atleta é dedicação, esforço, trabalho e muito espírito desportista. E um pouco de sorte, que também convém não faltar”, referiu Joe Pinto com um sorriso nos lábios.

 

Entre os nomes dos seus adversários estão os de Azunna “Zulu” Anyanwu, Daniel Holmes,  James Raffone, Frankie DS Mma e Steven Frohlich, entre muitos outros, com destaque para a última luta  entre Joe Pinto e o campeão Azunna “Zulu” Anyanwu, que teve lugar no dia 29 de Outubro de 2016 no casino Borgata, na cidade de Atlântic City, estado de New Jersey e da qual o lutador lusoamericano saiu derrotado injustamente.

 

Porém, em quase todos os combates, a claque de Joe Pinto, com direito a vaias para os juízes quando a decisão não é favorável, sai feliz dos ringues graças aos resultados obtidos e às vitórias alcançadas por este lutador lusodescendente.

 

Joe Pinto, durante a conversa que teve com a nossa equipa de reportagem, deixou outro conselho aos futuros lutadores e não só; “nunca se esqueçam que como em tudo na vida, quando algo desafiador acontece, não nos podemos dar ao luxo de qualquer distração. Distração é igual à dissipação de energia, o que vai diminuir as chances do lutador seguir o processo de modo satisfatório e começar a mudar a situação”, refere.

 

“Assim, não podemos esquecer que toda essa sensação borbulhando dentro de nós e toda essa energia potencial, precisa ser canalizada a fim de gerar mais resultados positivos”, referiu.

O “Vale Tudo” popularizou-se nos Estados Unidos com o nome de Ultimate Fighting Championship (UFC), onde a regra consiste em cada lutador pôr em prática a modalidade treinada. Os atletas estão aptos em vários campos e em várias modalidades de luta, com uma resistência gigantesca e muito poderio físico.

 

Hoje em dia, com a evolução, profissionalização e regulamentação da modalidade, a curiosidade geral aumentou tanto a nível de regras como de interesse, ganhando inúmeros adeptos e simpatizantes e é muito popular em todo o mundo.

Os praticantes são examinados por médicos no início e final das lutas e foram também criadas categorias de pesos para não existir um desnível na competição.

 

Segundo a filosofia destes lutadores esta actividade tem como finalidade o desenvolvimento físico e psicológico do homem, assim como, dotá-lo de mecanismos de defesa próprios contra qualquer tipo de agressão.

 

Esta modalidade desportiva é muito completa pois trabalha a auto confiança e a auto-estima dos seus praticantes. O “Vale Tudo”, segundo o árbitro Ricky Vera, “aprimora os reflexos humanos e desenvolve a coordenação motora, administrando a ansiedade e as emoções, recorrendo à utilização de todos os músculos do corpo, o que permite aos atletas uma vincada evolução da sua resistência cárdio-vascular, potência muscular e elasticidade, e por outro lado, a vertente psicológica, que permite conhecer a garra e a vontade destes homens, autênticos gladiadores que se enfrentam”, disse Ricky Vera ao The Portugal Times.

 

“Uma modalidade assim poderia, à primeira vista, ser considerada perigosa por alguns, mas a verdade é que existem regras rigorosas destinadas a proteger os praticantes”, disse o lutador lusoamericano.

 

Os combates têm a duração de três rounds de 5 minutos cada (isto pode variar consoante a organização ou a existência de um título em jogo). São proibidos golpes aos olhos, órgãos genitais, nuca e espinha dorsal, bem como cabeçadas e torção de dedos.

 

Qualquer um dos lutadores pode desistir a qualquer momento, e tanto o árbitro como o médico da organização estão permanentemente atentos à condição dos atletas, colocando a segurança destes em primeiro lugar.

Um lutador tem de estar preparado para qualquer situação: se for mandado para o chão terá que se sentir à vontade para lutar no solo. Se o confronto se desenrolar com punhos e pontapés também tem de estar à vontade nesse campo.

 

 

Segundo Joe Pinto, “há quatro maneiras de perder um combate: KO: quando um lutador perde a consciência em virtude de golpes ou outros impactos. Quando é feita uma chave: torcer por exemplo um braço ou um pé ao adversário de modo a que ele desista. KO técnico: quando o árbitro pára o combate por um dos atletas estar em inferioridade e por último, existe a vitória tradicionalmente atribuída por juízes através de pontuação”.

 

O “Vale Tudo” é, resumidamente, um desporto único e incomparável. Depois de conhecer esta actividade de guerreiros, certamente que nomes como Bruce Lee, Jackie Chan, Steven Seagel ou mesmo Chuck Norris mais se parecerão com meninos de côro em comparação com os praticantes do “Vale Tudo” – verdadeiras personagens de um enorme arsenal bélico!

 

Com a idade da reforma de atleta a aproximar-se Joe Pinto reconhece que saber lidar com as dificuldades da vida é, de longe, a habilidade mais importante que se pode desenvolver como ser humano.

 

Para este lutador luso-americano, descendente do concelho de Cantanhede, distrito de Coimbra, o estoicismo sugere o desenvolvimento do autocontrole e da firmeza, como um meio de superar emoções destrutivas.

 

 

Joe Pinto faz questão de enfatizar a necessidade da melhoria ética do indivíduo e como o seu bem-estar está relacionado com a prática de virtudes. “Eu gosto especialmente desse ponto, já que se conecta bem com a nossa busca por crescimento pessoal e automestria”, referiu o lutador luso.

 

Já a pensar no seu futuro, Joe Pinto que tem a família sempre em primeiro lugar na vida, para além das suas competições como lutador, ocupa já parte do seu tempo a arbitrar sendo considerado uma figura correcta que garante que as regras oficiais são cumpridas, tornando-se também, como é óbvio, a figura mais importante dentro do ringue, devido à autoridade que tem para desclassificar ou dar a vitória a alguém.

 

 

 

Para além da arbitragem, Joe Pinto projeta também o seu futuro como treinador

 

 

 

Devido aos conhecimentos adquiridos durante mais de 40 anos no campo de diversas artes de luta, bem como a sua experiência no campo social de dias difíceis que não chegavam ao fim, como se a esperança estivesse enterrada, Joe Pinto não descartou esta ideia e prometeu-nos que, “vou-me focar nisso quando parar de lutar”, sorriu.

 

Para um treinador, Joe Pinto diz que “no contexto de uma comunidade, não é só ensinar a técnica, mas verificar também se o aluno se está a sentir bem emocionalmente, sentimentalmente e fisicamente”.

Segundo Joe Pinto, os valores que serão enfatizados por ele aos jovens “são e serão sempre, os valores de amizade, do respeito e da excelência. Acredito que com o fortalecimento desses valores, educadores e jovens desenvolverão habilidades que poderão ser aplicadas em outros aspectos de sua vida quotidiana”, disse.

 

No final da nossa conversa, o lutador Joe Pinto que chegou ao escalão mais alto da modalidade confidenciou-nos que o sonho de lutar por cinturões nos maiores eventos do mundo e viver como profissional do desporto conta com diferentes histórias de vida, “mas com um factor em comum: a dificuldade de se manter o treino em alto nível, já que são diversos os problemas, como sejam conciliar o trabalho com o treino diário, quebrar preconceitos de género, para manter uma dieta equilibrada. Essas questões influenciam muito o desempenho e mexem principalmente com a psicologia dos atletas.

 

Para aqueles que querem seguir lutando profissionalmente, Joe Pinto lembrou que devem ter disponibilidade de treinar pelo menos quatro horas por dia. “E que ninguém duvide que há mais gente que desiste do que fica. O caminho de formação de um atleta é longo. Já vi muita gente talentosa desistir no meio do caminho porque é muita a pressão, aliada a que o financiamento da maioria dos atletas é feito por meio de bolsas, cachês, venda de bilhetes e patrocínios”, diz.

 

Ganhar as lutas marcadas garante dinheiro para investir na carreira, mas isso não basta para se manter: quem compete tem que buscar autopromoção e, na maioria das vezes, ajudar a própria organização em que lutará, pois eventos nacionais não têm a verba que os maiores do mundo possuem. O dinheiro da bolsa e do cachê de quem compete geralmente é determinado pelo número de ingressos vendidos. Joe Pinto foi um dos muitos atletas que sonhando em conseguir um lugar no UFC, teve que vender entradas para garantir a sua renda em algumas lutas. Caso ele não conseguisse vender, receberia menos dinheiro. Por essa dificuldade, alguns profissionais decidem tornar-se professores para conseguir um sustento melhor.

 

 

Joe Pinto faz também questão de lembrar que mais dolorido do que qualquer golpe sofrido em uma luta, o caminho para se tornar profissional de um desporto tão forte e concorrido é difícil para todos aqueles que têm o sonho de conquistar um título mundial. Lutadoras e lutadores passam por dificuldades diferentes, situações variadas, mas a ambição é a mesma: “fazer com que tudo isso valha a pena no final”, concluiu.

 

O “Vale-Tudo” (UFC), é uma modalidade de combate sem armas, onde os lutadores utilizam apenas os seus corpos para ferir e possui com isso, poucas regras, o suficiente para preservar a integridade física dos lutadores, bastante amplo em termos técnico-táctico com um sistema muito próprio de preparação e desenvolvimento bastante complexo devido à exigência das lutas.

 

 

O evento que mais difundiu a modalidade foi o Ultimate Fighting Championship, que em seus primórdios havia menos regras e restrições, além de haver várias lutas na mesma noite, sem limite de tempo (UFC 1, UFC 2, UFC 3, UFC 4). No Japão, os principais eventos foram “O Open Japan Free Style” e O PRIDE Fighting Championships que já destacou muitos lutadores de diversas categorias de artes marciais.

 

 

 

TPT com: JM//CMM//The Portugal Times.com//20 de Dezembro de 2016

 

 

 

 

 

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