“Não há muros suficientemente altos para travar pessoas com fome”, diz Obama no Porto

 Era uma das conferências mais aguardadas do ano em Portugal: Obama foi ao Porto, falou das suas preocupações ambientais – que lamenta que não sejam as do seu sucessor – e uma das declarações mais aplaudidas versou sobre os muros da dignidade (ou falta dela).

 

 

“Yes, we can.” O slogan que ajudou Barack Obama a conquistar a Casa Branca foi dito apenas uma vez na cimeira Climate Change Leadership, no Porto, por Catarina Furtado, a apresentadora do Climate Change Leadership Porto 2018, mas quem ouviu esta sexta-feira o 44º presidente dos Estados Unidos percebeu que esta pode ser, também, a frase certa para falar de alterações climáticas. Todos juntos “podemos fazer a diferença” e vencer este desafio.

 

 

Barack Obama, o principal orador desta cimeira, foi claro neste ponto. Afirmou que “podemos reduzir as emissões de gases em 30% a 35% com as tecnologias que já existem”, frisando que, apesar de o seu sucessor na Casa Branca, Donald Trump, “não concordar com as suas iniciativas ambientais, o caminho iniciado terá continuidade”. “Tenho confiança de que a política dos EUA se alinhe novamente com o pensamento científico [nestas matérias]”, avançou.

 

 

As perguntas previamente selecionadas a que respondeu nesta conferência podem contar-se pelos dedos das mãos, mas, durante uma hora, sem nunca citar o nome de Donald Trump, o ex-presidente do EUA fez várias referências ao atual presidente, como quando destacou as boas notícias – leia-se “boas” com ironia – nesta área: uma dessas é que “o meu país foi o único a sair do acordo de Paris”. Uma das citações mais aplaudidas da tarde foi outra referência indireta a Trump: “Há uma altura em que não há muros suficientemente altos para impedir que as pessoas com fome arrisquem”.

 

 

No Coliseu do Porto, Obama recordou o Hawai, onde cresceu, para justificar a sua sensibilidade em questões ambientais, ao ver o oceano e a subida do nível da água e os seus impactos, uma preocupação que o levou a colocar a questão das alterações climáticas no topo da agenda durante os anos da sua presidência. Depois de sair da Casa Branca, reconheceu que “houve retrocessos”, mas mantém o tom otimista.

 

 

“Neste trabalho para responder às alterações climáticas, alguns esforços são já inevitáveis”, afirmou, animado por muitas empresas já terem começado a perceber que era importante manter o trajecto iniciado: “Mesmo com a legislação a retroceder em algumas casos, as coisas avançam e ainda podemos continuar a ver progressos nesta área. Muitos países reconhecem que há metas para alcançar e, se essa força continuar, tenho a certeza de que os EUA vão voltar a envolver-se no esforço de redução das emissões de gases”, disse Obama, convicto de que o país acabará por voltar ao protocolo de Paris.

 

 

Sem perder a esperança, Barack Obama garantiu ainda ter “confiança de que cada vez mais países terão metas mais ambiciosas no que respeita às alterações climáticas”. Sentado no palco do Coliseu frente a Juan Verde, presidente da Advance Leadership Foundation, Obama respondeu às questões previamente enviadas pela organização do evento durante precisamente uma hora, das 15h às 16h, como estava previsto no programa oficial.

 

O 44º Presidente dos EUA foi recebido com palmas dos 2200 participantes no evento, foi várias vezes aplaudido durante a sua intervenção e foi ovacionado no final. O Coliseu, com 4000 lugares, levantou-se para se despedir de Barack Obama, que seguiu de imediato para Madrid por ter “uma agenda muito cheia”, sem se esquecer de deixar uma justificação pela breve passagem por Portugal, país ao qual agradeceu “a enorme hospitalidade”, garantindo que voltará. “Tenho de vir passar férias, relaxar e experimentar o Vinho do Porto”, anunciou.

 

 

 

 

“A Michelle detesta política”

 

 

 

 

Antes da intervenção, num encontro privado de cinco minutos, cumprimentou alguns membros da organização e patrocinadores do evento, entre os quais Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, Paulo Azevedo, presidente da Sonae, António Rios Amorim, da Corticeira Amorim, Nuno Botelho, líder da Associação Comercial do Porto, Nuno Pires, da Essência do Vinho, e Adrien Brigde, do grupo The Fladegate Partnership. O Expresso sabe que neste encontro Obama já tinha tecido elogios ao Porto, referido a sua “agenda difícil” e manifestado vontade de ir passar férias à cidade, apesar de desta vez ter optado por ir dormir a Madrid.

 

 

Logo a seguir, Barck Obama tirou fotografias com 100 convidados, em encontros sucessivos de apenas alguns segundos durante os quais foi perguntando o nome de cada um, antes de posar para a fotografia. No Coliseu houve ainda espaço para algumas confidencias, como o facto de “a Michelle detestar política”. No entanto, sublinhou que política também podem ser causas como aquelas pelas quais lutaram Nelson Mandela, na África do sul, ou de Martin Luther King, nos EUA.

 

 

Aos mais novos deixou uma nota de incentivo, recordando que foram os jovens entre os 20 e 24 anos, “melhores do que a classe política estabelecida”, que o ajudaram a conquistar a presidência.

 

Texto: Margarida Cardoso/Expresso

 

 

 

 

Barack Obama tem a certeza de que os EUA vão regressar ao Acordo de Paris

 

 

 

 

 

O ex-Presidente dos EUA Barack Obama disse nesta sexta-feira, 6 de Julho, ter “a certeza” de que os EUA vão voltar ao Acordo de Paris e que “mais e mais países vão assumir metas mais arrojadas no futuro” no combate às alterações climáticas. Obama, que falava durante a cimeira Climate Change Leadership, hoje no Porto, destinada a debater as alterações climáticas, lembrou que durante a sua administração mostrou ser possível “criar emprego e promover a economia e ao mesmo tempo investir em energia limpa”.

 

“Para continuar este programa, teríamos de juntar as mãos com outros países”, realçou. Para Baraka Obama, que assumiu o combate às alterações climáticas como uma prioridade para os seus mandatos, entre 2009 e 2017, “não importa o que é feito agora, a temperatura vai mesmo aumentar por uns tempos”.

 

 

“Mesmo que sejam implementadas as regras mais restritivas, as emissões já feitas implicam que a temperatura vá continuar a aumentar durante algum tempo”, realçou, considerando que “seria importante que as empresas partilhassem um número” e “associassem um preço com as perdas ou com os gastos feitos na adaptação às alterações climáticas”.

 

Perante o problema que representam as alterações climáticas, Obama assinalou que “a maior parte das vezes já existem respostas para os solucionar” e que a dificuldade na sua implementação passa pelas “instituições” e a forma como as coisas estão organizadas. “Temos de encorajar os cidadãos a pressionar os seus governos (…) as coisas têm de ser resolvidas a partir das bases”, frisou, realçando que “algumas vezes a liderança esquece que o poder vem das pessoas e não se pode impor uma resposta sem que estas sintam resistência”.

 

 

Barack Obama disse mesmo que “a única forma de as coisas mudarem é as pessoas concordarem que é preciso uma mudança”.

 

 

Questionado sobre o futuro do Acordo de Paris, lamentou que o seu sucessor tivesse uma posição diferente da sua quanto a alterações climáticas, mas disse acreditar que, no futuro, os EUA vão voltar a alinhar com a ciência. “A má notícia é que o meu sucessor não concordou comigo. (…) A boa notícia é que outros esforços foram surgindo na economia e as empresas foram percebendo as vantagens de investir em energia limpa”, assinalou.

 

 

Num discurso após a assinatura do Acordo de Paris, em dezembro de 2015, Obama defendeu que “nenhuma nação consegue resolver este problema sozinha” e que esta seria a “melhor hipótese de salvar o único planeta que temos”.

 

 

“Este acordo envia uma mensagem poderosa, que o mundo está totalmente comprometido com um futuro de baixo carbono e que tem potencial para promover investimento e inovação em energia limpa”, afirmou então nos EUA.

 

 

 

 

Depois do Porto Barack Obama teve breve “reunião cordial” em Madrid com o Primeiro Ministro espanhol Pedro Sánchez

 

 

 

 

 

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, teve nesta sexta-feira, 6 de Julho, uma breve “reunião cordial”, num hotel de Madrid, com o ex-Presidente dos Estados Unidos Barak Obama, depois da intervenção deste último na Cimeira sobre a Inovação Tecnológica e a Economia Circular. Foi “uma reunião cordial entre duas pessoas que sabem bem como se pode liderar um país”, tendo o encontro sido “breve, mas interessante”, disse a porta-voz do Governo espanhol, Isabel Celaá, na habitual conferência de imprensa depois do Conselho de Ministros.

 

Sánchez deslocou-se ao hotel Marriot Madrid Auditorium para cumprimentar Obama e reunir-se com o ex-presidente norte-americano durante alguns minutos à margem da cimeira, depois de ter presidido à reunião do Conselho de Ministros.

 

 

 

 

TPT com: AFP//Texto: Expresso/Margarida Cardoso//Lusa//Fotos: Patrícia de Melo Moreira// Chip Somodevilla/Getty// 6 de Julho de 2018

 

 

 

 

 

 

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