Guterres diz em Hiroshima que a “humanidade está a brincar com uma poderosa arma carregada”

O secretário-geral da ONU disse hoje em Hiroshima que a humanidade está “a brincar com uma arma carregada” nas atuais crises nucleares, num discurso no 77.º aniversário do bombardeamento atómico dos EUA no Japão.

 

 

 

Numa cerimónia anual na cidade japonesa para assinalar as vítimas do atentado de 1945, António Guterres fez um forte apelo aos líderes mundiais para removerem as armas nucleares dos seus arsenais.

 

 

Há setenta e sete anos, “dezenas de milhares de pessoas foram mortas de uma só vez nesta cidade. Mulheres, crianças e homens foram incinerados num incêndio infernal”, lembrou.

 

 

“Os edifícios transformaram-se em pó. Os sobreviventes foram amaldiçoados com um legado radioativo” de cancro e outras doenças, acrescentou.

 

 

Hoje, “as crises com tons nucleares estão a alastrar rapidamente, desde o Médio Oriente à península coreana, passando pela invasão russa da Ucrânia. A humanidade está a brincar com uma arma carregada”, disse Guterres, repetindo avisos feitos esta semana numa conferência de signatários do Tratado de Não-Proliferação Nuclear em Nova Iorque.

 

 

Durante os últimos dois anos, as comemorações do atentado de Hiroshima – com a presença de sobreviventes, familiares, funcionários japoneses e alguns dignitários estrangeiros – têm sido realizadas de forma limitada por causa da covid-19.

A cerimónia de sábado foi mais significativa.

 

 

A ameaça nuclear tem assombrado as pessoas desde que a Rússia invadiu a vizinha Ucrânia em fevereiro. O embaixador da Rússia no Japão não foi convidado para a cerimónia, mas visitou Hiroshima na quinta-feira para depositar uma coroa de flores em honra das vítimas.

 

 

Cerca de 140.000 pessoas morreram em resultado do atentado de 06 de agosto de 1945, o bombardeamento de Hiroshima, uma contagem que inclui aqueles que sobreviveram à explosão, mas que mais tarde morreram devido à radiação.

 

 

Três dias mais tarde, os Estados Unidos lançaram outra bomba nuclear sobre a cidade portuária japonesa de Nagasaki, matando cerca de 74.000 pessoas e pondo fim à Segunda Guerra Mundial.

 

 

 

EUA acusam Rússia de usar central nuclear ucraniana como base militar

 

 

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, acusou ontem a Rússia de estar a utilizar a central nuclear ucraniana de Zaporijia, que controla desde março, como base militar para lançar ataques.

 

“A Rússia está a usar a central [de Zaporijia] como base militar para disparar sobre os ucranianos, sabendo que [os ucranianos] não podem e não vão responder porque poderiam atingir um reator nuclear e resíduos altamente radioativos armazenados”, disse Blinken num discurso na sede das Nações Unidas.

 

 

“Isto eleva o conceito de usar um escudo humano a um nível totalmente distinto e horrendo”, insistiu o chefe da diplomacia de Washington, que representou o seu país na abertura de uma conferência para a revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNPN).

 

 

Blinken considerou que a invasão russa da Ucrânia, para além de uma grave violação do direito internacional, é um ataque direto ao sistema de não-proliferação nuclear, ao contrariar as garantias de segurança que Moscovo forneceu a Kiev em 1994 para que renunciasse ao arsenal nuclear herdado do União Soviética.

 

 

Segundo assegurou, esta situação emite “a pior mensagem possível” para todos os países que estão a pensar se necessitam de armas nucleares para se protegerem.

 

 

Blinken também acusou o Presidente russo, Vladimir Putin, de utilizar a “cartada” das armas nucleares do seu país para dissuadir outros de intervirem no conflito ucraniano.

 

 

Segundo sublinhou, os Estados Unidos — que com a Rússia é o país com mais armas nucleares — continuam comprometidos na redução do seu arsenal e a assegurar que este tipo de armamento não voltará a ser utilizado.

 

 

Nesse sentido, destacou o acordo que, apenas duas semanas após assumir o poder, o Presidente norte-americano Joe Biden assinou com Putin para prolongar até 2026 o acordo New Start, e a sua disposição para negociar um novo texto que substitua esse tratado que limita o número de armas nucleares estratégicas dos dois países.

 

 

Blinken considerou que a conferência para rever o TNPN ocorre num “momento-chave”, incluindo devido à ameaça colocada pelo programa nuclear da Coreia do Norte e enquanto se tenta concluir com o Irão um regresso ao acordo nuclear de 2015, após a retirada unilateral dos EUA em 2018 durante a presidência de Donald Trump.

 

 

Para Blinken, a recuperação desse tratado “continua a ser o melhor resultado para os Estados Unidos, para o Irão e para o mundo”.

 

 

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de cerca de 16 milhões de pessoas de suas casas — mais de seis milhões de deslocados internos e quase dez milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

 

 

Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

 

 

A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia — foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.

 

 

A ONU confirmou que 5.237 civis morreram e 7.035 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 159.º dia, sublinhando que os números reais deverão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.

 

 

 

 

TPT com: EPA/Maxim Shipenkov/POOL/AFP/NBCNews-/MadreMedia/Lusa//EPA//   6 de Agosto de 2022

 

 

 

 

 

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