Atacante de escritor Salman Rushdie foi elogiado pela imprensa conservadora do Irão

O principal diário ultraconservador do Irão, Kayhan, felicitou hoje o homem que apunhalou, nos Estados Unidos, o escritor Salman Rushdie, autor do romance “Os Versículos Satânicos”, que lhe valeu uma sentença de morte decretada há mais de 30 anos.

 

 

O ataque contra o escritor britânico aconteceu na sexta-feira, no palco do Chautauqua Institution, um centro cultural situado no estado de Nova Iorque, onde Rushdie se preparava para discursar.

 

 

O agressor é um homem de 24 anos chamado Hadi Matar, que ainda está sob custódia, indicou a polícia do estado norte-americano de Nova Iorque.

 

 

Numa conferência de imprensa pelas 17h00 locais (22h00 em Lisboa) para apresentar detalhes do ataque, a polícia afirmou não ter ainda informações sobre o motivo da agressão.

 

 

“Bravo a este homem corajoso e consciente do seu dever que atacou o apóstata e vicioso Salman Rushdie”, escreveu o jornal, cujo diretor é nomeado pelo líder supremo do Irão, o ayatollah Ali Khamenei.

 

 

“Beijemos a mão daquele que rasgou o pescoço do inimigo de Deus com uma faca”, acrescenta.

 

Salman Rushdie foi atacado no pescoço e abdómen quando se encontrava no palco do Chautauqua Institution. Segundo o seu agente, o escritor foi colocado em suporte de vida e poderá vir a perder um olho.

 

 

As autoridades iranianas ainda não comentaram oficialmente a tentativa de assassinato do intelectual de 75 anos.

 

 

Seguindo a linha oficial, todos os meios de comunicação iranianos descreveram Rushdie como um “apóstata”, com exceção do Etemad, um jornal reformista.

 

 

O diário estatal Irão disse que “o pescoço do diabo” tinha sido “golpeado por uma navalha”.

 

 

“Não derramarei lágrimas por um escritor que denuncia os muçulmanos e o Islão com infinito ódio e desprezo”, escreveu Mohammad Marandi, conselheiro da equipa de negociação nuclear, num tweet.

 

 

“Rushdie é um peão do império a posar como romancista pós-colonial”, acrescentou.

 

 

Salman Rushdie incendiou parte do mundo muçulmano com a publicação, em setembro de 1988, do livro “Os Versículos Satânicos”, levando o fundador da República Islâmica, ayatollah Rouhollah Khomeini, a emitir uma “fatwa” (decreto religioso) em 1989 apelando para o seu assassinato.

 

 

Esta sentença de morte, que perdura há mais de 30 anos, foi ordenada pelo alegado crime de “blasfémia”, que custou ao escritor a possibilidade de uma vida normal e o afastou da família.

 

 

O Governo do Irão há muito que se distanciou do decreto de Khomeini, mas o sentimento anti-Rushdie permanece.

 

 

Em 2012, uma fundação religiosa iraniana aumentou a recompensa pelo assassinato de Rushdie para 3,3 milhões de dólares.

 

 

Rushdie desvalorizou a ameaça na altura, dizendo que não havia “nenhuma prova” de que houvesse alguém interessado na recompensa.

 

 

Nesse ano, o escritor publicou o livro de memórias “Joseph Anton – Uma Memória”, sobre a ‘fatwa’.

 

Autor de cerca de duas dezenas de títulos, Rushdie recebeu o prémio Booker em 1981 por “Os Filhos da Meia-Noite”, também distinguido com o Booker of Bookers, em 1993, e, em 2008, o Best of the Booker.

 

 

“O Último Suspiro do Mouro” valeu-lhe o prémio Withbread, em 1995, e o Prémio Literatura da União Europeia, em 1996.

 

 

Salman Rushdie fixou-se na cidade de Nova Iorque, há cerca de 20 anos, e hoje tinha prevista uma intervenção na Instituição Chautauqua, um centro cultural situado no Oeste do estado de Nova Iorque.

 

 

 

TPT com: AP//AFP//NBCNews//NYT//SAPO MAG /Lusa// 13 de Agosto de 2022

 

 

 

 

 

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *