O presidente da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, lamentou os “excessos partidários” nas cerimónias fúnebres do ex-presidente José Eduardo dos Santos e considerou que este é um dos desafios que Angola tem pela frente.
Adalberto Costa devíamos estar presentes no sentido de prestar homenagem ao ex-presidente da República. Não foi uma decisão fácil, dado o facto de termos aqui chegado com tanta falta de tranquilidade e ausência de uma parte da família, assistimos a uma cerimónia com alguns Júnior falou aos jornalistas após prestar homenagem ao ex-presidente angolano, hoje na Praça da República, em Luanda, reconhecendo ter sido uma decisão difícil.
“Achámos que excessos partidários, não me parece que coubessem aqui as mensagens dos partidos políticos”, comentou.
Durante as cerimónias fúnebres, foram lidas mensagens da família e de várias entidades, incluindo da vice-presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido de José Eduardo dos Santos, do qual era presidente emérito na altura da sua morte, e que está no poder em Angola desde a independência em 1975.
“Quando se trata do Estado, o Estado deve representar-nos a nós todos e estes ainda são os desafios que Angola tem pela frente, mas independentemente disso fizemos bem em vir até cá”, complementou.
O funeral do ex-chefe de Estado decorreu em período pós-eleitoral e ainda sem resultados definitivos do escrutínio de quarta-feira, em que os dados provisórios apontam para a vitória do MPLA, que o maior partido da oposição União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) rejeita.
Depois de falar aos jornalistas, Adalberto Costa Júnior, quando se dirigia da tenda onde a decorreu a cerimónia para o Memorial Agostiho Neto, foi aplaudido e muitos dos presentes gritavam “3”, numa alusão à posição da UNITA no boletim de voto, e “Presidente”, tendo o líder do principal partido da oposição respondido com acenos à população.
O antigo chefe de Estado morreu em 08 de julho, com 79 anos, em Barcelona, Espanha, onde passou a maior parte do tempo nos últimos cinco anos, mas as exéquias só agora se vão realizar devido à disputa sobre a custódia do corpo entre duas fações da família de José Eduardo dos Santos – a viúva e os três filhos mais novos, apoiados pelo regime angolano, contra os cinco filhos mais velhos.
Nas cerimónias de hoje encontravam-se Ana Paula dos Santos e os três filhos que teve em comum com o antigo chefe de Estado, bem como um outro filho, José Filomeno dos Santos “Zenu”, que foi condenado pela justiça angolana a uma pena de prisão pelo seu envolvimento num caso de corrupção e aguarda, em liberdade, decisão sobre o recurso que interpôs.
O funeral ficou marcado também pela ausência das mediáticas filhas mais velhas do ex-presidente, a empresária Isabel dos Santos que enfrenta diversos processos na justiça angolana e em outros países, e a ex-deputada do MPLA, Tchizé dos Santos, que declarou o seu apoio ao candidato da UNITA à presidência angolana, Adalberto da Costa Junior, contra o candidato do MPLA e sucessor do seu pai na presidência, João Lourenço.
A Praça da República, onde se encontra o monumento fúnebre do primeiro Presidente angolano, no Memorial António Agostinho Neto, foi novamente escolhida para as cerimónias fúnebres, depois de ter acolhido um velório público sem corpo logo após a morte de José Eduardo dos Santos, durante um luto nacional de sete dias.
Hoje, houve honras militares num programa que incluiu música lírica, leitura de mensagens do Estado angolano e da família, do MPLA, da Fundação José Eduardo Santos e leitura do elogio fúnebre, bem como um culto ecuménico, acompanhado de grupos corais.
Isabel dos Santos, Tchizé e Coréon Dú choram pai à distância
Isabel, Tchizé dos Santos e o irmão Coréon Dú, três dos filhos de José Eduardo dos Santos que recusaram participar no funeral de Estado promovido pelo regime angolano, choraram o pai através das redes sociais e recordaram o seu aniversário.
Coréon Dú, que já tinha anteriormente manifestado os momentos difíceis que estava a atravessar depois de um tribunal espanhol decidir entregar a custódia do corpo do ex-presidente à viúva Ana Paula dos Santos contra a vontade dos filhos mais velhos, lamentando ter lhe sido roubada a oportunidade “de dar-lhe o último adeus na terra que nos viu nascer”, hoje quis marcar o aniversario.
“Quando era criança, o Papá ensinou-me a não ter medo do escuro, por que a luz sempre chega”, escreveu José Eduardo Paulino dos Santos, mais conhecido pelo nome artístico de Coréon Dú nas suas redes sociais.
“Nos momentos mais difíceis me lembrarei da sua voz serena e sorriso que espero que me motivem a não perder o meu otimismo e nem a sensatez. Parabéns, papá”, escreveu o cantor e produtor angolano.
A empresária Isabel dos Santos tinha expressado a sua mágoa na véspera, escrevendo: “o que está a acontecer é de partir o coração” e publicando um ‘post’ onde se lia: “A traição, a falta de lealdade, queima no coração de quem tanto confiou. Quando somos traídos por quem amamos, choramos e lamentamos uma dor de morte é como se tivéssemos que enterrar alguém ainda respirando”.
Hoje desejou apenas: “Feliz aniversário, papá”.
Também Tchizé dos Santos, empresária, influenciadora e ex-deputada do MPLA, desejou “feliz aniversario” ao pai, num ‘post’ acompanhado de uma música em que acrescentou: “em tua memoria, continuarei a lutar pela pátria”.
Tchizé dos Santos faz ainda referência às declarações do general Francisco Furtado, que no sábado acusou os filhos de falta de bom senso, lamentando que tenham perdido a “melhor oportunidade” criticando “os seres belicistas, desprezíveis e desprovidos de qualquer humanismo” que consideram que “o funeral é uma batalha”.
Os três não visitam Angola há vários anos, tal como José Eduardo dos Santos que escolheu exilar-se em Barcelona quando o regime liderado por João Lourenço, seu sucessor a partir de 2017, ergueu a bandeira da luta contra a corrupção atingindo alguns dos seus filhos, nomeadamente Isabel do Santos que enfrenta vários processos na justiça angolana.
Hoje estiveram presentes nas cerimónias fúnebres apenas quatro dos oito filhos do antigo chefe de Estado: os três em comum com Ana Paula dos Santos (Josiane, Danilo e Breno) e José Filomeno dos Santos, que foi condenado num caso de corrupção e aguarda recurso em liberdade.
Josiane leu em nome da família um elogio fúnebre emotivo, recordando o gosto do pai pelo desporto e pela música, e sublinhando: “A tua luz sempre brilhará, jamais serás esquecido”.
“Os teus filhos e netos sempre te amarão, que a tua alma descanse em paz”, despediu-se Josiane com a voz embargada.
O corpo de José Eduardo dos Santos, que morreu no dia 8 de julho em Barcelona, só regressou a Angola no passado sábado, após uma batalha judicial entre dois lados da família.
De um lado estavam Tchizé dos Santos e os irmãos mais velhos, que se opunham à entrega dos restos mortais à ex-primeira dama e se declaravam contra a realização de um funeral de Estado antes das eleições para evitar aproveitamentos políticos.
Do outro, estava a viúva Ana Paula dos Santos e os seus três filhos em comum com José Eduardo dos Santos, que queriam que o ex-presidente fosse enterrado em Angola.
Esta pretensão foi apoiada pelo Governo angolano que anunciou a intenção de fazer um funeral de Estado, mas teve de se contentar logo após a morte com um velório sem corpo, enquanto se aguardava a decisão das instâncias judiciais.
Ex-presidente angolano soube criar proximidade e Portugal deve-lhe muito — MNE português
O ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE), João Gomes Cravinho, destacou hoje o papel do ex-presidente angolano, José Eduardo dos Santos, sublinhando que soube criar proximidade com Portugal e que o país “lhe deve muito”.
“(José Eduardo dos Santos) soube estabelecer com todos os Presidentes da República portugueses eleitos em democracia, devido à longevidade da sua carreira, relações que propiciaram a proximidade entre os nossos povos e nesse sentido também Portugal lhe deve muito”, destacou Cravinho, à chegada à Praça da República onde decorrem as exéquias, em Luanda.
Para o chefe da diplomacia portuguesa esta “é a homenagem que Angola e o mundo devem” a José Eduardo dos Santos, que foi Presidente durante 38 anos “em tempos difíceis e complexos”.
“Mostrou liderança extraordinária em momentos decisivos para Angola e o continente africano e naturalmente Portugal não podia deixar de estar presente ao mais alto nível”, comentou João Gomes Cravinho.
TPT com: AFP//Sapo//RCR/PJA // VM/Lusa//MadreMedia/Lusa// 28 de Agosto de 2022