Porque razão os israelitas aprovam a atual ofensiva contra Gaza

25/07/2014

 
O Hamas “unificou” uma “fragmentada” sociedade israelense em torno de uma ofensiva terrestre contra Gaza ao lançar foguetes de maneira deliberada contra Israel. Essa é a opinião do articulista Gil Hoffman, do influente jornal Jerusalem Post.

 

Para Hoffman, o grupo militante palestino atacou o “consenso” israelense e “construiu” uma resistência da população vizinha que havia se dividido nos últimos impasses com Gaza.

 
Leia abaixo a análise do jornalista:

 
“Antes de a escalada do conflito entre o Hamas e Israel que, segundo as estimativas mais recentes, teria matado pelo menos 850 pessoas, a maior parte palestinos, o Estado judeu estava se tornando cada vez mais fragmentado.

 
Negociações de paz fracassaram. Debates sobre questões polêmicas se intensificaram. E políticos de direita, como o chanceler Avigdor Liberman e o ministro de Comércio Naftali Bennett, se preparavam abertamente para a possibilidade da convocação de eleições antecipadas se a coalizão de governo do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, desmoronasse.

 
Netanyahu, por sua vez, foi alvo de duras críticas por não impedir que a comunidade internacional reconhecesse um Estado palestino envolvendo o Hamas e a Jihad islâmica – um endosso que até hoje não foi “digerido” pelos judeus.

 
Mas tudo mudou quando o Hamas passou a atacar o “consenso israelense”. Ao lançar foguetes contra o vizinho de maneira deliberada, o grupo palestino produziu um efeito insólito: a unificação do povo israelense.

 
O Hamas não atacou a Cisjordânia, cujo destino divide os israelenses. A ofensiva foi direcionada à capital Tel Aviv e ao aeroporto internacional de Ben-Gurion. Os ataques miraram os chamados kibutz, fazendas de inspiração comunista, na fronteira com Gaza, por meio do que Israel chama de “túneis de terror”, os subterrâneos usados pelos militantes do Hamas para cruzar a fronteira sem ser notados.

 
Para piorar, o grupo teria supostamente sequestrado e matado três adolescentes que voltavam da escola. Isso em uma sociedade obcecada com suas crianças.

 
Ao agir dessa forma, o Hamas construiu uma resistência da população israelense que havia se dividido nos últimos impasses com Gaza. É sabido que em tempos de guerra os israelenses se unem contra um inimigo comum, localizado do outro lado da fronteira. Porém, sempre houve manifestações antiguerra, inclusive em períodos de relativa calmaria.

 
Mas, até agora, os únicos protestos registrados foram um fracasso. Apenas árabes israelenses e judeus de extrema-esquerda participaram desses atos.

 
Pesquisas mostraram que houve forte apoio popular à ofensiva por terra de Israel. Por outro lado, os israelenses reagiram mal à notícia de que Netanyahu teria expressado intenção de aceitar um cessar-fogo proposto pelo Egito.

 
Uma pesquisa do instituto Panels para a TV do parlamento israelense (Knesset) revelou que 63% dos entrevistados aprovavam uma ofensiva terrestre a Gaza e apenas 27% rejeitavam a operação. O restante, 10%, não respondeu ou não tinha opinião formada sobre o assunto. O levantamento baseou-se em uma amostra representativa de Israel, incluindo a população árabe.

 
Os israelenses reagem com sensibilidade ao trágico saldo de mortos do lado palestino. Mas eles culpam o Hamas pela morte dos civis e não os ataques aéreos promovidos por Israel.

 
Já o saldo de mortos do lado de Israel está aumentando depois de permanecer relativamente baixo. Cerca de 2 mil foguetes já foram lançados nas últimas três semanas contra o território israelense e mataram um civil, identificado como um beduíno.

 
Um voluntário israelense que tentou fazer uma entrega de comida em um local de alto risco próximo à fronteira com Gaza foi morto por um morteiro. E uma árabe israelense de Haifa morreu de parada cardíaca ao correr para dentro de um abrigo logo após as sirenes soarem.

 
Mas, desde que a ofensiva terrestre teve início na noite de terça-feira passada, 29 soldados morreram e outros 100 ficaram feridos. Para os israelenses, esses números são difíceis de aceitar.

 
Em Israel, as mortes de soldados são encaradas como mais trágicas do que a dos civis. As Forças de Defesa de Israel (IDF) são um símbolo da resistência judaica, e os soldados são considerados “os filhos de todo mundo”.

 
Por outro lado, civis mortos por foguetes foram ridicularizados por ignorarem as sirenes de alerta e terem saído de suas casas para filmar com celulares o sistema de defesa antimísseis, conhecido como “Cúpula de Ferro” (Iron Dome, em inglês), interceptar os ataques do Hamas.

 

Senso de urgência

 
Se soldados israelenses continuarem a morrer, mais dúvidas sobre a ofensiva terrestre serão levantadas. O sequestro de um civil ou de um militar terá, certamente, um efeito desmoralizante para a operação.

 
As tentativas repetidas do Hamas de sequestrar os soldados – e o júbilo registrado por militantes quando nas últimas semanas foi noticiado que um episódio como esse aconteceu – mostra que os líderes palestinos entendem o impacto de um sequestro bem-sucedido.

 
O Hamas sabe que tudo o que precisa para mudar a opinião pública israelense é um foguete atravessar o sistema antimísseis e atingir um arranha-céu de Tel Aviv ou um grupo de homens armados invadir um kibutz por meio de um túnel e abrir fogo.

 
Mas enquanto tais incidentes desmoralizariam os israelenses e prejudicariam a popularidade de seus líderes, não haveria oposição à ofensiva por terra.

 
Os israelenses sabem que, se não fosse pela ofensiva terrestre, os túneis permaneceriam desconhecidos e a população estaria em grande perigo.

 
Isso explica por que não houve maior senso de urgência da parte dos israelenses para interromper a operação antes de que os objetivos sejam alcançados: restaurar a paz no sul de Israel, destruir os túneis, enfraquecer significativamente o Hamas e, mais importante, evitar uma guerra futura.”

 

Gil Hoffman
Jerusalem Post

 

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