Como Cavaco tirou o tapete vermelho a Obiang

Cavaco Silva não gostou que a CPLP tivesse ‘estendido um tapete vermelho’ a Teodoro Obiang, na adesão da Guiné Equatorial à CPLP (ver pág. 44). Esta quarta-feira, na cimeira de Dili, o Presidente da República assinalou o seu desconforto e levou a que fosse alterada a cerimónia e os termos da declaração final, fazendo com que o regime guineense se comprometa a mais do que uma moratória sobre a pena de morte.

 
O primeiro sinal de desagrado veio com a sensação de que “havia uma tentativa de tomar as coisas como um facto consumado”, colocando Obiang “como um chefe de Estado ao nível dos outros”, sem que antes passasse pelo debate em que teria de dar garantias de cumprimento dos direitos humanos. “A delegação portuguesa envidou esforços para que o que estava programado fosse alterado”, refere fonte da delegação.

 
“Estava tudo montado para que houvesse claques de apoio e o Presidente não gostou daquilo”. Cavaco não aplaudiu Obiang e procurou alterar os termos da cimeira, colocando “as coisas nos carris”, mas sem deixar mal vistos os anfitriões timorenses.

 
Na sessão restrita de dirigentes da CPLP, sem a presença do presidente da Guiné Equatorial, Cavaco Silva “teve uma intervenção forte” que causou algum debate. O Presidente da República deixou claro que antes de a decisão da adesão ser formalmente tomada, Obiang “teria de responder a algumas coisas”, sobre as medidas que já tinha tomado para poder fazer parte da CPLP, e sobre o seu compromisso futuro. Cavaco apelou a que o Presidente de Timor, Matan Ruak, comunicasse a Obiang a necessidade de prestar provas do seu empenhamento.

 
Presidente deixa recados

 
Após o almoço, Obiang faria a tal intervenção, dando resposta a todos os aspectos em causa, do empenhamento no cumprimento dos direitos humanos, ao uso da língua portuguesa. “Arranjou-se o consenso para a sua entrada”, diz fonte portuguesa.

 
Cavaco deixaria depois recados para Obiang no seu discurso. Ao referir os valores da língua portuguesa e os direitos humanos como marcas da CPLP, vincou: “É por isso fundamental que continuemos a deixar claro, no presente e no futuro, que são esses os valores que determinarão as nossas decisões e as nossas iniciativas”.

 
Mas, mais importante, graças à delegação portuguesa, ficou expresso na declaração de Dili que a moratória da pena de morte na Guiné Equatorial “evoluirá até à sua abolição” definitiva.

 
manuel.a.magalhães@sol.pt

 

 

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