Ataque de corsários a navio com vinho do Porto cria tradição no Canadá

Um ataque de corsários no século XVII a um barco com Vinho do Porto terá criado um novo circuito de distribuição da produção nacional utilizando o Canadá, disse à Lusa um historiador e investigador vinícola.

 
O navio fugiu de corsários franceses e, depois de o vinho ter repousado no frio da Terra Nova, foi considerado de melhor qualidade no mercado britânico, explica António Magalhães.

 
“No ano de 1679, um navio pertencente à família Newman, proveniente do Porto, carregado de vinho, dirigia-se para Inglaterra, mas ao chegar ao golfo da Biscaia, foi atacado por corsários franceses que o obrigaram a rumar para oeste”, salienta o responsável pela produção de uvas da Fladgate Partership, empresa que adquiriu em 2007 a Quinta da Eira Velha à família inglesa Newman.

 
“Por causa dos ventos já não foi possível voltar para trás. Como era um navio dos Newman, seguiu em direção da Terra Nova, onde eles tinham armazéns. Ficou lá todo o inverno, carregado de vinho. Na primavera seguinte, regressou a Inglaterra. Como foi considerado no mercado de inglês como um vinho melhor, passaram a fazer regularmente esse triângulo entre Portugal, Terra Nova, e Inglaterra”, conta.

 
Sempre que o vinho do porto recebia um estágio nas condições climáticas da Terra Nova, melhorava “incrivelmente”, e depois era exportado para Inglaterra.

 
No entanto, António Magalhães, diz que também há uma “versão menos fantástica do vinho do Porto estagiado na Terra Nova (Matured in Newfoundland), escrita por Edouard S. Gallop, no Ensaio “Vinho do Porto e Bacalhau” e que a Canadian Geographical Journal publicou em 1932.

 
“Em certa ocasião, um dos navios propriedade dos Hunt, Newman e Christopher carregou sal em Cádis (Espanha) e completou a carga com vinho no Porto (Portugal). O vinho foi descarregado em Darthmouth, Devon, mas, na pressa de partir, para aproveitar os ventos favoráveis ou para obter proteção da escolta, algumas pipas de vinho do Porto ficaram esquecidas, cobertas pelo sal, e só foram descobertas quando finalmente o navio atracou na Terra Nova”, frisou.

 
O vinho foi mandado de volta para Inglaterra no ano seguinte, mas, ao fim de duas viagens pelo Atlântico e um Inverno inteiro num clima mais frio, “melhorou tanto” que se tornou uma “prática comum” o envio de Vinho do Porto em tonéis para “estagiar na Terra Nova”.

 
Com o passar do tempo, os Newman, após 300 anos de troca de bacalhau e vinho do Porto, em 1907, desistiram do negócio do bacalhau, dedicando-se inteiramente ao setor vinícola.

 
Contudo, a exportação do vinho do Porto era um marco histórico para a região canadiana. Segundo dados revelados pelos responsáveis da empresa, a Terra Nova recebia em 1830 cerca de 140 pipas.

 
Em 2007, a propriedade da Quinta da Eira Velha, no Pinhão, com cerca de 50 hectares, foi adquirida pela Fladgate Partership, empresa familiar proprietária das de Vinho do Porto Taylor´s, Fonseca, Croft e Delaforce.

 
Atualmente, os “herdeiros” do património da família inglesa continua ainda a produzir o Newman Celebrated Port e o Vintage Port Quinta da Eira Velha, um “verdadeiro tributo à história que persegue”, afirma Magalhães.

 

 

Toronto , Canadá 27/01/2015
SEYM // PJA
Lusa/Fim

 

 

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