O misterioso caso da mulher viking enterrada com um anel árabe

O anel foi encontrado na cidade histórica de Birka a 30 quilómetros de Estocolmo.

 

 

Um grupo internacional de investigadores terá encontrado o elo perdido entre os vikings e o mundo islâmico. A história passa por uma mulher enterrada no século IX, conforme avança a revista Scanning.

 

 

Esta não é a sinopse de um filme. Um anel árabe com a inscrição “Para Alá”foi encontrado no século XIX num túmulo de uma mulher viking em Birka, uma povoação comercial fortificada fundada no século VIII a 30 quilómetros de Estocolmo, na Suécia. Feito de liga de prata, o acessório continha uma suposta ametista no topo, que mais tarde veio a revelar-se ser vidro clorido, onde estava escrita a frase em caligrafia cúfica, considerada o tipo mais antigo de escrita utilizada nos países do norte da África e da península Arábica.

 

 

A origem do anel foi tema de debates entre arqueólogos e historiadores durante anos, uma vez que não há provas materiais sobre a relação direta entre os vikings e o mundo islâmico, e gerou diversas teorias e histórias. A imagem do “anel misterioso” da mulher viking foi divulgada pelo Museu da História Sueca, onde se encontra em exposição.

 

O misterioso caso da mulher viking enterrada com um anel árabe2

 

Finalmente, parece que a ciência encontrou uma luz sobre a questão. Ou pelo menos sobre parte dela. Um grupo interdisciplinar de investigadores internacionais publicou na revista científica Scanning um artigo no qual explica a proveniência do objeto. Para isso, a equipa teve de utilizar um microscópio eletrónico de varredura para remover a nível atómico as impurezas e o mofo antes de encontrar algumas pistas sobre a sua possível história.

 

 

 

Comecemos pela sua composição. Os cientistas descobriram que a pedra no anel é, na verdade, vidro colorido trazido pelos vikings do Médio Oriente ou do norte da África através de embarcações comerciais que circulavam entre as regiões. No século XI, os vikings eram conhecidos pelas suas longas viagens marítimas, que atingiam regiões como Constantinopla, atual Istambul.

 

 
“É preciso lembrar que, apesar de vidro colorido ser considerado hoje um material falso ou de menor valor, não era necessariamente assim no passado”, explicou à CNN Sebastian Wärmländer, biofísico da Universidade de Estocolmo. “Mesmo que a produção de vidro tenha começado cerca de cinco mil anos atrás, na região ainda era um material exótico”, conta.

 

 
Outra curiosidade do anel é que não teve muitos proprietários, conforme demostra a ausência de marcas no objeto. “Se a sua superfície fosse dourada e tivesse sido desgastada, as inscrições também haveriam desaparecido. Mas como a sua superfície é de metal e não exibe nenhum desgaste, presumimos que o anel não foi muito usado”, afirma Wärmländer. O misterioso caso da mulher viking enterrada com um anel árabe3
E como o anel terminou na mão da mulher viking? Os cientistas acreditam que foi passado direta ou indiretamente de um ourives árabe durante uma viagem. “Não é impossível que a própria mulher, ou alguém próximo a ela, possa ter visitado o Califado [região que compreendia na época a Tunísia e parte da Índia] ou regiões próximas”, conta o investigador. No entanto, ele reconhece que os textos históricos referentes a estas viagens confundem-se com contos de “gigantes e ladrões”, o que torna difícil a sua credibilidade científica.

 

 

Wärmländer defendeu a relevância das descobertas. “A importância do estudo do anel de Birka é que corrobora mais eloquentemente contos antigos sobre os contactos diretos entre a era dos vikings e o mundo islâmico. Esses contactos devem ter facilitado a troca de produtos, cultura, ideias e novidades de maneira mais eficiente do que o comércio indireto envolvendo vários comerciantes intermediários”, conclui.

 

 

Foto: Getty Images
Autor: Milton Cappelletti
Observador /20/03/2015

 

 

 

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