Pequenas e médias empresas (PME) portuguesas debatem-se com falta de capitais próprios.
Portugal ocupa o 7.º lugar europeu no incumprimento bancário. Chipre e Grécia são os campeões.
O crédito malparado bancário surge em sétimo lugar europeu no conjunto de 20 países considerados desenvolvidos (mais de 15 mil euros de PIB per capita) por um estudo realizado pela Oliver Wyman e a Intrum Justitia. Os campeões no incumprimento são o Chipre e a Grécia.
De acordo com os últimos dados dados publicados pelo Banco de Portugal, o rácio de incumprimento das Pequenas e Médias Empresas (PME) portuguesas não tem parado de aumentar desde 2013, representando 92% do malparado empresarial e 62% do total nacional.
Em 2013, as PME portuguesas tinham um rácio de malparado da ordem dos 15,6%. Segundo dados do Banco de Portugal relativos a fevereiro último, aquele indicador já chegou aos 18%, isto é, as prestações bancárias em atraso estão avaliadas em cerca de 12,4 mil milhões de euros, mais mil milhões do que as registadas em dezembro de 2013.
Com a crise, o volume de crédito concedido às PME desceu de 73,3 mil milhões de euros (2013) para 69,3 mil milhões de euros em fevereiro deste ano, mas a percentagem de incumprimento subiu. O estudo da Oliver Wyman e da Intrum Justitia admite que o cenário possa piorar até 2016, tudo dependendo da evolução da economia. Os valores do Banco de Portugal indicam que o malparado nacional já vai em 20 mil milhões de euros, 13,5 mil milhões das empresas (12,4 mil milhões das PME) e 6,5 mil milhões relativos às famílias.
O fenómeno não é apenas português, mas a falta de capitais próprios parece evidente dentro do universo das 380 mil PME nacionais (339 mil são microempresas), representativas de 99,7% do tecido empresarial do país.
OUTROS PAÍSES
“É curioso que em Espanha o malparado se devia muito ao crédito à habitação e em Itália às PME. Os espanhóis saíram mais depressa do que nós da crise precisamente devido a esse facto. Eu diria que as PME portuguesas são as que mais vivem do crédito e menos dos capitais próprios. Por outro lado, a banca tornou-se mais cautelosa a partir de 2008, procurando minimizar o risco. Mas acredito que esse cenário vá melhorar, até porque os bancos não podem contar com as grandes empresas, porque essas normalmente procuram financiamento no exterior”, afirma Luís Salvaterra, diretor geral da Intrum Justitia.
“O malparado das PME tem piorado. Se as empresas tivessem de contar só com os capitais próprios para crescer, então 90% fecharia portas. Nem a EDP, que é uma grande empresa, pode contar apenas com os seus capitais. A situação da banca também não está famosa. O Montepio está igualmente sem capacidade, o Banif já não existiria se não fosse o Estado e vamos ver se os chineses compram o Novo Banco. O BCP e o BPI também não estão muito saudáveis”, afirma Nuno Carvalhinha, presidente da Associação Nacional de PME (ANPME).
SAÍDAS
A solução para injetar liquidez nas empresas poderia passar, na opinião da ANPME, pela descida dos impostos (IRC e TSU a cargo das empresas). A redução da TSU é uma hipótese que o PS tem prometida se chegar ao Governo nas próximas eleições e o IRC já baixou de 23 para 21% em 2015.
No entanto, Nuno Carvalhinha afirma que a redução do IRC tem de ser significativa para que as empresas ganhem liquidez. Outra ajuda passaria pelo abrandamento das penhoras impostas pela máquina fiscal e pela Segurança Social, sublinha ainda o presidente da ANPME.
Foto: DR
18/05/2015
Dinheiro Vivo