Debaixo das caldeiras de Yellowstone, os cientistas descobriram um reservatório de magma capaz de encher onze vezes o Grand Canyon.
Yellowstone é considerado um supervulcão porque a erupção ia causar um cataclismo de proporções imensuráveis
Os sismólogos descobriram um reservatório de magma colossal debaixo do supervulcão de Yellowstone, nos Estados Unidos. Trata-se de um vulcão capaz de criar erupções catastróficas, com potencial para dar origem a uma nova era na Terra. Com uma profundidade entre 19 e 45 quilómetros, este reservatório é quatro vezes maior que a câmara magmática e o volume podia encher o Grand Canyon onze vezes, de acordo com o estudo publicado esta sexta-feira no jornal Science.
De acordo com as palavras de Victor Tsai, um dos co-autores da investigação, “ao saber deste reservatório, sabemos que podemos ter um volume de erupção maior numa escala de tempo relativamente menor”. Ainda assim, os autores do estudo ressalvam que esta descoberta não aumenta o perigo de uma erupção iminente e que, de acordo com a CNN, a probabilidade de uma erupção acontecer nos próximos mil anos é muito remota.
AS RESPOSTAS
A existência deste reservatório vem explicar o porquê de o solo e as estruturas geotérmicas emitirem mais dióxido de carbono do que o lançado pela câmara magmática. Agora sabe-se que parte desse gás chega à superfície vinda do grande reservatório debaixo do supervulcão.
O estudo também foi capaz de criar uma imagem tridimensional do sistema vulcânico existente em Yellowstone. De acordo com o avançado pelo site da Universidade de Utah, o funcionamento do sistema do supervulcão obedece a três passos:
1. A pluma mantélica – um fenómeno geológico que provoca a ascensão de uma massa considerável de magma vinda do manto inferior da Terra, que corresponde ao ponto quente ou “hotspot” – sobe ao longo de 708 quilómetros. A chaminé por onde esse magma passa deve ter 50 quilómetros de largura (um número muito menor do que o calculado anteriormente, embora não existam dados suficientes para o comprovar) e segue até ao manto superior a 64 quilómetros de profundidade.
2. Vinda dessa pluma, a rocha em estado plástico sobe através de diques a 64 quilómetros de profundidade até ao fundo do reservatório descoberto no mesmo estudo. Esse tem quase 47 mil quilómetros cúbicos, começa a 45 quilómetros de profundidade e termina a 19 quilómetros da superfície.
3. A câmara magmática, que já se conhecia, tem mais de 40,5 quilómetros cúbicos e tem um formato achatado com 64 quilómetros de comprimento e 40 de altura. Localiza-se a uma profundidade entre quatro e catorze quilómetros, logo abaixo do supervulcão.
Logo abaixo do manto superior está o “hotspot” ou ponto quente, que vem do interior da Terra. A energia vinda dessa pluma mantélica sobe pelo manto superior até alcançar o reservatório de magma gigante. Este, por sua vez, alimenta a câmara magmática por baixo da caldeira de Yellowstone (Esquema de Hsin-Hua Huang, Fan-Chi Lin, Brandon Schmandt, Jamie Farrell, Robert B. Smith, Victor C. Tsai)
Sabe-se que nem o reservatório nem a câmara magmática têm rocha completamente fundida no seu interior. O primeiro tem apenas 2% de material líquido e o conteúdo tem um alto teor de magnésio e ferro. A câmara magmática é composta por 9% de material líquido rico em silício.
O PROCESSO
Estes dados foram conseguidos através de processos sísmicos: utilizam-se as ondas criadoras de sismos em vez das imagens em raio-Xnormalmente usadas. Como as ondas sísmicas viajam a velocidades diferentes de acordo com a densidade dos materiais que atravessam, foi possível distinguir a natureza das rochas por baixo de Yellowstone. Nas regiões onde as ondas foram mais rápidas, as temperaturas são menores e a densidade maior. Nas zonas onde as ondas abrandaram, correspondem às temperaturas mais altas que tornam os materiais menos densos.
Os cientistas envolvidos nesta descoberta dizem que “agora podem utilizar-se estes modelos para estimar melhor o potencial sísmico e o risco vulcânico” deste e de outros locais.
Yellowstone já teve três grandes erupções desde há 17 milhões de anos, tendo sido a última há 640 mil. Apesar de não ter tido novas erupções desde então, o Parque Natural onde está localizado encerrou durante algum tempo em 2003 porque a temperatura do solo subiu até aos 93ºC, a ponto de evaporar os géiseres e secar a seiva da vegetação.
Foto: AFP/Getty Images
OBSERVADOR
25/04/2015