O Benfica sagrou-se bicampeão nacional e a equipa juntou-se a milhares de adeptos na rotunda do Marquês de Pombal, em Lisboa. Mas os festejos acabaram com garrafas a voarem e intervenção policial.
A meteorologia foi matreira e, como sempre, pôs-se a adivinhar. Quem consultasse as previsões para domingo reparava que, pelo menos em Lisboa, esperava-se que o calor batesse nos 34ºC. Isto nos termómetros, porque a coincidência fez com que, nos relvados, também se chegasse a esse número – pela 34ª vez o Benfica sagrou-se campeão nacional de futebol. Foi uma caminhada das longas e só à penúltima de 34 jornadas (lá está, mais uma vez, o algarismo, dir-se-á, da sorte para os benfiquistas) é que a matemática garantiu que o título já não fugiria aos encarnados. E assegurou-o logo em Guimarães, cidade onde, em 2009, Jorge Jesus conseguira ganhar o primeiro jogo oficial com o Benfica.
É o primeiro treinador a conseguir ser bicampeão pelo clube. A última vez que houve um técnico venceu dois campeonatos seguidos em Portugal foi na época de 2012/2013. Vítor Pereira alcançou tal façanha, precisamente, no Estádio do Dragão, na derradeira jornada do campeonato, contra o homem de que hoje se fala, Jorge Jesus. Esta façanha não se via na Luz desde 1984 quando o volante da equipa era do sueco Sven-Göran Eriksson. Uma que tinha Manuel Bento, Álvaro Magalhães, Diamantino, Fernando Chalana, Nené, só para um punhado deles, mas também houve bicampeões, com Eriksson, de que nem todos se recordam, e o Observador foi rever.
A história deste bicampeonato do Benfica começou com três pontos, logo à primeira jornada, em casa, com o Paços de Ferreira, por 2-0. Mas o ponto de viragem foi à décima jornada, com uma suada vitória na Choupana, e o empate do Porto na Amoreira. O Benfica é líder isolado desde então, domingo, a 9 de novembro. Não era líder isolado tão cedo desde a época de 1999/2000, quando tinha Jupp Heynckes à frente da equipa. A aventura atingiu o cume em Guimarães, onde um empate sem golos bastou porque o Belenenses empatou (1-1) o FC Porto no Restelo. A festarola começou a cozinhar em lume brando na cidade berço enquanto milhares de pessoas se foram reunindo na rotunda do Marquês de Pombal, em Lisboa.
A equipa lá chegou pouco depois da meia noite. A pompa era tanta como a circunstância: o túnel do Marquês foi cortado ao trânsito e serviu de poiso ao autocarro do Benfica. Foi de lá que os jogadores saíram, um a um, para uma passadeira que os levou até um palco montado em redor da estátua que está no centro da rotunda. Foi lá que pularam, gritaram e cantaram com os adeptos durante cerca de uma hora. Até que a confusão começou a espreitar. Ouviram-se petardos a rebentar antes de se verem garrafas de vidro e pedras da calçada serem arremessadas entre a multidão.
Foi isso que terá obrigado dezenas de agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) a intervir. Não se sabe o que, ou quem, causou os tumultos. Mas isto foi certo: os adeptos tiveram que dispersar à força, a polícia realizou detenções e várias ambulâncias tiveram que ser destacadas para o local.
— o Benfica empatou sem golos com o Vitória de Guimarães e, a uma jornada do fim, sagrou-se bicampeão nacional porque o FC Porto também empatou (1-1) com o Belenenses, no Restelo.
— os encarnados viajaram para Lisboa num avião fretado que descolou do Aeroporto Sá Carneiro, no Porto, onde uma multidão os esperou. A viagem durou cerca de 45 minutos e o avião aterrou por volta das 23h50 no Aeroporto da Portela, em Lisboa.
— daí apanharam um autocarro que os transportou até ao Túnel do Marquês, que estava fechado ao trânsito. Daí os jogadores entraram, um a um, numa passadeira que ligava o túnal a uma estrutura montada em torno da estátua da rotundas. Notou-se que, ao contrário da época passada, a festa foi pensada e organizada, com tempo, pelo Benfica. Milhares de pessoas enchiam a praça.
— durante cerca de uma hora, jogadores e adeptos uniram-se em festejos, cânticos e celebrações. Até que algo despertou a violência: começaram a ser arremessadas garrafas de vidro e pedras da calçada. Dezenas de agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) intervieram para dispersar a multidão. “O Benfica não é isso”, chegou a dizer Luisão, falando para um microfone.
— por volta das 1h30 já praticamente metade da rotunda estava despida de gente. A PSP obrigou milhares de pessoas a abandonarem o local. Houve relatos de vários feridos e detidos no local. A polícia teve de reforçar o contingente de agentes destacados no Marquês de Pombal. A esta hora já o autocarro do Benfica estava a abandonar o túnel.
Sim, não é suposto ver um parágrafo como o anterior constar num texto sobre um clube campeão no futebol. Até Luisão, o capitão encarnado, chegou a pegar no microfone e a dizer, para adepto ouvir: “O Benfica não é isso.” Mas a festa e a farra do 34.º campeonato conquistado pelo Benfica acabou assim mesmo — a mal.
FOTO: EPA/JOSE SENA GOULAO
DIOGO POMBO
OBSERVADOR
17/05/2015