Os especialistas fazem parte de dois projetos internacionais: um deles está a identificar as fontes de emissões de nitrogénio em vários pontos do mundo e o outro elaborou um guia de boas práticas.
Cientistas de 39 países estão em Lisboa a analisar a gestão das emissões de nitrogénio, principalmente na agricultura, para evitar o seu excesso, fonte de poluição, ou a sua falta, que afeta a produção de alimentos.
Os especialistas fazem parte de dois projetos internacionais: um deles está a identificar as fontes de emissões de nitrogénio em vários pontos do mundo, e o outro elaborou um guia de boas práticas para os agricultores e produtores de fertilizantes, visando reduzir o amoníaco na atmosfera, decorrente da aplicação do nitrogénio na agricultura, através dos fertilizantes.
O projeto para a gestão internacional do nitrogénio (International Nitrogen Management System – INMS), cuja reunião decorre até quinta-feira, tem por objetivo “fazer um ponto de situação de quais são as fontes de emissão de nitrogénio para o ambiente, e quais os seus impactos, considerando que há regiões onde há excesso de nitrogénio, em que há questões de poluição, e há regiões em que há deficiência de nitrogénio, como África, e isso é um fator limitante para a produção de alimentos”, explicou à agência Lusa a investigadora Cláudia Cordovil, do Instituto Superior de Agronomia.
A investigadora também é a co-coordenadora do segundo projeto, o grupo de trabalho ‘Task Force on Reactive Nitrogen’, fundado no âmbito da convenção para o transporte de poluentes a longa distância, na alçada na ONU, e que elaborou “um código de boas práticas ou opções a ser utilizadas pelos agricultores e produtores de fertilizantes, para reduzir as emissões de amoníaco para a atmosfera decorrentes da aplicação do nitrogénio agricultura”.
O custo associado à poluição por nitrogénio, também vulgarmente designado azoto (N), atinge 320 milhões de euros por ano na Europa, sendo a agricultura e os combustíveis fósseis as principais fontes de poluição, referem dados da organização do projeto, que acrescenta já ter sido proposta a redução das emissões em 20% até 2020, ponto importante contra as alterações climáticas.
A reunião do INMS, que decorreu na segunda-feira e na terça-feira, focou a avaliação dos impactos do excesso de nitrogénio, na água, no ar, na quantidade de gases com efeito de estufa, na biodiversidade e ecossistemas e na qualidade do solo.
Cláudia Cordovil disse que “a ideia é encontrar algumas mensagens muito simples e objetivas, fundamentadas pela ciência e que possam ser dadas à União Europeia e a todos os organismos envolvidos nestas questões, como a ONU, OCDE ou Organização Mundial de Saúde ou Organização Mundial de Meteorologia, ajudando a criar novas políticas” que ajudem na melhor gestão do nitrogénio, para uma redução dos impactos negativos.
A produção agrícola em quantidades adequadas à atual população mundial “não é possível se não houver nitrogénio disponível” nas formas reativas que alimentam as plantas, mas a eficiência da sua utilização não é alta, e “cerca de 50% do nitrogénio que o agricultor aplica é perdido para o ambiente”, para a água e para a atmosfera, e “acaba por ir causando uma acumulação, o que é prejudicial”, realçou a especialista, avançando o exemplo das chuvas ácidas, diretamente decorrentes da libertação de amoníaco para a atmosfera.
Questionada acerca da sensibilização dos agricultores para este assunto, Cláudia Cordovil disse que “há um grande desconhecimento e ainda não compreendem qual o benefício que podem tirar de algumas ações de mitigação, ainda não é muito claro o custo benefício”.
JOÃO RELVAS
LUSA
29/05/2015