O enviado especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Líbia, Bernardino León, avisou que o país “chegou ao limite” e que, se não houver um acordo em breve, a Líbia poderá tornar-se um “Estado falhado”.
“Se as partes [em conflito] não entendem que a Líbia chegou ao limite, o resultado poderá ser a transformação do país num Estado falhado”, declarou, citado pela agência espanhola EFE.
O diplomata espanhol chegou esta manhã à capital argelina procedente do Qatar para preparar uma reunião, prevista para a próxima semana em Marrocos, na qual as partes em conflito na Líbia deverão limar as suas discordâncias.
O encontro, na localidade marroquina de Sirjaat, ainda não foi confirmado, já que até ao momento apenas o Governo internacionalmente reconhecido, estabelecido em Tobruk, confirmou a sua presença.
O grupo que exerce o poder em Tripoli, considerado rebelde, é o mais reticente a aceitar o plano de paz proposto por Bernardino León, já que acredita que este é uma mera manobra para ganhar tempo e que não soluciona os problemas essenciais.
A este respeito, o enviado da ONU insistiu hoje na urgência de que ambas as partes aceitem “renúncias difíceis”, já que o espetro do colapso financeiro e o fortalecimento do ramo líbio do grupo extremista Estado Islâmico (EI) colocam o país “a escassos centímetros do abismo”.
“A insegurança financeira e a presença do ramo do EI devem unir ambas as partes em conflito”, acrescentou o enviado especial.
A Líbia tem sido palco de conflitos armados internos desde que em 2011 uma revolta contra Muammar Kadhafi degenerou em guerra civil, conseguindo depois de oito meses de conflito derrubar o regime após a intervenção da comunidade internacional.
Dois governos, um considerado ilegítimo, estabelecido em Tripoli, o outro internacionalmente reconhecido com sede em Tobruk, lutam pelo poder, enquanto grupos extremistas aproveitam o caos para ganhar terreno.
Nos últimos meses, o ramo líbio do EI consolidou a sua posição na cidade de Derna no leste do país, e avançou sobre a localidade costeira de Sirte, a cerca de 250 quilómetros de Tripoli, onde já dominam alguns bairros.
O grupo terrorista ocupou a base militar de Qardabiya, desde a qual se controla o aeroporto civil de Sirte, a 29 de maio.
Segundo testemunhas no terreno citadas pela EFE, o EI já está próximo das ruínas do que um dia foi o projeto megalómano de Kadhafi – o Grande Rio Artificial – e aviões leais ao Governo de Tobruk bombardearam as zonas controladas pelo grupo, sem o conseguir expulsar.
A 31 de maio, um atentado suicida do EI abalou a cidade de Misrata, considerado o último bastião de resistência antes da capital, e o grupo conseguiu avanços militares em Benghazi, segunda cidade do país e cenário desde há um ano de duros combates entre as forças das duas partes em conflito.
AFP
03/06/2015