O PSD considera ter chegado a altura de Portugal traçar uma linha vermelha face aos EUA, sobre o futuro da base das Lajes: ou Washington fica ou sai, pagando a despoluição das áreas afetadas.
“Nesta fase, a situação é bastante mais clara: ou os norte-americanos aproveitam as infraestruturas, capacidades e potencial geoestratégico das Lajes ou então limpam o que lá deixaram, em termos de infraestruturas e de poluição”, afirmou o líder do PSD-Açores, Duarte Freitas, ouvido pelo DN a propósito da reunião bilateral entre Portugal e os EUA que decorreu ontem em Angra do Heroísmo.
Questionado sobre se essa opção pela linha dura face aos EUA se deve à mudança de governo em Portugal, Duarte Freitas foi categórico: “Não. Mas agora está concretizada a redução” da presença militar norte-americana nas Lajes e já houve perto de 400 trabalhadores a aceitarem as propostas de rescisão, salientou o dirigente do PSD, garantindo que “não há questões político-partidárias” nesse dossier.
O deputado socialista Miranda Calha parece ter uma perceção diferente. Após lembrar o facto de o ex-secretário da Defesa dos EUA Leon Panneta não ter sido recebido pelo anterior primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, quando visitou Lisboa, o antigo secretário de Estado da Defesa disse ter “confiança que, com este governo, haverá um um novo impulso no relacionamento bilateral”.
“Há um novo governo, há boas possibilidades que se possa reativar um melhor relacionamento e encaminhamento destas matérias EUA/Portugal”, referiu Miranda Calha, sublinhando ter “a expetativa de que se possa encetar um relacionamento diplomático muito mais positivo em relação ao que interessa”.
O deputado João Rebelo (CDS), outro membro da comissão de Defesa, contrapôs: “Não vou entrar na demagogia de quem era oposição na anterior legislatura e dizia que a culpa era do governo PSD/CDS… como não será deste governo se não houver alteração” nas posições de Washington.
“Foi uma decisão unilateral dos EUA em reduzir a sua presença nas Lajes e ficámos muito dependentes da alteração da [sua] vontade. Sabemos do esforço feito pelos congressistas norte-americanos de origem portuguesa para que tal não aconteça, as autoridades na anterior legislatura fizeram tudo o que era possível. Tenho a certeza que o PS vai perceber agora a dificuldade de alterar uma decisão unilateral tomada” pelos EUA, frisou João Rebelo.
Segundo o social-democrata Duarte Freitas, há congressistas norte-americanos – em especial luso-descendentes – que “acham que esse é o caminho para poder pressionar” os EUA, nomeadamente levando-os a instalar o Centro Conjunto de Análise de Informações nas Lajes em vez numa base aérea de Croughton (Reino Unido). “O Governo tem de colocar isto em cima da mesa com esta simplicidade: [os EUA] ou ocupam ou limpam. Já estamos numa fase em que as coisas têm esta simplicidade”, insistiu o líder do PSD-Açores.
João Vasconcelos (BE), vice-presidente da Comissão Parlamentar de Defesa, deixou clara a oposição do Bloco à continuação da presença militar dos EUA nos Açores: “A redução norte-americana na base das Lajes não se compadece apenas com medidas de mitigação, devendo o espaço ter uma utilização unicamente civil”.
“Torna-se necessário encontrar soluções alternativas à utilização da base que possibilitem a revitalização da economia da região, da ilha Terceira e do concelho da Praia da Vitória”, prosseguiu João Vasconcelos, uma vez que “não é desejável manter uma presença militar “adormecida” por parte dos norte- -americanos e a utilização mista [civil e militar, que existe há anos] do espaço afigura-se irrealista”.
Certo é que “são necessárias contrapartidas adequadas”, através de “medidas indemnizatórias compensatórias que tenham em conta a total e eficaz descontaminação da área em causa, assim como a criação de um plano de emergência que minimize os efeitos da redução de pessoal civil ao serviço das forças militares norte-americanas” nas Lajes, concluiu o deputado bloquista.
O deputado António Filipe (PCP) sublinhou ao DN que “qualquer decisão” de Washington “deve respeitar os direitos das pessoas e ressarcir a ilha Terceira e as populações” pelos custos financeiros, económicos e sociais de reduzir a sua presença nas Lajes.
“Não somos adeptos da presença dos EUA” nas Lajes, “mas os governos central e regional devem ter em conta que a economia e as populações devem ser defendidas da melhor forma” – e se isso envolver a continuação dos militares norte-americanos na Terceira, “não temos nenhuma contraproposta a fazer”, argumentou o também deputado da comissão de Defesa.
Angra do Heroísmo acolheu ontem a 34ª reunião da comissão bilateral permanente Portugal-EUA, dominada pelo futuro das Lajes.
Foto: João Toste/Manuel Carlos Freire/DN/11/12/2015