António Guterres participa esta terça-feira num diálogo informal na Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, uma iniciativa organizada pela organização para tornar mais transparente o processo de escolha do seu próximo secretário-geral.
Esta é a primeira vez que a ONU abre as portas ao processo de seleção do novo secretário-geral, respondendo a pressões internas e externas para tornar o processo mais aberto ao escrutínio do público.
Oficialmente, o processo de escolha continuará o mesmo: numa reunião à porta fechada, o Conselho de Segurança aprovará um nome, tendo os cinco membros permanentes (Estados Unidos da América, Reino Unido, Rússia, França e China) direito a veto; esse nome será depois submetido para aprovação à Assembleia Geral.
A nova iniciativa, no entanto, dará oportunidade ao público de conhecer melhor os candidatos durante este evento em Nova Iorque, que durará três dias, e um segundo em Londres, que começa a 03 de junho, no Central Hall Westminster, onde o primeiro secretário-geral da ONU, Trygve Lie, foi escolhido.
O presidente da Assembleia Geral, Mogens Lykketoft, explicou numa carta que os candidatos terão de entregar documentos com as suas propostas, com um máximo de 2 mil palavras, e que cada um terá até 10 minutos para defender as suas posições. No final, vão responder a questões dos estados membros e, se houver tempo, de representantes da sociedade civil.
O diálogo com António Guterres acontece terça-feira, às 15:00 locais (20:00 de Lisboa). Durante a manhã, será ouvido Igor Luksic, ex-primeiro-ministro de Montenegro, e a diretora geral da Unesco, a búlgara Irina Bokova.
Na quarta-feira, participam o ex-Presidente da República da Eslovénia Danilo Türka, a ministra dos Negócios Estrangeiros e Assuntos Europeus croata, Vesna Pusíc, e a ex-ministra dos negócios estrangeiros e integração europeia da Moldávia Natalia Gherman.
No último dia, quinta-feira, participa a administradora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, a neozelandesa Helen Clark, e o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros da Macedónia, e ex-presidente da Assembleia Geral da ONU, Srgjan Kerim.
O ex-conselheiro especial de Ban Ki-moon e analista da ONU Edward C. Luck disse à Lusa em fevereiro que António Guterres “estará, sem dúvida, entre os candidatos mais fortes” ao mais alto posto diplomático do mundo, mas que a sua candidatura terá de “remar contra a maré”.
Olhando para o grupo de candidatos, o especialista disse que “género e geografia não favorecem” António Guterres na eleição deste ano.
“Muitos membros expressaram a determinação de encontrar uma mulher altamente qualificada para o cargo, algo que seria inédito. Várias mulheres promissoras declararam a sua intenção ou aguardam nos bastidores”, explicou.
Luck explicou ainda que “um número de países, especialmente da Europa de Leste ou do mundo em desenvolvimento, parece sentir que este é o momento certo para a Europa de Leste ter o cargo.”
“Por isso, apesar de Guterres ser soberbamente qualificado para tornar-se o próximo secretário-geral, o seu caminho será contra a maré”, concluiu Edward C. Luck.
TPT com: Diário Digital / Lusa/ 11 de Abril de 2016