Elisa Ferreira colhe apoios da esquerda à direita para vice-governadora do Banco de Portugal

De Eduardo Catroga a Francisco Louçã, o nome da economista e eurodeputada socialista Elisa Ferreira para vice-governadora do Banco de Portugal (BdP) colhe o apoio de diversas figuras do setor, da esquerda à direita, que aplaudem a sua escolha. O governador do BdP, Carlos Costa, não deixou de sinalizar, porém, que a “proposta” de nomeação” será “formalizada” em “devido tempo”, lembrando que é ao governador que cabe essa iniciativa. Além de Elisa Ferreira foi também noticiado o nome de Máximo Santos, atualmente presidente do banco mau que ficou do BES, para a administração do regulador.

 

 

Respondendo aos jornalistas sobre a notícia, divulgada pelo Expresso, Carlos Costa foi breve e não disfarçou o incómodo. “Sei que estão curiosos de saber quando serão nomeados os novos membros do conselho de administração. Como sabem, é um procedimento que foi adotado por lei e pela Assembleia da República e cabe ao governador formalizar uma proposta. Em devido tempo irei formalizar uma proposta que vista a reforçar o conselho de administração”, afiançou.

 

 

As regras “protocolares” deste processo foram tudo menos by the book. A saída de Elisa Ferreira do Parlamento Europeu (PE) acabou por ser revelada por Marcelo Rebelo de Sousa, na terça-feira à noite, numa conversa informal com eurodeputados, assistida por jornalistas durante a visita a Estrasburgo. Deixando um elogio e caucionando a escolha de António Costa. “Estava eu a falar de instituições financeiras e acontece, quem sabe, se não haverá aqui perdas – relativas, porque há enriquecimento noutras áreas – de quem, em qualquer caso, tem uma posição muito útil para continuar a fazer a ponte com as instituições europeias no domínio financeiro”, disse o Presidente da República.

 

 

A eurodeputada e ex-ministra do Ambiente socialista liderou a equipa do PE que, em 2014, chegou a acordo com os governos da União Europeia sobre o mecanismo único de resolução dos bancos, no quadro da União Bancária. Na altura Elisa Ferreira mereceu elogios do então primeiro-ministro, Passos Coelho, que salientou “o papel relevante que, do lado do PE, foi conduzido por uma deputada portuguesa, Elisa Ferreira – relatora da assembleia -, com a qual o governo português colaborou de uma forma muito próxima e com bons resultados”.

 

 

“Excelente escolha. Seria uma boa governadora”, salientou Francisco Louçã, antigo líder do BE. “Parece-me uma escolha adequada. Tem o perfil indicado. É uma economista com larga experiência, toda a sua intervenção revela substância técnica”, sublinha Eduardo Catroga, ex-ministro das Finanças do PSD, que não vê “problema” na sua conhecida filiação partidária. “As pessoas não podem ser catalogadas dessa forma. O que interessa são as suas capacidades”, defendeu.

 

 

Na mesma linha de pensamento esteve Augusto Mateus, ex-ministro da Economia de um governo PS, que considerou Elisa Ferreira “uma pessoa capaz, que ganhou experiência internacional com as atuais funções”. Apesar de, assinalou, “não ser especialista na área bancária e financeira, é preciso articular o setor financeiro com o resto da economia e Elisa Ferreira será capaz de fazer essa ponte”. Questionado sobre se o facto de ser militante do PS não pode ser uma fragilidade na imagem de independência que requer um cargo desta natureza, Augusto Mateus é perentório: “A independência está na coluna vertebral de uma pessoa. Não depende de se é ou não militante de um partido.”

 

 

Miguel Beleza, economista e antigo governador do Banco de Portugal (de 1992 a 1994), alinha nos elogios. “Acho muito bem”, atalhou logo. “Conheço-a muito bem, dos tempos do Porto. Parece-me bem, é uma excelente escolha”, elogiou ao DN. O mesmo registo vem de Medina Carreira, jurista, que foi ministro das Finanças do I Governo Constitucional: “A todos os títulos, é a pessoa indicada. Se há boas escolhas, esta é uma delas”, declarou. Também não vê que seja uma “vulnerabilidade” a militância no PS. “Não. É a pessoa indicada”, frisou.

 

 

Políticos no banco central

 

 

A entrada de políticos na administração do banco central não é de agora. Vítor Constâncio, que foi vice-governador de 1977 a 1979 e de 1981 a 1984 e governador de 1985 a 1986, saiu para liderar o PS de 1986 a 1989. Regressaria ao cargo de governador de 2000 a 2010.

 

 
Também Miguel Beleza esteve como ministro das Finanças do primeiro governo maioritário de Cavaco Silva em 1990-91 e em 1992 foi indicado para governador. Sairia antes de completar o mandato, em 1994, em choque com o seu sucessor nas Finanças, Braga de Macedo.

 

 
Mais recentemente, Hélder Rosalino, quadro do banco desde 1994, saiu para o primeiro governo de Passos para secretário de Estado da Administração Pública, regressando à instituição em dezembro de 2013, para ser indicado pelo governo de que fez parte para a administração do BdP em setembro de 2014.

 

 

Elisa será ouvida no Parlamento

 

 

Antes de se sentar no conselho de administração do banco central, Elisa Ferreira tem de ser ouvida no Parlamento, depois da alteração à Lei Orgânica do BdP proposta por António Costa há pouco mais de um ano, como secretário-geral do PS, então na oposição.

 

 
Segundo a nova formulação da lei, “os restantes membros do conselho de administração são designados por resolução do Conselho de Ministros, sob proposta do governador do Banco de Portugal e após audição por parte da comissão competente da Assembleia da República, que deve elaborar o respetivo relatório descritivo”.

 

 

Miguel Marujo e Valentina Marcelino /DN/14 de Abril de 2016

 

 

 

 

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