Era um dia como tantos outros, em Bruxelas. Rui Boavida, de 40 anos, diplomata da Reper – Representação Portuguesa naquela cidade, começava o dia de trabalho com uma reunião na sede do Conselho da Comissão Europeia. À entrada da Praça Schuman, aponta o smartphone para o edifício envidraçado e dispara uma fotografia. Em pano de fundo: o edíficio europeu com alguns carros à volta, incluindo um da polícia.
Sem qualquer aviso, depressa se envolve numa perseguição a pé para fugir a um agente que lhe pediu o telemóvel, sem mais explicações. “Dá-me o telemóvel!” O diplomata, especialista em questões internacionais da energia e segurança energética e que já viveu na China e em Singapura, só parou de correr quando o polícia o apanhou para o algemar.
Encostado às traseiras de um carro, já sem carteira e sem telemóvel, o português continuou a gritar: “Estão a levar-me porque tirei uma fotografia. Então? Isto é a sério?” Mas, nessa altura, o agente, e outros seis que se juntaram, já tinha visto a sua identificação ao peito. Foi algemado, metido numa carrinha, filmado.
A espectacularidade da cena fez com que o vídeo captado por transeuntes se tornasse viral nas redes sociais, a começar pelo Twitter. Foi o correspondente da Euronews James Franey que twitou as primeiras imagens. “Aconteceu um incidente bizarro esta manhã. A polícia de Bruxelas deteve este diplomata português. Reper diz que ele tirou foto a edifício da UE”, escreveu.
Ao que a Reuters apurou, foi a própria Reper, depois de ter conhecimento do “bizarro incidente”, que tentou localizar Rui Boavida numa das esquadras da cidade. Encontrou-o 40 minutos depois e estabeleceu contactos de forma a resolver a questão com toda a celeridade. O português acabou por ser libertado, depois de um contacto do consulado.
A justificação da política belga para o caso é que “o alerta terrorista de nível amarelo proíbe tirar fotografias” aos edifícios públicos. Mas a questão não é consensual. Aliás, a brutalidade policial é um assunto na ordem do dia, na Bélgica. Em Março deste ano, centenas de pessoas participaram numa marcha contra a violência dos polícias, onde estiveram a União Sindical Estudantil, o Feminismo Libertário Bruxelas, a Leuven Anarchiste Groep, as Juventudes Libertárias da Bélgica e militantes antifascistas.
Para já, a Reper dá o caso como “sanado”.
TPT com: AFP/REUTERS/ Euronews /Sónia Sapage/Público/5 de Maio de 2016