A mensagem é clara: o PS quer ganhar as autárquicas do próximo ano, “habitualmente e em regra” vai apresentar candidatos próprios, mas deve estar disponível para apoiar candidaturas independentes “onde as coisas estejam a correr bem”.
António Costa apenas deu o exemplo da Câmara Municipal do Funchal – onde os socialistas integram um executivo municipal liderado por Paulo Cafôfo, coligação cujo trabalho elogiou e admitiu repetir. E apesar de nunca ter citado o nome do autarca ou da cidade do Porto, António Costa deixou a porta aberta à renovação do acordo que hoje o PS tem com Rui Moreira.
Há “situações onde o PS tem integrado e integra, com grande satisfação” a gestão de determinadas autarquias, disse o secretário-geral do PS. E, num recado interno, foi claro sobre o que deve ser feito.
“O mais natural é que não se deixe de integrar listas de movimentos independentes, se a governação corre bem, porque é assim que servimos as cidades”, defendeu, no discurso de encerramento do congresso socialista, que decorreu nos últimos três dias, na Feira Internacional de Lisboa (FIL).
Antecipando o desagrado de alguns que não se conformem com o facto de o PS não apresentar um candidato próprio à Câmara do Porto, Costa usou uma imagem alegórica. “Gosto muito do emblema da mãozinha [referindo-se ao símbolo do PS], mas o maior disparate que se pode fazer é, em nome do emblema da mãozinha, sacrificar a gestão de uma cidade”, disse, lembrando a sua militância desde os 14 anos.
Costa reconheceu que a decisão de apoio às candidaturas autárquicas é das concelhias e das federações, mas lembrou que pode avocar a si a decisão em caso de não haver acordo. “Espero que não seja necessário e que tudo se resolva a bem em cada concelhia ou federação”, disse.
Postura leal e construtiva na UE
O secretário-geral do PS defendeu também uma postura leal e construtiva na Europa, sem embarcar em bravatas nem estar numa posição de submissão, frisando que não é possível ser socialista fora da União Europeia.
“Bem sei que por vezes é difícil ser socialista no quadro da União Europeia, mas há uma coisa sobre a qual não tenho a menor das dúvidas: é que fora do quadro da União Europeia é impossível ser socialista”, afirmou António Costa.
“Não é possível regular as alterações climáticas, regular o comércio internacional, combater o terrorismo, procurar ter um sistema de justiça fiscal que não seja assente nas ‘offshores’ e no dumping fiscal se não tivermos União Europeia a sério, forte, e com a participação de Portugal”.
Para António Costa, Portugal não pode estar na União Europeia apenas atento e obrigado “a ver o que vai acontecer”, mas sim “de uma forma leal e construtiva”.
“Estar de uma forma leal e construtiva é nem embarcar em bravatas nem estar numa posição de submissão. Nós somos iguais entre iguais”, afirmou António Costa.
Lista de Costa conquista 233 lugares
A lista do secretário-geral do PS, António Costa, para a Comissão Nacional conseguiu 233 dos 251 lugares, correspondentes a 92,8% dos votos, enquanto a lista encabeçada por Daniel Adrião conseguiu 18 lugares.
Os resultados foram anunciados pelo presidente do PS e da Mesa do Congresso, Carlos César: a lista A, da direção, conseguiu 988 votos e a lista alternativa recolheu 79 votos. Votaram em branco para a eleição da Comissão Nacional – órgão máximo do partido entre Congressos – 47 delegados.
A lista da direção à Comissão Nacional é encabeçada pela secretária-geral adjunta, Ana Catarina Mendes. Entre os primeiros lugares desta lista, estão dois dos principais representantes da Tendência Sindical Socialista: Rui Riso (UGT) e Carlos Trindade (CGTP-IN), ocupando respetivamente as sexta e oitava posições.
A inclusão destes nomes coincide com o objetivo da direção do PS de colocar mais representantes da esfera sindical, assim como ativistas sociais, na Comissão Nacional do PS, o órgão máximo partidário entre congressos.
Na lista de Ana Catarina Mendes, na parte cimeira de uma lista que apresenta 251 efetivos, estão o antigo ministro da Saúde António Correia de Campos (2.º lugar), a secretária de Estado da Educação Alexandra Leitão (4.º lugar) e na quinta posição o ex-dirigente Sérgio Sousa Pinto, que se demitiu do Secretariado Nacional do PS por discordar do acordo político com o Bloco de Esquerda e o PCP para a formação do atual Governo.
A eurodeputada Maria João Rodrigues (em 7.º lugar), o deputado Miranda Calha (8.º lugar) e a secretária de Estado Ana Sofia Antunes (10.º lugar) são outros nomes que constam na primeira linha da lista da secretária-geral adjunta do PS.
Na lista de Daniel Adrião surge em terceiro lugar a militante Cristina Martins, que na Federação de Coimbra denunciou o caso de fichas falsas o qual levou para já à suspensão de quase duas dezenas de militantes afetos à corrente do atual líder dessa distrital, Pedro Coimbra.
À Comissão Nacional de Jurisdição concorreu apenas uma lista, que conseguiu 1024 votos a favor (90 delegados votaram em branco).
Este órgão continuará a ser presidido por Telma Correia e terá como efetivos Marcelino Pires, Cristina Bento, Vítor Pereira, Francisco Oliveira, Armando Paulino, João Serrano, Ana Maria Basto e António Reis.
Para a Comissão Nacional de Fiscalização Económica e Financeira concorreu também uma lista única, que recolheu 1027 votos favoráveis (registarma-se 87 votos em branco).
À frente deste órgão continuará Domingues Azevedo, que terá como efetivos Hugo Lobo, Ana Elisa Silva Costa Santos, Luís Catarino Costa, Daniel Filipe Moreira Lopes, Carla Custódio e Ricardo Costa.
Moreira “muito satisfeito” com eventual apoio do PS Rui
“O CDS já manifestou interesse em apoiar, saber que o PS apoia deixa-me muito contente, muito satisfeito, mas será sempre uma candidatura independente e as candidaturas independentes não podem por definição fazer coligações, não podem por lei”, disse o autarca.
O secretário-geral do PS manifestou hoje de forma implícita um apoio à possibilidade dos socialistas apoiarem a recandidatura do independente Rui Moreira à presidência da Câmara Municipal do Porto, assim como renovarem a experiência autárquica do Funchal.
Falando na sessão de encerramento do 21.º Congresso Nacional do PS, embora sem mencionar o caso concreto do Porto, António Costa defendeu que militantes socialistas devem poder apoiar listas lideradas por um presidente de Câmara independente quando essas experiências autárquicas correram bem.
“Não tenho nenhum acordo formal com o PS, nem o pedi, o PS trata do assunto dentro daquilo que é o seu calendário, tem feito as audições que tem feito, junto com os seus eleitores. Eu irei apresentar uma lista e convidarei aqueles que eu considero que são os melhores e espero, naturalmente, apoio do PS, do CDS, de outros partidos, cidadãos independentes e de muitas pessoas para que consigamos formar uma lista que mereça mais uma vez o apoio maioritário dos cidadãos do Porto”, disse Moreira.
O autarca, que falava aos jornalistas depois de acompanhar a visita do Presidente da República à Irmandade dos Clérigos, reafirmou que o seu movimento “continuará independente”.
“Apresentar-nos-emos às eleições, eu serei seguramente cabeça da lista a Câmara Municipal do Porto e o presidente da Assembleia Municipal será seguramente o meu escolhido para ser cabeça de lista para Assembleia Municipal. Depois, o resto decorre naturalmente”, afirmou.
Segundo Rui Moreira, “o eleitorado não é pertença de ninguém, ninguém pode pensar que é proprietário do voto das pessoas, neste caso da cidade não se trata de opções ideológicas, trata-se de escolhas pela cidade que nós na altura anunciamos e a que nos mantemos fiéis, em relação à cultura, coesão social e economia”.
“Temos sido fiéis a esse programa, que atrai pessoas quer da esquerda, quer da direita e não atrai outras que acham que este programa não é o mais adequado e com certeza surgirão alternativas. Não acredito que sejamos os únicos candidatos, não me parece que estamos no partido único, isso de facto seria deplorável, mas, naturalmente que compreendem, fico satisfeito que reconheçam o nosso trabalho”, disse.
O autarca lembrou ainda que da sua equipa “fazem parte muitas pessoas, e algumas deles são militantes do Partido Socialista, como é o caso do dr. Manuel Pizarro que tem sido de uma grande lealdade e também de uma grande competência, como têm sido outros vereadores mas, neste caso, porque estamos a falar do PS, quero dizer aqui mais uma vez que o dr. Manuel Pizarro tem sido um excelente parceiro e de uma extraordinária lealdade”.
TPT com: AFP//Lusa//DN// Nuno Miguel Ropio/JN/ 5 de Junho de 2016