Maria das Neves, terceira candidata mais votada na primeira volta das presidenciais em São Tomé e Príncipe, realizada dia 17, ameaçou esta quarta-feira recorrer a “outras ações” caso o escrutínio não seja anulado.
“Os vícios são notórios e a única solução é a anulação de todo esse processo sob pena de nós comprometermos a nossa democracia, sob pena de comprometermos a imagem deste país”, disse a candidata em conferência de imprensa.
“Estamos a apelar a todas as instituições da República que assumam as suas responsabilidades sob pena de nós entrarmos com outras ações”, acrescentou.
Maria das Neves voltou a classificar como “farsa” o processo eleitoral e acusou o presidente do Supremo Tribunal de Justiça, José Bandeira, de “ter vendido a face” ao poder.
“Quero confessar que fiquei surpreendida com a atuação do senhor presidente do Supremo Tribunal de Justiça que vendeu completamente a face. Não parece ser um presidente do Supremo Tribunal de Justiça que devia ser isento neste processo, tomou parte e lamento muito que as instituições na nossa República estejam tão envolvidas, perdendo a face num ato como este”, criticou Maria das Neves.
Quanto ao presidente da Comissão Eleitoral Nacional, a candidata acusou-o de “flagrante contradição”, acrescentando que Alberto Pereira “veio a público reconhecer que houve falhas gravíssimas”.
“É necessário assumir-se as responsabilidades”, salientou Maria das Neves, exigindo uma vez mais a “anulação de todo” o processo eleitoral porque, considera, “está todo viciado”.
“Quiseram que o candidato do poder ganhasse as eleições custe o que custasse, mas falharam na estratégia que utilizaram”, defendeu.
“Estou convicta que para além das irregularidades constatadas e reconhecidas pelo senhor presidente da Comissão Eleitoral Nacional, haverá muitas outras que certamente comprometerão todo o processo”, frisou a candidata.
Os resultados oficiais do apuramento geral da primeira volta divulgados segunda-feira afirmam Evaristo de Carvalho, candidato apoiado pelo partido no poder, Ação Democrática Independente com 34.522 votos, o que corresponde a 49,88% dos votos expressos, seguido de Manuel Pinto da Costa com 17.188 votos (24,83%) e Maria das Neves com 16.828 (24,31%).
Num universo de 111.222 votantes, foram às urnas 71.524, que corresponde a 64,31% de afluência, havendo 35,69% de abstenções, equivalente a 39.698 não votantes.
Relativamente aos outros dois candidatos, Manuel do Rosário obteve 478 votos (0,69%) e Hélder Barros 194 (0,28%).
Foram ainda apurados 641 votos em branco (0,90%) e 1.673 nulos (2,34%).
O candidato presidencial Pinto da Costa recusa ir à segunda volta
O candidato presidencial são-tomense Manuel Pinto da Costa anunciou vai recusar entrar na segunda volta das eleições presidenciais de São Tomé e Príncipe, considerando que “participar num processo eleitoral tão viciado seria caucioná-lo”.
Inicialmente, a Comissão Eleitoral Nacional (CEN) considerou que o candidato apoiado pelo governo, Evaristo Carvalho, ganhou com mais de 50 por cento dos votos, uma decisão que foi depois revertida com novas contagens dos boletins, que indicaram uma segunda volta com Pinto da Costa, atual Presidente da República e recandidato ao cargo.
Numa declaração hoje lida no Palácio do Morro da Trindade, Pinto da Costa considera que, mantendo-se a atual CEN e as estruturas de fiscalização, novas eleições “não serão livres nem transparentes e muito menos justas”.
“Assim sendo, continuar a participar num processo eleitoral tão viciado seria caucioná-lo”, acrescentou o governante, sublinhando: “Não o faço como candidato e muito menos como Presidente da República”.
Governo afirma a diplomatas que eleições foram transparentes
O Governo são-tomense chamou esta quarta-feira os representantes das missões diplomáticas no arquipélago para informar que a primeira volta das eleições presidenciais foi “pacífica, ordeira e transparente”, pedindo aos diplomatas para transmitirem isso mesmo aos seus “respetivos estados e governos”.
“O Governo reitera a sua profunda convicção de que a primeira volta da eleição presidencial realizada no domingo, 17 de julho, foi ordeira, pacífica e transparente e, em consequência tomou todas as disposições necessárias para a realização da segunda volta”, disse o Ministro dos Negócios Estrangeiros e Comunidade (MNEC), Salvador dos Ramos.
“Ficou demonstrado que não houve quaisquer ilícitos no processo suscetíveis de pôr em causa o resultado da eleição, não se constataram quaisquer protestos depositados nas mesas de voto reclamando o que quer que seja”, acrescentou o governante, durante um encontro no MNEC de pouco menos de 20 minutos, em que participaram os embaixadores de Portugal, Brasil e Taiwan, seis encarregados de negócios e o representante do sistema das Nações Unidas.
O executivo são-tomense agradeceu também “aos estados, governos, organizações internacionais e toda a comunidade internacional” por todo o apoio e colaboração no processo eleitoral.
O Governo apelou ainda ao povo são-tomense a “manter a calma e a tranquilidade que sempre caracterizaram os são-tomenses em ocasiões semelhantes e reitera a sua convicção de que no dia 7 de agosto o país elegerá o seu novo Presidente da República que, como previsto na lei, tomará posse no dia 3 de setembro”.
O Tribunal Constitucional decidiu que Evaristo Carvalho, candidato apoiado pelo partido no Governo, a Ação Democrática Independente (ADI), concorrerá sozinho à segunda volta das presidenciais, depois de o atual Presidente, Manuel Pinto da Costa, que ficou em segundo lugar na primeira volta, ter desistido.
Pinto da Costa considerou que “participar num processo eleitoral tão viciado seria caucioná-lo”.
TPT com: AFP//Observador//Paulo Agostinho//Lourenço da Silva//Lusa// 27 de Julho de 2016