De origem portuguesa, esta tradição remonta às celebrações religiosas realizadas em Portugal a partir do século XIV (14), nas quais a terceira pessoa da Santíssima Trindade era festejada com banquetes coletivos designados de Bodo aos Pobres com distribuição de comida e esmolas.Há referências históricas que indicam que foi inicialmente instituída, em 1321, pelo convento franciscano de Alenquer sob proteção da Rainha Santa Isabel de Portugal e Aragão.
De acordo com os documentos da época, a Rainha D. Isabel, não se conformava com o confronto entre pai e filho legítimo em vista da herança pelo trono, pois era desejo do Rei D. Dinis, que a coroa portuguesa passasse, após a sua morte, para o seu filho bastardo, Afonso Sanches.
Diante do conflito, a rainha Isabel passou a suplicar ao Divino Espírito Santo pela paz entre o seu esposo e o seu filho.
A interferência da rainha neste assunto teria evitado um grande conflito armado, denominado por “A Peleja de Alvalade”.
Acontecera que, montada na sua pequena mula, a figura veneranda da rainha D. Isabel, surgira entre os exércitos de pai e filho, prestes a digladiarem-se. Ninguém se atreveu a avançar, ninguém pensou sequer em embargar o passo da rainha.
Uma interpretação romanceada do evento relata que de súbito, como que movidos por uma força invencível, lanças, montantes e pendões se abateram de um e de outro lado e todos os guerreiros pararam.
Como sabem, as guerras eram importantes na sociedade medieval, e os fidalgos que possuíam grande importância e prestígio social e econômico, preparavam-se desde a infância para serem, comandantes de guerreiros eficientes, leais e corajósos.
E os exércitos do Rei D. Dinis e de seu filho legítimo D. Afonso, espalhavam o desassossego em todo o reino, com assassínios e violências de toda a espécie.
A celebração do Divino Espírito Santo no planeta teve origem na promessa da Rainha D. Isabel de Portugal e Aragão, por volta do ano de 1320, e as pazes fizeram-se em Fevereiro de 1324, em Santarém, sendo consideradas como um milagre.
Mas o milagre mais popular da Rainha Santa Isabel é sem dúvida a do Milagre das Rosas.
Segundo a lenda portuguesa, a rainha saiu do Castelo do Sabugal numa manhã de inverno para distribuir pães aos mais desfavorecidos. Surpreendida pelo soberano, que lhe inquiriu onde ia e o que levava no regaço, a rainha teria exclamado: São rosas, Senhor!. Desconfiado, D. Dinis inquiriu: Rosas, no Inverno?
D. Isabel expôs então o conteúdo do regaço do seu vestido e nele havia rosas, ao invés dos pães que ocultara.
E a Rainha que prometeu ao Divino Espírito Santo peregrinar o mundo com uma cópia da coroa do império, com a finalidade de arrecadar donativos em benefício da população pobre, caso o seu esposo e o seu filho fizesse as pazes, dava assim início a um dos cultos religiosos mais antigos de Portugal.
O seu centro principal parece ter sido em torno das localidades de Alenquer e Tomar, com esta última a ser sede do priorado da Ordem de Cristo, a quem foi confiada a tutela espiritual das novas terras descobertas, incluindo dos Açores.
Mas para além da passagem aos açorianos da tradição e da solidariedade para com os mais necessitados, a Ordem de Cristo devido à expansão da navegação marítima e do conhecimento europeu do mundo, manda aqui construir um importante hospital para a época, fazendo com que os Açores passe rapidamente da situação de terra remota nos confins do mundo, para ser conhecido como “encruzilhada das navegações atlânticas e lugar de partida para novas explorações”, particularmente no Atlântico Noroeste.
O hospital foi fundado em 1498, a cargo da Santa Casa da Misericórdia de Angra, e recebe a designação, ainda hoje mantida, de Hospital do Santo Espírito.
De referir que nesse mesmo século, o culto ao Divino Espírito Santo passou a ser também celebrado a bordo das Naus do Brasil e das Armadas da India.
A partir daí e particularmente após o início do século XVIII, o culto do Divino Espírito Santo assume-se como um dos traços centrais da açorianidade, sendo o verdadeiro traço cultural unificador das populações das diversas ilhas.
O culto do Divino Espírito Santo está em claro crescimento, tanto nos Açores como nas zonas de emigração açoriana, nomeadamente na Província do Ontário, no Canadá, e nas costas leste e oeste dos Estados Unidos da América.
Em Newark, no estado de New Jersey, é graças aos membros do Açores Social & Sport Club, que anualmente se realiza, aquele que é já considerado, como um dos eventos religiosos mais importantes da cidade de Newark.
No último fim de semana de Maio e durante três dias, o Bairro Leste de Newark, transforma-se em capital açoriana, graças às festividades em honra do Divino Espírito Santo, que se realizam nesta cidade desde 1978.
Este ano e como manda a tradição, também não faltaram os comes e bebes para aconchegar o estômago das centenas de pessoas que fizeram questão de estar presentes nas festividades que decorreram no recinto deste clube açoriano.
O nobre trabalho associativo que o Clube Açores de Newark realiza, muitas vezes discreto, mas persistente, merece de todos o maior respeito, não só pelas causas que defendem, mas também pelos resultados que expressam todo este esforço a favor do clube e da comunidade.
Sob o calor das altas temperaturas que se fizeram sentir este ano, dezenas de membros e amigos do Clube Açores de Newark, enfrentaram também o calor dos assadores por onde passaram milhares de sardinhas, febras e frangos para satisfazer os apetites dos visitantes que, em espírito fraterno, regaram o repasto com vinho e cerveja.
Para sobremesa, não podiam faltar as famosas malaçadas, preparadas à maneira antiga, pelas senhoras auxiliares deste clube açoriano, contribuindo também para facilitar, a partilha de bons momentos entre os festivaleiros, com muitos deles(as) a ficarem a saber um pouco mais sobre as tradições religiosas e gastronómicas portuguesas.
Os responsáveis pelo clube açoriano de Newark, estão conscientes da importante missão que é necessário realizar, para dar continuidade ao trabalho desenvolvido, por gerações de compatriotas.
Na área cultural, tudo têm feito para que as camadas mais jovens conheçam as fórmulas mais elementares da sua própria cultura. A para animar a festa, que durou três dias, actuaram os grupos musicais “Mega V”, Eurosound”, Céu Azul, e os “EDGE”, que se deslocaram prepositadamente do estado de Massachusetts.
A Banda Nossa Senhora de Fátima de Newark, acompanhou a Benção e Distribuição das Pensões, no salão deste clube açoriano.
E chega o dia da tradicional procissão em honra do Divino Espírito Santo, que percorre parte da Wilson Avenue e Ferry Street, ou Portugal Avenue, a caminho da Igreja de Nossa Senhora de Fátima de Newark, com muitas crianças a participar na procissão.
Era um gesto público de fé, onde os silêncios, as marchas musicais, e a oração, falavam da gratidão e da alegria que permanecia no coração de quantos acolheram na fé a mensagem do Divino Espírito Santo.
A procissão, acompanhada por um número considerável de pessoas de todas as idades, foi presidida pelo padre António Ferreira, da Paróquia da Igreja de N.S. de Fátima de Newark, assessorado pelo diácono Albino Marques, que fizeram questão de elogiar a iniciativa dos membros directivos do Clube Açores de Newark, “e também aos fiéis que trouxeram consigo as preocupações e as esperanças deste nosso tempo, pedindo a intercepção do Divino Espírito Santo”.
A procissão que foi acompanhada pela Banda Nossa Senhora de Fátima de Newark e ainda pela Banda Filarmónica Santa Cecília de Fall River, estado de Massachusetts, contou também com a presença do Cônsul Geral de Portugal em Newark, Dr. Pedro Soares de Oliveira, e de várias figuras políticas da cidade de Newark e do estado de New Jersey, entre elas o vereador de Newark, Augusto Amador e a legisladora do estado de New Jersey, Eliana Pintor-Marim.
E a pomposa procissão chega à Igreja, onde foi celebrada a Missa da Coroação. Uma tradição medieval, que continua a ser muito participada, pela dinâmica e prestígio, que esta manifestação cultural tem.
Segundo o padre António Ferreira, “o culto ao Espírito Santo apela à união dos portugueses da diáspora e à preservação e divulgação das suas raízes e tradições culturais, históricas e religiosas, jundo da sociedade onde se inseriram”.
Após a celebração da Santa Missa a procissão acompanhada das inúmeras mordomias, regressou ao clube, para continuar a festa da abundância, através do tradicional almoço de solidariedade e para pedir ao Divino Espírito Santo que apague, da memória dos homens, a lembrança da dificuldade, alguma vez sentida.
O reviver destas tradições lusitanas em Newark, representam da melhor forma, mais uma faceta do mundo açoriano, ajudando quem precisa, em terras da América.
Este ano, o Açores Social & Sports Club, de Newark, New Jersey, ofereceu, em nome da direcção e de todos os seus sócios, uma oferta de comida ao Saint Johns Church, localizado na McCarter Highway, em Newark.
De referir que o Saint Johns é a maior “Soup Kitchen” de New Jersey, servindo diariamente, em média, 300 refeições por dia.
Fundado em 1968, o Clube Açores de Newark, é considerado como um clube culturalmente diversificável, que ultrapassou as fronteiras do estado de New Jersey.
David Pimentel, que fez parte de uma “nova vaga” de dirigentes associativos, e é actualmente o presidente da direccção do Açores Social & Sports Club, de Newark, agradeceu a todos os membros da direcção e senhoras auxiliares, o trabalho desenvolvido em prol do clube.
Com uma multi-secular fé e devoção ao Divino Espírito Santo, o povo açoriano transformou este culto num dos traços mais marcantes da sua identidade religiosa, que para além de marcar o quotidiano insular, tem acompanhado os naturais desta região portuguesa, para todos os lugares onde a emigração os levou.
Fazendo um ponto de situação sobre estas celebrações religiosas em honra do Senhor Divino Espírito Santo, percebi que onde muitos vêem apenas folclore religioso, eu vi uma invulgar piedade popular que mobiliza centenas de pessoas, atraídas pelo sagrado que lhes purifica a consciência, ilumina a razão, lava o coração e acalenta os afectos.
JM//The Portugal Times// 3 de Agosto de 2016
Muito fies ainda se encontra com a fé.