O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu que há uma “oportunidade bilateral única” no momento que Portugal e Brasil atravessam e anunciou uma missão pública portuguesa no domínio económico e empresarial em setembro.
“O Brasil está a sair de uma recessão económica e vai sair. Portugal está a sair de uma recessão económica e vai sair. Pela primeira vez há muito tempo não há um contraciclo entre Brasil e Portugal. Há agora uma oportunidade bilateral única”, defendeu Marcelo Rebelo de Sousa.
Falando em São Paulo perante cerca de 400 convidados de um jantar oferecido pela Câmara de Comércio Portuguesa, ao qual chegou acompanhado pelo presidente da Embraer, Paulo César de Souza e Silva, o Chefe de Estado anunciou que em setembro, mês previsto para a realização da cimeira da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), chegará ao Brasil uma missão pública nos domínios económico e empresarial.
A missão integrará vários membros do executivo liderado por António Costa “para debater com o executivo brasileiro perspetivas de colaboração”, disse o Presidente.
Marcelo quis sublinhar que “o Presidente da República não tem funções executivas”, mas tem, num “sistema semipresidencialista, um papel importante, muito importante, em conjunto com o Governo, na política externa, e a política externa é hoje muito política económica, financeira, social”.
O Presidente da República insistiu no desafio já lançado na sexta-feira para que o Brasil assuma a liderança da CPLP, reiterando também o desafio de que a nova estratégia a ser aprovada na próxima cimeira, que se realiza em setembro, ainda sem data definida, reforce a componente económica da instituição.
“Diplomaticamente, politicamente, mas também economicamente e empresarialmente, [a CPLP] é um trunfo. Mas só é um trunfo se o Brasil quiser”, declarou.
Numa altura em que Portugal candidata António Guterres a secretário-geral da ONU e o Brasil é candidato ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, Marcelo sublinhou que “a diplomacia dos dois países é indefetível atuando em conjunto”.
O Presidente defendeu, por outro lado, que “as câmaras de comércio têm um papel fundamental a desempenhar nas relações entre Portugal e o Brasil”, mas que vai ser preciso definir o seu estatuto jurídico.
“Para se saber exatamente quais são os seus fins, quais são os seus poderes, como se podem mover no direito do Brasil e no direito de Portugal”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.
O presidente das federações de câmaras de comércio portuguesas, Nuno Rebelo de Sousa, filho do Presidente, participou do jantar, que decorreu num hotel de São Paulo.
Antes, Marcelo Rebelo de Sousa foi recebido pelo Governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), durante cerca de 40 minutos no Palácio dos Bandeirantes, onde decorreu também uma receção com a comunidade portuguesa.
A revitalização do Museu da Língua Portuguesa, que sofreu um incêndio em dezembro de 2015, bem como a concretização de uma Escola Portuguesa em São Paulo foram dois dos temas que ambos revelaram terem sido abordados no encontro.
Questionado pelos jornalistas, Alckmin admitiu que a participação de Portugal nos conteúdos do projeto no novo museu possa ser reforçada, sublinhando que financeiramente a reconstrução ficou quase na totalidade assegurada pelo seguro da instituição, afeta à Fundação Roberto Marinho.
Presidente da República inaugurou exposição “Amália: Saudades do Brasil”
A exposição “Amália: Saudades do Brasil” foi inaugurada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, este sábado, na sala Fernando Pessoa, no Consulado-Geral de Portugal em São Paulo.
A mostra visa dar “a conhecer a relação de Amália Rodrigues com o Brasil, a importância deste país na construção da sua presença no mundo”, segundo um comunicado da organização.
Amália Rodrigues (1920-1999) deslocou-se várias vezes ao Brasil, onde gravou discos pela primeira vez, e onde criou, entre outros, o “Fado Xuxu” e “Ai Mouraria”, ambos de Amadeu do Vale e Frederico Valério, e gravou o seu primeiro poema, “Corria atrás das cantigas”, no Fado Mouraria.
A exposição “dá a conhecer a relação de Amália Rodrigues com o Brasil, a importância deste país na construção da sua presença no mundo e a influência que a artista teve e continua a ter nas novas gerações de criadores, não só na área da música como também nas artes visuais”.
A mostra inclui cartazes, o fato da estreia de Amália no Casino de Copacabana, em 1944, as partituras de “Ai Mouraria”, e ainda “inúmeros registos inéditos de som e imagem e obras dos artistas contemporâneos Vik Muniz e Francesco Vezzolli inspiradas na diva do fado”, e estará patente em S. Paulo, até dia 26 de agosto.
No âmbito da exposição e numa parceria entre as editoras Valentim de Carvalho e Biscoito Fino, iniciar-se-á a edição da discografia de Amália Rodrigues no Brasil.
O título da exposição remete para uma composição de Vinicius de Moraes, “Saudades do Brasil em Portugal”, composta para a voz de Amália, e que a gravou em dezembro de 1969, quando o criador brasileiro visitou a fadista na sua casa em Lisboa, e ali se realizou uma tertúlia, em que entre outros, participaram Natália Correia, David Mourão-Ferreira e José Carlos Ary dos Santos.
A mostra descreve a trajetória da cantora desde a sua chegada ao Brasil em 1944, para a sua primeira digressão internacional, até aos seus últimos recitais nos anos 1990, passando pelos seus primeiros discos, em 1945; pelo filme “Vendaval maravilhoso” (1949), de Leitão de Barros, sobre o poeta brasileiro Castro Alves; pelas suas inúmeras atuações nas rádios e televisões brasileiras; ou até pela participação numa telenovela da TV Record em 1971, “Os deuses estão mortos”.
TPT com: AFP//JN//Lusa//Observador// 7 de Agosto de 2016