Sanções. A arma para continuar a pressionar Moscovo

18/02/2015

 
Canadá alargou lista negra à maior empresa de armamento da Rússia e a uma das maiores petrolíferas do mundo. O chefe da diplomacia britânica defendeu em Lisboa o prolongamento das punições a Moscovo se o cessar-fogo cair. Poroshenko, Putin, Merkel e Hollande voltaram à teleconferência.

 

Tropas ucranianas iniciaram retirada “ordeira” de Debaltseve, anunciou o presidente Petro Poroshenko.

 

A difícil implementação do cessar-fogo no leste da Ucrânia volta a direcionar a comunidade internacional para as sanções económicas, congelamento de ativos e restrições de viagens. Esta tem sido a arma para tentar pôr fim a uma guerra entre forças ucranianas e separatistas pró-russos e que já matou mais de 5400 pessoas em dez meses.

 

O Canadá alargou na terça-feira a sua lista negra, dois meses depois de anteriores sanções terem ferido interesses vitais nos setores do petróleo e gás. Na nova lista constam agora 11 personalidades russas de destaque, entre as quais Sergei Chemezov, diretor-executivo da estatal tecnológica Rostec, uma das maiores empresas de armamento, e 26 ucranianos, a maior parte figuras políticas e deputados das cidades separatistas de Donestk e Lugansk, onde o conflito se agudizou no final do verão do ano passado.

 

As punições atingem ainda 15 entidades separatistas ucranianas e duas russas, uma delas a Rosneft, líder da produção petrolífera na Rússia e uma das maiores companhias do mundo. Tanto a Rostec como a Rosneft têm importantes interesses no Canadá.

 

A posição do Canáda “permanece clara” diante da “agressão do regime militar de Putin”, alertou o primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper. “Reconhecemos a integridade do território da Ucrânia e não iremos reconhecer a ilegal ocupação russa em nenhuma parte do país”, sublinhou.

 

Rússia alerta para consequências

 
A decisão do Canadá surge em coordenação com os recentes passos dados no mesmo sentido pela União Europeia e pelos EUA, a fim de punir o apoio da Rússia aos separatistas russos, através do envio de armamento pesado e homens para o leste da Ucrânia. Acusações que Vladimir Putin tem refutado.

 

A reação às medidas impostas pelo Canadá surgiu esta quarta-feira pelo ministro dos Negócios Estrangeiros russo. Sergei Lavrov considerou que as sanções impostas a Moscovo são uma “tentativa idiota” para prevenir a implementação do plano de paz alcançado em Minsk, capital da Bielorrússia. É o segundo acordo para um cessar-fogo, depois do fracasso do anterior, a 5 de setembro de 2014.

 

“Todos esperamos que Ottawa reflita sobre as consequências das suas ações, que na realidade alimentam ainda mais os confrontos armados na Ucrânia, e então irão perceber a futilidade em pressionarem a Rússia através de sanções”, frisou o chefe da diplomacia russa, citado pela “Reuters”.

 

A fragilidade do segundo acordo de Minsk, em vigor desde as 00h00 de domingo, já tinha levado também a União Europeia a alargar sanções na segunda-feira. Da Rússia, a promessa era de “uma resposta adequada”.

 

Líderes regressam à teleconferência

 
A comunidade internacional tem sistematicamente denunciado o envolvimento da Rússia e o seu contributo para a escalada de violência. O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, relatou por diversas vezes a entrada de tanques e soldados pela Crimeia, anexada pela Rússia em março do ano passado.

 

Depois de falharem a retirada do armamento pesado na terça-feira, verificou-se um braço de ferro no estratégico nó ferroviário de Debaltseve, que faz a união a Donestk e Lugansk. Merkel e Poroshenko telefonaram a Putin e acordaram “medidas concretas” que permitissem o acesso dos observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) para monitorizar o cessar-fogo.

 

Os separatistas falavam numa luta “moral” por um território interno, mas garantiam estar dispostos a retirar desde que a mesma não fosse unilateral. Enquanto Poroshenko anunciava esta quarta-feira “uma retirada ordeira”, referindo que 80% das colunas militares já tinha saído, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo referia não existir violação do cessar-fogo em Debaltseve, uma vez que integrava a região sob domínio dos separatistas.

 

Para esta quarta-feira estava previsto uma nova teleconferência entre Poroshenko, Putin, Angela Merkel e François Hollande. A chanceler alemã e o presidente francês são os rostos de intervenção europeia pela via diplomática. Em Lisboa, o ministro dos Negócios Estrangeiros português reuniu-se com o seu homólogo britânico. Philip Hammond defende que se a trégua não resultar ou se se verificar que “a Rússia não está a agir de boa-fé”, a União Europeia deverá considerar a extensão “até ao final do ano” das sanções em vigor e que devem expirar em julho.

 

“Todos desejamos a paz, mas tenho de dizer que os sinais não são bons. Putin está a apelar às forças ucranianas para que se rendam em Debaltseve, o que não está minimamente no espírito do que foi acordado na semana passada – e revela as verdadeiras intenções da Rússia”, relatou Philip Hammond, que pôs de parte “neste momento” um possível apoio militar à Ucrânia. Apoio esse que os EUA admitiram ponderar, caso falhassem os mecanismos diplomáticos. Numa conferência conjunta com Angela Merkel, no passado dia 10, o presidente norte-americano Barack Obama apontou o dedo a Putin, acusando-o de querer redesenhar a Europa e de ter “violado todos os compromissos”.

 

A passagem à prática da teoria delineada em Minsk está a ser árdua e o futuro mantém-se incerto com tamanha instabilidade no terreno.

 

Raquel Pinto | Expresso

 

FOTO VASILY MAXIMOV/AFP/Getty Imagea

 

 

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *