O Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, conversou esta quarta-feira por telefone com António Guterres, novo secretário-geral da ONU, numa “discussão muito positiva” sobre as relações do país com a organização, referiram fontes oficiais.
O contacto telefónico ocorreu após as diversas e duras críticas emitidas por Trump na sequência da resolução sobre colonatos israelitas em territórios palestinianos ocupados, aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU com a decisiva abstenção dos EUA.
Na conferência de imprensa diária, um porta-voz do secretário-geral da ONU indicou que o contacto telefónico “de apresentação” permitiu a Trump e Guterres manterem uma “discussão muito positiva” sobre as relações entre as Nações Unidas e os Estados Unidos.
A conversa também foi confirmada por fontes da equipa de Trump, que confirmaram estarem previstos novos contactos quando o magnata nova-iorquino ocupar a Casa Branca em 20 de janeiro. No decurso de uma conversa telefónica com jornalistas, Sean Spicer, o porta-voz de Trump, disse por sua vez que os Estados Unidos pretendem uma “reforma” nas Nações Unidas para que a organização seja “mais eficiente”, precisou a agência noticiosa Efe.
Em 28 de dezembro Trump afirmou na Florida, onde passou o Natal, que a ONU “não está à altura” do seu potencial e que “provoca problemas em vez de os resolver”.
Dias antes, Trump tinha já considerado na sua conta oficial na rede social Twitter que apesar do seu “grande potencial” a ONU se tornou “apenas um clube para as pessoas se juntarem, conversarem e passarem um bom bocado”. “Tão triste!”, acrescentou. Estas críticas surgiram após a aprovação pelo Conselho de Segurança, em 23 de dezembro, de uma resolução que condena a contínua construção por Israel de colonatos em territórios palestinianos.
Trump manifestou uma lealdade total com Israel e antes da reunião do Conselho de Segurança tinha pedido que os Estados Unidos exercessem o seu direito de veto para evitar a aprovação da resolução. Os EUA são o país que fornece mais fundos para o funcionamento das Nações Unidas, para além acolher a principal sede da organização, em Nova Iorque.
No primeiro discurso a “colegas” das Nações Unidas, António Guterres diz que não é “milagreiro”
Num discurso feito à porta fechada para funcionários da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, o novo secretário-geral disse que não é “nenhum milagreiro” e que aquela organização “não deve tomar nada por adquirido”.
“É importante dizer que não há milagres e eu tenho a certeza de que não sou nenhum milagreiro”, disse perante um extenso grupo de funcionários da ONU. “A única maneira de conseguirmos atingir os nossos objetivos é trabalharmos juntos como uma equipa e sermos merecedores dos princípios nobres que estão representados na carta de princípios das Nações Unidas e que são os valores que unem a Humanidade.”
Naquele que foi o primeiro discurso de António Guterres nas suas novas funções — oficialmente, passou a ocupar o cargo mais elevado da ONU a 1 de janeiro, mas o primeiro dia de trabalho foi esta terça-feira —, o ex-primeiro-ministro expressou a sua alegria por voltar a ser um “funcionário das Nações Unidas”. “Este é um dia muito emotivo para mim, sinto-me lisonjeado e estou feliz por estar aqui convosco”, disse. “Depois de um ano sabático, é para mim um grande privilégio e motivo de grande felicidade poder chamar-vos meus colegas e eu estou muito feliz por ser vosso colega”, disse, para depois ser aplaudido.
Sobre os desafios que tem pela frente, que vão desde a guerra na Síria, até ao aquecimento global, passando ainda pela proliferação do terrorismo, António Guterres foi direto: “Não devemos ter quaisquer ilusões, nós estamos perante tempos muito desafiantes”.
“Vivemos num mundo onde os problemas se tornaram globais e onde não há maneira de resolvê-los de país em país”, referiu. “Por isso, neste momento nós temos de reforçar o valor do multilateralismo e reconhecer que só as soluções globais servem para tratar dos problemas globais.”
Houve ainda ocasião para alguma autocrítica das Nações Unidas, que António Guterres diz ser necessária. “Muitas pessoas sofreram muito menos por causa da nossa existência”, começou por dizer, para depois dizer que na ONU é preciso “reconhecer os nossos fracassos”.
“Temos de saber responder às ansiedades, preocupações e aspirações de toda a gente em todo o mundo. E, sejamos honestos, nós ainda não estamos prontos para fazer isso corretamente. Por isso, temos de nos comprometer fortemente com uma mudança”, disse. Uma dessas alterações, conforme já tem sublinhado em intervenções anteriores, é a burocracia daquela organização sedeada em Nova Iorque. “Temos de nos libertar deste casaco de forças da burocracia que dificulta tanto as nossas vidas”, disse.
TPT com: APA// Reuters//Lusa// Justine Lane//Michael Reynolds//EPA// João de Almeida Dias//Observador//4 de Janeiro de 2017