No espaço de uma semana, Pedro Passos Coelho lançou desafios a duas das suas quatro vice-presidentes. Na direção do presidente, que é complementada por Marco António Costa e por um quarteto feminino (Sofia Galvão, Maria Luís Albuquerque, Teresa Leal Coelho e Teresa Morais), na semana passada, as ‘teresas’ receberam convites.
Leal Coelho, conhecidamente, para encabeçar a lista dos sociais-democratas a Lisboa; Morais, menos conhecidamente, para entrar na corrida para a liderança da bancada laranja.
De acordo com os estatutos da representação do partido na Assembleia República, Luís Montenegro, atual presidente do grupo parlamentar, tem de abandonar o cargo até ao último trimestre deste ano de 2017, pois cumpre o limite de três mandatos. Segundo o regulamento interno, as direções de bancada são eleitas pelo “método maioritário, com o mandato de duas sessões legislativas completas” e o tempo para o homem que foi sempre eleito por unanimidade começa a escassear.
O i já apurara e reportara o favoritismo de Luís Marques Guedes, como figura consensual e experiente, e de Marco António Costa, como figura que não despertaria oposição, assim como o nome de Teresa Morais, que surgia como hipótese surpresa mas não inteiramente original. É que durante o governo de Passos e Portas, numa altura em que Luís Montenegro esteve prestes a integrar o executivo como governante, o nome de Teresa Morais foi ponderado por Passos Coelho, à data primeiro-ministro, para substituir Montenegro na bancada.
A ideia, aparentemente e ainda que noutras circunstâncias, subsiste na São Caetano à Lapa.
Depois de conseguir o ‘sim’ de Teresa Leal Coelho e o Partido Social Democrata finalmente apresentar um candidato a Lisboa, Passos, sabe o i, incentivou Morais a avançar para a linha da frente parlamentar.
Quando, esta segunda-feira, Passos Coelho incentivava o PPD/PSD a “não ter medo de perder” tal foi interpretado pela estrutura como um puxão de orelhas à longa lista de dirigentes e protagonistas que fugiram a dar a cara para as eleições autárquicas. Se Teresa Morais seguirá o exemplo voluntarioso de Teresa Leal Coelho como vice-presidente passista? Saberemos.
Com alguns vice-presidentes de Montenegro já a recolher apoios para Marques Guedes e com o regresso à ribalta política de Marco António e até de José Pedro Aguiar-Branco – que presidirá à nova comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos –, a tarefa de Teresa Morais, caso aceite o desafio de Passos, não se prevê fácil. Mas a verdade é que a professora universitária e jurista, que foi ministra da Igualdade durante o governo dos 28 dias derrubado pela ‘geringonça’, não é propriamente uma política de ação receosa.
Durante o também breve governo de Pedro Santana Lopes, recusou um lugar como governante por não acreditar reunir condições para realizar um bom trabalho; decisão essa que lhe valeu uma despromoção nas listas que Santana apresentou nas legislativas que perdeu para José Sócrates.
Para suceder a Luís Montenegro, os eventuais candidatos necessitam de duas condições: estatuto de unanimidade e o aceno de cabeça de Pedro Passos Coelho. Teresa Morais já tem um; a ver se consegue o outro.
Desde que o regulamento foi ‘relembrado’ por uma notícia deste jornal em finais de dezembro do ano passado, que o grupo parlamentar mexeu. A vice-presidência que Jorge Moreira da Silva deixou vaga quando partiu para a OCDE, a liderança de bancada que Montenegro deixará vaga e o resultado do partido nas eleições autárquicas têm andado invariavelmente entrelaçados.
A DANÇA DOS CRÍTICOS
Nas hostes laranjas, espreita-se a possibilidade de, em caso de derrota fulgurante nas eleições locais deste ano, ser convocado antecipadamente o congresso de modo à direção de Passos ver a sua liderança reforçada. Os apoiantes do eterno protocandidato, Rui Rio, estão expectantes que o antigo autarca aí finalmente surja e, caso a antecipação da magna reunião se confirme, todos os atos eleitorais internos são adiados: incluindo a liderança de bancada.
Pedro Duarte, que sossegou durante algum tempo as críticas a Passos Coelho e não seria desfavorável a ver Marques Guedes como líder do grupo parlamentar, afiou novamente as facas neste março para dizer: “Parece que a troika ainda vive na sede nacional”.
Coincidentemente, o nome de Teresa Morais apareceu com mais intensidade na semana das citadas declarações.
Outro crítico que mantém postura atenta ao estado da arte social-democrata é Pedro Rodrigues, ex-deputado, ex-presidente da JSD e hoje líder do movimento de alternativa à direção atual “Portugal Não Pode Esperar”.
Rodrigues criticou recentemente a condução do processo autárquico por parte de Carlos Carreiras (coordenador), Mauro Xavier (da concelhia lisboeta) e Miguel Pinto Luz, com quem já disputou a distrital da capital. No entanto, deixou Passos intacto no mais recente ataque.
Sobre a liderança de bancada, o social-democrata é sucinto: “O PSD precisa de uma liderança firme e afirmativa na bancada parlamentar. No atual contexto julgo que o dr. Marco António Costa se apresenta como a opção óbvia”.
TPT com: AFP//Sol//Sebastião Bugalho//Sapo//Jornal i// 21 de Março de 2017