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Sem apoio da maioria, o presidente Trump retira o projecto Obamacare das pautas de votação

Este é o primeiro resvés legislativo do Presidente dos EUA após ter chegado mesmo a fazer um ultimato à bancada republicana – ou seja, do seu partido -, na Câmara dos Representantes para que hoje fosse aprovado um novo plano de saúde nacional, uma vez que na quinta-feira não reuniu acordo entre os conservadores.

Após uma reunião esta sexta-feira em que o Presidente dos Estados Unidos da América ficou a saber que a sua reforma do sistema de saúde continuava a não reunir apoios suficientes, mesmo dentro do próprio partido, Donald Trump fez marcha atrás e retirou a proposta de reversão do Obamacare das pautas de votação.

Uma hora antes do horário previsto para a votação do projeto de lei que substituiria o plano de saúde desenvolvido durante os ano em que Barack Obama esteve na Sala Oval, o presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Paul Ryan, foi à Casa Branca informar Trump que o texto não seria aprovado.
“Falei com o presidente às 15h00 de hoje e o Presidente pediu a Paul Ryan para retirar o projeto de lei”, afirmou fonte do Congresso.

A votação original desta proposta teria como data o dia de ontem, mas a falta de consenso entre conservadores levou a um adiamento.

Essa alteração terá causado mau estar no seio presidencial, tendo Donal Trump enviado a Mick Mulvaney, diretor do Gabinete de Orçamento da Casa Branca, uma mensagem para advertir a bancada republicana na câmara baixa do Congresso dos Estados Unidos de que o Presidente estaria disposto a manter a lei de Obama caso hoje não houvesse acordo.

Com os democratas unidos no objetivo de impedir a revogação do Obamacare, se pelo menos 22 republicanos votarem contra a proposta de lei, o diploma não conseguirá os 216 apoios de que precisa para ser aprovada.
Os 430 membros da Câmara dos Representantes (193 democratas e 237 republicanos) deveriam ter feito a votação.

Recorde-se que a reforma do sistema de saúde era uma das grandes promessas eleitorais de Trump.

Após, em consenso com o presidente da Câmara dos Representantes, ter retirado a proposta de reforma do plano de saúde da era Obama, o Obamacare, das pautas de votação, de forma a evitar uma humilhante derrota, Donald Trump confessou-se “um pouco surpreso” e deixou um aviso para o futuro: o atual modelo do sistema de saúde “explodirá”.

No discurso à nação, a partir da Sala Oval da Casa Branca, Donal Trump disse ter ficado “desapontado” e um “pouco surpreso” com o revés político que foi a falta de apoio à reformulação do Obamacare. Antecipando que o atual modelo do sistema de saúde “explodirá”, o Presidente disse que agora é o momento para se concentrar na reforma do sistema fiscal.
“Provavelmente vamos passar de imediato para a reforma fiscal”, disse. “Estivemos muito perto” de aprovar a controversa reforma do modelo de saúde pública, acrescentou.

Paul Ryan: “Vamos chegar lá, mas hoje não conseguimos”

O presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Paul Ryan, também já comentou a falta de apoios para avançar com a reforma do programa de saúde da era Obama, afirmando ser difícil passar da oposição para o governo. Ryan confirmou ter falado com Trump e ambos terem decidido que retirar a lei de votação seria a melhor decisão, evitando assim um resultado humilhante.

“Estou orgulhoso do nosso plano de saúde. O pior ainda está para vir com o Obamacare. Temos que fazer melhor e faremos. Isto foi um contratempo, não há dúvida. Estivemos muito próximos do consenso, mas não aconteceu”, acrescentou.

Afirmando que as projeções a que têm acesso dizem que o “Obamacare só vai piorar”, Paul Ryan diz não ter uma previsão sobre o período em que poderá gerar um consenso, mas espera que tal “venha a acontecer num futuro próximo”.

“Vamos chegar lá, mas hoje não conseguimos”, disse o presidente da Câmara dos Representantes ainda sobre a votação.

Trump colocou todo o seu peso na balança, deslocou-se pessoalmente ao Congresso e fez numerosas chamadas telefónicas para procurar convencer os republicanos dissidentes, para quem a proposta ou vai demasiado longe no desmantelamento da legislação do ex-Presidente Barack Obama, ou fica muito aquém deste desmantelamento, como entendem um conjunto de congressistas ultraconservadores.

TPT com: AFP//Reuters//Washington Post//CNN//NYT// 24 de Março de 2017

 

Passos Coelho desafiou Teresa Morais a entrar na corrida para a liderança do grupo parlamentar do PSD

No espaço de uma semana, Pedro Passos Coelho lançou desafios a duas das suas quatro vice-presidentes. Na direção do presidente, que é complementada por Marco António Costa e por um quarteto feminino (Sofia Galvão, Maria Luís Albuquerque, Teresa Leal Coelho e Teresa Morais), na semana passada, as ‘teresas’ receberam convites.

Leal Coelho, conhecidamente, para encabeçar a lista dos sociais-democratas a Lisboa; Morais, menos conhecidamente, para entrar na corrida para a liderança da bancada laranja.

De acordo com os estatutos da representação do partido na Assembleia República, Luís Montenegro, atual presidente do grupo parlamentar, tem de abandonar o cargo até ao último trimestre deste ano de 2017, pois cumpre o limite de três mandatos. Segundo o regulamento interno, as direções de bancada são eleitas pelo “método maioritário, com o mandato de duas sessões legislativas completas” e o tempo para o homem que foi sempre eleito por unanimidade começa a escassear.

O i já apurara e reportara o favoritismo de Luís Marques Guedes, como figura consensual e experiente, e de Marco António Costa, como figura que não despertaria oposição, assim como o nome de Teresa Morais, que surgia como hipótese surpresa mas não inteiramente original. É que durante o governo de Passos e Portas, numa altura em que Luís Montenegro esteve prestes a integrar o executivo como governante, o nome de Teresa Morais foi ponderado por Passos Coelho, à data primeiro-ministro, para substituir Montenegro na bancada.
A ideia, aparentemente e ainda que noutras circunstâncias, subsiste na São Caetano à Lapa.

Depois de conseguir o ‘sim’ de Teresa Leal Coelho e o Partido Social Democrata finalmente apresentar um candidato a Lisboa, Passos, sabe o i, incentivou Morais a avançar para a linha da frente parlamentar.
Quando, esta segunda-feira, Passos Coelho incentivava o PPD/PSD a “não ter medo de perder” tal foi interpretado pela estrutura como um puxão de orelhas à longa lista de dirigentes e protagonistas que fugiram a dar a cara para as eleições autárquicas. Se Teresa Morais seguirá o exemplo voluntarioso de Teresa Leal Coelho como vice-presidente passista? Saberemos.

Com alguns vice-presidentes de Montenegro já a recolher apoios para Marques Guedes e com o regresso à ribalta política de Marco António e até de José Pedro Aguiar-Branco – que presidirá à nova comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos –, a tarefa de Teresa Morais, caso aceite o desafio de Passos, não se prevê fácil. Mas a verdade é que a professora universitária e jurista, que foi ministra da Igualdade durante o governo dos 28 dias derrubado pela ‘geringonça’, não é propriamente uma política de ação receosa.

Durante o também breve governo de Pedro Santana Lopes, recusou um lugar como governante por não acreditar reunir condições para realizar um bom trabalho; decisão essa que lhe valeu uma despromoção nas listas que Santana apresentou nas legislativas que perdeu para José Sócrates.

Para suceder a Luís Montenegro, os eventuais candidatos necessitam de duas condições: estatuto de unanimidade e o aceno de cabeça de Pedro Passos Coelho. Teresa Morais já tem um; a ver se consegue o outro.

Desde que o regulamento foi ‘relembrado’ por uma notícia deste jornal em finais de dezembro do ano passado, que o grupo parlamentar mexeu. A vice-presidência que Jorge Moreira da Silva deixou vaga quando partiu para a OCDE, a liderança de bancada que Montenegro deixará vaga e o resultado do partido nas eleições autárquicas têm andado invariavelmente entrelaçados.

A DANÇA DOS CRÍTICOS

Nas hostes laranjas, espreita-se a possibilidade de, em caso de derrota fulgurante nas eleições locais deste ano, ser convocado antecipadamente o congresso de modo à direção de Passos ver a sua liderança reforçada. Os apoiantes do eterno protocandidato, Rui Rio, estão expectantes que o antigo autarca aí finalmente surja e, caso a antecipação da magna reunião se confirme, todos os atos eleitorais internos são adiados: incluindo a liderança de bancada.

Pedro Duarte, que sossegou durante algum tempo as críticas a Passos Coelho e não seria desfavorável a ver Marques Guedes como líder do grupo parlamentar, afiou novamente as facas neste março para dizer: “Parece que a troika ainda vive na sede nacional”.

Coincidentemente, o nome de Teresa Morais apareceu com mais intensidade na semana das citadas declarações.
Outro crítico que mantém postura atenta ao estado da arte social-democrata é Pedro Rodrigues, ex-deputado, ex-presidente da JSD e hoje líder do movimento de alternativa à direção atual “Portugal Não Pode Esperar”.
Rodrigues criticou recentemente a condução do processo autárquico por parte de Carlos Carreiras (coordenador), Mauro Xavier (da concelhia lisboeta) e Miguel Pinto Luz, com quem já disputou a distrital da capital. No entanto, deixou Passos intacto no mais recente ataque.

Sobre a liderança de bancada, o social-democrata é sucinto: “O PSD precisa de uma liderança firme e afirmativa na bancada parlamentar. No atual contexto julgo que o dr. Marco António Costa se apresenta como a opção óbvia”.

TPT com: AFP//Sol//Sebastião Bugalho//Sapo//Jornal i// 21 de Março de 2017

 

A operadora de Isabel dos Santos desliga os canais de televisão SIC Notícias e SIC Internacional em dois países africanos: Angola e Moçambique

A operadora de televisão por satélite angolana Zap, da empresária Isabel dos Santos, interrompeu esta terça-feira a difusão dos canais SIC Internacional e SIC Notícias nos mercados de Angola e Moçambique, decisão à qual a SIC “é alheia”.

De acordo com a agência noticiosa AFP, a difusão dos dois canais portugueses foi suspensa esta terça-feira, depois de recentemente terem divulgado reportagens críticas ao regime de Luanda.

Fonte oficial da estação de Carnaxide disse à agência Lusa que “a SIC é alheia à decisão da retirada da SIC Internacional e SIC Notícias da plataforma de distribuição Zap em Angola e Moçambique”.

“Esta distribuidora continuará a exibir os canais SIC Radical, SIC Mulher, SIC K e SIC Caras em exclusivo para os mercados angolano e moçambicano”, adiantou a mesma fonte, acrescentando que “os dois canais [SIC Internacional e SIC Notícias] podem continuar a ser vistos na DStv em Angola e Moçambique e na StarTimes em Moçambique”.

Contactada pela AFP, António Miguel, representante da ZAP, adiantou que os dois canais – SIC Notícias e SIC Internacional “já não fazem parte do pacote distribuído pela Zap devido a uma mudança da grelha de difusão dos programas”.

O responsável não adiantou mais explicações para esta decisão.

A operadora NOS detém 30% da Zap, sendo o restante capital detido pela Sociedade de Investimentos e Participações, da empresária angolana Isabel dos Santos.

A Zap iniciou a sua actividade no mercado angolano em Abril de 2010 e é actualmente a maior operadora de TV por satélite em Angola.

TPT com: AFP//Lusa//Renascença// 14 de Março de 2017

 

O Canadá quer instalar em Lisboa uma estátua que visa memoriar histórico descendente indígena de pioneiro português

A embaixada do Canadá em Portugal está a promover a instalação em Lisboa de uma estátua assinada por Luke Marston, tetraneto de Joe Silvey, baleeiro açoriano, pioneiro da colonização canadiana e hoje um símbolo de integração.

O Canadá assinala este ano os 150 anos da proclamação da independência e as suas missões diplomáticas em todo o mundo estão a preparar uma série de eventos culturais.

Portugal não é exceção e a instalação daquele trabalho — entre uma série de acontecimentos culturais previstos para decorrer ao longo do ano – seria o melhor corolário do exemplo da relação que une os dois países, de acordo com o embaixador canadiano em Lisboa, Jeffrey Marder.

“Queremos aproveitar este aniversário para marcar a presença canadiana em Portugal continental e nos Açores e celebrar com os portugueses esse momento importante” do nascimento de um país, cujo “crescimento assenta desde a sua origem na diversidade”, começou por sublinhar Marder.

“Somos um produto da mistura, da diversidade, temos duas línguas oficiais, o inglês e o francês, e uma série de línguas indígenas, para além de que, ao longo dos 150 anos do estabelecimento do Canadá como país, crescemos através da imigração, o que criou um Canadá ainda mais diverso, povoado por pessoas dos quatro cantos do mundo”, afirmou.

“Vemos na diversidade uma força e também uma riqueza económica”, disse ainda Jeffrey Marder, antes de reconhecer que, não obstante, a relação entre o Estado canadiano e os seus povos ou populações nem sempre foi exemplar, sobretudo no que diz respeito às nações indígenas.

“Temos muito orgulho na nossa história, mas temos que admitir que houve episódios no passado que não foram bons. A relação com os povos indígenas não foi sempre muito positiva. Originalmente, não eram tratados como cidadãos com direito de voto, etc. A reconciliação entre o Governo do Canadá e os povos indígenas, que também são canadianos, é muito importante para reconhecer os erros do passado e procurar maneiras de crescer cultural, politica e economicamente juntos, como canadianos diversos”, rematou Marder.

Neste contexto, a história de Joe Silvey – ou do açoriano José ou João Silva – oferece um exemplo raro de boa convivência, de integração, da miscigenação entre os povos autóctones, hoje canadianos, e os colonos que começaram a chegar em força ao país na segunda metade do século 19.

Luke Marston é autor de uma instalação em bronze com cinco metros de altura, exposta no Parque Stanley, em Vancouver, desde abril de 2015, que conta a história de Silvey, seu tetra-avô, e da sua família, exemplo notável de um “casamento” raro entre duas culturas, sem domínio nem segregação, que hoje serve de exemplo à política de “reconciliação” promovida pelo Governo canadiano.

“Shore to Shore” — Costa a Costa — é o nome da instalação, financiada com contribuições governamentais, canadianas e portuguesas, dos Povos das Primeiras Nações indígenas, e da família de Silvey, através do próprio Luke Marston, um projeto entretanto continuado com publicação de um livro e a realização de documentário, que ainda não foi estreado.

Marston esteve em Portugal para, em parceria com a embaixada canadiana na capital portuguesa, tentar reunir vontades institucionais e patrocinadores que resultem na criação e instalação em Lisboa de um novo capítulo dessa “história”.

“Será uma escultura com cerca de dois metros de altura, de bronze, teremos que encontrar o local na cidade onde faça sentido que fique”, disse o escultor, ressalvando, porém, que “há ainda muito para discutir: protocolos, patrocínios e acordos”.

“Não sei se irá por diante, não sei o que irá acontecer”, acrescentou.
Mas, se acontecer, adiantou, é provável que integre a representação da pesca do bacalhau — que aproximou durante séculos portugueses e canadianos –, eventualmente sob a forma de lobos e baleias assassinas, que na mitologia Salish, que povoa o imaginário de Luke Marston, “são o mesmo ser”, símbolo xamânico e essência da ideia de “família”, central no trabalho do artista.

“Quando penso em família e no oceano, penso sempre no lobo e na orca. Ambos viajam em grupo, em família. Na nossa cultura acreditamos que a entidade do lobo e da orca é a mesma. São o mesmo ser. Viajam, caçam quando estão em terra e se a família desce das montanhas para a água transformam-se em orcas e caçam na água. Ocorre-me essa mitologia”, diz Marston.

TPT com:AFP//Lusa//AEP//12 de Março de 2017

 

Juiz infligiu primeiro revés a Donald Trump e os aviões começaram de novo a descolar

É um primeiro recuo da Administração Trump – forçado e provavelmente temporário, mas ainda assim um recuo. Horas depois de um juiz federal ter ordenado a suspensão temporária da aplicação do decreto presidencial que barrou a entrada nos Estados Unidos aos cidadãos de sete países de maioria muçulmana, as companhias aéreas receberam ordens para permitir o embarque dos passageiros visados e o Departamento de Estado revogou os vistos que tinha cancelado uma semana antes.

 

 

O Presidente norte-americano reagiu como sabe, numa sequência furiosa de mensagens no Twitter: “A opinião deste pseudo-juiz”, escreveu, “é ridícula e vai ser anulada”. Donald Trump sublinhou que é “um grande problema” quando “um país deixa de ser capaz de decidir quem entra e sai” e garantiu que “alguns países do Médio Oriente concordam” com a sua decisão: “Eles sabem que se certas pessoas conseguirem entrar [o que acontece] é morte e destruição”.

 

A Casa Branca garantiu também que a “revoltante” decisão seria anulada nos tribunais, mas o Departamento de Justiça não apresentou ainda a providência cautelar a pedir a sua suspensão. Perante isto, o Departamento de Segurança Interna – que terá sido pela assinatura do decreto presidencial – informou as companhias aéreas que podiam voltar a transportar os passageiros oriundos dos sete países visados pela proibição, Irão, Iraque, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iémen. Uma após outra, a Qatar, a Ethihad, a Emirates, ou as europeias Air France, Iberia e Lufthansa levantaram as restrições ao embarque, alimentando a esperança de quem tinha sido mandado para trás ou foi impedido de viajar.

 

 

“Estou numa corrida contra o tempo”, contou à Reuters uma investigadora sudanesa que tentava comprar um bilhete no aeroporto de Cartum que lhe permitisse regressar aos Estados Unidos antes que a Administração fechasse a porta temporariamente aberta. A milhares de quilómetros dali, Fuad Sharef, um iraquiano que deveria ter emigrado na semana passada com a família para os EUA, não continha a alegria. “Estou muito contente por irmos viajar hoje. Finalmente, conseguimos”, garantiu no átrio de partidas do aeroporto de Erbil, no Curdistão iraquiano, preparando-se para a viagem que o levaria até Nashville, no Tennesee.

 

 

À mesma hora, em Teerão, embarcavam os passageiros de um voo que deveria aterrar ao final do dia em Washington, já com a certeza de que não seria barrados pela guarda-fronteiriça americana – o Departamento de Segurança Interna anunciou que iria voltar a aplicar, até nova ordem, as normas em vigor antes da assinatura do decreto presidencial; o Departamento de Estado garantiu que “os indivíduos cujos vistos não tenham sido fisicamente cancelados podem viajar”.

 

 

 

O maior desafio constitucional

 

 

“Somos uma nação regida por leis. Nem sequer o Presidente pode violar a Constituição. Ninguém está acima da lei, nem mesmo o Presidente”, congratulou-se o procurador-geral do estado de Washington, Bob Ferguson, à porta do tribunal federal em Seattle. Lá dentro, o juiz James Robart acabara de desferir o maior revés à fúria legislativa de Donald Trump, ao suspender temporariamente o decreto presidencial, alegando que o motivo invocado pela Administração – a necessidade de proteger o país do terrorismo – só seria admissível “se fosse baseado em factos, não em ficções”.

 

 

Dezenas de casos foram levados aos tribunais federais na última semana (horas antes de Robart, um juiz de Boston recusou prolongar a moratória que impedia a detenção de alguns imigrantes), mas a decisão de Seattle foi a primeira a suspender a medida a nível nacional. O pedido foi apresentado pelo estado de Washington, a que se juntou depois o Minnesota, invocando danos causados às instituições pela proibição, mas o impacto da decisão judicial vai mais além, ao questionar os limites dos poderes presidenciais e a discriminação de pessoas com base na sua nacionalidade.

 

 

Não é inédito um juiz federal travar a aplicação de um decreto presidencial – em 2016 um juiz do Texas bloqueou o decreto de Barack Obama que visava suspender a deportação de imigrantes em situação ilegal –, abrindo caminho a processos que quase sempre desaguam no Supremo. O que é pouco habitual é a rapidez com que o poder judicial se viu obrigado a pronunciar-se sobre as acções da Casa Branca. “Uma das muitas diferenças entre Obama e Trump é que Obama percebia os limites de um decreto presidencial”, disse ao Washington Post Daniel P. Franklin, professor da Universidade Estatal da Geórgia e perito em poder executivo. “A equipa de Trump pensava que podia governar por éditos, mas não pode.”

 

 

 

EUA: MoMA expõe obras de artistas muçulmanos em protesto contra a lei de Trump

 

 

 

O famoso Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova Iorque decidiu expor obras de artistas de vários países visados pelo decreto anti-imigração de Donald Trump, Presidente norte-americano, num ato de protesto contra o documento.

 

Sete obras de artistas do Sudão, Iraque e Irão foram instalados na quinta-feira no quinto andar do MoMA, substituindo obras de pintores como Picasso, Matisse ou Picabia, revelou o New York Times.

 

 

Entre as obras contam-se trabalhos realizados pelo pintor sudanês Ibrahim El-Salahi e pelo arquiteto de origem iraquiana Zaha Hadid, bem como por diversos artistas de ascendência iraniana como a cinegrafista Tala Madani, o escultor Parviz Tanavoli, o pintor Charles Hossein Zenderoudi, a fotógrafa Shirana Shahbazi e o pintor Marcos Grigorian.

 

 

Ao lado de cada trabalho, o museu colocou a seguinte inscrição: “Este trabalho é de um artista nativo de um país cujos cidadãos são impedidos de entrar nos Estados Unidos (EUA), de acordo com o decreto presidencial de 27 de janeiro de 2017”.

 

 

O museu vai também projetar durante este mês vários filmes realizados por pessoas originárias dos sete países de maioria muçulmana que estão sujeitos à proibição de acesso ao território dos EUA (Iémen, Irão, Iraque, Líbia, Síria, Somália e Sudão).

 

 

O decreto presidencial promulgado pela nova administração Trump com o objetivo de rever o regime antiterrorismo nas fronteiras do país desencadeou uma onda de protestos em todo o território norte-americano e provocou a instauração de vários recursos da decisão na Justiça.

 

 

No fim de semana passado, logo após a sua aprovação, o documento levou à detenção de 109 pessoas que residiam legalmente nos EUA, segundo a Casa Branca, enquanto centenas de outros foram impedidos de embarcar nos aviões com destino aos EUA.

 

 

Entretanto, o Departamento de Estado dos EUA revogou o cancelamento de vistos para cidadãos de sete países muçulmanos, depois de um juiz federal ter bloqueado o decreto anti-imigração do Presidente.

 

 

O Departamento anunciou que cerca de 60.000 cidadãos dos países em causa tiveram os respetivos vistos “provisoriamente revogados” em cumprimento do decreto presidencial.

 

 

A decisão de revogar o cancelamento, acrescentou, foi tomada depois de notificação do Departamento de Justiça da decisão do juiz federal.

 

 

A partir de agora, precisou, as pessoas que estavam abrangidas pelo decreto e que tenham um visto válido podem entrar nos Estados Unidos.

 

 

O juiz federal James Robart, de Seattle, ordenou na sexta-feira a suspensão temporária, a nível nacional, da proibição de entrada a pessoas de sete países de maioria muçulmana, em vigor há uma semana.

 

 

A ordem temporária do juiz vigora até ser efetuada uma revisão completa da queixa apresentada pelo procurador-geral de Washington, Bob Ferguson.

 

 

 

Casa Branca “vai lutar” contra a sentença de Juiz que suspendeu decreto migratório

 

 

 

A Casa Branca prometeu lutar contra a sentença de um juiz federal que ordenou a suspensão temporária, a nível nacional, da polémica ordem executiva do presidente Donald Trump que proíbe a entrada de refugiados e cidadãos de sete países muçulmanos.

 

 

Um juiz federal de Seattle, Estados Unidos, ordenou na sexta-feira a suspensão temporária, a nível nacional, da proibição de entrada de pessoas de sete países de maioria muçulmana, decretada pelo Presidente Donald Trump.

 

 

A decisão surgiu depois de Ferguson ter apresentado uma ação legal para invalidar disposições essenciais da ordem executiva de Trump, que afasta refugiados sírios indefinidamente e bloqueia cidadãos do Irão, Iraque, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iémen de entrarem nos Estados Unidos por 90 dias. Refugiados de outros países que não a Síria ficam impedidos de entrar por 120 dias.

 

No seguimento desta ordem, a Casa Branca reagiu através do seu porta-voz, Sean Spicer, que classificou a sentença de “escandalosa”. No entanto, de acordo com a CNN, a parte do comunicado em que o termo foi utilizado para descrever a ordem do juiz federal, já terá sido removida numa versão atualizada do texto.

 

 

“O Departamento de Justiça pretende, o mais cedo possível, apresentar uma suspensão de emergência desta ordem ultrajante e defender a ordem executiva do Presidente, que acreditamos ser legal e apropriada”, disse Sean Spicer. “A ordem do presidente tem a intenção de proteger a pátria. [Trump] tem a autoridade constitucional e a responsabilidade de proteger o povo norte-americano”, concluiu.

 

 

Trump despede Sally Yates, procuradora que o desafiou no decreto anti-imigração

 

 

 

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, despediu, na segunda-feira, a procuradora-geral interina do país que ordenou aos advogados do Ministério Público que não defendam a proibição de entrada de refugiados e outros viajantes de países muçulmanos.

 

Num comunicado, a Casa Branca disse que Sally Yates, membro da administração Obama, é “fraca nas fronteiras e muito fraca em [relação à] imigração ilegal”, e criticou a democrata por não ter ainda confirmado a nomeação do seu Procurador-Geral, Jeff Sessions.

 

 

“A procuradora-geral interina, Sally Yates, traiu o Departamento de Justiça ao recusar fazer cumprir uma ordem legal para proteger os cidadãos dos Estados Unidos”, indica o comunicado da Casa Branca. “O Presidente Trump dispensou Yates das suas funções”, acrescenta.

 

 

A procuradora federal Dana Boente vai assumir as funções de procuradora-geral interina “até o senador Jeff Sessions ser finalmente confirmado pelo Senado, onde está a ser erradamente retido pelos senadores democratas por motivos estritamente políticos”, afirmou.

 

 

Com a Casa Branca de Trump a enfrentar múltiplos processos na Justiça e oposição em todo o mundo devido a uma ordem para banir migrantes de sete países de maioria muçulmana, a decisão de Yates surgiu como um ato desafiante.

 

 

Numa mensagem ao pessoal do Departamento de Justiça, Yates expressou dúvidas sobre a legalidade e moralidade do decreto de Trump, que já suscitou protestos em massa.

 

 

“A minha responsabilidade é garantir que a posição do Departamento de Justiça é não só legalmente defensável, como reflete o nosso ideal do que a lei deve ser, tendo em consideração todos os factos”, escreveu Yates.

 

 

“Não estou convencida que a defesa da ordem executiva é consistente com estas responsabilidades, nem estou convencida que a ordem executiva é legal”, acrescentou.

 

 

Assim, Yates garantiu que, enquanto for procuradora-geral, o Departamento de Justiça “não vai apresentar argumento em defesa da ordem executiva, até me convencer que é apropriado fazê-lo”.

 

 

A diretiva de Yates significa que o Governo norte-americano, pelo menos por agora, não tem representação autorizada nos tribunais no âmbito destes casos.

 

 

A ordem assinada na sexta-feira proibiu a entrada no país de todos os refugiados por um período mínimo de 120 dias, e de refugiados sírios indefinidamente, e a de cidadãos de sete países muçulmanos — Irão, Iraque, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iémen — durante 90 dias.

 

 

EUA: Diplomatas dissidentes devem “alinhar com o programa ou ir embora”

 

 

A Casa Branca fez hoje um ultimato aos diplomatas que protestaram oficialmente contra o decreto do Presidente norte-americano, Donald Trump, que proíbe a entrada nos Estados Unidos de cidadãos de sete países muçulmanos.

 

“Ou eles alinham com o programa ou vão-se embora”, declarou o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, considerando que foi dada à carta subscrita por diplomatas do departamento de Estado uma atenção “desproporcionada e exagerada” e que eles devem ponderar bem as posições que assumem.

 

 

O instrumento do departamento de Estado designado como “canal de dissidência” é usado desde a época da guerra do Vietname para permitir aos funcionários expressarem as suas opiniões e pontos de vista aos superiores hierárquicos, mas os observadores estão a classificar como extraordinário ver um tal movimento apenas dez dias após a posse do novo chefe de Estado.

 

 

O porta-voz do departamento ainda em funções, Mark Toner, indicou que o memorando da discórdia ainda não foi entregue.

 

“Temos conhecimento de uma mensagem enviada através do canal de dissidência sobre a ordem executiva intitulada ‘Proteger a nação da entrada de terroristas estrangeiros nos Estados Unidos’”, declarou.

 

 

Casa Branca diz que novos colonatos israelitas “podem não ajudar” a assegurar a paz

 

 

A Casa Branca disse na quinta-feira que a construção de novos colonatos israelitas ou a expansão de existentes “pode não ajudar” a assegurar a paz no Médio Oriente.

 

“Apesar de não acreditarmos que a existência dos colonatos seja um impedimento à paz, a construção de novos colonatos ou a expansão de colonatos já existentes além das atuais fronteiras pode não ajudar”, disse o porta-voz Sean Spicer.

 

 

Esta declaração rompe com a postura anteriormente assumida por Donald Trump de total defesa dos colonatos israelitas.

 

 

Desde que Trump se tornou Presidente dos Estados Unidos, Israel aprovou várias novas construções de colonatos, algo que os críticos dizem poder pôr em risco a solução de dois Estados para a zona.

 

 

Israel anunciou recentemente um plano para a construção de mais 3.000 casas para colonatos judeus na Cisjordânia, o quarto anúncio deste tipo em menos de duas semanas.

 

 

“A administração Trump não assumiu uma posição oficial sobre colonatos e deseja continuar as discussões, incluindo com o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, quando este visitar o Presidente Trump no final deste mês”, disse Spicer.

Trump deve receber o primeiro-ministro israelita a 15 de fevereiro.

 

 

Donald Trump reune com primeiro-ministro israelita na Casa Branca a 15 de fevereiro

 

 

 

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vai reunir-se a 15 de fevereiro com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que quer pedir a renovação das sanções contra o Irão e a transferência da embaixada norte-americana para Jerusalém.

 

O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, confirmou durante a conferência de imprensa diária a data do encontro, que os dois governantes já falaram em janeiro por telefone e acordaram um encontro em Washington.

 

 

“O primeiro-ministro israelita vai visitar os Estados Unidos a 15 de fevereiro. A nossa relação com a única democracia no Médio Oriente é crucial para a segurança das nossas nações e o Presidente vai conversar sobre a cooperação estratégica, tecnologia, defesa e dos serviços secretos com o primeiro-ministro”, disse Sean Spicer.

 

O líder do Governo israelita deu conta do convite presidencial e transmitiu o seu parecer nas redes sociais. “Aprecio profundamente o gentil convite do Presidente Trump para ir a Washington, assim como as carinhosas palavras sobre Israel”, escreveu Netanyahu.

 

 

Donald Trump é o primeiro interlocutor que Benjamin Netanyahu tem na Casa Branca durante os seus dois mandatos como primeiro-ministro israelita e ambos esperam manter uma boa relação e acabar com a tensão que marcou os laços bilaterais durante os últimos dois anos com Barack Obama.

 

 

Benjamin Netanyahu assegurou hoje que, durante a sua reunião com Donald Trump, vai propor a renovação das sanções contra o Irão, depois de informações de que no fim de semana houve um alegado lançamento de mísseis balísticos.

 

 

“A agressão iraniana não deve ficar sem resposta”, escreveu o primeiro-ministro israelita nas redes sociais Twitter e Facebook.

 

 

 

Rex Tillerson, um secretário de Estado polémico que assume um Departamento de Estado dividido

 

 

 

O ex-CEO da ExxonMobil Rex Tillerson, um dos nomes mais polémicos da administração Trump, foi confirmado no cargo de secretário de Estado esta quarta-feira, 1 de fevereiro, num momento em que o departamento que vai liderar está muito dividido face ao decreto anti-imigração do presidente dos EUA.

 

Tillerson foi confirmado pelo Senado norte-americano por maioria simples, com 56 votos contra 43, com quatro democratas a unirem-se aos 52 republicanos que votaram favoravelmente. Logo após a confirmação, Tillerson seguiu para a Casa Branca, onde foi nomeado formalmente por Trump.

 

 

“Este é um homem que já é respeitado em todo o mundo”, elogiou Trump, fazendo questão de salientar que o ex-administrador da petrolífera “deixou um trabalho muito bom para assumir esta tarefa”.

 

 

Tillerson, como mandam as boas práticas, agradeceu ao presidente dos EUA a nomeação e prometeu servir Trump e o povo norte-americano em todos os momentos.

 

 

A acompanhar a cerimónia esteve Steve Bannon, assessor de Trump, nacionalista responsável pelo site de extrema-direita Breitbart.

 

 

Escreve a AFP que Bannon esteve diretamente envolvido no decreto presidencial que dita a suspensão por 120 dias da receção de refugiados (para os refugiados sírios o prazo é indefinido), e de 90 dias para cidadãos do Iraque, Irão, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iémen. A medida foi criticada por vários líderes internacionais, entre os quais, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, a chanceler alemã Angela Merkel, o líder da ONU António Guterres e até a primeira-ministra britânica, Theresa May; e foi recebida com contestação, o que se traduziu em manifestações nos aeroportos norte-americanos.

 

 

Ex-CEO da ExxonMobil, Tillerson assume agora o controlo da enorme máquina diplomática norte-americana, substituindo John Kerry, que deixou o cargo a 19 de janeiro, na véspera da tomada de posse de Donald Trump. Interinamente, o posto foi ocupado por Thomas Shannon, que era o diretor de Assuntos Políticos.

 

O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Bob Corker, felicitou Tillerson pela confirmação como secretário de Estado, cargo também ocupado no passado por Hillary Clinton, adversária democrata de Trump nas últimas eleições.

 

 

“Tillerson liderou uma empresa global, com 75.000 empregados, tem profundas relações em todo o mundo e entende o papel fundamental da liderança norte-americana”, salientou Corker.

 

 

Em comunicado, o presidente da Comissão de Relações Internacionais da Câmara de Representantes, Ed Royce, manifestou igualmente a sua satisfação com a confirmação de Tillerson.

 

 

“Ter um gestor de nível internacional no Departamento de Estado será um enorme capital, porque [o departamento] precisa de uma reforma sob todos os aspectos”, afirmou Royce.

 

 

Esta confirmação era uma das mais aguardadas na administração Trump, já que o secretário de Estado é o quinto na linha de sucessão da Casa Branca em caso de ausência das demais autoridades.

 

 

Outros três secretários já foram confirmados (Defesa, Segurança Interna e Transportes), além do diretor da CIA e da embaixadora dos EUA nas Nações Unidas.

 

 

Engenheiro de formação, Tillerson entrou na ExxonMobil em 1975 e passou por todas as funções até chegar à liderança da petrolífera, em 2006.

 

 

Milionário, sem experiência diplomática, Tillerson tem excelentes vínculos com autoridades do governo russo, o que facilitou a expansão dos contratos da ExxonMobil na Rússia. o gestor desenvolveu uma amizade pessoal com o presidente Vladimir Putin, por quem foi condecorado com a Medalha da Ordem da Amizade.

 

 

Departamento dividido

 

 

 

Tillerson assume um Departamento de Estado visivelmente dividido após o decreto presidencial assinado na última sexta-feira, 27 de janeiro, pelo presidente Trump e que estabelece uma nova e rígida política para refugiados e imigrantes.

 

 

A medida causou uma onda de indignação em todo o mundo, e foi também muito contestada internamente.

 

 

Um número não revelado de diplomatas e de funcionários do Departamento de Estado preparou um documento, distribuído internamente, discordando da política manifestada no decreto assinado por Trump.

 

 

O Departamento de Estado possui um mecanismo formal, chamado “Canal de Dissensão”, pelo qual diplomatas podem registar seu incómodo face ao impacto que uma decisão oficial possa ter na Política Externa do país, sem serem punidos por isso.

 

 

Já no início desta semana, quando se tornou público que o documento – de conteúdo reservado – estava a circular, a Casa Branca mandou uma mensagem que não deixou dúvidas: “Ou eles alinham com o programa ou vão-se embora”, declarou o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, considerando que foi dada à carta subscrita por diplomatas do departamento de Estado uma atenção “desproporcionada e exagerada” e que eles devem ponderar bem as posições que assumem.

 

 

Na opinião do porta-voz da Presidência, “a maioria dos americanos está de acordo com o presidente” sobre a necessidade de manter o país seguro.

 

 

Amizades na Rússia

 

 

 

A falta de experiência de Tillerson na diplomacia não é vista como um problema tão grave quanto a sua proximidade com o governo russo, tradicional adversário de Washington.

 

 

Quando foi escolhido por Trump para o Departamento de Estado, as relações de Tillerson com a Rússia tornaram-se o ponto central de uma enorme polémica, face à alegada ingerência russa nas eleições presidenciais de novembro que, segundo os serviços secretos, tinha intenção de beneficiar a candidatura do agora presidente dos EUA.

 

 

Os serviços secretos acusam a Rússia de piratear o Comité Nacional Democrata na tentativa de intervir no processo eleitoral. O caso conduziu à expulsão de 35 diplomatas russos por Barack Obama, a semanas de terminar o seu mandato.

 

 

Numa audiência de nove horas no Senado, Tillerson procurou distanciar-se de Putin e afirmou que a “Rússia representa um grande perigo” para os Estados Unidos.

 

Na sessão, Rex Tillerson condenou a invasão da Ucrânia por Moscovo, assim como a anexação da Crimeia, ou facto de apoiar as forças leais a Bashar al-Assad na Síria que “violam as leis da guerra”.

 

 

Tillerson assumiu que os aliados dos norte-americanos na NATO “têm razão de ficarem alarmados”. Todavia, o agora secretário de Estado não confirmou se iria apoiar sanções – novas ou vigentes – à Rússia e reconheceu não ter discutido ainda com Trump qual a política do governo relativamente ao país liderado por Vladimir Putin.

 

 

O gestor apontou ainda baterias à China, acusando o gigante asiático de não ter sido um parceito confiável para pressionar Coreia do Norte pelo seu programa nuclear.

Aldo Gamboa / AFP

 

 

 

 

Da Rússia à Alemanha, o telefone de Trump não parou. Síria, refugiados e NATO marcaram a agenda

 

 

 

O Donald Trump falou este sábado ao telefone com vários líderes mundiais. A guerra da Síria, o financiamento da NATO e o acolhimento de refugiados foram alguns dos temas das conversas.

 

O sábado de Donald Trump foi passado ao telefone. Um dia depois de ter recebido na Casa Branca a primeira-ministra britânica, Theresa May, o presidente dos EUA falou com quatro líderes mundiais: com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, com a chanceler alemã, Angela Merkel, com o presidente francês François Hollande e com primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe.

 

 

 

“De igual para igual”

 

 

 

 

Foi este o compromisso entre Trump e Putin, segundo um comunicado do Kremlin. Os dois presidentes manifestaram “vontade de trabalhar ativamente e em conjunto para estabilizar e desenvolver a cooperação russo-americana numa base construtiva, de igual para igual e mutuamente vantajosa”, informou Moscovo após o telefonema entre os dois líderes, naquele que é o primeiro contacto oficial entre os EUA e a Rússia desde que Donald Trump foi empossado, no passado dia 20 de janeiro.

 

 

Este não foi porém o primeiro contacto entre ambos. Putin e Trump conversaram por telefone em novembro, pouco depois das eleições americanas, e concordaram em “normalizar” as relações entre Moscovo e Washington, deterioradas pelo conflito na Ucrânia. Esse compromisso foi este sábado reforçado.

 

 

Segundo o Kremlin, os dois líderes terão realçado a importância de restaurar as ligações económicas entre os dois países, bem como a de estabilizar as suas relações.

 

 

Ainda nesta conversa, Trump e Putin definiram como prioridade a luta contra o terrorismo e a promoção de uma “coordenação real” contra o autoproclamado Estado Islâmico na Síria.

 

 

A Casa Branca já reagiu e qualificou conversa telefónica de “um começo significativo” para melhorar os laços entre Washington e Moscovo.

 

Vladimir Putin foi tema recorrente ao longo da campanha eleitoral. Os serviços secretos norte-americanos consideraram que a Rússia interferiu nas eleições presidenciais de 8 de novembro de 2016 para favorecer Donald Trump. Em causa está uma alegada campanha de ataques informáticos orquestradas pelo Kremlin. O caso resultou na expulsão de 35 diplomatas russos dos Estados Unidos, na aplicação de sanções económicas e no encerramento de duas instalações russas em Maryland e em Nova Iorque.

 

 

Obama endureceu o tom no final do seu mandato, mas Donald Trump optou sempre por manter uma relação cordial com o presidente russo, tendo mesmo colocado em causa as conclusões e a atuação dos serviços de inteligência norte-americanos neste caso.

 

 

“Se Putin gosta de Trump, eu considero isso um activo e não um risco. A Rússia pode ajudar-nos a combater o ISIS (o autoproclamado Estado Islâmico). Espero dar-me bem com Putin, mas é pouco provável. Mas alguém acha realmente que Hillary seria mais dura com Putin do que eu? Por favor… “, disse Trump a 11 de janeiro, na primeira conferência de imprensa após as eleições. Dias antes disse que “apenas pessoas estúpidas ou tontos” descartariam relações mais estreitas com a Rússia. Putin, por seu lado, chamou Trump de “homem brilhante e cheio de talento”.

 

 

Depois de May, é Merkel a colocar NATO na agenda

 

 

 

No encontro desta sexta-feira com Theresa May, Donald Trump, pelas palavras da primeira-ministra britânica, confirmou o seu compromisso com a NATO, organização que criticou várias vezes, sobretudo porque considera que os EUA contribuem muito mais para a mesma do que os restantes aliados. May, face a isto, comprometeu-se a sensibilizar os homólogos europeus para a necessidade de uma distribuição mais justa dos esforços de financiamento à defesa comum.

 

Agora foi Merkel, a chanceler alemã a insistir no tema.

“O presidente e a chanceler também estão de acordo na importância fundamental da Aliança da NATO como a mais ampla relação transatlântica e seu papel para assegurar a paz e a estabilidade da nossa comunidade no Atlântico Norte”, destacou a Casa Branca num comunicado este sábado após o telefonema entre Merkel e Trump. A mesma nota informa, ainda, que Trump viajará em julho a Hamburgo para participar da cimeira do G20 e que receberá “muito em breve a chanceler em Washington”.

 

 

Refugiados e os valores da Europa. Hollande endurece o discurso

 

 

 

O presidente francês François Hollande, que se deslocou este sábado a Lisboa para a cimeira dos países de sul da Europa, também esteve ao telefone com o homólogo norte-americano. A Trump, Hollande pediu que respeite o princípio de “acolhimento de refugiados” e advertiu-o para as consequências de uma atitude protecionista, segundo um comunicado da Presidência francesa.

 

Hollande abordou ainda vários outros temas, nomeadamente o conflito Sírio, a importância do compromisso ambiental alcançado na Cimeira de Paris (CPO21) – no sentido de travar o aquecimento global -, o acordo nuclear com o Irão  e o conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

 

 

O presidente francês reafirmou “a sua determinação para continuar com as ações empreendidas no Iraque e na Síria”. “A solução para a situação na Síria” deve ser encontrada num “marco político, auspiciado pelas Nações Unidas”. “Nenhuma outra solução seria nem duradoura, nem confiável”, reforçou.

 

 

Sobre o Irão, Hollande defendeu que o programa nuclear deverá ser “estritamente respeitado e aplicado”. No que respeita as relações Rússia – Ucrânia, “as sanções vinculadas à situação na Ucrânia” só poderão “ser suspensas quando a situação no leste do país” estiver “solucionada com a aplicação total dos acordos de Minsk”.

 

 

Apesar de só ter falado com Trump ao final do dia, Hollande já tinha abordado este telefonema durante o dia de sábado, em Lisboa. À imprensa disse que é preciso responder a Trump e defender os valores europeus.

 

 

“Os discursos que escutamos nos Estados Unidos encorajam o populismo extremista. A ideia de que já não há Europa, de que já não é necessário estarmos juntos, de que é necessário pôr em causa o acordo sobre o clima, o protecionismo”, enunciou Hollande.

 

 

“Quando há declarações do Presidente dos EUA sobre a Europa e a falar do modelo do ‘Brexit’, penso que devemos responder-lhe. Quando o Presidente dos EUA evoca o clima para dizer que não está convencido da utilidade do acordo [de Paris, sobre alterações climáticas], devemos responder-lhe. Quando ameaça com medidas protecionistas, que podem destabilizar as economias, não somente as europeias, mas as economias dos principais países do mundo, devemos responder-lhe. Quando ele recusa acolher refugiados, depois de a Europa ter cumprido o seu dever, devemos responder-lhe”, sublinhou.

 

 

O desafio que se coloca, agora, à União Europeia é afirmar os seus “valores, princípios e interesses”, e isso é o que estará em causa em 25 de março, quando se assinalarão, em Roma, os 60 anos da assinatura dos tratados fundadores do bloco europeu, lembrou. “A Europa não é protecionista, não é fechada, tem valores e tem princípios”, salientou o presidente francês em Lisboa, após a fotografia de família, durante a cimeira de países do sul da Europa.

 

 

 

Segurança do Japão é compromisso de Trump

 

 

 

Ainda nesta ronda de conversas telefónicas, Trump teve a oportunidade de falar com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe.

 

Nesta conversa, o presidente norte-americano confirmou o “forte compromisso” do seu país com a segurança do Japão, informou a Casa Branca em comunicado.

 

A mesma nova dá conta que o novo secretário de Defesa, James Mattis, viajará “em breve” para o Japão. Shinzo Abe será recebido por Trump a 10 de fevereiro, em Washington.

 

 

A conversa aconteceu poucos dias depois de o presidente Trump ter anunciado formalmente a saída dos Estados Unidos do Tratado de Livre Comércio Transpacífico (TPP), do qual o Japão é um dos signatários.

 

 

Estas conversas deram oportunidade a Trump de explicar à comunidade internacional algumas das suas decisões dos últimos dias, como por exemplo a assinatura de um decreto que visa reforçar o controlo de fronteiras e que suspende a emissão de vistos e a receção de refugiados.

 

 

A Casa Branca não revelou ainda o conteúdo do decreto, mas segundo o projeto divulgado pelo Washington Post, as autoridades norte-americanas vão suspender por pelo menos 30 dias a emissão de vistos para os cidadãos de sete países muçulmanos: Irão, Iraque, Líbia, Somália, Sudão, Síria ou Iémen. O texto deverá também prever a suspensão durante quatro meses do programa federal de admissão e reinstalação de refugiados de países em guerra, um programa humanitário ambicioso criado por uma lei do Congresso em 1980.

 

Em resposta à medida, o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, afirmou que o seu país “vai receber” os refugiados rejeitados pelo Presidente dos Estados Unidos.

 

 

As autoridades já começaram a implementar as ordens de Trump. Viajantes foram retidos em aeroportos poucas horas após a assinatura do decreto. Segundo o jornal The New York Times, os agentes aeroportuários começaram na sexta-feira à noite a barrar viajantes após o anúncio do decreto.

 

 

Várias associações americanas de defesa dos direitos civis reagiram de imediato e apresentaram um recurso judicial contra a ordem de Trump. A ação foi apresentada num tribunal federal de Nova Iorque pela União Americana das Liberdades Civis (ACLU) e outras associações depois de dois iraquianos terem sido detidos na sexta-feira à noite no aeroporto JFK (Nova Iorque) com base no decreto recém-promulgado, escreve a AFP.

 

Os primeiros dias de liderança de Trump foram igualmente marcados pelo agudizar das relações entre os EUA e o México. No centro da discórdia está o muro que o presidente norte-americano prometeu construir na fronteira com o país liderado por Peña Nieto. O caso evoluiu de tal forma que Nieto cancelou uma visita que tinha marcada aos EUA após uma provocação de Trump, que reitera vezes sem conta que o México irá pagar pelo muro.

 

 

A construção deste muro fronteiriço, que visa travar a entrada de imigrantes ilegais no território americano, foi uma das propostas mais polémicas de Trump durante a campanha eleitoral para as presidenciais de novembro do ano passado.

 

 

A relação agitada que Trump pode piorar

 

 

 

A nova administração americana dá sinais contraditórios e preocupantes na política externa. A relação de Washington com a ONU não é tranquila há décadas, mas é cedo para saber se a rutura é o caminho. António Guterres não vai ter o trabalho facilitado.

 

 

Passaram duas semanas e, ao contrário de outras administrações, ainda é cedo para sabermos, afinal, quais vão ser as linhas mestras da política externa dos Estados Unidos durante os anos Trump. Se há algo que temos como garantido, por estes dias, é a incerteza.

 

Esta e outras inflexões de rota ao longo destes primeiros dias de presidência tornam legítima a pergunta: que relação vai existir entre a América e as Nações Unidas? António Monteiro, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, mas também antigo embaixador junto das Nações Unidas e que chegou a presidir o Conselho de Segurança, acredita que pouco vai mudar. “Não creio que vá haver uma grande inflexão no relacionamento entre os Estados Unidos e as Nações Unidas. A nova administração terá preocupações semelhantes às anteriores.” O diplomata lembra que os Estados Unidos encararam as Nações Unidas como uma organização particularmente útil durante as primeiras décadas de existência, mas depois, durante a Guerra Fria e com a crescente força do movimento dos países não alinhados, começaram a desprezar a ONU. António Monteiro recorda um episódio, durante a administração Reagan. “Lembro-me da embaixadora dos Estados Unidos junto das Nações Unidas, Jeane Kirkpatrick, a dizer que se isto é um movimento alinhado com a União Soviética, o melhor é as Nações Unidas partirem para Moscovo e instalarem lá a sua sede. Eu serei a primeira a ir para o cais, com um lenço branco, a despedir-me dela.” Desde esses dias que a tensão se mantém, sobretudo quando chega a hora de falar de dinheiro.

 

 

Os Estados Unidos são o principal contribuinte líquido para os diversos orçamentos das Nações Unidas, e de muitas das suas agências autónomas. A cada orçamento bianual, ao todo, Washington desembolsa cerca de oito mil milhões de dólares. Os EUA são responsáveis por uma quota de 22% do orçamento geral da ONU – cerca de 600 milhões de dólares -, e outra de 28,6% do orçamento para missões de paz – cerca de 2,3 mil milhões; nestas duas parcelas têm uma responsabilidade de perto de 3 mil milhões, a que é preciso juntar muito mais em contribuições voluntárias para diversas agências e programas da ONU. Do outro lado da balança, os Estados Unidos, ou empresas norte-americanas, são igualmente o principal fornecedor de bens e serviços às Nações Unidas, com um total de vendas acima dos 1,6 mil milhões de dólares em 2015, data do último relatório (ver gráficos). O balanço final é desequilibrado para o lado da despesa, mas será uma conta muito alta, será demasiado dinheiro? Depende de como olhamos para os números.

 

 

Nova ordem mundial?

 

 

 

Voltemos a olhar o futuro e os sinais. Com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, têm-se multiplicado os rumores de cortes no financiamento americano às Nações Unidas, surgiu mesmo uma proposta de lei de um grupo de congressistas republicanos, que sugere a saída dos Estados Unidos da ONU – o diploma tem um nome curioso: Lei da Restauração da Soberania Americana de 2017 – e, no Twitter, o presidente referiu-se às Nações Unidas como “apenas um clube onde as pessoas se juntam, conversam e divertem”. Nikki Haley, ex-governadora da Carolina do Sul e escolha de Trump para embaixadora dos Estados Unidos na ONU, mal chegou a Nova Iorque disse que a América ia começar a “apontar os nomes” dos países que discordassem das suas posições na ONU.

 

Francisco Seixas da Costa, antigo secretário de Estado dos Assuntos Europeus, e ex-embaixador nas Nações Unidas, lembra a tradicional tensão entre os Estados Unidos e a ONU, mas afirma que “nunca se tinha visto uma administração que, desde o início e de uma forma tão flagrante e quase provocatória, enviasse uma mensagem para as Nações Unidas, no sentido de que só lhes interessa a ONU apenas e se o seu funcionamento corresponder aos interesses americanos”. O antigo diplomata adivinha uma relação de absoluta conveniência nos próximos anos: “O que vai acontecer é um pick and choose, os Estados Unidos olharão para aquilo em que as Nações Unidas possam ser úteis à sua política externa, seja ela qual for porque até agora só temos sinais ligeiramente caricaturais do que poderá constituir essa política externa, e vamos assistir a um momento de grandes restrições na vontade americana de colaborar com as Nações Unidas.”

 

António Monteiro (na foto à direita), lembra que “os três pilares das Nações Unidas – paz, desenvolvimento e direitos humanos – tiveram um grande contributo dos Estados Unidos, e devem preocupar sobretudo quem tem mais responsabilidades na organização, quem tem direito de veto, e aliás esse direito de veto também os obriga a pagar mais”. O antigo embaixador na ONU tem uma esperança, que “da parte americana haja uma reflexão sobre o que significam as Nações Unidas em termos de equilíbrio e bem-estar para o mundo atual. É uma reflexão que não pode apenas considerar interesses nacionais, mas interesses globais”.

 

E António Guterres?

 

 

O antigo embaixador António Monteiro tem um olhar otimista. “As agendas dos Estados Unidos e do próprio secretário-geral poderão ter algumas diferenças, que necessitam de afinação. Isso é normal. Não vejo que, a prazo, não possa haver uma aproximação, e para isso é preciso boa vontade.” No fundo, o antigo diplomata espera bom senso da nova administração. “Há um novo secretário-geral, e espero que a nova administração acabe por entender que é uma nova oportunidade para todos. Tenho esperanças de que, depois da habitual – porque já se tornou habitual – discussão sobre o nível de contribuições, sobre o que é que cada um dá, os Estados Unidos reconheçam o grande potencial das Nações Unidas.”

 

 

 Vêm aí vários meses de protestos anti-Trump, promete movimento de resistência civil

Um movimento de resistência civil contra medidas polémicas do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, promete pôr milhares de pessoas nas ruas em protestos por todo o país nos próximos meses.

 

Depois da “Marcha de Mulheres”, que a 20 de janeiro, dia seguinte à posse de Trump, juntou meio milhão de pessoas em Washington, um coletivo de grupos e organizações planeou uma série de manifestações, de imigrantes ou cientistas, contra os impostos ou a favor do ambiente.

 

 

Das próximas previstas, a “Marcha dos Imigrantes”, marcada para 06 de maio, é uma das que deverá ter mais participantes. Até ao momento, 120.000 pessoas confirmaram a sua presença através da rede social Facebook.

 

 

Com a ‘hashtag’ “WeAllBelong”  (Todos Pertencemos), os apoiantes do protesto asseguram que não se vão deixar “intimidar pelos ataques contra os imigrantes no país e contra os que procuram oportunidades nos Estados Unidos”.

 

 

Uma série de manifestações tem ocorrido desde a posse de Trump, mas o polémico decreto limitando a entrada no país a cidadãos de sete países muçulmanos, agora suspenso por um juiz federal, fez aumentar a contestação civil.

 

 

Trump tem afirmado que respeita o direito de manifestação dos cidadãos, mas na sexta-feira escreveu na sua conta no Twitter: “Anarquistas profissionais, arruaceiros e manifestantes pagos estão a dar razão aos milhões de pessoas que votaram para TORNAR A AMÉRICA GRANDE OUTRA VEZ!”, o lema da sua campanha eleitoral.

 

 

Entre os protestos planeados figura uma marcha promovida pela comunidade científica, em data a anunciar, para denunciar Trump com alguém que “ignora a ciência para prosseguir uma agenda ideológica que põe o mundo em perigo”, segundo um comunicado.

Para o Dia da Terra, a 22 de abril, está planeada uma marcha para defender “as evidências das alterações climáticas”, um fenómeno que Donald Trump disse ser “uma farsa”, e afirmar a ciência como “pilar de liberdade humana e prosperidade”.

 

 

O investigador do Centro para o Progresso Americano e especialista em política norte-americana Sam Fulwood assegurou a jornalistas que esta vaga de protestos anti-Trump reúne grupos muito diferentes que defendem causas díspares.

 

 

“O insólito desta resistência civil é que nunca antes, com exceção do segundo mandato de Richard Nixon (1973-1974), se realizaram tantos protestos e marchas tão no início do mandato de um novo Presidente”, disse.

 

 

A 15 de abril, quase 40.000 pessoas manifestaram intenção de participar numa manifestação em frente da Casa Branca para exigir que Donald Trump torne públicas as suas declarações de rendimentos, como é hábito os presidentes fazerem, mas que Trump recusa.

 

 

Outras causas, como a defesa do plano de cobertura médica de 2010 conhecido como “Obamacare” ou os direitos da comunidade LGBT (lésbica, homossexual, bissexual e transexual), vão mobilizar manifestantes nos próximos meses.

 

 

O movimento de protesto foi elogiado pelo ex-Presidente Barack Obama, que num comunicado divulgado a 30 de janeiro, dia em que foi assinado o decreto anti-imigração, pelo seu porta-voz, Kevin Lewis, se disse “animado” com o compromisso social dos norte-americanos demonstrado na contestação ao decreto anti-imigração de Trump.

 

 

“Cidadãos a exercer o seu direito constitucional de reunião, de organização e de fazer com que as suas vozes sejam ouvidas pelos responsáveis eleitos é exatamente o que esperamos ver quando os valores americanos estão em causa”, afirmou.

 

 

TPT com:AFP/Aldo Gamboa///Reuters//WP//Ana Paula Foncesa//Público//Sapo24//Lusa// Monica Almeida/Reuters// 4 de Fevereiro de 2017

 

 

 

 

 

Benjamin Netanyahu, faz questão de elogiar e aplaudir a construção do muro de Donald Trump

“O presidente Trump está certo. Eu construí um muro ao longo da fronteira sul de Israel. Parou toda a imigração ilegal. Grande sucesso. Grande ideia”, escreveu o político de forma telegráfica na rede social Twitter, adicionando as bandeiras de Israel e dos Estados Unidos.

 

 

Donald Trump assinou na quarta-feira um decreto para o início da construção de um muro ao longo da fronteira entre os Estados Unidos e o México — que tem uma extensão total de cerca de 3.000 quilómetros — para travar a entrada de imigrantes ilegais no território norte-americano.

 

 

O magnata deu assim o primeiro passo para concretizar uma das mais polémicas promessas da campanha eleitoral para as presidenciais.

 

 

“O muro é necessário porque o povo quer proteção e o muro protege. Basta perguntar a Israel. Tinham um absoluto desastre atravessando para o outro lado”, afirmou Donald Trump na quinta-feira, numa conversa com um apresentador do canal conservador Fox News.

 

 

O Presidente dos Estados Unidos planeia financiar a construção do muro impondo um imposto de 20 por cento sobre todos os bens provenientes daquele país.

 

 

 

 

Irão reage a decisão “insultuosa” de Trump e proíbe entrada de norte-americanos

 

 

 

 

O Irão vai proibir a entrada de norte-americanos, reagindo à decisão “insultuosa” do Presidente dos EUA de restringir chegadas com origem em território iraniano e mais seis Estados muçulmanos, disse hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros.

 

O Irão optou responder à letra “depois da decisão insultuosa dos EUA respeitante aos cidadãos iranianos”, disse o ministro Mohamad Javad Zarif numa intervenção transmitida pela televisão pública.

 

 

Na sexta-feira, Donald Trump assinou uma ordem para suspender a chegada de refugiados e impor controlos aos passageiros vindos do Irão, Iraque, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iémen.

 

 

O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano considerou a decisão “ilegal, ilógica e contrária às regras internacionais”. E acrescentou que a sua decisão vai manter-se enquanto a medida dos EUA estiver em vigor.

 

 

O governante ordenou aos serviços diplomáticos iranianos que ajudem os cidadãos do Irão que foram “impedidos de regressar às suas casas e aos seus locais de trabalho e de estudo” nos EUA.

 

 

Os agentes de viagens em Teerão disseram que as companhias aéreas estrangeiras começaram a vedar o acesso dos iranianos aos voos para os EUA.

 

 

 

 

António Guterres diz que “esta não é a maneira de proteger os EUA ou qualquer outro país”

 

 

 

 

O secretário-geral da ONU disse esta quarta-feira que as restrições às entradas de sete países e o congelamento do programa de refugiados, medidas do presidente Donald Trump, devem ser levantados “quanto antes”.

 

“Esta não é a maneira de proteger os EUA ou qualquer outro país em relação às preocupações sérias que existem sobre a possível infiltração de terroristas”, disse António Guterres aos jornalistas na sede da ONU.

 

 

“Não me parece que estas medidas sejam uma forma eficaz de fazê-lo. Acho que estas medidas devem ser removidas quanto antes”, disse o secretário-geral da ONU, citado pela Reuters.

 

 

“Se uma organização terrorista vai tentar atacar qualquer país, como os Estados Unidos, provavelmente não virá com pessoas com passaportes de países que já são zonas de conflito”, considerou o diplomata português, que recordou a sofisticação com que operam estes grupos. “Podem vir com passaportes dos países mais desenvolvidos do mundo ou podem utilizar as pessoas que já estão dentro do país e que podem estar aí há décadas”, acrescentou.

 

 

Guterres apelou a que sejam evitadas “medidas que alimentem a ansiedade e a ira” porque “ajudam a desencadear os mecanismos de recrutamento que estas organizações estão a efetuar em todo o mundo”.

 

 

“Por isso estamos a advogar com determinação a capacidade para adotar medidas muito firmes em relação à gestão das fronteiras, mas ao mesmo tempo que não sejam baseadas em nenhuma discriminação vinculada com nacionalidade, religião ou etnia”, explicou.

 

 

O dirigente da ONU, que já tinha reagido às medidas de Washington no decurso de sua deslocação à Etiópia, para a cimeira da União Africana, exprimiu-se hoje, e um dia após o seu porta-voz ter emitido um comunicado que criticava este género de decisões apesar de não mencionar explicitamente os Estados Unidos.

 

 

Na passada sexta-feira Donald Trump assinou uma ordem executiva que suspende durante 120 dias o programa de acolhimento de refugiados nos Estados Unidos e congela durante 90 dias a emissão de vistos para os cidadãos de sete países de maioria muçulmana: Líbia, Sudão, Somália, Síria, Iraque, Irão e Iémen.

 

 

Guterres disse que considera “importante” deixar clara a “doutrina” da ONU, quer em relação ao veto a determinados países, quer às medidas sobre refugiados.

 

 

Ex-Alto comissário da ONU para os Refugiados, António Guterres recordou que a recolocação é a “única solução” para muitas destas pessoas”, tendo destacado a situação da população síria.

 

 

Guterres referiu ainda que os EUA foram um dos países na vanguarda destes esforços para proteger refugiados e manifestou confiança no “restabelecimento” desta política que “não exclua os sírios”.

 

 

 

 

Theresa May diz que decreto anti-imigração dos EUA é “fraturante e errado”

 

 

A primeira-ministra britânica, Theresa May, disse hoje que a proibição temporária de entrada nos Estados Unidos de imigrantes e refugiados de sete países muçulmanos é “fraturante e errada”, cinco dias depois de ter recusado criticar o decreto.

 

“Sobre o decreto que o presidente [norte-americano, Donald] Trump apresentou, este governo pensa ser claro que essa política é errada”, disse May aos deputados britânicos, em resposta ao líder da oposição trabalhista, Jeremy Corbyn.

 

“Pensamos que é fraturante e errada”, acrescentou.

 

 

O decreto assinado na sexta-feira por Trump proíbe a entrada de refugiados por 120 dias e suspende a emissão de vistos por 90 dias aos cidadãos de sete países de maioria muçulmana: Iémen, Irão, Iraque, Líbia, Síria, Somália e Sudão.

 

 

Theresa May fez questão de sublinhar que não soube da intenção de Trump antes do anúncio oficial, feito no mesmo dia em que a primeira-ministra britânica foi recebida na Casa Branca.

 

 

“Se [Corbyn] me pergunta se tive conhecimento prévio da proibição de refugiados, a resposta é não. Se me pergunta se tive conhecimento prévio de que o decreto podia afetar cidadãos britânicos, a resposta é não”.

 

 

A proibição suscitou críticas em todo o mundo, incluindo das Nações Unidas, União Europeia e vários países aliados, mas, no sábado, Theresa May não criticou a medida, quando foi questionada, por três vezes, durante uma visita à Turquia, afirmando tratar-se de uma questão interna.

 

 

Horas mais tarde, a primeira-ministra afirmou não concordar com a medida, ao saber-se que afeta cidadãos britânicos com dupla nacionalidade, britânica e de um dos países visados.

 

 

 

 

Restrições à imigração estão a “funcionar muito bem”, diz Trump

 

 

 

 

O Presidente norte-americano considerou hoje que o decreto de restrição à imigração e entrada de refugiados nos Estados Unido “está a funcionar muito bem”.

 

 

“Está a funcionar muito bem. Vê-se nos aeroportos, por todo o lado”, declarou Donald Trump, durante uma breve cerimónia de assinatura de novos decretos.

 

Numa ordem executiva assinada na sexta-feira, Trump suspendeu a entrada de refugiados nos Estados Unidos por pelo menos 120 dias e impos um controlo mais severo aos viajantes oriundos do Irão, Iraque, Líbia, Somália, Síria e Iémen durante os próximos três meses.

 

 

“Vamos ter uma proibição muito, muito severa e vamos ter verificações completas, o que já devíamos ter neste país há muitos anos”, sublinhou.

 

 

Desde sexta-feira que viajantes oriundos daqueles países foram impedidos de entrar em aviões com destino aos Estados Unidos, desencadeando protestos em vários aeroportos.

 

 

 

 

Canadá vai receber refugiados com entrada proibida nos EUA

 

 

 

 

 

O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, afirmou hoje que o Canadá “vai receber” os refugiados rejeitados pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

 

Numa mensagem na rede social Twitter, Trudeau escreveu: “Para aqueles que fogem de perseguições, terrorismo e guerra, os canadianos vão receber-vos, independentemente da vossa fé. A diversidade é a nossa força! BemVindos ao Canadá”.

 

 

Trudeau difundiu, também no Twitter, uma fotografia do momento em que recebe uma criança síria, no aeroporto de Toronto.

 

 

Depois de ser eleito, no final de 2015, o primeiro-ministro canadiano supervisionou a chegada de mais de 39 mil refugiados sírios.

 

 

O governo liberal canadiano tem tentado equilibrar a sua visão do mundo e as relações com a nova administração norte-americana.

 

Mais de 75% das exportações do Canadá são destinadas aos Estados Unidos.

 

 

 

Um milhão assinam petição para travar visita de Estado de Donald Trump à Inglaterra

 

 

 

 

Os deputados têm que se pronunciar sobre todas as petições que tenham mais de cem mil assinaturas. Governo já disse que visita é para manter.

 

 

Um milhão de pessoas já assinaram uma petição que pede para o Reino Unido retirar o convite ao presidente norte-americano, Donald Trump, para visitar Londres e jantar com a rainha Isabel II.

 

A petição foi criada antes de a primeira-ministra britânica, Theresa May, convidar Trump para uma visita de Estado, que implica um convite da monarca. Trump deverá visitar o Reino Unido ainda este ano.

 

 

Mas a campanha para travar a visita ganhou apoios depois de Trump ter suspendido a entrada de refugiados nos EUA e travar temporariamente os visitantes da Síria e de outros seis países muçulmanos.

 

“Donald Trump deve poder entrar no Reino Unido na sua capacidade de chefe do governo norte-americano, mas não deve ser convidado para uma visita de Estado porque isso iria causar embaraço para a rainha”, lê-se na petição.

 

 

“A bem documentada misoginia e vulgaridade de Donald Trump inabilitam-no para ser recebido pela rainha e pelo príncipe de Gales”, acrescenta, pedindo para que durante a sua presidência não seja convidado para uma visita de Estado.

 

 

Todas as petições que passem as cem mil assinaturas têm que ser debativas e votadas no Parlamento (mesmo o voto não sendo vinculativo). Parlamentares tanto do partido conservador (de Theresa May) como do Labour criticaram a decisão de Trump, o líder do Labour, Jeremy Corbyn a dizer que a visita de Estado devia ser suspensa.

 

 

Mas Downing Street já confirmou que a visita é mesmo para manter. “Um convite foi feito e aceite”, disse o gabinete de Theresa May, segundo a AP. Não é conhecida ainda a data da viagem de Trump ao Reino Unido.

 

 

 

TPT com: AFP// REUTERS/Tiksa Negeri// Amir Cohen//EPA/Olivier Douliery//Lusa//REUTERS/Lucas Jackson//CNN//AP//FOX//2 de Fevereiro de 2017

 

 

 

 

Os Estados Unidos vão limitar entrada a países muçulmanos porque “o mundo está uma confusão total”

Em entrevista à ABC, Donald Trump rejeitou tratar-se de uma interdição contra os muçulmanos: “Não, não é uma proibição dos muçulmanos, mas dos seus países”, porque “as pessoas vão chegar e causar-nos tremendos problemas”.

 

 

“O nosso país já tem problemas suficientes e em muitos ou em alguns casos [há pessoas] que procuram causar tremenda destruição”, adiantou.

 

 

Donald Trump recusou dizer a que países se estava a referir, mas afirmou acreditar que a Europa “cometeu um enorme erro ao permitir que esses milhões de pessoas sigam para a Alemanha e outros países. Basta olhar – é um desastre o que está a acontecer lá”.

 

 

Segundo um projeto de ordem executiva publicado pelos ‘media’ norte-americanos, os refugiados da Síria vão ser banidos por tempo indefinido, o amplo programa norte-americano de admissão de refugiados vai ser suspenso por 120 dias e todos os pedidos de visto oriundos de países considerados uma ameaça terrorista – Iraque, Síria, Sudão, Líbia, Somália e Iémen – vão ser suspensos por 30 dias.

 

 

Questionado sobre se receia provocar a ira dos muçulmanos em todo o mundo, Donald Trump respondeu: “Raiva? Já há muita raiva neste momento. Como é possível haver mais?”

 

 

Para Trump, “o mundo é um lugar de raiva” (…). Fomos para o Iraque, não devíamos ter ido. Não devíamos ter saído da forma que saímos. O mundo está uma confusão total”.

 

 

Segundo o projeto de decreto divulgado pelos ‘media’, o Presidente norte-americano planeia cortar pela metade o número de refugiados que entram nos Estados Unidos durante o ano fiscal de 2017, que termina a 30 de setembro.

 

 

Enquanto a administração do antigo Presidente Barack Obama definiu a meta de aceitar mais de 100 mil refugiados este ano, Trump pretende cortar esse objetivo para 50 mil.

 

 

França e Alemanha manifestam preocupação com decisões de Trump

 

 

A França e a Alemanha estão “preocupadas” com várias decisões tomadas pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, particularmente as restrições à chegada de refugiados, disse hoje o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Marc Ayrault.

 

 

“Acolher os refugiados que fogem da guerra é parte do nosso dever”, disse, ao lado do seu novo congénere alemão, Sigmar Gabriel, depois de um encontro entre ambos.

 

“Devemos (…) assegurar que isso acontece de forma equitativa, justa e solidária”, acrescentou.

 

 

Trump assinou na sexta-feira uma ordem executiva para suspender a chegada de refugiados aos EUA e impor controlos severos a quem viaja com origem em sete países muçulmanos.

 

 

“Essa decisão só pode causar-nos preocupação, mas há um conjunto de outras questões a causar-nos preocupação”, disse Ayrault, quando questionado pelos jornalistas acerca das restrições.

 

 

Jean-Marc Ayrault e o ministro alemão decidiram entrar em contacto com o secretário de Estado norte-americano nomeado, Rex Tillerson, assim que tome posse, “para discutir o assunto ponto por ponto e ter uma relação clara”.

 

 

“A clareza, a coerência e, se necessário, a firmeza são necessárias para defender as nossas crenças, os nossos valores, a nossa visão do mundo, os nossos interesses – o francês, o alemão e o europeu”, acrescentou.

 

 

Gabriel realizou a sua primeira viagem ao estrangeiro desde que foi nomeado, na sexta-feira, para substituir Frank-Walter Steinmeier.

 

 

Pelo seu lado, um porta-voz da Comissão Europeia disse que não tinha “nenhum comentário a fazer” sobre as decisões de Trump.

 

 

No entanto, relembrou “os comentários feitos várias vezes pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, de que a Europa é e permanece aberta a todos aqueles que fogem dos conflitos armados e do terror, qualquer que seja sua religião”.

 

 

 

Associações de direitos humanos processam Trump por causa de decreto anti-refugiados

 

 

 

Várias organizações norte-americanas de defesa dos direitos civis, recorreram hoje à justiça contra o decreto de Donald Trump que impede a entrada de refugiados e viajantes de vários países muçulmanos nos Estados Unidos.

 

A queixa contra o Presidente Trump, que deu ontem entrada num tribunal federal de Nova Iorque, foi apresentada pela União Americana das Liberdades Civis e outras organizações de defesa dos direitos humanos e dos imigrantes, que exigem a libertação dos dois cidadãos iraquianos que foram detidos na sexta-feira no aeroporto JF Kennedy, devido ao decreto.

 

 

A Casa Branca anunciou na sexta-feira ter proibido durante três meses a entrada de cidadãos de sete países muçulmanos: Irão, Iraque, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iémen. As exceções são os cidadãos com vistos diplomáticos e oficiais e os que trabalham para instituições internacionais.

 

 

O Presidente, Donald Trump, justificou a controversa medida, muito criticada pelos democratas e por organizações de defesa dos direitos cívicos e dos direitos humanos, com o argumento de que visa lutar contra os “terroristas islâmicos radicais”.

 

 

“Crio novas medidas de controlo para manter os terroristas islâmicos radicais fora dos Estados Unidos. Nós não os queremos cá”, insistiu o Presidente norte-americano durante a cerimónia, no Pentágono, da tomada de posse do seu secretário da Defesa, James Mattis.

 

 

O decreto intitulado “Proteção da Nação contra a entrada de terroristas estrangeiros nos Estados Unidos” era esperado desde quarta-feira, quando o jornal Washington Post divulgou um projeto do documento.

 

 

“Isto é uma coisa em grande”, disse o Presidente, perante a hierarquia militar reunida no Pentágono.

 

 

“Queremos assegurarmo-nos de que não deixaremos entrar no nosso país as mesmas ameaças que os nossos soldados combatem no estrangeiro (…). Não esqueceremos jamais as lições do 11 de setembro” de 2001, adiantou Trump, numa alusão aos atentados realizados nos Estados Unidos pelo grupo extremista Al-Qaida.

 

 

De 1 de outubro de 2015 a 30 de setembro de 2016, os Estados Unidos acolheram 84.994 refugiados de várias nacionalidades, incluindo cerca de 10.000 sírios.

 

 

A administração de Barack Obama tinha previsto como objetivo os 110.000 refugiados para o exercício orçamental seguinte, mas a de Donald Trump visará apenas 50.000, de acordo com o projeto de decreto.

 

 

TPT com: AFP//Reuters//Lusa//Washington Post// 28 de Janeiro de 2017

 

 

 

 

 

Construção do muro com o México abre guerra de Trump à imigração ilegal e aos criminosos que cruzam a fronteira

Se bastasse uma assinatura num papel para fazer nascer um “grande e belo muro” ao longo da fronteira Sul dos Estados Unidos da América, ele tinha nascido esta quarta-feira quando Donald Trump pôs o seu nome num decreto presidencial a dizer “faça-se”. E mais do que isso, a custo zero para o país, uma vez que será o México a pagar a obra “absolutamente, a 100%”, garantiu o líder norte-americano.

 

 

A acção executiva do Presidente é, por si só, insuficiente para levantar a “muralha impenetrável” prometida no lançamento da sua candidatura à Casa Branca e destinada a travar o fluxo de – disse – traficantes e violadores mexicanos e imigrantes latino-americanos para os EUA. O decreto presidencial não deixa, contudo, de ser profundamente simbólico da intenção de Donald Trump de levar avante a sua controversa política anti-imigração, assente na premissa do muro pago pelo México ou no desejo de proibir a entrada de muçulmanos – e de o fazer avançando contra tudo e contra todos.

 

“Uma nação sem fronteiras não é uma nação”, declarou Donald Trump, numa cerimónia no Departamento de Segurança Interna onde assinou o decreto para iniciar a construção do muro “imediatamente”. O acto marca, para o Presidente, o momento em que o país recuperou o controlo da fronteira e reafirmou o direito de aplicar as leis “na sua máxima força”. “Estamos a viver uma crise na nossa fronteira Sul”, afirmou.

 

 

O decreto autoriza o redireccionamento de verbas alocadas àquela agência federal para projectos de infraestruturas para a construção do muro. Para já, desconhecem-se os montantes, mas os analistas dizem que serão suficientes para para pôr o projecto em marcha. Mesmo assim, a execução continua a estar dependente do financiamento do Congresso e condicionada pelo cumprimento de regras fixadas na legislação nacional e em tratados internacionais.

 

 

Pelas contas de vários consultores e especialistas, os custos dos trabalhos deverão ultrapassar os 30 mil milhões de dólares – e a obra pode prolongar-se por mais de cinco anos. A aritmética de Trump é muito diferente. O Presidente estimou que a construção do muro ficará entre os oito e dez mil milhões de dólares e pode ser concluída em “poucos meses”.

 

Numa entrevista à ABC, o Presidente repetiu que o projecto não será financiado pelos contribuintes norte-americanos, insistindo que todo o dinheiro público que tiver de ser aplicado no projecto será posteriormente recuperado através de uma “complicada fórmula de reembolso” a ser negociada com o México “muito em breve”. Confrontado com a recusa do Presidente Peña Nieto em assumir esse custo, Trump limitou-se a dizer que “haverá um pagamento”. “O que as pessoas têm de compreender é que o que estou a fazer é o melhor para os Estados Unidos. E também vai ser bom para o México”, acrescentou.

 

 

Essa não é, naturalmente, a interpretação do Governo mexicano, que insiste que não vai pagar nem um cêntimo do muro de Trump. O anúncio feito pelo Presidente terá apanhado de surpresa os ministros da Economia e Negócios Estrangeiros do país, que viajaram até Washington para discutir com os conselheiros da Casa Branca o igualmente controverso plano de Trump para desfazer o acordo de livre comércio da América do Norte (NAFTA). Aliás, a cena lembrou a postura de Trump na sua inusitada visita ao México durante a campanha eleitoral: depois de falar de tudo menos do muro no seu encontro com o Presidente Peña Nieto, disse aos jornalistas que estava garantido o seu pagamento. “Ele ainda não sabe, mas quem vai pagar é ele.”

 

 

Num outro decreto, intitulado “promover a segurança pública dentro dos EUA”, o Presidente instruiu as agências respectivas a triplicar o número de agentes envolvidos em operações de detenção e deportação de clandestinos e a aumentar o número e o espaço dos centros de detenção de fronteira para mais rapidamente expulsar os clandestinos para os seus países. Trump quer ainda abrir mais 5000 vagas para a patrulha da fronteira – para já não se percebe como essa autorização se coaduna com a ordem de congelamento de todas as contratações em agências federais que assinou na segunda-feira.

 

 

Outra” incompatibilidade” que ficou por explicar diz respeito à diferença de opinião entre Donald Trump e o homem que escolheu para dirigir o departamento de Segurança Interna, o general (na reforma) John Kelly, sobre a utilidade e “eficácia” da construção de um muro na fronteira Sul do país. Nas audiências de confirmação no Senado, Kelly considerou que a infraestrutura não resolveria o problema da imigração. “Simplesmente não funciona”, afirmou.

 

E não é só com a construção de um muro que o Presidente dos Estados Unidos se propõe proteger o país das “ameaças” representadas pelo acesso de estrangeiros. Um outro decreto executivo assinado esta quarta-feira pretende acabar com as chamadas “cidades santuário” distribuídas pelo país: são localidades que se afirmam como refúgio para imigrantes não documentados e se eximem de cooperar com as autoridades federais nas deportações.

 

 

A Administração não facultou ainda o texto da directiva de Trump, mas explicou que a ordem é para suspender o financiamento federal das cidades que se identificam como “santuário”. Vários líderes locais garantiram já que não vão acatar a ordem presidencial. Após a eleição, o mayor de Phoenix, no Arizona, escreveu que o departamento de polícia da sua cidade “nunca se converteria numa força de deportação maciça, mesmo que o novo Governo de Washington ameace revogar todas as verbas federais a que temos direito. Jamais seremos coagidos a andar para trás no que diz respeito a direitos humanos e cívicos”, sublinhou Greg Stanton, citado pelo jornal The Republic.

 

 

Essa directiva, destinada a acelerar as deportações, pode não resistir à jurisprudência do Supremo Tribunal, que limita a discricionariedade do Governo nas transferências de verbas de programas federais – e à própria realidade. Ainda assim, vários estados do México começaram já a preparar-se para o eventual regresso a casa de milhares de cidadãos que vivem e trabalham do outro lado da fronteira: quase metade dos imigrantes (com visto e sem visto) nos EUA são mexicanos.

 

 

A 31 de Janeiro, Donald Trump vai receber o presidente do México, Enrique Peña Nieto, para debater “mudanças comerciais, a imigração e segurança”, segundo o porta-voz do presidente americano, Sean Spicer. Esta quarta-feira, numa sessão sobre as novas medidas de segurança nacional, Trump disse aguardar com expectativa o encontro com o líder mexicano, admitindo ter uma “grande admiração pelos mexicanos”.

 

 

Em Washington, Trump disse que os Estados Unidos enfrentam uma crise relativa à imigração ilegal “que afecta negativamente tanto o México como os EUA”. “As pessoas ficam surpreendidas ao ouvir que não precisamos de novas leis, que trabalharemos dentro do sistema existente”, disse o Presidente, considerando que uma das missões mais importantes do departamento de segurança nacional é o cumprimento dessas mesmas leis.

 

 

Na cerimónia no Departamento de Segurança Interna, o presidente anunciou que iria criar uma repartição para apoiar as vítimas de crimes relacionados com imigrantes ilegais, invocando o nome de alguns americanos que morreram desta forma. “Não tenho maior dever do que aquele de proteger as vidas dos cidadãos americanos”, concluiu.

 

 

Presidente do México está a “considerar” cancelamento da visita aos EUA

 

 

 

Na próxima semana está prevista uma visita do Presidente do México, Enrique Peña Nieto, aos EUA, mas o líder mexicano está a “considerar” cancelar essa deslocação, depois de Donald Trump ter assinado o decreto presidencial para a construção do muro entre os dois países, noticia a Associated Press citando uma fonte oficial.

 

Peña Nieto tem sido alvo de intensas críticas e pressão pela abordagem em relação ao agora Presidente dos EUA e às considerações e promessas que Trump tem feito em torno do México.

 

 

A fonte ouvida pela AP, que falou sob a condição de anonimato, apenas revelou que o Presidente do México está a “considerar” cancelar a viagem marcada para o próximo dia 31 de Janeiro.

 

 

Trump pôs a “América primeiro” e a China começou a liderar o mundo

 

 

 

A China está calmamente a concretizar a sua aspiração de assumir a liderança mundial, do comércio global às alterações climáticas, marcando a diferença entre a liderança segura de Xi Jinping em relação ao Presidente dos EUA, Donald Trump, cujos primeiros dias no cargo estão a ser marcados por polémicas com os media e protestos.

 

Dias depois de Trump ter tomado posse, um muito seguro Xi esteve na Suíça onde foi o principal orador do Fórum Económico Mundial de Davos, tendo defendido vigorosamente a globalização e sublinhando o desejo de Pequim ter um maior papel no palco mundial.

 

 

Até na questão espinhosa do Mar do Sul da China, Pequim não mordeu o isco que foram as declarações da Casa Branca, proferidas esta semana, sobre “defender territórios internacionais” em águas disputadas. Em vez disso, a China vincou o seu desejo de paz e pediu contenção a Washington.

 

 

“Vocês têm o vosso lema ‘América primeiro’, nós temos o nosso ‘Um destino comum para a humanidade’”, escreveu no seu blogue o general na reserva chinês Luo Yuan, uma figura de proa do aparelho militar chinês que era conhecido pelo seu tom agressivo. “Vocês têm o vosso ‘país fechado’, nós temos a nossa ‘uma via, uma rota’”, escreveu, referindo-se ao programa de biliões de dólares de comércio e investimento conhecido por Nova Rota da Seda.

 

 

E enquanto a China tem dito, repetidamente, que não deseja desempenhar o papel tradicional dos EUA como líder do mundo, um alto diplomata chinês admitiu esta semana que esse papel pode ser imposto à China. “Se alguém disser que a China está a assumir a liderança do mundo, eu digo que não é a China que se está a chegar à frente, mas os que estavam no primeiro pelotão que se chegaram para trás, deixando o lugar à China”, disse Zhang Jun, director-geral do departamento de economia do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

 

 

A mensagem foi reforçada esta semana quando Trump retirou os EUA do acordo de comércio Parceria Transpacífico (TTP, na sigla inglesa), distanciando o país dos seus aliados asiáticos. Vários membros do TPP disseram querer incluir a China no pacto, ou aderir ao acordo de comércio livre alternativo lançado por Pequim.

 

 

“Em muitos importantes fóruns multilaterais, o líder chinês tem apresentado as propostas da China, acrescentando ímpeto positivo para o desenvolvimento do mundo”, escreveu na edição internacional do Diário do Povo (oficial) Su Xiaohui, investigador do Instituto de Estudos Internacionais, apoiado pelo MNE de Pequim.

 

 

“No processo de integração económica da Ásia-Pacífico, comparado com certos países que constantemente recordam a sua liderança do mundo, aquilo a que a China dá mais importância é à ‘responsabilidade’ e à ‘aceleração’”, considerou Su.

 

 

Em Maio, a China vai realizar uma conferência internacional sobre a sua “Uma via, uma rota”, no que é a oportunidade de Pequim mostrar que lidera em infra-estruturas e investimento. Uma fonte diplomática que está por dentro dos preparativos disse que a China deverá realizar a conferência no mesmo imponente centro de conferências usado para a cimeira de Cooperação Económica Ásia-Pacífico no Verão de 2014, criando um palco para o acontecimento diplomático mais importante do ano promovido por Xi. “A China está a convidar toda a gente”, disse o diplomata.

 

 

Outra área em que a China gostaria de ser vista como líder são as alterações climáticas. Trump considerou-as um “esquema” e prometeu retirar os EUA do Acordo de Paris. Li Junhua, chefe do departamento do MNE chinês para as organizações internacionais e conferências, disse: “No que diz respeito à China, o meu Presidente deixou claro, bem claro, que a China vai cumprir a sua parte.”

 

 

Nem sempre foi assim. A China está a atravessar um longo e duro caminho de aprendizagem para se tornar uma potência mais responsável. Em 2013, a China, furiosa com Manila devido às disputas no Mar do Sul da China, enviou uma magra ajuda para as Filipinas, que tinham sido atingidas pelo super-tufão Haiyan, o que provocou uma rara dissidência por parte do influente, e estatal, jornal Global Times, que escreveu que a imagem da China seria afectada por isso.

 

 

Mas também não vai ser tudo um mar de rosas. Em certos temas-chave, como o estatuto de Taiwan, a China não recuará. Na primeira reacção à tomada de posse de Trump, o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros pediu à nova Administração para perceber a importância do princípio “uma China”, que Trump questionou, segundo o qual Washington reconhece a posição da China sobre a soberania de Taiwan.

 

 

A China também espera que a Administração Trump não toque numa questão que tem provocado fricção com Washington — os direitos humanos. A conta WeChat da edição para o estrangeiro do jornal do Partido Comunista Chinês, o Diário do Povo, notou com agrado que no discurso inaugural Trump não mencionou as palavras “democracia” e “direitos humanos”. “Olhando para trás, talvez estas coisas tenham sido demasiado empoladas pelos políticos americanos”, lia-se.

 

 

Trump quer reduzir papel dos EUA na ONU

 

 

 

A Administração Trump está a preparar um decreto para reduzir drasticamente ao papel dos EUA nas Nações Unidas e retirar o país de tratados multilaterais internacionais, noticia o New York Times.

 

A proposta é de retirar o financiamento a qualquer agência das Nações Unidas – ou organização internacional – que por exemplo aceite a Autoridade Palestiniana como membro de pleno direito, ou apoie programas que sirvam para dar a volta às sanções económicas conta o Irão e a Coreia do Norte. Em troca, é prometido um aumento de 40% no financiamento que sobrar para outras agências da ONU ou organizações internacionais.

 

 

Em causa estão organizações como o Tribunal Penal Internacional, ajuda ao desenvolvimento em “países que se opõem a importantes políticas dos Estados Unidos, “missões de manutenção da paz” e o Fundo das Nações Unidas para a População.

 

 

Outro decreto, vista pela agência Reuters, dá ordem ao Pentágono e ao Departamento de Estado para desenvolverem um plano para criar zonas seguras para civis dentro da Síria – algo que corresponde a um desejo há muito veiculado pela Turquia. São dados 90 dias a estes dois departamentos do Governo americano para criar um plano para instalar deslocados sírios, enquanto aguardam a recolocação definitiva, seja num outro país, ou no interior da Síria, diz o documento, citado também pelo New York Times.

 

 

TPT com: AFP//CNN///Jose Luis Gonzalez//EDGARD GARRIDO// Xi Jinping //Ben Blanchard// Kevin Lamarque//Reuters // New York Times//Claudia Carvalho Silva///Público// 25 de Janeiro de 2017

 

 

 

 

 

Saiba tudo sobre o dia da tomada de posse do novo presidente dos Estados Unidos da América

É já esta sexta-feira que Donald Trump toma posse como 45.º presidente dos Estados Unidos, mas esta quinta-feira já há uma primeira cerimónia de boas vindas.

 

Quinta-feira

 

As cerimónias de boas-vindas começam já esta quinta-feira, dia 19 de janeiro, no memorial a Abraham Lincoln, em Washington, ao longo de todo o dia.

 

A cerimónia inclui, além de várias bandas universitárias e militares, que vão desfilar no jardim do memorial, a atuação, junto ao memorial, de uma série de celebridades. É o caso dos 3 Doors Down, de Toby Keith e dos The Piano Guys, os cabeças de cartaz da cerimónia. Vai ainda atuar Lee Greenwood, estrela da música country, que já marcou presença nas tomadas de posse dos presidentes republicanos Ronald Reagan, George Bush pai e George Bush filho.

 

 

Sexta-feira – 14h30

 

 

O primeiro momento da cerimónia oficial, que vai decorrer na escadaria da ala oeste do Capitólio, é um espetáculo musical, logo às 9h30 locais, 14h30 em Lisboa. Antes disto, contudo, Trump e Obama encontram-se na Casa Branca para descerem juntos a Pennsylvania Avenue, a avenida que liga a Casa Branca ao Capitólio, logo após um pequeno-almoço oferecido por Trump a um pequeno conjunto de convidados.

 

 

A cabeça de cartaz deste momento é Jackie Evancho, uma jovem cantora de 16 anos que ganhou notoriedade ao ficar em segundo lugar no programa de televisão America’s Got Talent. A jovem irá cantar o hino norte-americano no início da cerimónia. Já não é a primeira vez que Jackie Evancho canta em cerimónias presidenciais, recorda a CBS. Em 2010, cantou perante Barack Obama e a família, na cerimónia de iluminação da árvore de Natal da Casa Branca, e em 2012 atuou no Pequeno-Almoço Nacional de Oração, um evento anual de encontro entre empresários promovido pelo Congresso.

 

 

Neste momento vão ainda atuar dois coros, o Missouri State University Chorale e o Mormon Tabernacle Choir. O primeiro está confirmado desde outubro, ainda antes da eleição de Trump. Já o segundo coro, o Mormon Tabernacle Choir, viu-se a braços com um conjunto de polémicas ao aceitar o convite para participar na tomada de posse. A participação do conjunto na cerimónia motivou até a demissão de um dos cantores. Jan Chamberlin escreveu no Facebook que “nunca conseguiria atirar rosas a Hitler, e certamente nunca conseguiria cantar para ele [Trump]”, antes de sair do grupo coral.

 

 

Também polémica é a participação das Radio City Rockettes, um grupo de dança que atuou em ambas as tomadas de posse de George W. Bush. Algumas das bailarinas anunciaram que não queriam participar na cerimónia. Uma chegou mesmo a escrever no Instagram: “A decisão de atuar perante um homem que representa tudo aquilo que nós somos contra é assustadora”. A empresa que detém o grupo de dança emitiu depois um comunicado às bailarinas, no qual as obrigava a participar. “Vocês são funcionárias, e, enquanto empresa, o sr. Dolan quer obviamente que as Rockettes estejam representadas na inauguração presidencial do nosso país, tal como estiveram em 2001 e em 2005”. A bailarina Amanda Duarte respondeu a este email através do Facebook: “É perfeito. O que se adequaria mais a esta tomada de posse do que obrigar um grupo de mulheres a fazer uma coisa com os seus corpos que vai contra a sua vontade?”. A verdade é que o grupo irá mesmo atuar, mas num regime de voluntariado — só as bailarinas que quiserem é que irão participar na atuação para Trump.

 

 

Sexta-feira – 16h30

 

 

Depois do momento musical que dá início à tomada de posse, começam as intervenções. A abertura será feita pelo senador Roy Blunt, do estado do Missouri, que é o responsável pelo comité organizador da tomada de posse.

 

 

Sexta-feira – 17 h

 

 

Está marcado para esta hora o momento em que Donald Trump se vai tornar presidente dos Estados Unidos da América. Mas antes, é Mike Pence que faz o seu juramento como vice-presidente, perante o juiz Clarence Thomas, do Supremo Tribunal de Justiça. Depois de uma atuação do Mormon Tabernacle Choir começa então o juramento de Trump. O presidente-eleito vai fazer o juramente com a mão em cima de duas cópias da Bíblia. Uma sua, a que guarda desde criança, e ainda outra, a Bíblia de Lincoln, que pertenceu ao presidente Abraham Lincoln e que está guardada na biblioteca do Congresso. E vai dizer o seguinte:

 

 

I do solemnly swear that I will faithfully execute the Office of President of the United States, and will to the best of my ability, preserve, protect and defend the Constitution of the United States.”

 

 

Que significa: “Eu prometo solenemente que irei desempenhar fielmente as funções de Presidente dos Estados Unidos, e irei dar o meu melhor para preservar, proteger e defender a Constituição dos Estados Unidos”.

 

 

Depois deste momento, vai ouvir-se o Hail to the Chief, o hino do presidente dos Estados Unidos, e Trump vai saudar a multidão presente na avenida. Logo de seguida, Donald Trump irá fazer o seu primeiro discurso como presidente dos EUA, que, segundo o Politico, se deverá focar na agenda para os primeiros 100 dias de governo. Logo de seguida, Barack e Michelle Obama vão acenar à multidão e abandonar o Capitólio.

 

 

Sexta-feira – Almoço

 

 

Depois do discurso inaugural, Trump, Pence e os membros da equipa presidencial vão juntar-se num almoço, no Capitólio, oferecido a um conjunto de convidados, que deverá estender-se até ao início da tarde e que contará com atuações musicais e um menu elaborado, escreve o The New York Times.

 

 

Sexta-feira – Tarde

 

 

Após o almoço, o recém-empossado presidente irá proceder pela primeira vez à revista das tropas, ainda à saída do Capitólio. Depois, Trump e Pence seguem à cabeça da parada inaugural, com “milhares de militares, representantes de cada ramo”, segundo o mesmo jornal. O presidente e o vice-presidente chegam depois à Casa Branca e assistem ao resto da parada militar a partir de uma escadaria instalada no local.

 

 

Sexta-feira – Fim da noite

 

 

A noite acaba com três bailes em simultâneo: dois oficiais, no centro de convenções Walter E. Washington, e um outro para as forças armadas. Donald Trump deverá aparecer nos três bailes, para discursar e para dançar com a sua mulher, Melania Trump.

 

 

Os pormenores a que vamos estar atentos na tomada de posse de Donald Trump

 

 

À medida que se aproxima o momento em que Donald Trump se torna oficialmente presidente dos Estados Unidos, as atenções voltam-se para a cerimónia do juramento constitucional. O dia vai ser cheio mas há pormenores que vão saltar à vista, e questões que ainda estão por responder.

 

Como vai reagir, por exemplo, Hillary Clinton, que estará na tribuna a poucos metros de Trump, devido à sua condição de antiga primeira-dama? E outros, mais mundanos: Trump vai ou não dizer so help me God no fim do juramento. É para estes momentos que as câmaras vão apontar esta sexta-feira.

 

 

Com ou sem “so help me God”?

 

 

I do solemnly swear that I will faithfully execute the Office of President of the United States, and will to the best of my ability, preserve, protect and defend the Constitution of the United States.”

 

 

“Eu prometo solenemente que irei desempenhar fielmente as funções de Presidente dos Estados Unidos, e irei dar o meu melhor para preservar, proteger e defender a Constituição dos Estados Unidos”. Esta é a fórmula que a Constituição prevê para o juramento da posse do presidente. Sem o famoso so help me God, ou “que Deus me ajude”, que todos os presidentes desde Franklin D. Roosevelt, que tomou posse em 1933, têm acrescentado no final do juramento.

 

 

A verdade é que há um artigo na Constituição norte-americana, conhecido como No Religious Test Clause, que determina que nenhum juramento religioso deverá ser exigido a quem ocupe um cargo público. A tradição diz que foi George Washington, o primeiro presidente dos EUA, a dizer a expressão ao jurar fidelidade à constituição, mas, segundo os historiadores, trata-se apenas de um mito. Resta saber se Donald Trump irá ou não dizê-la.

 

Duas bíblias

 

 

A utilização da Bíblia no juramento também não é uma imposição constitucional, mas é uma tradição desde a fundação do país, quando George Washington fez o seu juramento sobre uma Bíblia. Contam-se, aliás, pelos dedos das mãos os presidentes que não utilizaram a Bíblia no juramento: Theodore Roosevelt, em 1901, foi o primeiro a romper com a tradição, seguido de John Quincy Adams e Franklin Pierce, que utilizaram o texto da Constituição. Outra exceção foi Lyndon Johnson, que fez o juramento com a mão sobre um missal, a bordo do Air Force One, numa cerimónia improvisada após o assassinato de John F. Kennedy.

 

Barack Obama também fez o seu juramento com a mão em cima de duas cópias da Bíblia.

 

 

Esta sexta-feira, e à semelhança do que alguns presidentes já têm feito, Donald Trump vai jurar com a mão em cima de duas cópias da Bíblia. Uma delas é a chamada Lincoln Bible, que foi a utilizada por Abraham Lincoln, no seu juramento, em 1861. Atualmente, este exemplar está guardado na biblioteca do Congresso dos EUA. A outra Bíblia que estará sob a mão de Donald Trump quando o juiz John G. Roberts presidir ao juramento é a que o presidente eleito guarda desde criança.

 

 

Juramento com Hillary a poucos metros

 

 

Um dos detalhes mais aguardados na cerimónia está relacionado com Hillary Clinton. É que a candidata derrotada por Trump é também a antiga primeira-dama dos EUA, mulher de Bill Clinton, motivo que a levará a estar na tribuna a poucos metros de Donald Trump durante o juramento. O momento inédito deverá ser seguido ao detalhe pelas máquinas fotográficas, já que, como escreve a Associated Press, Hillary deverá “tentar manter uma cara de póquer”. O que se pode revelar uma tarefa difícil, caso Trump se refira a ela durante o discurso.

 

A plataforma onde Donald Trump vai fazer o juramento já está a ser preparada. Hillary Clinton vai ficar pouco atrás, junto ao seu marido, Bill Clinton, e aos outros antigos presidentes norte-americanos

 

 

Estilista para Melania? Tarefa difícil

 

 

Arranjar um estilista para vestir a nova primeira-dama não foi tarefa fácil. Depois de vários terem recusado, a imprensa especializada avança que havia dois estilistas a trabalhar nas roupas de Melania para o fim de semana: Ralph Lauren e Karl Lagerfeld. Mas o facto de tantos designers terem recusado vestir Melania, como recorda a AP, é político. São estilistas que discordam das ideias políticas de Trump e que não querem ver o seu nome associado à administração.

 

O presidente eleito chegou a desvalorizar o assunto, ao afirmar que Melania não queria ser vestida por quem discorda do marido. É um dos grandes mistérios do dia, e só será desvendado amanhã.

 

 

A música que Fiona Apple compôs para protestar contra Trump

 

 

No sábado, dia em que ainda se vivem os últimos momentos das cerimónias de tomada de posse de Trump, vai realizar-se uma marcha de protesto em defesa dos direitos das mulheres, em Washington. Segundo a revista Time, deverão participar cerca de 200 mil pessoas na manifestação, e uma das palavras de ordem será “We Don’t Want Your Tiny Hands, Anywhere Near Our Underpants”, que se traduz em qualquer coisa como “não queremos as tuas mãos pequenas perto das nossas cuecas”. Trata-se de uma música composta especialmente para a ocasião pela cantora Fiona Apple, gravada com um telemóvel:

 

 

“Números recorde”? Nem por isso

 

 

Donald Trump escreveu, num tweet, que se dirigem para Washington pessoas “em números recorde”. A verdade é que, escreve a AP, ainda há muitos quartos de hotel por alugar. A primeira tomada de posse de Barack Obama, em 2009, teve cerca de 1,8 milhões de pessoas nos jardins a assistir, e tudo indica que a cerimónia de posse de Trump não se aproxime deste valor. Ainda assim, Trump insiste no apoio que terá, sobretudo dos Bikers for Trump, ciclistas apoiantes do novo presidente que querem proteger os restantes apoiantes “com um muro de carne”.

 

As estrelas que (não) vão ao concerto inaugural de Trump

 

 

Amanhã, dia 20 de janeiro de 2017, Donald Trump toma posse e passa a ser o 45º presidente dos Estados Unidos da América. Um dia antes acontece o concerto inaugural com o mote “Tornar a América grande novamente” — slogan da campanha presidencial –, no Monumento Lincoln. E de entre as estrelas que vão marcar presença no evento, Trump é sem tirar nem pôr a maior delas, isto depois de nomes sonantes terem recusado o seu convite.

 

 

Andrea Boceli, Elton John e Celine Dion são alguns dos artistas que foram convidados a comparecer na cerimónia e são, também, alguns dos que disseram “não”.

 

 

O concerto vai ser transmitido à nação norte-americana em direto e vai contar o músico de countryToby Keith — que já se defendeu dizendo que tocou em eventos tanto para Obama como para Bush –, o grupo The Piano Guys, o DJ Ravi Drums e a banda de rock3 Doors Down, entre outros nomes.

 

 

O presidente-eleito vai falar no concerto e está ainda prevista a aparição de Jon Voight, pai da atriz Angelina Jolie e apoiante assumido de Trump.

 

 

De referir que, tal como lembra a CNN, quando foi a vez de Barack Obama, em 2009, foram várias as participações, desde Jon Bon Jovi e Bruce Springsteen a Mary J. Blige, U2, Stevie Wonder e até Tom Hanks.

 

 

Escreve o espanhol El Mundo que, desta vez, as grandes estrelas vão primar pela ausência.

 

 

TPT com: AFP//Washington Post//FOX// KEVIN DIETSCH/POOL/EPA// SAUL LOEB/AFP//João Francisco Gomes//Observador// 19 de Janeiro de 2017

 

 

 

 

 

Como Trump conquistou a América: primeiro foi o imobiliário, depois a capa da Playboy

A obsessão por Nova Iorque e os planos que levaram à construção de um dos mais famosos arranha-céus da cidade: a Trump Tower. O negócio do Hyatt, do Commodore e as histórias à volta da Penn Station. O casamento com a primeira mulher, Ivana, o divórcio e o luxo que rodeava uma vida de ambição. Sempre com os olhos postos no poder e com dedos apontados aos imigrantes.

 

 

 

Este é o capítulo da biografia “Trump Revelado”, agora publicado em Portugal pela Planeta — e assinado pelos jornalistas Michael Kranish e Marc Fisher — que recorda os momentos fundamentais na transformação de Donald Trump num dos nomes mais influentes do negócio do imobiliário a nível mundial. Chegar à capa da Playboy em março de 1990 tornou-se quase inevitável.

 

“A cidade de Nova Iorque estava desesperada por dinheiro e em perigo de insolvência. No início dos anos de 1970, a cidade perdeu 250 mil empregos, o que esventrou a sua base de colecta de impostos, apesar de os custos dos serviços na cidade terem subido em flecha1 . O assessor de imprensa do presidente Gerald Ford, Ron Nessen, comparou a dependência da cidade da ajuda federal a «uma filha rebelde viciada em heroína» . Era uma época miserável para se ser construtor. Em 1971, o ano em que Donald se mudou para Manhattan, a ocupação hoteleira caiu para 62 por cento, o ponto mais baixo desde a Segunda Guerra Mundial. Em 1975, cortes obrigaram a cidade e o Estado a parar a construção de novas casas subsidiadas, a base do negócio da família Trump . No escritório do pai, na Avenue Z, Donald estava desejoso de se libertar da construção de casas básicas para famílias de classe média nos subúrbios. Quando Fred Trump se expandiu para lá de Brooklyn, foi para comprar terrenos baratos de vendedores desesperados da Califórnia, do Nevada, do Ohio e da Virginia. Donald queria algo maior. Há muito que instava o pai a aceder às dezenas de milhões de dólares que tinha de capital próprio acumulado em mais de 80 edifícios de apartamentos, para usar esse valor para investir em Manhattan, onde estava a acção. Donald andava pela rede urbana, a avaliar edifícios, a sonhar acordado com aquilo que faria com cada lote.

 

 

 

Fred Trump era cauteloso sobre a despesa e a dificuldade de construir em Manhattan, mas Donald não conseguia afastar‑se do sítio que o cativava desde a infância.

 

 

 

Enquanto a cidade de Nova Iorque se desmoronava, ele viu a oportunidade que iria mudar‑lhe a vida. A Penn Central, a outrora gigante dos caminhos‑de‑ferro, estava a afundar‑se. Em 1970, naquele que era, na época, o maior caso de falência na história dos Estados Unidos, a empresa de caminhos‑de‑ferro tinha precisado de um resgate de emergência de $300 milhões, de 53 bancos. Agora, os credores estavam desejosos de desmembrar a Penn Central e de vender as suas partes mais lucrativas, incluindo alguns dos maiores traçados ao ar livre de Manhattan: muitos estaleiros de comboios no meio da cidade e em Upper West Side. A falência da sociedade de caminhos‑de‑ferro despertou o interesse de xeques árabes, de banqueiros e de quem procurava terrenos para hotéis. Mas alguns sítios eram mais atraentes do que outros. A Penn Central possuía quatro outrora bons hotéis no centro da cidade, que há muito que tinham entrado em degradação. Foram feitas muitas ofertas por algumas das propriedades, mas o decrépito e infestado Hotel Commodore, cheio de ratos, na East 42 St., mesmo ao lado do terminal da Grand Central, não recebeu nenhuma oferta.

 

 

 

Três das propriedades da Penn Central tinham cativado a imaginação de Trump: uma faixa junto ao rio Hudson, das ruas 59 à 72, um estaleiro invulgar na 34, e o Commodore, o hotel mais deplorável, que Trump acreditava que era uma jóia subvalorizada. No Verão de 1974, Trump começou a apresentar propostas para estas propriedades, dizendo ao The New York Times que planeava comprá‑las por mais de $100 milhões. Embora o Times o tratasse como um «importante construtor de Nova Iorque», ele ainda não tinha o dinheiro para comprar as propriedades. Mesmo assim, começou a cortejar o homem que estava encarregado de vender os bens da Penn Central. Trump até lhe enviou uma televisão como presente de Natal, entregue pelo motorista. O funcionário recusou o presente. Trump teve mais sorte a usar a reputação do pai. Donald coordenou uma reunião com o homem dos caminhos‑de‑ferro e o mayor de Nova Iorque, Abe Beame, um amigo de longa data do pai. Beame abraçou ambos os Trump e afirmou: «Em tudo aquilo que Donald e Fred desejarem, têm todo o meu apoio».

 

 

 

Trump era um novato na construção, mas já era perito a dar a volta aos opositores. David Berger, um advogado que representava os accionistas dos caminhos‑de‑ferro, opôs‑se inicialmente a vender a Trump o Commodore, mas, num momento crucial das negociações, Berger passou a apoiar a proposta de Trump. Uns anos mais tarde, investigadores federais questionaram se a mudança súbita de Berger estava relacionada com a decisão de Trump de o ajudar num processo não relacionado, de $100 milhões, interposto pelos senhorios de Nova Iorque contra nove grandes empresas petrolíferas por estas combinarem os preços do combustível para aquecimento. A investigação federal acabou sem haver acusados. Tanto Trump como Berger negaram ter havido qualquer contrapartida.

 

 

 

Em Março de 1975, um juiz questionou se os mandatários da Penn Central tinham dado aos outros construtores que queriam os terrenos dos caminhos‑de‑ferro a mesma oportunidade que tinham dado a Trump. Mas o tribunal aprovou, mesmo assim, um acordo que dava a Trump uma opção para desenvolver a propriedade na 34th St., onde ele planeava construir um centro de convenções financiado pela cidade e 20 mil apartamentos, criando de uma só vez um império rival ao do pai.

 

 

 

O plano dos apartamentos colapsou rapidamente, mas Trump avançou com o centro de convenções ao usar um conhecimento na política.

 

 

 

Em 1974, contratou Louise Sunshine, na altura a principal angariadora de fundos para a campanha de Hugh Carey para governador, para o ajudar a persuadir os líderes da cidade a construir o seu centro de convenções nos estaleiros de caminhos‑de‑ferro de que Trump tinha agora opção. Donald e o pai eram grandes apoiantes de Carey, tendo doado mais de $135 mil (o equivalente a quase $390 mil em 2016) à campanha, mais do que qualquer outra pessoa, excepto o irmão do candidato.

 

 

 

Em 1978, a cidade decidiu construir o seu centro de convenções na 34th St. e Trump defendeu que a sua opção sobre a propriedade lhe dava o direito a uma comissão de mais de $4 milhões. Mas ofereceu se para abdicar desse valor se a cidade chamasse às instalações Centro de Convenções Fred C. Trump.

 

 

 

Donald conheceu Sunshine quando, depois de Carey ter sido eleito governador, Trump pensou que ela lhe poderia conseguir uma matrícula personalizada com as suas iniciais – na altura um raro privilégio. Tinha razão. Todas as manhãs, Donald ia de Manhattan a Brooklyn, agora numa limusina Cadillac com motorista e matrículas a dizer DJT – a sua versão do Cadillac azul do pai, com as iniciais FCT. Sunshine tornou‑se uma das mais eficazes defensoras do jovem construtor. «Toda a gente pensava que Donald era um jovem insolente e agressivo», disse Sunshine. «Era eu que fazia o Donald entrar em todo o lado […] independentemente de quem fosse, porque eles não conheciam realmente o Donald. Eu era o factor de credibilidade do Donald.»

 

 

 

Trump não tinha vergonha de usar os conhecimentos políticos de Sunshine. Ele tinha a ideia de comprar o World Trade Center, que era propriedade da Port Authority of New York. Pediu para se encontrar com o director executivo, Peter Goldmark, e durante o almoço no café dos executivos da Port Authority, no quadragésimo terceiro andar, Goldmark pressionou Trump para lhe dar pormenores sobre que tipo de negócio tinha em mente. Trump ficou‑se pelas generalidades. Sendo um novo jogador na cidade, Trump era um candidato improvável para tomar conta das icónicas torres e muitos outros promotores imobiliários já tinham demonstrado interesse nos edifícios. Mas as hipóteses de Trump dispararam em flecha quando ele começou a usar os seus conhecimentos. «Ele ameaçou: “Não se aguentava muito no seu cargo se o governador Carey decidisse que não estava a fazer as coisas da forma correcta neste caso”», recordou Goldmark. «“Tem de saber que eu tenho muito peso em Albany”.» Trump usou o nome de Sunshine. «Assim que ele fez as ameaças, deixei claro que não queria continuar a conversa», disse Goldmark.

 

 

«Ele esperava que eu ficasse a tremer.» Trump nega a versão de Goldmark, dizendo: «Eu não falo dessa maneira.»

 

 

 

Um Trump na cidade

 

 

 

 

 

Em 1978, a cidade decidiu construir o seu centro de convenções na 34th St. e Trump defendeu que a sua opção sobre a propriedade lhe dava o direito a uma comissão de mais de $4 milhões. Mas ofereceu‑se para abdicar desse valor se a cidade chamasse às instalações Centro de Convenções Fred C. Trump. A cidade estava a considerar a ideia quando, um mês depois, um funcionário reviu o contrato de Trump com a Penn Central e reparou que, na realidade, ele tinha direito a receber um décimo daquilo que estava a exigir. A cidade acabou por pagar a Trump $833 mil de comissão quando comprou o terreno para o Centro de Convenções Jacob K. Javits. Trump não negou este relato, mas disse: «Se alguém tivesse vindo ter comigo da forma correcta, eu teria abdicado da minha comissão sem pedir que pusessem o nome do meu pai no edifício. Mas não vieram.»

 

 

 

Ao ganhar o direito de reconstruir o Hotel Commodore, Trump ganhou uma esquina de Grand Central, um bairro arruinado que até ele acreditava que era um desastre. O crime estava em crescimento no centro da cidade e cada vez menos passageiros usavam as linhas de metro sob a Grand Central. O edifício Chrysler, o marco de art déco do bairro, mesmo em frente ao Commodore, acabou por fechar. A Texaco, o seu principal inquilino, acabou por seguir algumas outras das maiores empresas norte‑americanas que fugiram para os subúrbios.

 

 

 

O hotel de 1900 quartos, um dos maiores de Nova Iorque, era uma tristeza para os olhos, após o negócio ter sido esmagado pela substituição pós‑guerra dos comboios de luxo pelos aeroportos e as auto‑estradas.

 

 

 

Quando abriu, em 1919, o hotel – designado em honra do «Commodore» Cornelius Vanderbild, o barão ladrão que se tornou um dos primeiros magnatas celebridade na América – exibia um lobby palaciano e o maior quarto de Nova Iorque, adornado ao estilo de um pátio italiano, incluindo uma cascata interior. No lounge, funcionários afixavam nas paredes os preços actualizados das acções e noutra sala havia uma orquestra.

 

 

 

Modernizar o Commodore ia ser uma tarefa gigantesca. O hotel não tinha garagem. As fundações, atravessadas por duas linhas de metro, não podiam ser acrescentadas. Os quartos eram demasiado pequenos para converter em apartamentos e não tinha instalação moderna de gás nem de electricidade. Os quartos estavam vazios metade do tempo e as poucas lojas para a rua incluíam uma questionável casa de massagens chamada Relaxation Plus (relaxamento mais). («Ninguém falava sobre o que o Mais significava»36, brincava Trump.) Um perito imobiliário estimou que o edifício valia «o verdadeiro valor do terreno menos o custo da demolição» – noutras palavras, nada. A perder $1,5 milhões por ano, o encerramento do hotel estava previsto para o Verão de 1976, por volta da altura em que a cidade devia receber a Convenção Nacional Democrática, em Madison Square Garden.

 

 

 

Fred Trump tinha dúvidas sobre o plano do filho. O pai nunca tinha compreendido a atracção de Manhattan, que originava alguns dos mais elevados preços de terreno do mundo e as maiores chatices de construção. «Comprar o Commodore numa altura em que o Chrysler Building está em liquidação judicial», disse ele, «é como lutar por um lugar no Titanic.» Mas Donald estava determinado.

 

 

 

 

«Sou basicamente um optimista», disse ele, «e vi o problema da cidade como uma grande oportunidade para mim. Por ter crescido em Queens acreditava, talvez até um grau irracional, que Manhattan ia ser sempre o melhor lugar para viver – o centro do mundo.»

 

 

 

 

Apesar das dúvidas, Fred apoiou‑o, disponibilizando o seu próprio capital para o sucesso do filho – um sinal de que embora o pai não tivesse qualquer interesse em investir em Manhattan, ele ficaria sempre ao lado do filho, ajudando‑o em momentos cruciais nos anos de formação da carreira de Donald. Fred seria sempre também fiador dos empréstimos do Manufacturers Hanover Trust, garantindo que os banqueiros seriam pagos mesmo que os negócios de Donald colapsassem.

 

 

 

Para o plano de Donald ter sucesso, a Penn Central tinha de lhe vender o hotel, a burocracia de Nova Iorque tinha de aprovar a sua abordagem e dar‑lhe isenção fiscal, uma empresa de gestão tinha de se associar a ele para administrar o hotel e os bancos tinham de lhe avançar o dinheiro para pagar tudo. Donald cortejou a Hyatt, a cadeia de hotéis da riquíssima família Pritzker, para gerir o remodelado Commodore. Desde que abrira o seu primeiro hotel perto do aeroporto de Los Angeles, a empresa tinha explorado a sua popularidade, mas ficava atrás dos seus rivais num aspecto fundamental: não tinha nenhum hotel em Nova Iorque. Trump lançou uma ofensiva de charme. Antes de almoçar com Ben Lambert, um investidor imobiliário amigo dos Pritzker, Trump deu ao potencial parceiro uma boleia na sua limusina (que na realidade era alugada pela empresa do pai). No banco traseiro, tinha disposto rascunhos do plano de renovação. Trump sugeriu que o hotel beneficiaria de impostos imobiliários muito reduzidos – uma ideia atraente, mas um negócio que ele ainda não tinha assegurado.

 

Trump em novembro de 1990, na Quinta Avenida, Nova Iorque

 

 

 

Trump enganou a cidade, os vendedores e a cadeia de hotéis uns a seguir aos outros, utilizando um para alavancar o acordo com o outro. Assegurou aos negociadores da Penn Central que tinha um negócio sólido com o Hyatt quando não tinha e os caminhos‑de‑ferro deram‑lhe uma oportunidade exclusiva e não vinculativa para comprar a propriedade de $10 milhões. Trump não tinha os $250 mil de que necessitava para assegurar a posição, quanto mais o dinheiro para financiar o projecto de $70 milhões. O pai até tinha tido de lhe adiantar dinheiro para ele contratar um arquitecto. Mas em Maio de 1975, Trump convocou mesmo assim uma conferência de imprensa. Ao lado do co‑fundador do Hyatt, Jay Pritzker, Trump apresentou as elaboradas alterações da renovação do Commodore: 1400 quartos, 6,5 mil metros quadrados de espaço, um deslumbrante átrio ao estilo Hyatt e paredes de espelho a revestir o esqueleto envelhecido do hotel. Trump anunciou que tinha um contrato assinado com a Penn Central para comprar o hotel. Estava assinado, mas apenas por ele, porque ainda precisava de pagar 250 mil dólares. Depois, fez um truque de ilusionismo de que mais tarde se haveria de gabar. Quando um funcionário da cidade lhe pediu provas do compromisso da Penn Central, Trump enviou aquilo que parecia um acordo com os ven‑ dedores. Trump depois usou a consequente autorização da cidade para concretizar o negócio com a Hyatt.

 

 

 

Mostrem-me o dinheiro

 

 

 

Agora, Trump precisava de dinheiro. Sem garantias para apoiar a dívida, teve dificuldade em persuadir os bancos a adiantar‑lhe um empréstimo para construção. Após uma rejeição, Trump quis desistir. Disse ao seu agente imobiliário: «Vamos pegar neste negócio e enterrá‑lo.» Mas Trump, que cresceu a ver o pai a construir um império baseado em empreendimentos subsidiados, foi salvo pela primeira isenção fiscal de Nova Iorque a uma propriedade comercial. A Urban Development Corporation – uma agência quase na falência, lançada em 1968 para construir habitações integradas – tinha o poder de isentar as propriedades de impostos. Podia comprar o hotel por 1 dólar, depois arrendá‑lo a Trump e à Hyatt por 99 anos – um acordo que pouparia a Trump uns estimados $400 milhões durante os 40 anos seguintes. Sunshine ajudou Trump a conseguir uma reunião com o presidente da UDC, Richard Ravitch, que tinha crescido no sector da construção. O pai de Ravitch, Saul, era o fundador da HRH Construction, que Fred Trump tinha contratado para construir a Trump Village. Agora, Ravitch viu que o jovem Trump tinha uma forma diferente de fazer negócios. Donald foi ver Ravitch e disse‑lhe que tinha comprado o Commodore para o converter num Grand Hyatt. «Quero que me dê uma isenção de impostos», disse Trump.

 

 

 

Um Hyatt seria óptimo para a cidade, respondeu Ravitch, mas o projecto não se qualificava para uma isenção fiscal porque seria provavel‑ mente viável por si próprio. Trump levantou‑se e repetiu o pedido: «Quero uma isenção.» Quando Ravitch voltou a negar dar apoio à ideia, Trump disse: «Vou fazer com que seja despedido», e saiu do escritório, contou Ravitch. (Trump negou o relato de Ravitch e chamou‑lhe «uma pes‑ soa altamente sobrestimada».) Hoteleiros rivais concordaram com Ravitch e opuseram‑se àquilo que viam como um acordo chorudo para Trump. A Hotel Association of New York disse que os membros pagavam mais de $50 milhões por ano em impostos imobiliários e perguntou por que um jovem construtor impertinente, que nunca tinha construído um hotel e que não ia investir nenhum dinheiro próprio, merecia ajuda.

 

 

 

No dia anterior à influente autoridade nova‑iorquina sobre o uso dos terrenos, o Board of Estimate, votar a isenção fiscal, três legisladores de Manhattan convocaram uma conferência de imprensa à porta do hotel para exigir que a cidade procurasse um acordo melhor. Quando os políticos terminaram, Trump, que tinha aparecido para refutar os seus argumentos, disse aos jornalistas que se a cidade não aprovasse a ajuda, ele retirava‑se e o Commodore ficava a apodrecer. Para dramatizar o quão decrépito o Commodore ficaria sem ele, Trump tinha instruído os seus funcionários para substituírem as tábuas limpas que cobriam os vidros do hotel por madeira velha e suja.

 

 

 

Na realidade, havia outros investidores interessados no hotel, que se tinham oferecido para o renovar, pagar mais em impostos e partilhar mais dos lucros com a cidade do que Trump. Mas as ofertas alternativas foram ignoradas por causa do contrato que Trump tinha com a Penn Central – embora esse acordo ainda não estivesse assinado e concluído.

 

 

 

Em última análise, a opção de compra de Trump, a sua energia, os conhecimentos políticos e as promessas de partilha de lucros viraram a desesperada cidade a seu favor. Algumas semanas depois de os últimos turistas saírem do Commodore, o Board of Estimate concordou em abdicar de todos os impostos imobiliários, desde que o projecto de Trump fosse gerido como um hotel de «primeira classe». Trump exibiu a sua vitória no Times, gabando‑se da sua «criatividade financeira» ao poupar nos impostos e deixando clara a distinção entre o sucesso do pai e as suas próprias ambições em Manhattan: «O meu pai conhecia Brooklynn muito bem e conhecia Queens muito bem. Mas agora essa psicologia acabou.»

 

 

 

Trump tinha garantido ao Times que valia mais de $200 milhões, embora um ano antes os negociadores da Penn Central tivessem estimado que o capital próprio da família Trump era de cerca de $25 milhões, todos sob o controlo de Fred. Em Dezembro de 1976, um mês depois de aquele artigo ser publicado, Fred Trump abriu oito fundos para os filhos e netos e transferiu 1 milhão de dólares para cada um. Durante os cinco anos seguintes, Donald recolheria $440 mil de juros só desse fundo.

 

 

 

Apesar de ter vencido a batalha do Commodore, Trump mantinha um ressentimento contra aqueles que se lhe tinham oposto. Cinco anos depois da reunião contenciosa de Trump com Ravitch, o Conselho da Metropolitan Transportation Authority, onde Ravitch se tinha tornado presidente, disse‑lhe que o advogado buldogue de Trump queria que a MTA gastasse fundos dos contribuintes para ligar o Commodore à estação de metro da 42nd St. Ravitch era contra. Na manhã seguinte, o mayor Ed Koch chamou‑o e perguntou‑lhe: «O que é que você fez ao Donald Trump? Ele quer que eu o despeça.» Ravitch referiu aquilo que o mayor já sabia: Ravitch tinha sido nomeado pelo governador. Ele mantinha o cargo.

 

 

Trump não atravessou a ponte apenas para construir um negócio. Ele também queria o estilo de vida de Manhattan. Tinha agora três quartos e vivia nos apartamentos Phoenix, na 65th St., a um quilómetro e meio de distância do Commodore, em direcção à alta da cidade.

 

 

 

Em 1977, enquanto Trump lutava para arranjar empréstimos, a cidade de Nova Iorque continuava a decair. A crise financeira tornou‑se mais grave. Um assassino em série, conhecido como Filho de Sam, aterrorizava a cidade. Durante uma vaga de calor em Julho, um apagão histórico deixou a cidade na escuridão, dando origem a incêndios devastadores, pilhagens de lojas e detenções. Mas a verdadeira ameaça a Trump era bem mais subtil. O mayor Beame, um amigo de longa data de Fred Trump e um forte apoiante do projecto de Donald, perdeu a reeleição para Koch, um assumido adversário da generosidade e do favoritismo políticos. A redução fiscal de Trump estava de repente em risco. Mas foi salva de novo quando Trump descobriu um aliado fundamental em Stanley Friedman, o número dois de Beame. Com a sua barbicha e um charuto Te‑Amo Toro sempre entre os dentes, Friedman era uma caricatura de Hollywood de um manda‑chuva da cidade. O seu ADN tinha lá escrito Nova Iorque. Cresceu no Bronx, era filho de um taxista chamado Moe, andou na escola pública, no City College e na Brooklyn Law School. Em Trump, Friedman viu outro tipo dos subúrbios a tentar estabelecer‑se em Manhattan, onde já se tinham cruzado em sítios como o Le Club e o Maxwell’s Plum.

 

 

 

Na última semana do mandato de Beame, em 1977, Friedman trabalhou intensamente, com maratonas de reuniões, para selar o acordo do Commodore. Na altura em que Beame abandonou o cargo, o apoio pago pelos contribuintes ao hotel de Trump tinha sido tornado à prova de bala – e Friedman tinha encontrado um novo emprego, na firma de advogados de Roy Cohn. «O Grand Central estava a transformar‑se no Times Square – um bairro moribundo», disse Friedman. «Independentemente de quem fosse o dinheiro que ele ia usar – o da cidade, o seu próprio ou o da Hyatt –, ele ia pegar num edifício de porcaria e criar uma operação de primeira classe. Era a coisa mais importante feita na cidade nos últimos anos.»

 

 

 

New York, New York

 

 

 

Trump não atravessou a ponte apenas para construir um negócio. Ele também queria o estilo de vida de Manhattan. Tinha agora três quartos e vivia nos apartamentos Phoenix, na 65th St., a um quilómetro e meio de distância do Commodore, em direcção à alta da cidade. Quando Mike Scadron, o amigo da academia militar, o visitou, ficou surpreendido pela pouca mobília que havia no apartamento – uma parede de espelho, um tapete felpudo, uma pequena mesa de vidro e uma representação do Commodore. A atenção de Trump estava focada em ser bem‑sucedido na grande cidade. Disse a Scadron que ia ultrapassar o sucesso do pai ao conquistar Manhattan, onde Fred Trump nunca tinha colocado um tijolo. Noutra altura, no escritório da Avenue Z, Scadron tinha assistido ao confronto entre pai e filho, «a falarem um por cima do outro. Podiam estar em salas separadas. Donald tinha algo a provar.» Mas, de regresso ao apartamento de Donald, havia um outro objecto com destaque: uma foto da nova namorada de Trump.

 

 

 

A história de como Trump e Ivana Zelníbková Winklmayr se conhe‑ ceram tem duas versões. Trump lembra‑se de os dois se terem visto pela primeira vez nos Jogos Olímpicos de Verão de Montreal, em 1976. Ivana, de acordo com a história oficial, tinha sido membro da equipa checa olímpica de esqui em 1972, em Sapporo, no Japão. Ambos os Trump o referiram a determinada altura. Mais tarde, Trump escreveu que Ivana era uma substituta na equipa olímpica. Mas quando a revista Spy entrevistou o secretário do comité olímpico checo, ele disse que não tinha essa pessoa nos seus registos.

 

 

 

A história mais popular sobre como o casal se conheceu tem Trump a apresentar‑se a Ivana na fila à porta do Maxwell’s Plum, o famoso bar de Warner LeRoy para solteiros, em East Side, atafulhado de candeeiros Tiffany e encimado por um tecto de vitral. Ivana estava em Nova Iorque durante uma semana para um desfile de moda que promovia os Jogos Olímpicos que se aproximavam.

 

 

 

Estava com as amigas à espera de entrar no bar quando Trump lhe tocou no ombro, lhe disse que conhecia o dono e que as conseguia fazer entrar. Entraram. Trump pagou as festividades da noite, levou as senhoras ao hotel e depois encantou Ivana, no dia seguinte, com três dúzias de rosas.

 

 

 

Ivana, que cresceu na Checoslováquia sob o regime comunista, era filha única, uma modelo que emigrou para o Canadá antes de ir para os Estados Unidos. Assim que ela e Trump começaram a namorar, a história da vida dela tornou‑se tão cheia de superlativos Trump como muitas das suas propriedades. Ivana era «uma das maiores modelos do Canadá», escreveu Trump. Ela tinha desfilado em lojas de Montreal e posado para peleiros. Também tinha sido casada, durante pouco tempo, com Alfred Winklmayr, um esquiador austríaco. Mas esse casamento desapareceu da narrativa oficial, não sendo mencionado nas memórias de Ivana, de 1995, The Best Is Yet to Come: Coping with Divorce and Enjoying Life Again. Winklmayr tinha ajudado Ivana a mudar‑se para o Oeste e o casamento acabou imediatamente depois.

 

 

 

Aos 30 anos, Trump estava pronto para assentar. O casamento dos pais era o seu modelo. «Para um homem ter sucesso, precisa de apoio em casa, tal como o meu pai tinha da minha mãe, não de alguém que está sempre a reclamar e a queixar‑se», disse Trump. Ivana, uma imigrante como a mãe de Donald, parecia caber no molde. «Encontrei a combinação quase inacreditável de beleza e miolos», disse ele. «Como muitos outros homens, fui ensinado por Hollywood que uma mulher não pode ter as duas coisas.»

 

 

 

Ivana viu Trump apenas como «um rapaz típico americano, alto e esperto, com muita energia, muito inteligente e muito bem‑parecido».

 

 

 

Ela definiu Trump por aquilo que ele ainda tinha de alcançar. Ele «não era famoso» e «não era incrivelmente rico».

 

Na passagem de ano de 1976, Trump pediu Ivana em casamento, oferecendo‑lhe mais tarde um anel de diamante com três quilates, da Tiffany. Mas antes de poder haver um casamento, menos de um ano depois de se conhecerem, houve o acordo pré‑nupcial – algo com quatro ou cinco contratos. As negociações entre Trump e Ivana – Roy Cohn aconselhou Donald a começar a vida de casado com acordos financeiros codificados – seguiram um padrão que veio a definir o Trumpismo: ostentação de riqueza e de influência, demonstrações muito públicas de desgosto e uma batalha dramática encenada nas colunas de mexericos e nos tribunais. O casamento começaria – e mais tarde explodiria – com o acompanhamento de advogados. Cohn negociou o acordo pré‑nupcial, que foi assinado duas semanas antes do casamento. Ivana foi representada por um advogado que Cohn tinha recomendado. Numa sessão de negociação, em casa de Cohn, Cohn usou apenas um roupão de banho. Ivana estava preparada para assinar o acordo, mas recuou quando soube que a proposta de Cohn contemplava que ela devolvesse todas as prendas de Donald em caso de divórcio. Em resposta à fúria dela, Cohn adicionou algumas linhas que permitiam que ela ficasse com as roupas e as prendas. Com o consentimento de Trump, Cohn também adicionou um fundo para «uma emergência», de 100 mil dólares. Ivana podia começar a usar o fundo um mês após o casamento.

 

Trump uma conferência de imprensa, sobre o divórcio de Ivana, em 1990

 

 

 

Ao mesmo tempo que Cohn ajudava Donald e Ivana a preparar o casamento, conduzia‑os pelo mundo hedonístico e movido a drogas da disco do final dos anos de 1970. Embora prezasse a sua reputação de abstémico, Donald adorava participar, pela noite dentro, na mistura de destacáveis e de mulheres bonitas. Em Abril de 1977, Trump e Ivana foram à noite de inauguração da Studio 54, a discoteca que se tornaria o icónico lar do movimento disco. Os donos, Steve Rubell e Ian Schrager, confiaram em Cohn para lhes dar aconselhamento legal e, em troca, ele servia como um porteiro informal, passando os ricos e os famosos à frente da fila de pessoas desesperadas para entrar na festa onde se encontravam pessoas como Andy Warhol, Liza Minelli, Truman Capote, Margaux Hemingway e David Bowie. Cohn também usou a sua influência para conseguir a entrada de grupos de jovens homossexuais. Embora Cohn sempre tivesse afirmado ser heterossexual, os amigos sabiam que não era assim.

 

 

 

(Apesar da sua sexualidade, Cohn manteve‑se fortemente anti‑homos‑ sexual em termos de políticas. Convidado para representar um professor despedido por ser homossexual, Cohn recusou, dizendo a um grupo de activistas gay que «os professores homossexuais são uma ameaça séria para as nossas crianças e não devem poluir as escolas da América».)

 

 

 

Trump tornou‑se uma presença habitual na discoteca e, mais tarde, contou: «Vi lá acontecerem coisas que até hoje nunca mais vi outra vez.»

 

 

 

«Vi supermodelos a ser comidas, supermodelos bem conhecidas a ser comidas num banco no meio da sala. Eram sete e cada uma delas estava a ser comida por um tipo diferente. Isto era no meio da sala. Hoje em dia isso não podia acontecer, por causa dos problemas de morte.»

 

 

 

No sábado antes da Páscoa, Donald e Ivana foram casados pelo reverendo Norman Vincent Peale – autor do bestseller motivacional de 1952, O Poder do Pensamento Positivo, um pilar da cultura norte‑americana de auto‑ajuda, e pastor da Marble Collegiate Church de Nova Iorque, que os pais de Donald frequentavam ocasionalmente. Peale era a única pessoa, para além do pai, que Donald chamava de mentor (resistia a usar esse termo em relação a Cohn, insistindo que o advogado era «apenas um advogado, um advogado muito bom»). Peale «dava os melhores sermões, era um fantástico orador», disse Trump. «Ele achava que eu era o seu melhor aluno de sempre.» Os pais de Trump levaram‑no pela primeira vez a ouvir os sermões de Peale nos anos de 1950, quando o pastor estava no auge da fama, com uma coluna no jornal e um programa de rádio que chegava a milhões de pessoas. «Sei que com a ajuda de Deus eu consigo vender aspiradores», disse uma vez Peale, numa perspectiva que agradava aos empreendedores, incluindo Fred Trump e o filho. Quando Donald Trump obteve êxito, Peale previu que Donald se tornaria «o maior construtor do nosso tempo».

 

 

 

Trump, por seu lado, dava crédito a Peale por o ter ensinado a vencer, por pensar apenas no melhor dos resultados: «A mente pode vencer qualquer obstáculo. Nunca penso na negativa.»

 

 

 

A boda de Donald e Ivana realizou‑se no 21 Club, anteriormente um bar clandestino famoso pela sua clientela de celebridades. Foram convidadas cerca de 200 pessoas, incluindo o mayor Beame, Cohn e um grupo de políticos e de advogados de Trump. Apenas um membro da família de Ivana, o pai, Milos, apareceu.

 

 

 

A 31 de Dezembro de 1977, um ano após o noivado, Ivana deu à luz Donald John Trump Jr., o primeiro dos seus três filhos. Ivanka chegou em 1981 e Eric em 1984. A nova família mudou‑se para um apartamento de oito assoalhadas no número 800 da Fifth Avenue, decorado de forma moderna e com poucos dos excessos que eventualmente se tornariam uma imagem de marca do estilo Trump. Depressa ofereceram aos fotógrafos uma sessão fotográfica com a deslumbrante modelo‑esquiadora e o rapaz‑maravilha do imobiliário. «Ele entrava numa sala e toda a gente olhava para ele», disse Stanley Friedman.

 

 

 

«O mundo inteiro girava à volta de Donald. Ele era sempre o tipo que estava a falar contigo, mas a olhar por cima do ombro à procura da próxima pessoa. Sempre a trabalhar. […] Estava sempre à procura do próximo negócio, estava sempre à procura da próxima alguma coisa.»

 

 

 

Uma família mais ou menos às direitas

 

 

 

Essa próxima coisa geralmente envolvia mais o trabalho do que ser pai. Tal como o seu próprio pai tinha feito, Donald via os filhos sobretudo no escritório, onde eram sempre bem‑vindos. «Eu estava sempre lá para os meus filhos quando eles precisavam de mim», disse ele. «Agora, isso não significa empurrar o carrinho de bebé pela Fifth Avenue durante duas horas». Trump «não sabia o que fazer com os miúdos quando eles eram pequenos», disse Ivana. «Ele amava‑os, beijava‑os e pegava‑lhes ao colo, mas depois entregávamos porque não fazia ideia do que devia fazer». Os filhos acabariam por recordar estes primeiros anos com uma forte confiança no amor do pai e uma certa melancolia sobre as suas prioridades. «Não era uma relação pai‑filho do género: “Ei, vamos brincar à apanhada no quintal”», recordou Donald Jr. «Era: “Ei, chegaste da escola, vem ao meu escritório.” Por isso, eu sentava‑me no escritório, brincava com camiões no chão do escritório, ia pedir doces ou travessuras no escritório. Portanto, passava muito tempo com ele, mas nos termos dele. […] Nunca se escondia de nós, nunca era distante, mas nos seus termos. Sabe, essa tende a ser a forma como ele faz as coisas.»

 

 

 

Trump adicionou rapidamente Ivana ao seu pessoal no escritório, colocando‑a a trabalhar como vice‑presidente com responsabilidades sobre a decoração de interiores no Commodore, e mais tarde na Trump Tower, no Plaza Hotel e num dos casinos de Donald em Atlantic City.

 

 

«Nunca se tinha ouvido falar num empresário que, nestes círculos, desse à mulher, à sua nova mulher, alguém que não tinha estado por ali toda a vida, tão grandes responsabilidades», disse Nikki Haskell, uma amiga de ambos os Trump. «Muitos homens ricos não deixam as mulheres ir ao escritório. Muitas mulheres não sabem o que os maridos fazem.»

 

 

 

«Donald e Ivana eram farinha do mesmo saco», disse Louise Sunshine. «Eles eram exactamente o mesmo tipo de pessoa – muito, muito determinados, focados, muito espertos […] muito sinergéticos e muito parecidos, demasiado parecidos. Era difícil diferenciá‑los. Podiam ter vindo do mesmo esperma.»

 

 

 

Trump controlava agora o contrato de arrendamento do edifício que ele considerava ter «a melhor localização em todo o mundo» – mas precisava de duas outras peças: do terreno por baixo, que era da gigante dos seguros Equitable, e dos direitos para construir em altura, que eram controlados pela Tiffany & Co.

 

 

 

No Commodore, Ivana entrava muitas vezes em conflito com o capataz da obra. Mas quando o trabalho encontrava obstáculos, Trump tendia a culpar o gestor de projecto e os assistentes, não a mulher. O Commodore era um trabalho difícil, enorme, com a reabilitação dos seus 26 andares a ser mais complicada do que qualquer coisa que o pai dele tivesse tentado. Quando as equipas de demolição chegaram ao trabalho, em Maio de 1978, encontraram piores condições do que esperavam. Estavam sem‑abrigo a viver na casa das caldeiras, quente e livre de piolhos. A moldura de aço sobre a qual Trump queria construir estava enferrujada e em perigo. Nas caves, os trabalhadores largaram gatos para caçar as hordas de ratos do tamanho de coelhos. Os gatos morreram e os ratos sobreviveram. Os custos rapidamente engrossaram. Vinte e seis andares de pedra exterior eram para ser forrados a espelho. Pisos inteiros eram para ser eviscerados. Os fornecedores e os empreiteiros estavam ansiosos para ser pagos. Quando Barbara Res, uma assistente de projecto da HRH Construction, a empresa que Trump tinha contratado para gerir as coisas, chegou ao local das obras, o patrão entregou‑lhe o contrato e deu‑lhe instruções para tomar nota de todos os segundos de trabalho que tinham de ser pagos: «Lê isto e decora‑o. […] Estas pessoas vão matar‑te. Mantém registo de tudo.»

 

 

 

A liderar o seu primeiro projecto, Trump era muito «insolente e extremamente autoconfiante», disse Res, mesmo quando muitas das suas decisões pareciam amadoras para os experientes trabalhadores de construção.

 

 

 

Os arquitectos e os empreiteiros tinham medo de o desafiar, criando aquilo a que Res chamou uma «combinação fatal: […] uma pessoa agressiva e poderosa a mandar, que também é inexperiente». Com os credores a observar, Trump tentava poupar. Acreditava que podia recuperar alguns dólares salvando os velhos canos e o aço do Commodore. A ideia foi copiada do pai, um lendário forreta que uma vez se gabou de ter poupado 13 mil dólares num dia, ao convencer o empreiteiro a baixar o preço da pintura de 13 mil apartamentos em um dólar cada. A tentativa de poupança de Donald saiu‑lhe pela culatra. Os trabalhadores sindicalizados passaram muitas horas a pintar códigos de cor em cada objecto de metal – vermelho para o lixo, verde para guardar – atrasando imenso o ritmo das obras.

 

 

 

Como arquitecto, Trump tinha recrutado Der Scutt, uma estrela em ascenção no design modernista de Nova Iorque, que fumava cachimbo. Após o seu primeiro encontro, numa sexta‑feira à noite no Maxwell’s Plum, Trump convidou Scutt para ir ao seu apartamento. Tal como Trump, Scutt tinha a sua própria mistura de excentricidades motivadas pelo ego: tinha mudado o primeiro nome, de Donald para a palavra alemã «o». Estava perturbado pela técnica de venda «extremamente agressiva» de Trump e pela sua tendência para exagerar. Ainda assim, sentia‑se cheio de energia devido às exigências imparáveis de Trump. «Ele não se importa de me telefonar às sete da manhã num domingo e dizer: “Tenho uma ideia. Encontramo‑nos no escritório daqui a 40 minutos.”», disse Scutt. «E vou sempre.»

 

 

 

O modernizado Grand Hyatt abriu a 25 de Setembro de 1980, seis anos depois de Trump ter desejado o Commodore pela primeira vez. Criado inicialmente para servir os viajantes de classe média, o hotel de 1400 quartos tinha ganhado um luxo considerável, com acessórios de latão e preços de quarto que começavam nos 115 dólares por noite (o equivalente a cerca de 330 dólares em 2016).

 

 

 

Para celebrar a abertura, o Grand Hyatt organizou uma festa cheia de estrelas, no salão de baile, em que participaram o governador, o mayor, o anterior mayor, Cohn e outros membros da elite do imobiliário de Nova Iorque.

 

 

 

O Grand Hyatt seria a prova do estilo com que Trump desenvolveria os seus projectos: com generosas isenções fiscais, grande ousadia financeira e um toque de magia, alavancando os diferentes interesses em conflito. Trump defendeu que o hotel ajudou a dinamizar o bairro de Grand Central e a começar uma nova época de glamour em Manhattan. Trump disse que o projecto lhe mudou a vida: «Se eu não tivesse convencido a cidade a escolher o meu local, na 34th St., para o centro de convenções e depois avançado para desenvolver o Grand Hyatt, provavelmente estava hoje em Brooklyn, a recolher rendas.»

 

 

 

A ruína que Trump tinha previsto para o bairro nunca chegou a concretizar‑se. Quando começaram os trabalhos no Commodore, uma dúzia de outros projectos de escritórios, apartamentos e hotéis estavam já a surgir nos quarteirões circundantes – sem a ajuda governamental que Trump disse que era essencial para fazer alguma coisa naquela zona degradada. Agora, com os visitantes do hotel a entrar em grande número, ele apertou a bolsa naquilo que tinha sido uma das poucas concessões que tinha feito para conseguir a isenção fiscal. Em 1987, Trump disse aos contabilistas para alterarem os seus métodos de relatório, limitando a quantia que, segundo o acordo de partilha de lucros do Hyatt, deveria entregar à cidade. Quando a auditora geral da cidade, Karen Burstein, analisou os registos do hotel, descobriu que as «aberrantes» práticas de contabilidade tinham retirado à cidade milhões de dólares em impostos. Questionado anos mais tarde sobre essas alterações, Trump disse que não se lembrava da investigação.

 

 

 

Nos anos seguintes, Trump iria entrar muitas vezes em conflito com a família que geria a Hyatt, incluindo um processo desagradável que acabou com os Pritzker a concordarem, em 1995, pagar $25 milhões para fazer renovações.

 

 

 

Lutando contra enormes dívidas, enquanto o império se expandia, Trump acabou por vender a sua parte do Hyatt à família, em 1996, acabando o seu envolvimento no projecto que lançou a sua carreira.

 

 

 

Trump ficou com cerca de 25 dos 142 milhões de dólares do preço de venda, mas a maioria do dinheiro acabaria por ir para o pagamento de parte dos milhares de milhões que os seus negócios deviam na altura, incluindo centenas de milhões que Trump tinha dado pessoalmente como garantia.

 

 

 

Subir ao alto da Torre

 

 

 

Nesses dias, Trump e Sunshine andavam a passear por Manhattan, na limusina de Trump, à procura de potenciais projectos. Um dia, passaram na Fifth Avenue pela Bonwit Teller, uma grande loja cara de roupa de mulher, que estava a passar por maus momentos. «Oh, adoro aquela localização, vamos descobrir quem é o dono e vamos deitar o edifício abaixo», disse Trump. Este, decidiu Trump, seria o local para o seu projecto emblemático, a Trump Tower, uma cintilante afirmação na avenida mais majestosa de Nova Iorque. Sunshine direcionou Donald até um dos maiores accionistas da Genesco, o conglomerado proprietário do contrato de arrendamento da Bonwit Teller. Em Novembro de 1978, quando Trump soube que a empresa estava disponível para vender, ele garantiu, sem pagar nada, uma opção que lhe permitia comprar o contrato de arrendamento por 25 milhões – uma enorme oportunidade num dos mais importantes quarteirões do centro de Manhattan. Quando os construtores rivais souberam do negócio e ofereceram preços melhores, Trump lutou, ameaçando ir a tribunal se os administradores não honrassem a sua palavra.

 

 

 

Trump controlava agora o contrato de arrendamento do edifício que ele considerava ter «a melhor localização em todo o mundo» – mas precisava de duas outras peças: do terreno por baixo, que era da gigante dos seguros Equitable, e dos direitos para construir em altura, que eram controlados pela Tiffany & Co., a icónica joalharia, no edifício ao lado, cuja montra Audrey Hepburn namora no filme “Boneca de Luxo”, e onde Trump tinha comprado o anel de noivado de diamante para Ivana.

 

 

 

Com o Grand Hyatt construído e aberto, Trump já não tinha de lutar pelos empréstimos.

 

O Chase Manhattan adiantou‑lhe fundos para comprar os direitos por cima e por baixo da Bonwit Teller, mais $100 milhões para a construção. Trump persuadiu a Equitable, um dos credores do Grand Hyatt, a vender‑lhe o terreno em troca de 50 por cento das acções do projecto.

 

 

 

Der Scutt foi de novo contratado como arquitecto e desenhou um imponente edifício de contornos serrilhados que, visto de lado, parecia uma escadaria. Os apartamentos superiores da Trump Tower teriam duas vistas da cidade, uma razão para Trump cobrar preços mais elevados. A crítica de arquitectura do Times, Ada Louise Huxtable, elogiou a torre de vidro escuro, «uma estrutura dramaticamente atraente», com «28 lados brilhantes». As leis da cidade teriam bloqueado uma torre tão alta num terreno tão pequeno, mas Trump usou de forma inteligente os direitos de construção em altura da Tifanny e outras regras menos rigorosas dos projectos combinados de escritórios, lojas e residências, para se expandir para cima. A torre também aproveitou uma cláusula que permitia maior altura se o construtor providenciasse espaços públicos, como átrios. Os planeadores da cidade tinham‑se tornado desconfiados sobre os novos arranha‑céus, sobretudo numa altura em que o público se manifestava contra a falta de sol em Manhattan. Mas o desenho de Scutt e a capacidade de negociação de Trump venceram. Os responsáveis da cidade reduziram o projecto de 63 para 58 andares, mas Trump ficou com a última palavra, renomeando simplesmente os pisos para, no total, contabilizarem 68.

 

 

 

Primeiro, a elegante fachada da Bonwit Teller tinha de desaparecer. Mas alguns nova‑iorquinos adoravam o edifício art déco, sobretudo o trabalhado em bronze sobre a entrada e um par de esculturas em baixo‑relevo de quatro metros e meio, com deusas quase nuas a dançarem sobre a Fifth Avenue. («Um mau anúncio, poderia pensar‑se, para uma loja dedicada a roupa de senhora», escreveu um colunista de arquitectura da New Yorker, em 1930.)

 

 

 

Robert Miller, dono de uma galeria de arte do outro lado da rua, e Penelope Hunter‑Stiebel, a curadora do Metropolitan Museum of Art, acreditaram que conseguiam convencer Trump a preservar as peças, ao doá‑las ao museu a troco de uma avaliação generosa – estimada em mais de $200 mil – que ele poderia usar para descontar nos impostos. Hunter‑Stiebel tinha experiência a apelar ao sentido de história dos senhorios: o MET tinha adquirido do Rockefeller Center um elevador dos anos de 1930 que representava o estilo de arte moderna. Talvez Trump também cooperasse. Ele pareceu entusiasmado. «Isto vai ser um óptimo negócio!», disse Trump quando se encontraram no escritório dele.

 

 

 

Mas a 5 de Junho de 1980, Miller telefonou a Hunter‑Stiebel da sua galeria e disse‑lhe que podia ver os trabalhadores de construção em andaimes à porta da Bonwit Teller. Estavam a rebentar com as esculturas. Hunter‑Stiebel, grávida de nove meses, saiu a correr do MET, saltou para dentro de um táxi e, quando ficaram presos no trânsito, correu os últimos 10 quarteirões até à Bonwit Teller. Entretanto, no local, Miller ofereceu dinheiro ao capataz para poupar as esculturas.

 

 

 

O capataz recusou, dizendo‑lhe: «O jovem Donald disse que há uma mulher estúpida na alta da cidade, num museu, que as quer e que nós temos de as destruir.»

 

 

 

Hunter‑Stiebel chegou a arfar com «um horror incrédulo», recordou ela. «Estavam com um martelo pneumático a arrancar o pescoço de uma das figuras. Era inacreditável.»

 

 

 

Friedrich Trump, avô de Donald, imigrou para Nova Iorque aos 16 anos e mudou-se para a costa oeste, onde prosperou na corrida ao ouro, antes de regressar a Nova Iorque e constituir família.

 

 

 

«Construtor destrói as esculturas Bonwit», lia‑se na manchete de primeira página do Times da manhã seguinte. O artigo citava «John Baron», um «vice‑presidente da Trump Organization», que explicava que a empresa se tinha decidido pela demolição após três avaliadores independentes terem concluído que as esculturas não tinham «mérito artístico», valiam menos de $9 mil e teriam custado 33 mil a remover. John Barron – geralmente escrito com dois r – era um pseudónimo que Trump usava com frequência, quando não se queria identificar perante um jornalista. Dois dias depois, Trump, a usar o seu verdadeiro nome, falou sobre o incidente, dizendo que a remoção das esculturas teria custado mais de 500 mil dólares. «O meu maior receio era a segurança das pessoas que passavam na rua», insistiu ele. «Se uma dessas pedras tivesse resvalado, podiam morrer pessoas.»

 

 

 

O incidente tornou‑se o primeiro fracasso de relações públicas de Trump.

 

 

 

«O Sr. Trump pode assumir que o vandalismo estético desaparece depressa da memória cívica», escreveu o Times no editorial.

 

 

 

«Mas aquilo que ele destruiu com as esculturas foi a imagem pública que estava a construir com o seu novo arranha‑céus da Fifth Avenue.» Kent Barwick, presidente da Comissão para a Conservação de Monumentos Históricos de Nova Iorque, disse que a demolição estabelecia Trump como «um mau tipo, afinal de contas, certa ou errada, havia uma questão de confiança». Trump manifestou mais tarde «arrependimento» pela demolição e argumentou que tinha de avançar depressa com a demolição para evitar longos atrasos causados pelos conservacionistas históricos. Porém, no livro Trump: The Art of the Deal, disse que estava encantado com a reacção negativa da imprensa, porque tinha gerado publicidade grátis e ajudado a vender apartamentos. Nos anos de 1980, Trump disse que as esculturas «não eram nada» e eram «lixo». Uma década depois, visitantes da sua penthouse de 53 quartos repararam numa peça particularmente notável de baixo‑relevo na sua sala de jantar de dois andares: um painel de marfim esculpido.

 

 

 

A Bonwit Teller estava tão bem inserida entre os edifícios da Fifth Avenue que as equipas de construção não podiam usar ferramentas tradicionais de demolição, como a bola de demolição ou a dinamite. Em vez disso, o edifício histórico teve de ser desmantelado, peça a peça. Para realizar este extenuante trabalho, Trump recorreu à Kaszycki & Sons Contractors, que tinha dado um orçamento muito baixo. O trabalho foi feito por centenas de imigrante polacos sem documentos, conhecidos como a «brigada polaca». Os homens trabalharam durante a Primavera e o Verão de 1980 com martelos e maçaricos, mas sem capacetes, 12 a 18 horas por dia, sete dias por semana, a dormir muitas vezes no chão da Bonwit Teller. Ganhavam menos de cinco dólares à hora e às vezes recebiam em vodca. Muitos acabaram por não ser pagos e eram ameaçados com a deportação se se queixassem. Em 1983, no ano em que a Torre de Trump abriu, membros do sindicato Housewreckers Local 95 processaram Trump, acusando‑o de ter imigrantes ilegais a trabalhar na torre. John Szabo, um advogado de imigração que representava os trabalhadores, disse que um Sr. Barron – esse nome outra vez – lhe tinha telefonado da Trump Organization e o tinha ameaçado com um processo se os trabalhadores não abandonassem as exigências de ser indemnizados. Em 1990, após anos de adiamentos, Trump testemunhou que não sabia que os trabalhadores não tinham documentos. Culpou a Kaszycki & Sons.

 

 

 

O juiz decidiu contra Trump e o empreiteiro, dizendo que um dos principais assistentes de Trump na obra, Thomas Macari, «estava envolvido em todos os aspectos do trabalho de demolição». Trump apresentou recurso e conseguiu uma inversão parcial, mas o tribunal decidiu que Trump «devia saber» sobre os trabalhadores polacos. O caso acabou em 1999 com um acordo.

 

 

Anos mais tarde, Trump chamaria à imigração ilegal «uma bola de demolição apontada aos contribuintes dos Estados Unidos».

 

 

 

Com a Bonwit Teller demolida, começou a sério a complicada construção da Trump Tower. Alguns dias depois da festa de inauguração do Grand Hyatt, Donald e Ivana tinham convidado Res para ir ao cintilante apartamento da Fifth Avenue. A sala de estar tinha uma vista deslumbrante sobre o Central Park e a mobília, as cortinas e os tapetes combinavam, com o mesmo tom de branco. Quando Ivana ofereceu a Res um sumo de laranja, ela recusou, com medo de deixar alguma nódoa. No Grand Hyatt, Res – com 1,65 metros, cabelo castanho pelos ombros, muitas vezes vista com um capacete, camisa de flanela, calças de bombazina e botas de trabalho – tinha‑se aguentado como uma das poucas mulheres na obra, onde os trabalhadores urinavam livremente contra as colunas e cobriam as paredes com desenhos grosseiros dela e de Ivana nuas. Mas embora Res soubesse que tinha ganho o respeito de Trump, não estava à espera do pedido que Donald lhe fez.

 

 

 

«Quero que tu construas a Trump Tower por mim», disse ele. O arranha‑céus teria as lojas mais glamorosas, escritórios topo de gama e os apartamentos mais luxuosos. Trump não tinha tempo para estar tão envolvido como tinha estado no Grand Hyatt. Precisava de alguém que fosse os seus olhos e ouvidos, uma «Donna Trump», como lhe chamou, encarregue da construção do «mais importante projecto do mundo». Res tornar‑se‑ia a engenheira‑chefe da torre, responsável por toda a construção, quando tinha apenas 31 anos. Era uma de muito poucas mulheres com uma função executiva no sector imobiliário, na altura, e Donald nomeou‑a apesar da objecção do pai de que aquele tipo de trabalho não era para mulheres.

 

 

 

Nos primeiros cinco andares da torre ficava uma galeria comercial. Sobre esta haveria 11 andares de escritórios, 38 andares de apartamentos de luxo e vários pisos de manutenção, para manter tudo a funcionar.

 

 

Trump queria que a torre, ao contrário da maioria dos arranha‑céus com estrutura de aço, fosse construída sobretudo com betão reforçado, permitindo uma gestão mais flexível dos andares. A construção, disse Res, foi elaborada para ser de «alta velocidade», com equipas a começarem a trabalhar ainda antes de os desenhos estarem completos. As equipas trabalhavam seis dias por semana, colocando um piso de betão a cada dois dias. Um responsável pelo betão, Eddie Bispo, disse que o planeamento de construção era tão exigente que ele ia para o trabalho às seis da manhã e por vezes não saía antes das onze e meia da noite.

 

Os inquilinos diziam que Trump tentou intimidá los para os forçar a sair. Ele propôs trazer pessoas sem abrigo para viverem dentro de pelo menos 10 apartamentos que estavam vagos, mas a cidade declinou a generosa proposta.

 

 

 

A decisão de acelerar o trabalho obrigou Trump a cruzar‑se com o poderoso «clube de betão» de Nova Iorque, um cartel de sindicatos controlados pela Máfia e de empreiteiros que conspiravam para fazer subir os preços, bloquear os adversários e punir, com greves dispendiosas, os construtores que resistiam. Muitos outros construtores de Nova Iorque sentiam‑se, na altura, obrigados a entrar no mesmo tipo de acordos. O betão da Trump Tower vinha da S&A Concrete, na altura propriedade dos líderes de duas famílias do crime de Nova Iorque: «Fat» Tony Salerno, da família Genovese, e Paul «Big Paul» Castellano, dos Gambino (Castellano foi assassinado em 1985, à porta da Sparks Steak House, no East Side de Manhattan, num ataque da Máfia organizado pelo mafioso John Gotti). Roy Cohn tinha representado Saleno e outras personalidades da Máfia e conhecia outro chefe, John Cody, que mandava no sindicato Teamsters, que controlava os camiões de cimento. Documentos citados pelo Subcomité para a Justiça Criminal, em 1989, chamaram a Cody «o maior extorsionário de mão‑de‑obra, a aproveitar‑se da indústria da construção em Nova Iorque».

 

 

 

Em 1982, quando as greves sindicais congelaram as obras pela cidade, a construção da Trump Tower não parou um segundo.

 

 

 

Quando a torre abriu, no ano seguinte, foram vendidos a Cody e à sua namorada, Verina Hixon, três enormes duplex nos pisos 64 e 66, mesmo por baixo da penthouse de Trump. Apartamentos esses que levaram dispendiosos melhoramentos, incluindo a única piscina interior da torre. Os engenheiros de estrutura de Trump fizeram o trabalho, incluindo desenhar uma moldura especial para acomodar a piscina. Durante seis meses após se instalar, Hixon teve 30 a 50 homens a trabalhar nos seus apartamentos todos os dias, a instalar cedros e roupeiros lacados, grandes espelhos e uma sauna, num custo total de $150 mil. Quando Trump resistiu a um dos pedidos de Hixon, ela telefonou a Cody e as entregas de materiais de construção no edifício pararam até as obras no apartamento recomeçarem.

 

 

 

Hixon destacava‑se entre a clientela incrivelmente rica dos apartamentos da Trump Tower. Num depoimento, em 1986, conduzido após ela ter falhado os pagamentos de um empréstimo de $3 milhões, Hixon disse que nunca tinha tido um emprego ou possuído uma conta bancária com dois dólares, e que não tinha poupanças, acções ou propriedades para além do seu apartamento na Trump Tower. Disse que o ex‑marido, um empresário rico do Texas, lhe dava 2000 dólares por mês de pensão de alimentos, pagava os 7800 de custos de manutenção mensal do apartamento e a escola do filho de 16 anos de ambos. Hixon disse que o seu apartamento estava na maioria por mobilar, com apenas um par de cadeiras e «mesas muito usadas», para condizer com a piscina interior. Tinha outra mobília armazenada, mas não se lembrava onde: «Algures na América, Brooklyn, sabe‑se lá para onde estas coisas vão?» Ela disse que nunca comia em casa e que preferia comer em bons restaurantes, incluindo o La Côte Basque, o La Grenouille e o 21. Como pagava isso tudo? «Tenho amigos ricos», disse ela. «Eles adoram convidar‑me.» Depois de Cody ter sido condenado por acusações de extorsão, em 1982, e enviado para a prisão, Trump levou Hixon a tribunal. Depois de ela ter falhado o pagamento de 300 mil dólares de manutenção dos apartamentos, Hixon abriu falência e os credores ficaram com os apartamentos na Trump Tower.

 

 

 

Intimado pelos investigadores federais, em 1980, Trump negou ter cedido os apartamentos para manter o projecto em construção. Cody, entretanto, disse que «conhecia Trump muito bem», acrescentando:

 

 

 

«Donald gostava de negociar comigo através de Roy Cohn.» Após a morte de Cody, em 2001, Trump chamou‑lhe «um filho‑da‑mãe psicótico» e «escumalha».

 

 

 

Um passeio no parque

 

 

Ainda a torre estava a ser construída, já Trump estava a avançar com planos para construir um enorme complexo de apartamentos na ponta sul de Central Park. Em 1981, comprou dois edifícios velhos – o Barbizon Plaza Hotel e um edifício de apartamentos de 15 andares ao lado, no número 100 de Central Park South – por $13 milhões. Comprou‑os para os demolir, mas encontrou forte resistência dos inquilinos, desejosos de manter as suas casas de renda controlada. Trump descreveu os seus adversários como «milionários de casacos de vison e a conduzir Rolls‑Royce». Alguns dos resistentes eram séniores com rendimentos fixos, outros eram, realmente, estrelas bem na vida.

 

 

 

Os inquilinos diziam que Trump tentou intimidá‑los para os forçar a sair. Ele propôs trazer pessoas sem‑abrigo para viverem dentro de pelo menos 10 apartamentos que estavam vagos, mas a cidade declinou a generosa proposta. Os encarregados da manutenção ignoravam as torneiras a pingar e os electrodomésticos estragados e cobriam as janelas dos apartamentos vazios com folhas de alumínio feias. Um grupo de inquilinos acusou Trump de assédio, mas ele negou tudo. «Deixem‑me dizer‑lhes uma coisa sobre os ricos», disse ele. «Têm uma resistência muito baixa à dor.»

 

 

 

Após um impasse de cinco anos, Trump abandonou os planos de demolição e disse que ia reconverter o número 100 de Central Park South em 26 apartamentos de luxo. Os actuais inquilinos podiam ficar. O Barbizon Plaza Hotel estava fechado, portanto, os seus 950 quartos podiam ser convertidos em 400 apartamentos de luxo. No início de 1983, antes de Trump iniciar a reconversão, perguntou a Stephen N. Ifshin, um vendedor de imóveis comerciais de nicho, se ele conseguia encontrar um comprador tanto para o Barbizon Hotel como para o prédio ao lado. Ifshin estava convencido de que conseguia.

 

Em 1991 com a noiva, Marla Maples, no Open dos EUA

 

 

 

– Quero 100 milhões de dólares pelos dois edifícios juntos – disse Trump.

 

 

 

– É muito dinheiro – disse Ifshin, surpreendido por aquele preço tão elevado. Era um valor nunca antes visto no sector imobiliário de Manhattan, mesmo como um valor oficioso para pôr a circular entre clientes ricos, o chamado «número sussurro». Mas ser intermediário de uma venda destas poderia representar vários milhões de comissão para Ifshin, portanto, ele espalhou palavra de que os edifícios podiam ser comprados. Sherman Cohen, um negociador duro no mercado de propriedades de Manhattan, mostrou interesse e Ifshin marcou uma reunião no escritório de Trump. Antes de se sentar à mesa de conferências de Trump, Cohen acendeu um cigarro. Mas quando agarrou o cinzeiro que estava no meio da mesa, este não se mexeu.

 

 

 

– Donald – disse Cohen –, tem esta coisa aparafusada?

 

 

 

– Esta mesa de conferências vem do meu hotel, o Barbizon – disse Trump –, e nós aparafusámos todos os cinzeiros porque as pessoas estavam a roubá‑los como lembranças.

 

 

 

O sorriso de auto‑satisfação de Trump sugeria que ele estava apenas a proteger o seu investimento. Começaram a negociar e Trump anunciou, de forma firme, que os edifícios estavam à venda por 100 milhões de dólares.

 

 

 

– Quando refiro um preço, esse é o preço – disse ele.

 

 

 

Cohen respondeu que não tinha 100 milhões de dólares para oferecer, mas que podia chegar aos 90 milhões.

 

 

 

Eles estavam quase, mesmo quase, pensou Ifshin. Agora podia começar uma negociação a sério. Mas Trump agradeceu simplesmente a Cohen e repetiu o preço, 100 milhões, nunca menos. Cohen não disse mais nada. Trump não disse mais nada. E ficaram a olhar um para o outro, num impasse. A reunião acabou em menos de meia hora. Cohen foi‑se embora, mas Ifshin ficou perplexo.

 

 

 

– Porquê? – perguntou a Trump. – Porquê recusar uma oferta daquelas? Vocês estavam perto.

 

 

 

– Não era o que eu estava a pedir – disse Trump. – Nunca vendo por menos do que aquilo que peço.

 

 

 

Que absurdo, pensou Ifshin. Há sempre uma negociação. E depois Ifshin percebeu que tinha sido usado.

 

 

 

– Donald – disse ele. – Esta foi a sua forma de obter uma avaliação informal, de ver se alguém mordia o isco e por quanto. – Trump negou, mas Ifshin reagiu: isto tinha sido só um estratagema para saber quanto os edifícios podiam valer no mercado, e agora Trump sabia que valiam, pelo menos, 84 milhões.

 

 

 

– Deve‑me uma comissão por lhe ter arranjado uma avaliação informal do meu comprador – disse Ifshin. – Deve‑me 10 mil dólares.

 

 

 

Trump olhou para ele como se ele estivesse louco, mas disse‑lhe que o recompensava com um favor no futuro. Isso nunca aconteceu. Ifshin nunca mais lidou com Trump e Trump não vendeu os edifícios. «Ele não foi frontal», disse Ifshin.

 

 

 

«Ele escondeu as suas intenções. E foi isso que me aborreceu – foi muito esperto, mas não correcto.»  Ifshin concluiu que Trump era alguém em quem não se podia confiar, que não se importava com relações de longo prazo e que usava as pessoas. Trump ficou com os edifícios. O Barbizon foi mais tarde renomeado Trump Parc East e passou a ter lareiras a lenha, e o edifício de apartamentos tornou‑se o Trump Parc. Três décadas depois, o filho de Trump, Eric, viveu no décimo terceiro andar.

 

 

 

Era suposto o primeiro filho de Fred Trump, Freddy, suceder ao pai no negócio de família. Com os dois primeiros nomes do pai (Frederick Christ), Freddy era o primeiro foco das altíssimas expectativas do pai. (Freddy era o segundo filho, a seguir a Maryanne, a filha mais velha.) Freddy andou numa escola episcopal em Long Island, depois entrou na Lehigh University, onde a sua paixão era a aviação. Depois de se licenciar, em 1960, regressou ao escritório da Avenue Z e juntou‑se ao pai. Fred era um chefe rígido e o afável Freddy esforçava‑se para conseguir estar à altura das exigências do pai. Quando Freddy instalou janelas novas num edifício velho, durante a renovação, o pai repreendeu‑o por ser gastador. Freddy queixou‑se aos colegas da fraternidade que o pai não lhe dava valor.

 

 

 

Donald admirava o irmão mais velho. No início dos anos de 1960, Freddy levava Donald, na altura no liceu, em viagens de Verão para pescar na sua lancha Century.

 

 

 

No dormitório da academia militar, Donald tinha uma fotografia com o irmão ao lado de um avião. No início, ao crescer na sombra do irmão, Donald competia pela afeição do pai. Mas assim que viu que o irmão não conseguia obter a aprovação do pai, Donald achou que faltava ao irmão a dureza para sobreviver na sua competitiva família. «O Freddy não era um matador», disse Donald, repetindo o termo que o pai gostava de usar para um filho bem‑sucedido.

 

 

 

Depois de um empreendimento proposto pelos Trump para o Steeplechase Park, em Coney Island, não ter avançado, Freddy deixou o negócio e foi trabalhar como piloto da Trans World Airlines. Aos 23 anos, casou com uma assistente de bordo e o casal teve dois filhos, Fred e Mary. Freddy parecia muito mais feliz do que tinha sido sob o jugo do pai. Donald, no entanto, não resistia a embirrar com a falta de ambição de Freddy e perguntava‑lhe: «Qual é a diferença entre aquilo que fazes e conduzir um autocarro?» O consumo de tabaco e de bebida de Freddy, que piorou quando tinha 20 e poucos anos, levaria Donald a evitar os cigarros e o álcool para o resto da vida. Freddy divorciou‑se e deixou de voar. No final dos anos de 1970, voltou a viver com os pais e era supervisor de uma equipa de manutenção num dos complexos de apartamentos do pai, em Brooklyn. Em 1977, Donald pediu a Freddy para ser o padrinho do seu casamento com Ivana, dizendo que acreditava que seria «uma coisa boa para ele».

 

 

 

A 26 de Setembro de 1981, Freddy, oito anos mais velho do que Donald, morreu de ataque cardíaco após anos de alcoolismo. Tinha 43 anos.

 

 

Freddy foi enterrado em Queens, no talhão da família, num cemitério luterano. Donald chamou à sua morte «a coisa mais triste» por que já tinha passado. Disse que aprendeu com o fracasso do irmão a «manter‑se 100 por cento à defesa». «O homem é o mais perigoso de todos os animais e a vida é uma série de batalhas que acabam em vitória ou em derrota», disse Trump dois meses após a morte do irmão. «Não podemos deixar que as pessoas façam pouco de nós.»

 

 

 

Trump espalhou o rumor, publicado nos jornais de Nova Iorque, de que a família real britânica – Carlos, príncipe de Gales, e a mulher, a princesa Diana – estavam interessados em gastar 5 milhões de dólares para comprar um apartamento de 21 quartos, um piso inteiro da Trump Tower. Eles nunca apareceram.

 

 

 

A Trump Tower foi um êxito. Os seus 266 apartamentos, que começaram a ser vendidos no final de 1982, com preços a partir de $500 mil por um apartamento com um quarto, renderam no total $277 milhões, o suficiente para pagar todo o investimento ainda antes de o primeiro inquilino se instalar. Os compradores interessados encontravam‑se com Sunshine e Trump, que por vezes os levavam a dar uma volta pelo edifício. As brochuras de venda elogiavam uma entrada escondida para a 56th St., «totalmente inacessível para o público». Trump explicou a sua estratégia para conquistar os compradores dos apartamentos: «Vendemos‑lhes uma fantasia.» Muitas unidades foram vendidas como apartamentos corporativos ou como segunda habitação para estrangeiros ricos. Mas para a satisfação promocional de Trump, várias celebrida­des também compraram, incluindo Steven Spielberg, Michael Jackson e Johhny Carson, que acusaria dois trabalhadores da construção de lhe roubarem o seu casaco de lã de vicunha. Depois de Trump ter despedido os homens, Carson encontrou o casaco no roupeiro.

Trump espalhou o rumor, publicado nos jornais de Nova Iorque, de que a família real britânica – Carlos, príncipe de Gales, e a mulher, a princesa Diana – estavam interessados em gastar 5 milhões de dólares para comprar um apartamento de 21 quartos, um piso inteiro da Trump Tower. Eles nunca apareceram.

 

 

 

Trump não confessou ter criado o rumor, que o Times atribuiu a «alguém do sector imobiliário», mas disse: «O rumor de certeza que não nos prejudicou.»

 

 

Para aumentar a imagem da torre, Trump procurou marcas de renome mundial para a galeria comercial. Os primeiros 48 inquilinos de retalho incluíam a Mondi (roupa), a Botticellino (moda), a Charles Jourdan (sapatos), a Buccellati (joalheiro italiano), a Ludwig Beck (cadeia alemã), a Harry Winston (joalharia) e a Asprey (joalheiro de Londres), e alguns pagavam rendas que chegavam a $1 milhão por ano. Nos primeiros anos, alguns dos inquilinos iniciais saíram, com dificuldades em ter lucro com os muitos turistas americanos de classe média que visitavam a torre.

 

 

 

Ao mesmo tempo que a fama da Trump Tower crescia, aconteceu a mesma coisa com os mitos sobre Trump. Em 1982, Trump entrou na primeira lista da Forbes das 400 pessoas mais ricas da América, com a revista a estimar que ele valia $100 milhões. Embora os negócios de Trump estivessem a aumentar a sua fortuna, o seu rendimento continuava muito modesto. Os investigadores de Nova Jérsia que o avaliaram para uma licença de casino disseram, em 1982, que Trump ganhara $100 mil por trabalhar para o pai, $1 milhão de comissão do Grand Hyatt, que tinha $6 mil em poupanças e uma linha de crédito de $35 mil no Chase, obtida com a ajuda do pai.

 

 

 

A torre, que alguns tradicionalistas de Manhattan desdenhavam como sendo um exemplo berrante dos excessos dos novos‑ricos, ganhou defensores, com o crítico de arquitectura do Times, Paul Goldberger, a admitir que tinha assumido que o edifício «seria ridículo, pretensioso e mais do que um bocadinho vulgar». Em vez disso, achou o átrio «caloroso, luxuoso e até emocionante […] o espaço público interior mais agradável que tinha sido construído em Nova Iorque nos últimos anos».

 

 

 

Nos primeiros tempos da torre, havia sem‑abrigo nos bancos de mármore do átrio para ouvir a música. Trump arranjou seguranças e deu instruções aos jardineiros para cobrir os bancos com vasos de flores.

 

 

 

Foi «algo cómico», recorda Res. «Todo este vidro e mármore na mais opulenta das torres, um músico brilhante a tocar no seu piano de 50 mil dólares, e os cidadãos mais pobres da cidade sentados nos seus sacos de papel a passar o dia.»

 

 

 

A Trump Tower enraizou Trump, o seu nome e a sua fama no firmamento de Manhattan, tal como ele tinha sonhado em criança, a olhar sobre a ponte de Queens. Ele mudou‑se para um escritório cor de mel no piso 26, onde trabalharia nas décadas seguintes, com a secretária de mogno feita à medida coberta de revistas com artigos sobre ele, as paredes cheias de prémios e tributos e uma vista espectacular do Plaza e do Central Park. Ivana mudou‑se para o escritório ao lado, pelo menos durante algum tempo (na fase de design, Trump pediu aos arquitecto para desenhar um segundo apartamento apenas para Donald, no caso de o casamento acabar). Em Março de 1984, os Trump – Donald, Ivana e os três filhos – mudaram‑se para a penthouse de três andares. O triplex de 53 quartos tinha uma sala de estar com nove metros de altura, instalações para as empregadas domésticas, murais no tecto com querubins renascentistas, lustres de cristal, uma fonte romanesca com controlo remoto, ónix azul da «África mais profunda e mais escura» e o seu próprio elevador. O casal tinha cada um a sua casa de banho: a de Donald era em mármore castanho‑escuro e a de Ivana em ónix cor‑de‑rosa translúcido. Trump reservou um apartamento por baixo da penthouse, com lareira, para os pais. Eles estavam quase sempre em Queens.

 

A capa da Playboy de março de 1990

 

 

O Grand Hyatt tinha tornado Trump famoso em Nova Iorque. A Trump Tower tornou‑o famoso em todo o lado. A GQ avaliou as suas mãos («pequenas e bem tratadas»), a sua estatura («elegante, mas bem alimentado») e os seus instintos («eu sei o que as pessoas querem»). No programa Lifestyles of the Rich and Famous, o colosso da televisão, Robin Leach, disse que a mansão de Trump em Greenwich, no Connecticut, valia $10 milhões – três vezes mais do que ele tinha pago por ela «Acredito em gastar mais dinheiro do que as outras pessoas considerariam racional», disse Trump para a câmara.

 

 

 

Os bancos estavam finalmente a emprestar o suficiente para satisfazer o apetite de Trump. Em 1985, comprou uma mansão de 118 quartos, em Palm Beach, chamada Mar‑a‑Lago, com um empréstimo de $8,5 milhões.

 

 

 

«Todos os financiadores eram obcecados com celebridades», disse Jon Bernstein, um antigo sócio da Dreyer & Traub, o principal escritório de advogados dos anos de 1980. «Todos eles queriam estar ligados a Donald Trump de qualquer forma que conseguissem.»

 

 

 

Última estação

 

 

 

Nesse mesmo ano, Trump regressou a um dos primeiros pedaços de imobiliário por que se tinha apaixonado em Manhattan – o grande terreno da Penn Central em Upper West Side. Comprou a propriedade a outro construtor, por $115 milhões, e declarou a sua intenção de construir o edifício mais alto do mundo, uma torre de 150 andares com vista para o rio Hudson, acompanhada por seis torres de 76 andares, 8 mil apartamentos, um centro comercial, 8500 espaços para estacionamento, 162 mil metros quadrados de parques e uma sede para a National Broadcasting Company, que Trump esperava atrair do Rockefeller Center. «A Cidade da Televisão» era, como dizia no comunicado à imprensa, «o mais grandioso dos planos do mestre construtor.»

 

 

 

Os vizinhos não iam admitir isso. Prometeram uma luta fortíssima. O Times chamou à proposta de Trump uma «tentativa de imortalidade». Os adversários alinharam‑se para barrar o caminho a Trump, criando uma organização sem fins lucrativos chamada Westpride, que realizou uma angariação de fundos que atraiu celebridades como o apresentador de televisão Bill Moyers, a feminista Betty Friedan e Robert Caro, o biógrafo de Lyndon Johnson. Passado um ano de batalha, Trump mudou de arquitectos e encolheu a sua planta. Ele e Koch entraram numa guerra verbal, com o construtor a chamar ao mayor «idiota» e um «desastre» para Nova Iorque. «Se Donald Trump está a guinchar como um porco entalado, devo ter feito alguma coisa bem», declarou Koch, antes de acrescentar: «Porquinho, porquinho, porquinho.»

 

 

 

Sob pressão financeira, Trump acabaria por desistir da sua ambição de construir o edifício mais alto do mundo.

 

 

Aceitou o plano alternativo dos adversários, com menos de metade da densidade que Trump tinha proposto. Trump elogiou o novo plano numa reunião com Roberta Gratz, uma proeminente adversária, dizendo: «Isto é brilhante! Os meus arquitectos têm estado a desperdiçar o meu tempo durante anos.» Espantada por ouvir tal cedência, Gratz respondeu: «Donald, um dia quero ouvi‑lo dizer isso em público.» Trump agitou‑se na cadeira e não respondeu.

 

 

 

A 28 de Maio de 1986, Trump escreveu uma carta a Koch: «Caro Ed, durante muitos anos observei com espanto como Nova Iorque falhava repetidamente as suas promessas de terminar e abrir o Wollman Skating Rink.» Há anos que Trump olhava pela janela do escritório para o rinque encerrado em Central Park, chocado com a incapacidade da cidade de recuperar aquela instalação pública. Agora, ele estava disposto a fazer aquilo que a cidade não conseguia e, já agora, suplantar o mayor. A construção do rinque, prometia a Koch, «que essencialmente envolve colocar uma base de betão, não deve demorar mais de quatro meses».

 

 

 

Trump ofereceu‑se para pagar a construção e gerir ele próprio o rinque.

 

 

 

Koch escreveu‑lhe no mesmo dia, a dizer que ficaria «encantado» se Trump fizesse a obra de reparação, mas a rejeitar a sua oferta para gerir o rinque. E o mayor desencorajava Trump a tentar dar o seu próprio nome ao rinque:

 

 

 

«Lembre‑se, a Bíblia diz que aqueles que fazem a caridade de forma anónima ou, se não for de forma anónima, sem requerer o uso dos seus nomes, são duplamente abençoados.»

 

Trump rapidamente transformou o projecto Wollman numa mina de ouro de tempo de antena gratuito. Deu meia dúzia de conferências de imprensa enquanto os trabalhos decorriam, o que irritou os responsáveis da Câmara. Quando o comissário dos Parques, Henry Stern, chegou à primeira conferência de imprensa, encontrou uma placa que dizia «Proprietário: Trump Ice, Inc.». Ordenou ao seu pessoal que removesse a placa. Em vez de dar o nome de Trump ao rinque, Stern ofereceu‑se para plantar uma árvore em sua honra. Os funcionários dos parques escolheram um pinheiro japonês de três metros, a que chamaram Árvore Trump. Por acaso, o construtor estava a chegar ao rinque na altura em que se preparavam para plantar a árvore. Furioso, gritou: «Digam ao Ed Koch e ao Henry Stern que podem enfiar a árvore nos rabos.» Trinta anos mais tarde, quando Trump estava a concorrer à Presidência, a árvore, agora com 12 metros, continuava ao lado do rinque.

 

 

 

Livre dos regulamentos burocráticos que tinham frustrado os esforços da cidade para reconstruir o rinque, Trump terminou‑o dois meses antes do previsto e abaixo do orçamentado, conquistando a batalha de relações públicas contra o mayor – e os corações de muitos nova‑iorquinos.

 

 

Em público, Trump tinha se tornado aquilo que sempre quisera ser: uma estrela. A revista Playboy chamou lhe um dos homens mais sexy da América e, em Março de 1990, ele foi capa da Playboy, encostado a uma modelo que o olhava com adoração.

 

 

 

Trump transformou aquela boa vontade numa nova onda de celebridade, retratando‑se como um negociador que consegue fazer coisas, alguém com gostos exuberantes de bilionário e com uma queda populista para conversa directa. O magnata da imprensa, Si Newhouse, reparou que as vendas da sua revista GQ dispararam quando Trump apareceu na capa, por isso, apresentou a Trump uma ideia: escrever um livro para a editora dele, a Random House. Escrito, na realidade, por Tony Schwartz, Trump: The Art of the Deal transformava a celebração de Trump do ego, da excelência e das ambições de expansão nos negócios num livro fácil de ler com receitas de sucesso. A sua bíblia de negócios incluía a alegria das reduções nos impostos, do poder de uma história sensacionalista e da importância de jogar com as fantasias dos clientes. O livro desfazia os críticos (a administração de Koch era «tanto amplamente corrupta como totalmente incompetente») e fomentava o seu currículo («os negócios são a minha forma de arte. Adoro fazer negócios, de preferência grandes negócios»). Fazendo eco do «pensamento positivo» do reverendo Norman Vincent Peale, Trump oferecia uma fórmula de 11 passos para o sucesso. No primeiro passo («Pense em grande»), Trump dizia que «muitos empreendedores de imenso sucesso» possuíam um nível de concentração a que ele chamava «neurose controlada».

 

 

 

Os críticos menosprezaram o livro, considerando‑o superficial, arrogante e de autopromoção. Um crítico do The Washington Post disse: «A falta de gosto do homem é tão grande quanto a sua falta de vergonha.»  Mas nas primeiras semanas após o lançamento, o livro escalou para o topo das listas dos mais vendidos. Vendeu mais de um milhão de exemplares, em parte devido a um bombardeamento de publicidade que parecia uma campanha presidencial: Trump fez anúncios de página inteira nos jornais a exigir uma política de negócios estrangeiros mais dura nos EUA, fez um discurso em New Hampshire no auge da época das eleições primárias e distribuiu autocolantes a dizer «Eu adoro Donald Trump». Mas essa campanha não era para ser eleito, era para vender livros – e a ele próprio. «Foi tudo para ter muita visibilidade», disse Peter Osnos, que editou o livro na Random House. «Trump tinha esta necessidade de ser um nome realmente grande, por isso, cultivava a fama. Mas o estilo de vida dele era surpreendentemente pouco glamoroso. Ele é muito disciplinado em algumas coisas. Não fuma, não bebe, vive por cima da loja. Ele não foi uma grande figura do social em Nova Iorque, nunca foi. Ele gostava, simplesmente, de subir as escadas e ver televisão. Aquilo que lhe interessava era a fama e os negócios – construção, imobiliário, jogo, wrestling, boxe.»

 

 

 

Enquanto o império de Trump crescia, algumas das pessoas mais próximas dele notaram uma mudança. Tornou‑se mais distante, por vezes petulante, por vezes explosivo. Nos dias do Grand Hyatt, a Trump Organization, por maior que parecesse, vivia com um pequeno escritório e uma equipa reduzida: Sunshine, o advogado e conselheiro de Trump, Harvey Freeman, e um grupo restrito de agentes imobiliários, de advogados e de secretárias. A vaidade de Trump instilou um forte tribalismo na sua equipa: os funcionários, dizia ele várias vezes, eram os melhores. Embora mais tarde ficasse conhecido pela frase «Estás despedido!», Trump geralmente sentia‑se pouco à vontade a livrar‑se de um empre‑ gado. Se tinha de ser feito, ele preferia delegar a tarefa num subalterno. «Sentimos sempre que se a pessoa estivesse suficientemente próxima dele para ter de ser ele a fazê‑lo, então a pessoa tinha um emprego para toda a vida», disse Res.

 

 

 

No início dos anos de 1980, Res caminhava pelos passeios com Trump até às reuniões, a fazer conversa fiada sobre edifícios ou negócios. No final da década, quando Trump ia almoçar com outros executivos, ia rodeado por três guarda‑costas. O escritório tinha sido sempre competitivo, mas a porta para a sala de Trump ficava sempre aberta, mesmo quando estava a fazer telefonemas sob o falso nome de John Barron. Mas após os primeiros grandes sucessos, o humor em torno de Donald começou a mudar. Rodeou‑se, disse Res, de bajuladores que aplaudiam tudo o que fazia, em vez de questionarem a sua lógica.

 

 

 

«Não era o mesmo Donald com que nos podíamos sentar na cavaqueira», disse ela. «Já não queria que o questionassem. Era uma estrela demasiado grande.»

 

 

 

Começou a beber os refrigerantes diet por uma palhinha e só quando lhe eram entregues pela sua assistente, Norma Foerderer, porque tinha demasiado medo dos germes das outras pessoas. Os executivos começaram a chamar a Norma «o barómetro». Se Donald estava no escritório com um humor especialmente conflituoso, ela parava os visitantes, dizendo: «Não entrem aí.»

 

 

 

As exigências de Trump entraram numa espiral. Uma vez, por volta das duas da manhã, quando passava pelo Trump Parc de limusina, Trump viu uma lata de refrigerante caída no passeio perto da entrada. Telefonou a Blanche Sprague, responsável pelo desenvolvimento de projectos, e disse‑lhe: «Telefone‑me quando já lá não estiver.» Ela pediu a um empregado da manutenção para tratar disso e depois telefonou a Trump a informá‑lo. «Depois voltei a dormir até às seis horas, quando o Donald me telefonou sobre outra coisa qualquer», disse ela. Ao mesmo tempo que os negócios cresciam e se tornavam mais complicados, o mau feitio de Trump disparou. Após lhe terem dito que um projecto estava atrasado, ele pontapeou uma cadeira da sala de conferências. «Ele tem sempre de ter as coisas à sua maneira», disse Scutt, o arquitecto.

 

 

 

Alguns dos seus executivos mais próximos começaram a sair: o principal advogado de Trump em Nova Iorque, o responsável de vendas, o conselheiro financeiro, e até Res, a engenheira que tinha levantado o nome dele para o céu, a mulher que ele tinha nomeado «Donna Trump».

 

 

 

Mas isto era tudo nos bastidores. Em público, Trump tinha‑se tornado aquilo que sempre quisera ser: uma estrela. A revista Playboy chamou‑lhe um dos homens mais sexy da América e, em Março de 1990, ele foi capa da Playboy, encostado a uma modelo que o olhava com adoração. A mulher de Trump não se manifestou contra a foto, pelo menos em público, mas algumas mulheres nos escritórios de Trump estavam desiludidas. «Acho que foi o princípio do fim de ele ser um homem de negócios sério», disse Res. «Ele passou a ser um desenho animado.» Arrojado, Trump adorou a publicidade. «O espectáculo é Trump», disse ele, «e as actuações estão esgotadas em todo o lado.»”

 

 

TPT com: AFP//Washington Post//FOX// KEVIN DIETSCH/POOL/EPA// SAUL LOEB/AFP//João Francisco Gomes//Observador// 19 de Janeiro de 2017