Autarca da Praia da Vitória teme que EUA vedem utilização civil do porto e aeroporto

02/03/2015

 

O autarca da Praia da Vitória considerou esta segunda-feira que o plano dos Estados Unidos da América (EUA) de redução militar na base das Lajes, no que concerne à utilização de infraestruturas, pode “hipotecar” o futuro económico do concelho.

“Se a parte portuguesa aceitar – como aparentemente já o está a fazer nos bastidores – uma solução desta natureza, está a vedar definitivamente o acesso e a potencialidade de rentabilizar as infraestruturas do aeroporto e do porto, no âmbito de ‘clusters’ aéreo e marítimo geradores de emprego e de riqueza em alternativas para utilizações civis”, salientou Roberto Monteiro, numa conferência de imprensa.

 
Segundo o presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória, o plano inicial dos norte-americanos, que alegadamente não estará a ser contestado pelo Estado português, prevê a redução de utilização de 349 edifícios, 62 quartos para alojamento e 452 unidades de habitação familiar”, no entanto, “a Força Aérea norte-americana mantém “o controlo das principais infraestruturas e serviços existentes”, como o aeroporto, o porto e zonas de abastecimento e armazenamento de combustíveis.

 
“Com o cenário que está previsto verifica-se que toda a linha de acesso direto à pista e ao porto se mantém afeta a infraestruturas puramente militares e maioritariamente utilizadas pelas forças norte-americanas”, frisou.

 
Para o autarca, a concretização deste plano impede a “alteração da classificação do aeroporto”, para que passe a ter uma predominância civil, com utilização militar, como a autarquia tem defendido, e impede que “qualquer tipo de empresa ou de entidade ligada à aeronáutica civil possa usufruir daquelas infraestruturas”.

 
Roberto Monteiro alertou ainda para a possibilidade de a utilização das infraestruturas da base das Lajes estar a ser “acordada e coordenada” entre as estruturas militares de Portugal e dos EUA, num “plano de negociação paralelo”, alegando que este assunto não foi abordado na reunião da Comissão Bilateral Permanente, em fevereiro.

 
“O município da Praia da Vitória refuta integralmente a estratégia ardilosa que está a ser montada à margem de todo este processo bilateral”, sublinhou, garantindo que a autarquia vai “ao limite” na denúncia desta situação e na “pressão” junto da opinião pública.

 
Perante uma alegada “conivência” do Estado português, Roberto Monteiro desafiou o Chefe de Estado-Maior da Força Aérea portuguesa a “publicamente esclarecer estes pontos e estas matérias” e explicar por que é que está a ser dada a oportunidade aos EUA de escolherem as infraestruturas que querem continuar a utilizar.

 
Quanto aos edifícios que os Estados Unidos pretendem libertar, que poderão ser entregues ao Estado português ou demolidos, o autarca alertou para as suas condições físicas, alegando que “não cumprem as regras mínimas de utilização quer ao nível de eficiência energética, quer ao nível dos materiais utilizados, quer ao nível das instalações que estão feitas”.

 
“Sai mais caro readaptar os edifícios para utilizações civis do que eventualmente proceder a outras construções ou à aquisição de outros edifícios que estão no mercado”, frisou.

 

 

 

No Báltico, as feridas abertas de um passado que não passa

25/02/2015

 
“A União Europeia será talvez uma resposta à história, mas nunca poderá substitui-la”, escreveu Tony Judt. O que por vezes temos tendência a esquecer.

 
“Museu das Vítimas dos Genocídios”, este é o nome do imponente edifício que em Vilnius, capital da Lituânia, pretende mostrar ao público a história das ocupações soviética e nazi. O edifício construído no final do século XIX reflecte a história conturbada do país e da cidade: província do império russo até 1914, Vilnius foi ocupada pela Alemanha durante a Primeira Grande Guerra e em seguida pela Polónia até 1939. Em 1940-1941, ao abrigo do pacto Ribbentrop-Molotov, a União Soviética entra na cidade e o edifício do actual museu foi quartel-general da NKVD – a polícia política soviética – e prisão dos recalcitrantes.

 
Com a invasão nazi, no verão de 1941, o edifício torna-se sede da Gestapo e do Sonderkommando A – esquadrão de extermínio, que com o apoio de letões e lituanos, levou a cabo até 1944 o assassinato da quase totalidade dos 250 mil judeus da Lituânia, assim como de ciganos, resistentes nacionalistas e comunistas. E finalmente, entre 1945 e 1991, durante a longa ocupação soviética, o edifício torna-se de novo sede da polícia política comunista, rebaptizada em 1952 com o nome de KGB, local de interrogatório, tortura, prisão e execução.
Com uma história assim, o que nos conta hoje o Museu? Foi o que fomos ver neste verão de 2014, no decorrer de mais um “Seminário sobre Rodas”, viagem de estudo organizada pela Memoshoá – Associação Memória e Ensino do Holocausto, que desde há cinco anos percorre a Europa nos “passos” da Shoá com professores do ensino básico e secundário.

 
A maior parte dos três imensos andares do edifício é preenchida por aquilo que foi a prisão do NKVD-KGB. A guia, uma mulher jovem, conduz-nos demoradamente pelos meandros da prisão, as suas alas de interrogatório e tortura, celas e local de execução dos prisioneiros… Mas no decorrer da visita guiada apercebemo-nos da existência, sem qualquer menção nem paragem por parte da guia, de uma pequena cela com uma estrela de David ao fundo. Trata-se de um espaço exíguo onde o nosso grupo de 27 pessoas não cabe todo ao mesmo tempo, o único dedicado ao período nazi em todo o museu.

 

Questionada, a guia remete para o final a visita ao referido espaço. Na verdade, esta não terá lugar: sob pretexto de que “somos especialistas” e que não precisamos dela, abandona-nos precipitadamente. Parece-nos evidente que não está preparada para nos falar do nazismo e sobretudo das vítimas judias…

 

O Museu das Vitimas do Genocídios conta bem a história de quase meio século de ocupação soviética: os documentos, as fotos e testemunhos são abundantes, esclarecedores e constituem uma clara condenação do regime comunista. Conta-nos também o combate pela independência da Lituânia e a resistência nacional e popular anti-soviética ao longo de todo esse período histórico. Mas a história da ocupação nazi é-nos praticamente ocultada.

 

A narrativa do Museu é clara: sim, fomos ocupados pelos nazis entre 1941 e 1944, mas o verdadeiro sofrimento, aquele que tem de ser contado, narrado e nunca esquecido, é o meio-século de ocupação soviética. Esta é a narrativa que encontrámos com pequenas diferenças e algumas (poucas) excepções nos três países do Báltico: Lituânia, Letónia e Estónia. Os grandes museus nacionais evocam o sofrimento das populações sob o regime soviético, calando ou minimizando o massacre dos seus cidadãos judeus.

 

 

É compreensível? Em parte sim. Independentes entre 1920 e 1939, os três países ocupados pela URSS em 1939/1940, ao abrigo do Pacto Molotov-Ribbentrop, acolhem os nazis em 1941 como libertadores e muitos colaboram no extermínio dos judeus, ciganos e quadros comunistas. E em 1944-45, quando finalmente aguardam pelo restabelecimento da independência nacional, são de novo ocupados pelo poder soviético e desta vez até à sua derrocada, em 1991.

 

São pois décadas de esperanças frustradas, de repressão, de deportações para os goulags siberianos. Por outro lado, nestes países ferozmente nacionalistas, as minorias étnicas ou religiosas não “são parte”, são os “outros”: a cultura define a nacionalidade, herança do império russo. Presentes desde o século XIV na Lituânia, na Letónia no século XVI e no século XVIII na Estónia, os judeus são considerados uma minoria nacional não autóctone, com as consequências óbvias em termos de marginalização social.

 

Mas vinte e três anos depois da libertação, é tempo de reconhecer que a história dos países do Báltico não é apenas uma longa e heróica luta pela independência. É também uma história de quatro anos de colaboração com o nazismo no extermínio praticamente total de uma parte significativa da sua população.

 

Nas valas comuns das florestas de Ponary, em Vilnius, de Rumbula e de Bikernieki, perto de Riga ou de Klooga em Tallinn, jazem as cinzas dos cerca de meio milhão de judeus das comunidades dizimadas entre Julho e Dezembro de 1941, pelos Einsatzgruppen que acompanham o exército nazi na Operação Barbarossa. Em Janeiro de 1942, na conferência de Wahnsee, os três países do Báltico já são considerados praticamente judenrein – “limpos” de judeus.

 

 

A brutalidade da matança coincide muito provavelmente com a decisão de Hitler nesse Outono de 1941 de levar a cabo o que hoje chamamos de Holocausto: o extermínio total do povo judeu.
Nas imensas e belíssimas florestas do Báltico que percorremos, pequenos e simbólicos memoriais erguidos perto das valas comuns por alguns sobreviventes, ou seus descendentes imigrados, financiados na sua maioria por entidades judaicas e doadores americanos, lembram um genocídio que liquidou perto de 100% de comunidades com uma vivência cultural única no mundo judaico.

 

Os três países têm em comum uma intensa vida religiosa nos séculos XVIII e XIX à qual sucede uma vivência politica e cultural marcada pela secularização: desenvolvimento do movimento operário e dos movimentos sionistas, crescimento de uma imprensa, literatura e ensino em Iídiche e hebraico. Na viragem do século, Vilna, em russo, Vilno, em polaco, Vilnius em Lituano e Vilné em Iídiche, é o centro de todos os movimentos que suscitam uma transformação radical da vida judaica. A sua situação geográfica explica este papel chave. Considerada a “Jerusalém da Lituânia”, é um ponto de confluência entre o Ocidente e Oriente europeus, onde as correntes de vanguarda encontravam eco numa intelectualidade muito receptiva e preparada.

 
Na véspera da II Guerra, as cidades do Báltico partilham assim uma brilhante cultura judaica e universal com um forte tecido associativo, cultual e cultural. Tudo isto será destruído pelo genocídio nazi. No final dos anos 1990 viviam apenas no conjunto dos países bálticos independentes, 25.000 judeus e os vestígios do seu brilhante passado praticamente desaparecidos. Hoje, pelo que pudemos apurar, serão ao todo entre quinze a dezassete mil a lutar pela sobrevivência das suas comunidades.

 

 
O poeta de língua Idiche, Abraham Sutzkever, escreveu: “E se na minha cidade não restarem mais nenhuns judeus, as suas almas continuarão a habitar as suas ruelas sinuosas”. Mas mesmo as almas precisam de espaço na memória dos povos. Vilnius, Riga, Tallinn, cidades que procuram sarar as feridas de uma longa e recente ocupação, talvez ainda não sejam capazes, mas o que elas nos demonstram é que a memória europeia não é simétrica no leste e no ocidente europeu. “A União Europeia será talvez uma resposta à história, mas nunca poderá substitui-la”, escreveu Tony Judt. O que por vezes temos tendência a esquecer.

 

 

Autora:

 

Esther Mucznik

 

 

 

Faria hoje 80 anos – Lembrança de Francisco Sá Carneiro

23/02/2015

 

 

Francisco Sá Carneiro nasceu a 19 de Julho de 1934. Faria hoje 80 anos. Pretexto para recordar o seu papel na Ala Liberal e na fundação da democracia. E lembrar o político voluntarioso e determinado.

 
Conheci pessoalmente Francisco Sá Carneiro nos primeiros dias de Maio de 1974, na Rua Viriato, à porta da SEDES – num momento em que as esperanças sobre o nosso futuro eram ilimitadas. Acompanhá-lo-ia na criação do PPD, tendo colaborado diretamente com ele, em especial no fim de 1975 e início de 1976, como secretário-geral adjunto para as questões da juventude e como membro do Secretariado Nacional.

 

 

Francisco Sá Carneiro1

Francisco Sá Carneiro com José Pedro Pinto Leite
Tinha seguido com grande interesse e entusiasmo a ação que desenvolveu na Assembleia Nacional na “Ala Liberal”, nos anos do fim do marcelismo, em especial nos domínios da justiça e do sistema prisional, da liberdade religiosa e da revisão constitucional. Depois da morte de José Pedro Pinto Leite, o primeiro líder do grupo dos renovadores, foi em Sá Carneiro que se concentraram as atenções. É certo que João Pedro Miller Guerra tinha um enorme prestígio, mas pelas características pessoais e por uma especial fogosidade, Francisco Sá Carneiro concitava especiais atenções. Isso era especialmente evidente entre os estudantes de Direito, na que tinha sido também a sua Faculdade, e que eu então frequentava. Os seus discursos, claros e corajosos, eram distribuídos, passavam de mão em mão e eram lidos com avidez.

 

 

Recordo bem, como se fosse hoje, o dia em que renunciou com estrondo ao lugar de deputado. Ninguém ficou indiferente a esse momento fundamental, em que o antigo regime começou o estertor de morte. Não tenho dúvidas de que então se despoletou o processo inexorável que culminaria nos acontecimentos do 25 de Abril de 1974. Conheço pessoalmente muitos jovens milicianos da altura que nesse dia deixaram de ter dúvidas sobre a necessidade de apoiar um movimento democrático. Se somarmos as renúncias de Francisco Sá Carneiro e de Miller Guerra à publicação do livro “Portugal e o Futuro” do General António Spínola, podemos encontrar fatores convergentes que aceleraram, de modo insofismável, a queda do “Estado Novo” que desde 1958 vinha sofrendo uma aceleração inexorável.

 

 

Os acontecimentos históricos têm sempre uma génese complexa. Não podemos esquecer que o arrastamento das guerras de África, que a ausência de soluções políticas para as mesmas e que a tomada de consciência democrática de uma geração de jovens estudantes que foram mobilizados para o Ultramar pesaram decisivamente. Mas houve o pingo d’água que transvazou o copo. Francisco Sá Carneiro e a “Ala liberal” tiveram um papel decisivo, que se somou à influência das oposições clássicas e à situação das Forças Armadas. Como no início de 1963 bem viram Mário Soares e Francisco Salgado Zenha, na experiência de “O Tempo e o Modo”, havia que mobilizar os descontentes do regime e a opinião pública representados pelo General Delgado e pelo Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, protagonista de um movimento de crescente independência da Igreja Católica em relação ao poder instituído, na linha do que viriam a ser as conclusões do Concílio Vaticano II.

 

 

Sá Carneiro confessando-se social-democrata, na célebre entrevista que concedeu a Jaime Gama, jornalista do “República”, representava uma corrente que fazia falta às oposições tradicionais – e que António Sérgio tanto procurou no fim da vida. E esse papel foi revelador da incapacidade de Marcello Caetano para encontrar soluções políticas para o regime. Desempenhou-o Francisco Sá Carneiro, jovem inconformista que fora chamado à primeira linha da ribalta política pela morte prematura de José Pedro Pinto Leite, e o certo é que a sua sensibilidade de jurista experimentado pôs a tónica nas carências do Estado de Direito o que potenciou a sua influência na opinião pública.

 

 

Os primeiros meses a seguir a 25 de Abril de 1974 foram de intensa actividade, mas a entrada para o I Governo Provisório, presidido pelo Prof. Adelino da Palma Carlos, e o agravamento de uma doença que vinha atormentando Francisco Sá Carneiro conduziram ao seu progressivo afastamento da vida pública descontente com o curso dos acontecimentos. Só depois do Verão de 1975 voltei ao seu contacto direto para apoiar o seu pleno regresso, por considerar que a institucionalização da democracia necessitaria de um PPD ativo e interveniente no centro da criação do compromisso constitucional que viria ser alcançado logo após os acontecimentos de 25 de Novembro de 1975 na votação da Constituição da República, a 2 de Abril de 1976.

 

 

Francisco Sá Carneiro2
Conversámos longamente em diversas circunstâncias e recordo especialmente o encontro que tivemos em finais de Setembro de 1975 no Grémio Literário, onde me pediu para o apoiar, em especial na organização de iniciativas da JSD. Lembro uma outra conversa, já em 1976, depois da cisão de Aveiro (Dezembro de 1975) em que foi muito claro no sentido de que deveria ser preservada a identidade própria do PPD como partido de orientação social-democrática, no centro esquerda, não confundível com o projeto centrista do CDS. Foi nesse tempo que me dediquei a uma acção de intenso estudo e reflexão atualista sobre o programa político de Bad Godesberg (1959) do SPD da República Federal Alemã e sobre a evolução da social-democracia sueca. Com António Rebelo de Sousa, realizei ações de formação de norte a sul do País em torno desses temas, o que culminaria em 1977 com a publicação do livro “Democracia Incompleta”, dado à estampa pela Fundação Social Democrata Oliveira Martins. Aliás, foi por iniciativa de Francisco Sá Carneiro e após uma conversa que teve comigo sobre o assunto, que a Fundação do partido foi batizada com o nome de Oliveira Martins, contando com a participação ativa de meu avô Francisco d’Assis.

 
Importa explicar que o esfriamento das nossas relações deveu-se a uma discordância política. Se não houve dúvidas sobre a estratégia de viabilização da Constituição de 1976, a verdade é que importaria, a meu ver, consolidar o regime democrático com leis estruturais que deveriam ser aprovadas na Assembleia da República com os votos do PS e do PPD, para evitar a tentação de convergências coletivizantes que, nessa altura, apenas poderiam reforçar uma interpretação fechada e estatizante da Lei Fundamental.

 
Foi essencial a ação parlamentar do PPD no sentido da aprovação de leis estruturantes como a de delimitação de sectores ou as respeitantes às indemnizações, à reforma agrária e ao arrendamento rural. A manutenção do governo minoritário do PS, dirigido por Mário Soares, levou, porém, Francisco Sá Carneiro a mudar de rumo, deixando inesperadamente a direção do partido em finais de 1977, sem uma explicação clara… Estava em causa a necessidade de apresentar uma alternativa contra o que foi designado como o “impasse” e que tinha três vértices fundamentais: clara demarcação em relação à ação do Presidente da República, Ramalho Eanes, cuja eleição o PPD apoiara e que estaria a favorecer objetivamente a eternização do governo minoritário; apresentação da necessidade de um novo texto Constitucional e de um novo sistema político, que, em última análise, deveria ser sujeito a referendo; e fim da colaboração parlamentar com o PS na viabilização das “leis do regime”.

 

 
Foram estes os três pomos de discórdia que iriam conduzir, em 1978, ao documento “Opções Inadiáveis”, depois de uma muito fugaz presidência do partido pelo Prof. António Luciano de Sousa Franco, de quem fui chefe de gabinete… O resto da história é bem conhecido… Neste momento, devo salientar que não esqueci as boas relações pessoais que tive sempre com Francisco Sá Carneiro, em quem admirei as qualidades de lutador pelos valores da liberdade e da dignidade de pessoa humana e de político voluntarioso e determinado. Foram razões políticas que me levaram a sair do PSD a 4 de Abril de 1979, continuando a respeitar as qualidades e a ação de quem teve um papel fundamental na institucionalização da democracia portuguesa. Foi, por isso, com um grande choque que recebi a notícia trágica da sua morte. Foi uma perda irreparável para a nossa democracia.

 

 

Guilherme d’Oliveira Martins

 

 

Nota do Editor:

 

O Dr. Guilherme d’Oliveira Martins é Presidente do Tribunal de Contas de Portugal desde 2005. Jurista de formação de base, é um dos principais dirigentes do actual regime político constitucional  português. No baralho de cartas do regime ocupa a posição de rei dos diamantes. É uma das cartas mais valiosas do baralho do regime. Está conotado com o Partido Socialista e a sua cúpula directiva máxima, fez parte dos governos esquerdistas dos Primeiros Ministros Maria de Lourdes Pintasilgo e António Guterres, e foi líder da bancada parlamentar do Partido Socialista. É figura próxima de Mário Soares, líder revolucionário do Partido Socialista, e ocupa um lugar dirigente na Fundação de Mário Soares, um sifão de fundos do Estado com um valor de vários milhares de milhões de euros.

 

 

Como presidente do Tribunal de Contas, um orgão de soberania independente na actual estrura do Estado Português, responsável pela auditoria das despesas do Estado, assistiu impávidamente ao descalabro e colapso das contas do Estado Português. Quando em 2011 o Estado Português entrou em bancarota, já o Dr. Guilherme d’Oliveira Martins era presidente à seis anos. Em conclusão, hoje sabemos que mais de um milhão de portugueses sofreram uma degradação completa e colapso das suas vidas,  vivendo a pobreza, miséria e emigração para o estrangeiro por causa do abandono e descontrolo completo das contas públicas e economia portuguesas em 2011, e sabemos também que o Tribunal de Contas foi uma das instituições de soberania portuguesa que não cumpriu a sua função de auditoria e controlo das contas do Estado.

 

 

Neste artigo de opinião presenciamos o esforço que o Dr. Guilherme d’Oliveira Martins faz para se conotar com o outro partido socialista de Portugal, o Partido Social Democrata, ainda que com a aliança ao partido democrata cristão português, o CDS-PP, aquele apresenta-se como um partido um pouco mais centrista. Este esforço é óbviamente um esforço de branqueamento e encombrimento do seu passado político e das suas responsabildades.

 

 

 

Vitaminas Antioxidantes

23/02/2015

 
Saiba que alimentos deve privilegiar para combater a oxidação.

 
As vitaminas têm um forte poder antioxidante e podem ajudá-lo
a combater o processo de oxidação.

 

Este é um processo natural do organismo que acompanha o envelhecimento.

 

No entanto, pode ser controlado com uma alimentação adequada. Basta que passe a incluir os alimentos que se seguem nas suas refeições diárias.

 

Vitamina C

 

É o antioxidante hidrossolúvel mais abundante no sangue. Gera a inibição da formação de radicais superóxidos ou de nitrosaminas durante a digestão. Intervém na reparação das células dos tecidos (principalmente da pele, ao nível da formação de colagénio), das gengivas, veias, ossos e dentes, ajudando também a aliviar o stress.

 

A vitamina C está presente em frutas como o limão, laranja, tangerina, toranja, morangos, quivi, goiaba, papaia, manga, framboesa e em vegetais como a couve roxa, pimentos, espinafres, grelos, nabiças e repolho.

 

Vitamina E

 

É um antioxidante lipossolúvel que impede a oxidação dos tecidos gordos polinsaturados e evita danos nas membranas celulares. Favorece a nutrição e regeneração dos tecidos. Grande parte das funções antioxidantes da vitamina E melhoram significativamente com a acção conjunta do selénio. Ainda assim, segundo um estudo da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, é de referir que o consumo excessivo de vitamina E pode provocar transtornos metabólicos e perturbações ao nível do coração.

 

A vitamina E está presente em óleos vegetais, como óleo de gérmen de trigo, azeite, girassol, soja, desde que não refinados (obtidos a frio), cereais integrais, abacate, amêndoas, amendoins, margarina, conservas em azeite ou óleo (atum, cavala…), pistachos e espargos.

 
Vitamina A + carotenóides

 

Os carotenóides são compostos de importante função antioxidante que funcionam como precursores da vitamina A.

 

Destacam-se os carotenos alfa, beta (provitamina A) e gama, que protegem os tecidos celulares e desempenham uma função essencial na saúde dos olhos e membranas mucosas.

 

Também fortalecem o sistema imunitário e ajudam a prevenir doenças cardiovasculares e determinados tipos de cancro.

 

«Juntamente com as vitaminas C e E, o betacaroteno pode capturar os radicais livres», refere Pedro Lôbo do Vale. O licopeno é outro carotenóide que pode ajudar a prevenir vários tipos de cancro, proteger a memória, proteger contra a degeneração macular (da retina), e ajudar as pessoas menos jovens a manterem-se activas.

 

Esta substância é mais facilmente absorvida quando submetida ao calor, daí que a sua presença seja mais significativa, por exemplo, no tomate cozinhado do que no tomate ao natural. Já a luteína é um carotenóide que absorve os raios solares ultravioleta, evitando que estes provoquem danos na retina ocular, o que ajuda a prevenir problemas como a degeneração macular e as cataratas.

 

Os carotenos estão essencialmente presentes em cenouras, salsa, espinafres, mangas, brócolos e folhas verde escuras em geral. Já o licopeno dá a cor avermelhada a alimentos como o tomate, melancia, goiaba, etc. A luteína pode ser ingerida através de espinafres, pimentos vermelhos, gema de ovo, abacate, aipo, brócolos, salsa, repolho, aipo, abóbora e mostarda. Para ficar a saber porque oxidamos, clique aqui. (http://saude.sapo.pt/saude-medicina/o-corpo/artigos-gerais/porque-oxidamos.html) Veja ainda os benefícios dos minerais antioxidantes e dos polifenóis no combate à oxidação.

 
Texto: Ana Catarina Alberto com Pedro Lôbo do Vale (médico de clínica geral, docente no mestrado de Nutrição, na Faculdade de Medicina de Lisboa)

 

PREVENIR

 

SAPO – PESO E NUTRIÇÃO

 

 

 

Alimentos Que Rejuvenescem

23/02/2015

 

A chave da juventude pode estar na alimentação..

 
Perda de memória, problemas cardíacos, menos força muscular, perda de visão. A idade traz, inevitavelmente, alguns problemas de saúde.

 

E, ainda que não seja possível travar o envelhecimento, a ciência confirma que uma alimentação composta por nutrientes específicos pode atrasar ou mesmo fazer recuar este processo. Fomos conhecer os nutrientes chave da juventude. Faça deles os seus melhores amigos.

 

«Os alimentos, para além de serem fonte de energia e de substâncias necessárias às nossas funções vitais, desempenham um papel muito importante no processo de envelhecimento», refere o médico Pedro Lôbo do Vale. Alguns nutrientes são quase verdadeiros medicamentos que intervêm diretamente na nossa saúde e no nosso bem-estar.

 

Para além disso, o facto de determinados alimentos serem eficazes a cuidar da nossa saúde, promovendo a longevidade e protegendo-nos de doenças, está comprovado cientificamente em inúmeros estudos médicos sobre a ação dos nutrientes no organismo.

 

Sabemos, então, que uma atitude importante a tomar na prevenção do envelhecimento precoce é a escolha consciente de uma alimentação equilibrada e diversificada. Mas, afinal, o que é que conseguimos atingir concretamente com essa atitude? Descubra, de seguida.

 
Oito passos antienvelhecimento

 

1. Reduza os níveis de stress com alface e aveia

 
O stress consiste numa resposta do organismo a determinados estímulos que poderão levar a situações de tensão e desgaste. Cada pessoa reage de maneira diferente ao stress mas isso não implica que deixe de ser um problema com consequências fisiológicas.

 
O especialista Pedro Lôbo do Vale refere que «existem alguns alimentos com propriedades relaxantes como a alface ou a aveia».

 
Em concreto, as substâncias mais conhecidas por ajudar a aliviar o stress são o magnésio e as vitaminas do complexo B, nomeadamente a B6. O magnésio está presente em hortaliças de folha verde e em frutos secos oleaginosos como a aveia, a noz ou o caju. Atenção, Segundo a Associação Portuguesa de Dietistas, a maior parte dos portugueses adultos não atinge a dose diária recomendada de magnésio (320 mg/dia para as mulheres e 420 mg/dia para os homens).

 

2. Reduza os danos celulares provocados pelos radicais livres com uvas pretas, romã e morangos

 
«A redução da ação dos danos causados pelos radicais livres passa pela ingestão de alimentos antioxidantes», refere Pedro Lôbo do Vale. Comprovados cientificamente estão os benefícios de frutos como o mangostão, o noni, a romã ou as bagas de goji, sem esquecer a riqueza nutricional e aporte antioxidante de produtos como vinho tinto, chá verde, ginkgo biloba e frutos de bagas azuis escuras ou vermelhas (uvas pretas, mirtilos, groselhas, morangos, entre outros).

 
Alimentos ricos em selénio, zinco, cobre, coenzima Q10, vitaminas A, C e E, resveratrol e bioflavonoides, são substâncias que diminuem a oxidação das células. Caso procure potenciar os benefícios da alimentação pode procurar tomar estas substâncias em fórmulas concentradas.

 

3. Reduza o colesterol e aumente a capacidade cardiovascular com alho, salmão, fruta, atum, óleos vegetais e sementes

 

Para ver diferença nos níveis de colesterol das suas próximas análises, aposte em peixes gordos, ricos em ómega-3, óleos de origem vegetal e vegetais em geral por serem ricos em fitoesteróis. «Os óleos de peixes como o salmão, o arenque, o atum ou a sardinha fornecem ácidos gordos Ómega-3, que se transformam em prostaglandinas anti-inflamatórias, regulando todas as funções orgânicas, incluindo as cardiovasculares, entre as quais a redução dos níveis de colesterol e triglicéridos», explica Pedro Lôbo do Vale.

 
Para além disso, o consumo intensificado de «frutas, produtos hortícolas, legumes, sementes, cereais, óleos vegetais e outros de origem vegetal, em detrimento da ingestão de gordura de origem animal, também contribui para a diminuição do colesterol, devido à presença de fitoesteróis, compostos cuja composição é semelhante ao colesterol e atua como bloqueador da absorção do colesterol alimentar», explica o especialista. É importante não esquecer também os benefícios do alho, que atua diretamente no sistema cardiovascular, na prevenção da aterosclerose e também na redução da viscosidade do sangue.

 

4. Baixe a pressão arterial com mais legumes e menos sal

 

A regra mais importante que deve seguir para reduzir a pressão arterial é reduzir o consumo de sal. Ao mesmo tempo, pode também aumentar o consumo de potássio, «por este se tratar de um mineral necessário a um equilíbrio hídrico adequado, assim como à contração muscular, à transmissão nervosa e à regulação dos batimentos cardíacos», explica Pedro Lôbo do Vale. Para consumir mais potássio, dê preferência a cereais, vegetais e fruta como folhas de beterraba, espinafres, batata, feijão, abóbora, ameixas secas, sumo de ameixa e passas.

 
5. Aumente a memória e diminua a perda cognitiva com fibra, peixe, azeite e nozes

 

A primeira regra está em reduzir o consumo de álcool e de nicotina presente no tabaco. Depois deste passo, «uma dieta favorecedora das capacidades da memória deve ser rica em fibras, fruta, vegetais e peixe, em detrimento da carne, gorduras e açúcares refinados», recomenda o especialista.

 
Muitas investigações têm sido desenvolvidas sobre os benefícios de determinadas substâncias em doenças cognitivas como alzheimer.

 
Por exemplo, um estudo recente publicado no The Archives of Neurology refere que os ácidos gordos polinsaturados encontrados no peixe, nozes e azeite têm um efeito protetor contra as doenças cognitivas.

 

6. Reduza os níveis de homocisteína com fruta, lentilhas, espinafres e feijão

 

O excesso de homocisteína é um fator de risco cardiovascular. «Trata-se de um aminoácido que pode provocar um aumento do risco de coágulos e entupimento das artérias, além de contribuir para a formação de depósitos de gordura nas paredes dos vasos sanguíneos», explica o médico Pedro Lôbo do Vale.

 
Para reduzir estes níveis, deve-se potenciar o consumo de ácido fólico, principalmente através de frutos e vegetais e/ou alimentos como cereais, lentilhas, espinafres e a maioria dos feijões. «Para além da ingestão de ácido fólico é também importante a ingestão de vitaminas B6 e B12 e lecitina de soja», acrescenta o médico.

 

7. Melhore a visão com cenouras, gema de ovo, pêssegos e mirtilos

 

Alguns alimentos garantem nutrientes importantes para a estrutura dos olhos. «A cenoura é rica em betacaroteno, um componente da vitamina A que é fundamental para a visão normal», refere Pedro Lôbo do Vale. Para além disso, é importante também o consumo de luteína, «um pigmento da família dos carotenoides que é o principal antioxidante presente nas membranas oculares (retina e mácula)», acrescenta.

 
A luteina está presente em alguns frutos como laranja, mamão, pêssego e quivi, bem como na gema de ovo. Um outro fruto muito especial para a visão é o mirtilo. «Estudos recentes provam que as bagas de mirtilo podem melhorar vários problemas de visão, incluindo a miopia e a degeneração da mácula devido à idade ou diabetes», refere.

 

8. Fortalecer os ossos com leite, bebidas de soja, amêndoas, feijão e queijo

 

As substâncias que mais interagem com a saúde óssea são o cálcio (e a vitamina D), o magnésio, o boro e a vitamina k2. O cálcio está essencialmente presente no leite e nos seus derivados, mas também nos legumes, peixes gordos e bebidas à base de soja.

 
«O magnésio e o boro são também indispensáveis à obtenção de ossos saudáveis, devido ao seu papel para o metabolismo do cálcio», refere Pedro Lôbo do Vale. Estes estão essencialmente presentes nos cereais integrais, frutas secas, vegetais de folha verde escura e feijão.

 
Mais comum no queijo, «a vitamina K2 está associada à densidade óssea, havendo estudos a documentar que a toma de suplementos desta vitamina reduziu a incidência de fraturas, a taxa de perda de densidade mineral óssea e aumentou a resistência óssea», refere o médico. E, ainda que a alimentação possa prevenir estes casos, em estados mais avançados de osteoporose as concentrações de nutrientes presentes nos alimentos podem não ser suficientes para evitar fraturas graves.

 
As estrelas da sua despensa

 

 

Uvas, vinho tinto, chocolate negro, pistácios e amendoins

 
O resveratrol é um composto presente na pele com eficácia comprovada na proteção antioxidante, prevenção do envelhecimento precoce e manutenção de uma circulação sanguínea saudável. Para além disso, é conhecido por ativar o gene da sirtuina (SIRT1), conhecido como o gene da longevidade. Poderá estar associado ao padrão alimentar francês que garante valores reduzidos de cancro e de doenças cardiovasculares.

 

Salmão, atum, polvo, sardinha e lulas

 

São fontes de gordura polinsaturada, que também está presente, em menor quantidade, nas nozes e em alguns óleos vegetais, como o óleo de milho ou de girassol. O importante é equilibrar o consumo de dois ácidos gordos polinsaturados essenciais (Ómega-3 e Ómega-9). Vários estudos comprovaram a eficácia do aumento do consumo de alimentos ricos em Ómega-3 na prevenção de diversas patologias cardiovasculares inflamatórias.

 

Bebidas de soja, rebentos de soja, molho de soja, grão de soja, tofu e sobremesas de soja

 

São fonte de aminoácidos de alto valor biológico, isoflavonas, ácidos gordos polinsaturados, minerais, vitaminas e fibras. «As isoflavonas da soja são benéficas na prevenção da osteoporose e na melhoria dos sintomas associados à menopausa», refere Pedro Lôbo do Vale, sendo igualmente reconhecidos os seus efeitos ao nível do coração, da diabetes e da arteriosclerose.

 

Frutos vermelhos, frutos secos, tomate, cenoura, chá verde e vegetais de folha verde

 

Minimizam os malefícios dos radicais livres e respetivos danos provocados nas células. «Existem vários nutrientes e vitaminas que têm a função de proteger o organismo contra os efeitos nefastos dos radicais livres e proteger as células e o ADN», explica o especialista que recomenda a «ingestão de um número variado destes agentes, de forma a que o seu benefício seja potenciado, uma vez que os diversos antioxidantes atuam de modos diferentes».

 

Texto: Ana Catarina Alberto com Pedro Lôbo do Vale (médico de clínica geral e docente do Mestrado em Nutrição da Faculdade de Medicina de Lisboa)

 
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O Que é o Colesterol?

23/02/2015

 

Tipos de colesterol e os principais factores de risco.

 
O colesterol é uma gordura essencial existente no nosso organismo, que tem duas origens: uma parte produzida pelo próprio organismo, em particular o fígado, e outra parte obtida através da alimentação, em particular pela ingestão de produtos animais, como a carne, os ovos, e os produtos lácteos.

 

O organismo necessita de colesterol para produzir as membranas (paredes) celulares, hormonas, vitamina D e ácidos biliares, que ajudam a digerir os alimentos. No entanto, o nosso organismo necessita de apenas uma pequena quantidade de colesterol para satisfazer as suas necessidades.

 

Que tipos de colesterol existem?

 

O colesterol circula no sangue ligado a uma proteína: este conjunto colesterol – proteína é, por isso, conhecido por lipoproteína. As lipoproteínas são classificadas em altas, baixas ou muito baixas, em função da respectiva proporção de proteína e gordura em cada uma, o que determina a sua densidade.

 

• Lipoproteínas de baixa densidade (LDL): são vulgarmente conhecidas como «mau» colesterol, por ser aquele que se deposita na parede das artérias, provocando aterosclerose. Quanto mais altas forem as LDL no sangue, maior é o risco de doença cardiovascular.

 
• Lipoproteínas de alta densidade (HDL): também conhecidas por colesterol «bom», que tem como papel a limpeza das artérias, pelo que quanto mais altas forem menor risco há de surgir doença cardiovascular.

 
• Lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL): são semelhantes às LDL, mas contendo mais gordura e menos proteínas.

 
• Triglicéridos: são um outro tipo de gordura que circula no sangue ligada às VLDL. Uma alimentação excessivamente rica em calorias, açúcares ou álcool eleva os triglicéridos, aumentando o risco cardiovascular.

 

Que factores afectam os níveis de colesterol?

 

Um elevado número de factores influenciam os níveis de colesterol no sangue..

 
Dieta

 

O consumo excessivo de gordura saturada e de colesterol eleva os níveis de colesterol. Para os reduzir deve-se evitar o consumo de gorduras de origem animal, como as carnes gordas, o presunto, o queijo, a manteiga, as charcutarias, a fastfood, etc.

 

Peso corporal

 

Ter excesso de peso aumenta o colesterol. Controlar o peso reduz os níveis de colesterol das LDL e tem ainda a vantagem de elevar as HDL.

 
Actividade física

 
O exercício regular baixa o colesterol das LDL e sobe as HDL. Aconselha-se a pratica de 30 minutos diários de actividade física, como por exemplo, a marcha em passo rápido.

 

Hereditariedade

 
Os nossos genes determinam em parte a quantidade de colesterol que cada organismo produz. Há famílias em que o colesterol é elevado.

 

Quando está o colesterol demasiado elevado?

 

Um estudo da Fundação Portuguesa de Cardiologia mostra que cerca de dois terços da população adulta portuguesa têm o colesterol elevado. No entanto, o colesterol elevado não causa sintomas. Quando estes ocorrem podem surgir sob a forma de dor no peito por angina ou enfarte do miocárdio. Estamos pois, perante uma patologia grave em que é fundamental fazer prevenção.

 
As sociedades científicas europeias recomendam, como valores normais um colesterol inferior a 190 mg/dl quando se trata da população em geral. No caso dos doentes com patologia coronária, ou outra doença aterosclerótica (acidente vascular cerebral, doença vascular periférica, etc.), diabetes ou insuficiência renal, que são considerados doentes de alto risco, recomendam-se valores de colesterol inferiores a 175 mg/dl. Já para o colesterol das LDL os valores recomendados são respectivamente inferiores a 115 mg/dl para a população em geral e a 100 mg/dl nos doentes de alto risco.

 

 

Estas recomendações agora referem mesmo que nos doentes de alto risco, como é o caso dos doentes coronários e diabéticos, há vantagem em atingir níveis de LDL inferiores a 70 mg/dl para assegurar maior protecção cardiovascular e até tornar possível a regressão da aterosclerose. Por isso a American Heart Foundation, assim como outras Instituições norte-americanas recomendaram mais recentemente que os doentes de alto risco devem ter valores de colesterol inferiores aos propostos pelas Sociedades Europeias.

 

 

Um trabalho recente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, ainda em curso junto dos utentes dos Centros de Saúde (Projecto Coração Seguro), mostra que cerca de 35% dos doentes, apesar de estarem a fazer terapêutica para redução do colesterol, não estão controlados, ou seja não cumprem os objectivos estabelecidos pelas Sociedades Científicas Europeias. No que respeita às HDL, níveis inferiores a 40 mg/dl e de trigliceridos superiores a 150 mg/dl conferem risco cardiovascular acrescido. Por outro lado, quanto mais elevadas forem as HDL menor é o risco de doença cardiovascular.

 

Veja as medidas que deve adoptar para reduzir os níveis de colesterol aqui (http://saude.sapo.pt/saude-medicina/medicacao-doencas/artigos-gerais/como-tratar-o-colesterol.html)

 

 

Texto: Prof. Manuel Carrageta , médico cardiologista e presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia

 

 

A filiação no Clube Rei Coração é livre e destina-se a todos os que se interessam pelas doenças do foro cardiovascular, em saber como as prevenir e melhor lidar com a sua existência, de modo a conseguirem mais bem-estar e qualidade de vida.

 

 

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Rejuvenesça o seu Coração

23/02/2015

 

 

Onze cuidados que lhe oferecem anos de vida.

 

 

O som é fácil de reconhecer. Tic-tac, tic-tac. Sístole, diástole, sístole, diástole… Este é o ritmo constante do seu coração, que, por razões óbvias, se pode comparar a um relógio.

 

 

Para além de cuidar do seu mecanismo (através das medidas preventivas sobejamente conhecidas e recomendadas habitualmente), deve acertá-lo, conhecendo e pondo em prática as últimas novidades da ciência.

 

 

Alguns investigadores já chamaram a atenção para truques cardioprotectores ditos não-tradicionais e todos eles têm algo em comum, ajudam a rejuvenescer o coração. Lembre-se que as doenças cardiovasculares têm um desenvolvimento progressivo e que, apesar do resultado destas medidas não ser imediatamente visível, revelar-se-á fundamental daqui a 10 ou 20 anos.

 

 

1. Gordura abdominal sob controlo

 

 

Para saber se alguém tem excesso de peso e, por isso, tem aumentado o seu risco cardiovascular, é essencial medir o perímetro abdominal. Na mulher é considerado saudável se for inferior a 88 cm, e no homem se for menor do que 102 cm.

 

 

De acordo com os especialistas na área de obesidade, se estes valores forem ultrapassados, é necessário visitar o médico para perder peso e reduzir a gordura abdominal acumulada, que aumenta substancialmente o risco de vir a padecer de complicações cardiometabólicas.

 

 

2. Dê água aos seus rins

 

 

De acordo com os especialistas em Nefrologia, os rins são a
sentinela do coração, pelo que a proteção cardiovascular está
relacionada com a renal e vice-versa.

 
Para reforçar a saúde de ambos os órgãos é recomendável, entre
outras medidas, moderar a ingestão de bebidas alcoólicas (em excesso podem danificar os rins, provocar hipertensão e insuficiência renal) e ingerir menos sal (o seu consumo excessivo não só está relacionado com a subida da tensão arterial, como também afeta a função renal).

 
Para além disso, alguns estudos indicam que beber três litros de
água por dia não só prolonga a vida de uma pessoa, em média, cinco anos, como lhe dá mais qualidade.

 
3. Uma hora de atividade física por dia

 
Quanto tempo devemos dedicar à actividade física para manter o coração e as artérias em boa forma e reduzir a possibilidade de adoecerem?

 

 

De acordo com um estudo recente (DREW) publicado no jornal da associação médica americana JAMA, o benefício da atividade física depende da dose. Quanto mais se fizer, mais vantajosa é para a saúde, embora esta seja sempre benéfica independentemente do número de horas praticadas.

 

 

«O que tem sido recomendado», refere Luís Negrão, «são 30 minutos de atividade física de intensidade moderada, durante cinco dias por semana, que podem ser divididos em três períodos de 10 minutos». Mas esta recomendação tem vindo a ser alvo de atualizações. «Alguns organismos internacionais propõem que se passe a 60 minutos de atividade física diária», explica o especialista.

 

 

Por atividade física entende-se todo o movimento corporal produzido pela musculatura esquelética, do qual resulta um dispêndio energético acima do nível de repouso. Não confundir com exercício físico, que é um tipo de atividade física em que o movimento é repetitivo, devidamente estruturado e planeado, com o objetivo de melhorar ou manter a condição física.

 

 

4. As últimas novidades da nutrição

 

 

A par das recomendações genéricas subscritas pelo Instituto Nacional de Cardiologia Preventiva (reduzir o consumo de sal, álcool, açúcar e gorduras saturadas e aumentar a ingestão diária de vegetais e fruta), investigações recentes comprovaram os benefícios dos seguinte alimentos para a saúde do coração:

 

 

O estudo PREDIMED, criado para analisar os efeitos da dieta mediterrânica na prevenção cardiovascular, demonstrou que incluir nozes na alimentação diária potencia a redução do dano oxidativo causado pelo colesterol mau ou LDL.

 

 

As nozes são ricas em ácidos gordos ómega-3, nutrientes e outros compostos cardiosaudáveis, como fibra, fitoesteróis, ácido fólico e antioxidantes, que normalmente ajudam a reduzir o risco de enfarte. A Fundação Espanhola do Coração incluiu a carne de coelho entre os alimentos recomendáveis para a dieta de prevenção cardiovascular, por ser uma carne magra, com uma baixa proporção de gordura e menor conteúdo de ácidos gordos saturados e colesterol do que outras carnes.

 

 

Para além disso, possui minerais como ferro, zinco, magnésio, e uma grande quantidade de vitaminas do grupo B, E e um baixo conteúdo de sódio. Quanto mais colorido for um vegetal, mais rico é em antioxidantes, substâncias que ajudam a contrariar as reações químicas que provocam aterosclerose.

 

 

A cor é tão importante que a Associação Americana do Coração recomendou explicitamente que o «consumo de frutas e verduras variadas regularmente, especialmente as verde escuras, cor de laranja intenso ou amarelas», como as cenouras, a beterraba, folhas verdes. No caso da fruta, o mais importante é a cor da polpa.

 

 

5. Fomente o trabalho de equipa

 

 

Fazer atividade física, controlar o peso e largar o tabaco. Quando este tipo de comportamentos são adoptados em conjunto, a adesão é maior do que quando são colocados em prática individualmente.

 

 

«Para ter um coração saudável e evitar que adoeça convém juntar-se a um grupo», foi um dos lemas difundidos em diferentes países no Dia Mundial do Coração em 2007. De acordo com Manuel Triana, da Sociedade Colombiana de Cardiologia, «em grupo, tem-se três vezes mais hipóteses de manter uma dieta e peso saudáveis, e as probabilidades de deixar de fumar duplicam».

 

 

6. Fuja da poluição

 

 

Quanto mais tempo se afastar da poluição e do trânsito e quanto mais limpo for o ar que respira, mais anos o seu coração e as suas artérias vivem. Especialistas da Universidade de Taiwan demonstraram, através de um estudo, que o ar poluído da cidade afeta os indicadores-chave do risco cardiovascular nos jovens, como a inflamação, o stress oxidativo e a coagulação.

 

 

De acordo com outro estudo das universidades de Edimburgo e Umea, pessoas com uma doença cardíaca estável que se exponham, mesmo por poucos instantes, à combustão de gasóleo, habitual na cidade, têm um menor afluxo sanguíneo ao coração e sofrem mudanças na sua actividade cardíaca.

 

 

7. Respire fundo

 

 

Os ataques de fúria podem desencadear arritmias severas, que, por sua vez, são mais prováveis quanto mais a pessoa estiver aborrecida ou irritada, podendo até ser potencialmente mortais, segundo revela um trabalho do Hospital Brigham and Women’s de Boston, nos EUA.

 

 

De acordo com a Federação Espanhola do Coração (FEC), a relação entre as tensões e as doenças do coração está confirmada. Quando os sintomas de stress aparecem, tente abrandá-los, refletindo e perguntando a si mesmo «O que é que provoca este stress?» e «Vale mesmo a pena aborrecer-me por causa disto?». De certeza que é mais do que suficiente para reduzir, pelo menos, a ansiedade e procurar ajuda.

 

 

8. Durma sete horas

 

 

«É fundamental para prevenir problemas de saúde», revela Francesco Cappuccio, professor de Medicina Cardiovascular da Universidade de Warwick e responsável por um estudo britânico.

 

 

Segundo este especialista, as pessoas que não dormem horas suficientes são duas vezes mais propensas a morrer de doença cardíaca.

 

 

A sua investigação de 17 anos foi baseada em 10.000 funcionários públicos.

 

 

Esta análise mostrou que aqueles que reduzem o sono noturno a menos de sete a cinco horas têm mais do dobro de risco de morrer por causa de um problema de origem cardiovascular. A falta de sono parece estar relacionada com um aumento da pressão sanguínea, que, por sua vez, está relacionado com o risco de ter um ataque cardíaco ou um AVC. Há, contudo, pessoas cujo organismo requer, naturalmente, menos horas de sono, sem com isso correrem maior risco.

 

 

9. Duas gorduras sob controlo

 

 

A vida de um indivíduo é a vida dos seus vasos e artérias e depende dos triglicéridos e do colesterol, duas gorduras que trabalham em equipa. As primeiras vão depositando umas placas de ateroma nas paredes das artérias, enquanto as segundas vão endurecendo as artérias.

 

 

Estes processos prejudicam a saúde, na medida em que impedem a distribuição adequada do sangue pelo organismo (podendo mesmo bloquear uma artéria) e aceleram o envelhecimento. Para prevenir e tratar estes processos, deve fazer uma análise ao sangue, para conhecer as suas gorduras sanguíneas. Trata-se de cuidar dos níveis de colesterol e triglicéridos. Se tiver o colesterol alto por causa de factores genéticos, o seu médico vai-lhe prescrever estatinas.

 

 

Mas se a sua hipercolesterolemia for familiar ou se se dever à sua alimentação, deve seguir uma dieta equilibrada, sem se exceder com as gorduras saturadas. Para melhorar a sua saúde arterial, a Fundação Portuguesa de Cardiologia e a Sociedade Portuguesa de Aterosclerose aconselham a manter os valores de colesterol abaixo dos 190 mg/dl.

 

 

Se os triglicéridos também estiverem elevados, existem combinações de estatinas com outros fármacos, que conseguem baixar os níveis de ambas as gorduras. Para as baixar, convém reduzir ou eliminar os alimentos gordos da alimentação.

 

 

10. Abandone o tabaco

 

 

O fator de risco cardiovascular evitável de mais evidente solução é o tabagismo, um hábito prejudicial e desnecessário que está na linha da frente dos culpados da doença coronária.

 

 

Deixar de fumar é mais benéfico do que qualquer outra medida preventiva. Tês anos depois de o fazer, o risco de enfarte do miocárdio ou de acidente vascular cerebral (AVC) é o mesmo de uma pessoa que nunca fumou na vida. Esta constatação não significa, contudo, que, uma vez livre do fumo, possa descuidar a actividade física, o controlo de peso e a alimentação saudável.

 

 

11. A partir dos 40 anos tenha um maior controlo

 

 

De acordo com os especialistas, a partir do momento em que se entra na quarta década de vida, é necessário estar mais atento à saúde cardiovascular, porque existem indícios de que a aterosclerose, uma doença que começa muito antes, aumenta as probabilidades de se desenvolver a partir dos 40.

 

 

E há que ter em conta certos parâmetros que não precisam de ser vigiados tão de perto em idades mais precoces, como o colesterol ou a tensão arterial. Para além disso, as pessoas com antecedentes familiares de doenças cardíacas ou de certas doenças que a favoreçam, como a diabetes, devem ter uma vigilância mais apertada.

 
Texto: Fernanda Soares

 
Revisão científica: Luís Negrão (assessor médico da Fundação Portuguesa de Cardiologia)

 
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Sabe Tudo Sobre Células Estaminais?

23/02/2015

 

O que são, para que servem, que doenças podem ser tratadas? A resposta a estas e outras questões sobre células estaminais.

 
1. O que são as células estaminais?

 

As células estaminais definem-se por duas propriedades básicas: a capacidade de se auto renovarem indefinidamente num estado indiferenciado e a possibilidade de se diferenciarem num ou mais tipos de células especializadas. As células estaminais podem ser classificadas em função da sua origem e/ou da sua capacidade de diferenciação em dois tipos principais: embrionárias e adultas. As células estaminais embrionárias, presentes numa fase muito inicial do desenvolvimento humano, conseguem dar origem a todos os tipos de células que constituem o nosso organismo. As células estaminais adultas permitem manter as funções dos tecidos e órgãos onde estão presentes, bem como reparar os tecidos em caso de lesão. Alguns tecidos neo-natais, como a placenta, o sangue e o tecido do cordão umbilical, contêm também populações de células estaminais adultas (assim designadas por se obterem após o nascimento), com interesse para a medicina.

 

As células estaminais que têm tido maior relevância a nível clínico são as células estaminais da medula óssea, do sangue periférico e do sangue do cordão umbilical. Estas fontes são ricas em células estaminais hematopoiéticas, as células que dão origem às células do sangue: glóbulos vermelhos, plaquetas e todas as células do sistema imunitário.

 

O sangue do cordão umbilical é actualmente considerado uma fonte de células estaminais para o tratamento de mais de 80 doenças, que incluem doenças hematológicas, imunológicas e metabólicas, tendo em 2012 sido contabilizados mais de 30.000 transplantes com sangue do cordão umbilical em todo o mundo. Para além disso, a sua utilização encontra se em estudo em ensaios clínicos, em doenças como paralisia cerebral, autismo, diabetes tipo 1 e lesões da espinal medula, entre outras, o que poderá aumentar o leque de aplicações clínicas do sangue do cordão umbilical.

 

O tecido do cordão umbilical é muito rico num outro tipo de células, as células estaminais mesenquimais que poderão vir a ser úteis no tratamento de um conjunto alargado de doenças. Também o seu potencial clínico se encontra em estudo, em ensaios clínicos, em diversas doenças. Dadas as aplicações actuais e o crescente número de ensaios clínicos com células estaminais do sangue e do tecido do cordão umbilical, assume cada vez mais importância a criopreservação destas células, cuja colheita pode apenas ser feita no momento do parto.

 

Recentemente descobriu-se que células maduras especializadas podem ser reprogramadas para se tornarem células imaturas com características semelhantes às das estaminais embrionárias, capazes de dar origem a todos os tecidos do corpo. As células assim obtidas designam-se de células estaminais pluripotenciais induzidas (iPSC, do inglês: induced pluripotent stem cells), e têm o potencial de poderem vir a revolucionar a realidade terapêutica e contribuir para a cura de patologias actualmente sem tratamento. Por esta razão, as iPSC são promissoras para futuras terapias celulares tendo despertado a atenção generalizada de investigadores e médicos.

 
2. Para que servem as células estaminais?

 

 

As células estaminais desempenham funções importantes no nosso organismo. Por um lado, as células estaminais embrionárias, presentes numa fase muito inicial do desenvolvimento humano, conseguem dar origem a todos os tipos de células que constituem o nosso organismo e, por outro, as células estaminais adultas, encontram-se em muitos tecidos do organismo adulto e permitem a renovação e reparação dos tecidos de que fazem parte. Para além do papel fisiológico das células estaminais, elas têm também um papel importante no contexto terapêutico.

 

 

A capacidade das células estaminais se diferenciarem em vários tipos de células, podendo substituir células lesadas ou destruídas e regenerar tecidos danificados, explica o grande interesse na utilização das células estaminais no contexto terapêutico. As células estaminais hematopoiéticas são as que têm tido maior relevância a nível clínico, particularmente em doenças nas quais é necessário regenerar o sistema sanguíneo e imunitário do doente. No indivíduo adulto as células estaminais hematopoiéticas estão maioritariamente localizadas na medula óssea, e originam todas as células do sangue: glóbulos vermelhos, plaquetas e todas as células do sistema imunitário.

 

 

O sangue do cordão umbilical é também uma importante fonte de células estaminais hematopoiéticas, razão pela qual se tornou, nos últimos anos, numa alternativa à medula óssea nos transplantes hematopoiéticos. As células estaminais hematopoiéticas da medula óssea, do sangue periférico e sangue do cordão umbilical têm sido usadas para o tratamento de mais de 80 doenças, que incluem doenças hematológicas, imunológicas e metabólicas. No início de 2013 foram contabilizados mais de 1.000.000 de transplantes hematopoiéticos para o tratamento de um conjunto alargado de doenças, entre as quais se encontram vários tipos de leucemias e anemias, linfomas e doenças metabólicas.

 
3. Quais as doenças que podem ser tratadas com as células estaminais?

 

 

Até ao momento, as células estaminais que têm tido maior aplicação clínica são as células estaminais hematopoiéticas que se encontram na medula óssea, no sangue periférico mobilizado e no sangue do cordão umbilical.

 

Conforme publicado, por exemplo, no site do banco público de Nova Iorque (http://www.nationalcordbloodprogram.org/qa/), são mais de 80 as doenças em que já foi usado sangue do cordão umbilical (à semelhança da medula óssea e do sangue periférico). A maioria dos transplantes realizados destinam-se ao tratamento de doenças do sangue (como leucemias e alguns tipos de anemias) e do sistema imunitário, mas as células do sangue do cordão umbilical são também usadas no tratamento de algumas doenças metabólicas.

 

A utilização das células do sangue do cordão umbilical para além da utilização nas mais de 80 doenças já descritas, encontra se em estudo em ensaios clínicos (utilização em humanos a título experimental), em doenças como paralisia cerebral, autismo, diabetes tipo 1 e displasia broncopulmonar, entre outras, o que poderá aumentar o leque de aplicações clínicas do sangue do cordão umbilical.

 

Para além das células estaminais hematopoiéticas, há outros tipos de células estaminais, como as mesenquimais, que se encontram no tecido do cordão umbilical, na medula óssea e no tecido adiposo. As células estaminais mesenquimais podem diferenciar-se em cartilagem, osso, músculo e gordura. Para além disso, estas células têm a capacidade de regular a resposta do sistema imunitário e assim aumentar a probabilidade de sucesso dos transplantes, quando utilizadas em conjunto com células estaminais hematopoiéticas.

 

A utilização simultânea das células mesenquimais com células estaminais hematopoiéticas (por exemplo do sangue do cordão umbilical) reduz as complicações associadas aos transplantes alogénicos (em que as células do sistema imunitário do dador podem rejeitar o doente transplantado – doença do enxerto contra hospedeiro). O potencial destas células está actualmente em estudo, com mais de 400 ensaios clínicos a decorrer em doenças como a diabetes, colite ulcerosa, cirrose hepática, cardiomiopatias, esclerose múltipla, lúpus e doença do enxerto contra hospedeiro, entre outras.

 

Muitos destes ensaios clínicos encontram-se ainda numa fase inicial, mas alguns já apresentam resultados preliminares promissores. Considerando todas as fontes de células estaminais, estão actualmente em curso mais de 4.000 ensaios clínicos com células estaminais de várias fontes, e o que se espera é que estes venham a proporcionar, num futuro próximo, opções terapêuticas para muitas doenças actualmente sem tratamento.

 
4. Que tipos de transplantes de células estaminais podem ser feitos? No caso de irmãos, podem usar-se as células estaminais de um irmão no outro?

 

 

As células estaminais podem ter aplicação autóloga (quando são usadas no próprio) ou alogénica (quando dador e receptor são pessoas diferentes). Dentro da utilização alogénica, esta pode ser relacionada, também designada de familiar (quando o dador é familiar do doente, mais frequentemente um irmão), ou não relacionada (quando o dador das células não é familiar do doente).

 

Em caso de transplante autólogo não existe risco de rejeição, pois as amostras são 100% compatíveis com o próprio. Nos transplantes alogénicos, apesar de se usarem amostras compatíveis com os doentes a quem se destinam, há sempre algum risco de rejeição. A utilização de uma amostra de um familiar compatível (preferencialmente de um irmão) é preferível à de um dador não relacionado. O transplante de sangue do cordão umbilical alogénico com amostras de um dador familiar (preferencialmente de um irmão) aumenta o sucesso do transplante, pois é maior a probabilidade de sobrevida e menor probabilidade de doença do enxerto contra hospedeiro, uma complicação grave e frequente dos transplantes alogénicos. Para além disso, é entre irmãos que é mais fácil encontrar um dador com a compatibilidade necessária para o transplante.

 

A probabilidade de compatibilidade total entre irmãos, filhos do mesmo pai e da mesma mãe, é de 25%. Os bancos privados de sangue do cordão umbilical têm carácter familiar, permitindo não só a libertação de amostras para uso autólogo mas também para uso alogénico relacionado, sendo grande parte das amostras libertadas para utilização entre irmãos. O que normalmente dita a escolha entre o recurso a um transplante autólogo ou alogénico é a doença em causa.

 

No âmbito das aplicações actuais na área da hemato-oncologia, existem doenças (e.g. doenças genéticas) para as quais é indicada a utilização de células de um dador compatível e nestes casos recorre-se a um transplante alogénico. As principais indicações para o transplante alogénico são leucemias, hemoglobinopatias e doenças genéticas hematológicas, imunológicas ou metabólicas.

 

No entanto, existem outras aplicações para as quais a abordagem autóloga é a preferencial. Entre as doenças em que mais se recorre a transplantes autólogos encontram-se os linfomas e os tumores sólidos. Para além disso, actualmente estão em curso vários ensaios clínicos que envolvem a utilização autóloga de sangue do cordão umbilical em crianças com paralisia cerebral, autismo, diabetes, entre outras doenças, o que traz enormes perspectivas de aplicação do sangue do cordão umbilical nestas doenças.

 
5. Há garantias de eficácia do tratamento de doenças com células estaminais do sangue do cordão umbilical?

 

 

O primeiro transplante de sangue do cordão umbilical realizou-se em Paris, em 1988, para tratar uma criança com Anemia de Fanconi, tendo sido usadas as células de uma irmã sua compatível. Desde então, o sangue do cordão umbilical tem sido usado em todo o mundo, sendo hoje considerado uma alternativa à medula óssea no tratamento de um leque alargado de doenças do foro hemato-oncológico.

 

Em 2012 foram contabilizados mais de 30.000 transplantes com sangue do cordão umbilical em todo o mundo, cerca de 75% dos quais nos últimos 6 anos, o que evidencia a crescente adopção do sangue do cordão umbilical como alternativa terapêutica nos transplantes hematopoiéticos (transplantes de sangue do cordão umbilical, medula óssea e sangue periférico).

 

Estes dados são demonstrativos dos bons resultados que têm sido conseguidos com esta fonte de células estaminais Os resultados destes transplantes são semelhantes aos que se conseguem com os transplantes de medula óssea, com a vantagem de se registarem menos casos de doença do enxerto contra hospedeiro (uma complicação frequente dos transplantes) e, nos casos em que tal acontece, a gravidade desta doença ser inferior quando se recorre ao sangue do cordão umbilical. Estes são resultados de alguns estudos publicados em revistas científicas da especialidade em que é feita a comparação dos dois tipos de transplantes.

 

Pelo número crescente de transplantes com sangue do cordão umbilical a que temos vindo a assistir, quer em crianças quer em adultos, podemos concluir que se trata de um procedimento eficaz, nomeadamente para o tratamento de doenças do foro hemato oncológico, quando há necessidade de repor a medula óssea. Para além de doenças hematológicas, o sangue do cordão umbilical também é usado no tratamento de algumas doenças metabólicas e encontra-se em estudo em ensaios clínicos noutras doenças, com resultados promissores.

 

Texto: Crioestaminal

 

 

SUSANA KRAUSS

 

GRAVIDEZ

 

 

 

Tratamento de Lesões Desportivas é possível com recurso a Células Estaminais Criopreservadas

28/02/2015

 

A investigação envolveu 55 pacientes com idades compreendidas entre os 18 e 60 anos.

 

 

Um estudo desenvolvido pela American Academy of Orthopaedic Surgeons acaba de concluir que uma única injeção de células estaminais após uma cirurgia ao menisco, pode ajudar a aliviar a dor e a acelerar a regeneração desta cartilagem. A investigação envolveu 55 pacientes com idades compreendidas entre os 18 e 60 anos submetidos a uma intervenção cirúrgica de remoção total ou parcial de um menisco rasgado.

 

Os pacientes foram divididos em três grupos: o grupo A recebeu um dose de 50 milhões de de células estaminais mesenquimais após uma semana da operação; o grupo B recebeu uma dose de 100 milhões; e o Grupo de Controlorecebeu apenas hialuronato de sódio.

 

Os resultados finais demonstraram que o grupo A e B obteve um aumento significativo do volume do menisco durante o primeiro ano mas, em oposição, nenhum dos pacientes do grupo decontrolo chegou sequer ao limiar de 15% no aumento do volume. Os pacientes do grupo A e B que sofriam com osteoartrite também sentiram uma redução na dor, ao contrário do grupo de controlo.

 

“A eficácia da aplicação de células estaminais no tratamento das contusões desportivas mais comuns, como a lesão no menisco, tem vindo a ser comprovada com sucesso ao longo dos anos”, explica Hélder Cruz, diretor da ECBio, empresa que desenvolveu o método de isolamento de células estaminais do tecido do cordão umbilical utilizado pela Cytother.

 

“Estas células estaminais adultas podem ser retiradas da medula óssea, do sangue periférico ou da gordura do próprio paciente mas o processo de colheita é muito invasivo, doloroso e possui um elevado risco de infeção para o dador. Como tal, a criopreservação das células estaminais provenientes do tecido do cordão umbilical dos filhos – um processo completamente não invasivo, indolor e sem qualquer risco para a mãe e para o recém-nascido – começa a ser cada vez mais pensado pelos pais, não só pela prevenção da saúde das suas crianças mas também da família, uma vez que as células estaminais mesenquimais indiferenciadas do bebé são 100% compatíveis com familiares diretos”, acrescenta, em comunicado.

 

A lesão do menisco é uma das lesões desportivas mais comuns, especialmente no futebol, com uma taxa de insucesso de operações que pode chegar até aos 45%, o que implica que, mais tarde, os pacientes tenham de voltara sofrer intervenções cirúrgicas. Mesmo nos casos de sucesso, após várias intervenções cirúrgicas, a capacidade do atleta na prática desportiva pode ainda ficar fortemente debilitada.

 

A aplicação da terapêutica com recurso a células estaminais poderá vir a ser uma opção viável para acelerar a recuperação e evitar paragens prolongadas dos atletas ou, até mesmo, o fim da sua carreira. No futebol português, são vários os atletas que já sofrerasofreram esta lesão: Pedro Mantorras, Nuno Gomes, Pedro Barbosa, entre outros.

 

NUNO NORONHA

 

NOTÍCIAS

 

Por SAPO Saúde

 

 

Lesões no Menisco com Novo Tratamento à base de Células Estaminais

23/02/2015

 

Lesões cerebrais e hemoglobinopatias são outras das aplicações que estão a ser estudadas.

 

Os desportos de contacto são os principais potenciadores de lesões dos meniscos, uma rotura da cartilagem que pode, contudo, verificar-se em atividades do dia a dia em qualquer idade.

 
Este tipo de lesão resulta frequentemente do resultado de um movimento de torção, de um gesto decorrente de uma mudança súbita de direção, de desaceleração ou consequência de um impacto súbito.

 

Nos Estados Unidos da América, um estudo enaltece as vantagens de um novo tratamento à base de células estaminais. Em Portugal, o professor Hélder Cruz, director-geral da empresa de investigação e desenvolvimento em biotecnologia ECBio e investigador da Cytothera, elogia o procedimento e aponta outras utilizações para este tipo de células que, no futuro, podem vir a tratar casos de lesões cerebrais, esclerose, osteoartrite, enfarte, distrofia muscular, doenças oncológicas, doenças autoimunes, hemoglobinopatias, doenças metabólicas, imunodeficiências, deficiências medulares e até ajudar na cicatrização de feridas.

 
As principais conclusões de um estudo divulgado pela American Academy of Orthopaedic Surgeons abrem uma nova esperança para o tratamento das lesões no menisco. O que podemos esperar da implementação prática dessas descobertas e como se irá processar?

 

O estudo divulgado pela American Academy of Orthopaedic Surgeons demonstra que uma única injeção de células estaminais após uma cirurgia pode ajudar a aliviar a dor e acelerar a regeneração do menisco. Na verdade, já diversos estudos comprovam a eficácia da aplicação de células estaminais em problemas na cartilagem e uma das formas mais seguras de garantir uma solução rápida e menos dolorosa, caso aconteça um problema destes no seio familiar, é fazer criopreservação das células estaminais mesenquimais do bebé, pois podem ser utilizadas em familiares diretos sem quaisquer problemas de compatibilidade. A aplicação deste tipo de tratamento pode ser fundamental para acelerar a recuperação e evitar paragens prolongadas de desportistas.

 

O potencial terapêutico das células estaminais no tratamento de lesões desportivas é apenas uma esperança ou já uma realidade com validação científica em mais do que um estudo científico?

 

Existem atualmente diversos estudos que comprovam a eficácia da aplicação de células estaminais criopreservadas em problemas na cartilagem, sendo que esta aplicação terapêutica poderá vir a ser uma opção viável para acelerar a recuperação e evitar, por exemplo, paragens prolongadas de atletas ou, até mesmo, o fim da sua carreira. Vários estudos desenvolvidos, que continuam a ser realizados, comprovam que a aplicação de células estaminais mesenquimais criopreservadas neste tipo de problemas favorece a reparação a nível celular e pode acelerar o processo de cicatrização, fortalecer membros e diminuir a dor local.

 

A forma de recolha e obtenção das células estaminais pode condicionar o êxito do tratamento deste tipo de lesões?

 

Sim, sem dúvida. Estas células estaminais adultas podem ser retiradas da medula óssea, do sangue periférico ou mesmo da gordura do próprio paciente, mas o processo de colheita é muito invasivo, doloroso e possui um elevado risco de infeção para o dador. Já o processo de recolha das células estaminais provenientes do tecido do cordão umbilical (as mais puras e primitivas células) e, a sua posterior criopreservação, é completamente não invasivo, indolor e não representa qualquer risco, quer para a mãe, quer para o recém-nascido.

 

Optando por esta última opção, é necessário que os pais tenham em atenção que nem todas as empresas de criopreservação isolam e multiplicam as células na altura da sua recolha, procedimento que permite que as mesmas fiquem imediatamente disponíveis para utilização em caso de necessidade, evitando assim o risco de o isolamento falhar quando as células são necessárias.

 
O ideal é que os pais optem por fazer a criopreservação das células estaminais do tecido do cordão umbilical numa empresa que realize todo o processo de isolamento e multiplicação das células logo após a recolha, ao invés de apenas recorrerem ao congelamento do cordão. Este congelamento leva a que não seja possível identificar, na altura da recolha, a tipologia de células presente no cordão nem se as mesmas apresentam as condições necessárias para serem multiplicadas e criopreservadas.

 

Sem esta separação de células, é possível que, na altura necessária à sua utilização, os pais descubram que não existem células saudáveis passíveis de serem aplicadas na regeneração dos seus tecidos e não possam recorrer a esta metodologia. Mesmo quando seja possível o isolamento, o tempo de processamento e cultura em laboratório poderá ser precioso. Devem ser as células que aguardam pela utilização no paciente e não o paciente a aguardar pelas células.

 

Outro fator essencial na escolha da empresa de criopreservação é a capacidade de investigação das potencialidades das células estaminais para a constituição de uma terapêutica efetiva, de um medicamento. Na ECBio, patenteámos uma tecnologia de isolamento e de criopreservação das células do tecido do cordão umbilical, designada por células UCX. O nosso objetivo é desenvolver métodos e novas soluções terapêuticas com células estaminais, que permitam diminuir o tempo entre a descoberta e a sua aplicação clínica.

 
Ao fazer a criopreservação das células estaminais do sangue e do tecido na Cytothera, o único banco privado que utiliza a nossa tecnologia patenteada, os pais estão a garantir o acesso futuro a todos os avanços científicos e tratamentos desenvolvidos com a nossa metodologia e que vão, com certeza, ser uma opção viável na minimização de danos futuros na saúde de toda a família.

 
A utilização terapêutica de células estaminais tem vindo a crescer nos últimos anos. Em que novas áreas é que está a ser mais usada e em que outras é que o poderá vir a ser nas próximas décadas?

 

A utilização terapêutica de células estaminais criopreservadas como solução potencial para tratar futuras doenças ou problemas de saúde é cada vez mais uma realidade.

 

É sabido que a criopreservação das células estaminais pode ser aplicável não só ao bebé mas também os próprios pais e os familiares diretos, uma vez que há uma compatibilidade elevada.

 
Hoje em dia as células estaminais são aplicadas não apenas os conhecidos problemas do foro hemato-oncológico, mas também a problemas de saúde relacionados com a regeneração do músculo, do osso e da cartilagem, sobre os quais se têm desenvolvido mais pesquisas e avanços.

 
Outros ensaios clínicos relacionados com lesões cerebrais, esclerose, osteoartrite, enfarte, distrofia muscular, doenças oncológicas, doenças autoimunes, hemoglobinopatias, doenças metabólicas, imunodeficiências, deficiências medulares ou até cicatrização de feridas estão ainda a ser desenvolvidos. A medicina regenerativa atual está a ajudar a combater doenças de formas nunca antes consideradas possíveis, recorrendo a células estaminais criopreservadas para aumentar a qualidade de vida e minorar a deterioração dos órgãos sujeitos ao processo natural do envelhecimento.

 

 

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SAPO – SAÚDE E MEDICINA