Malditas Dores de Cabeça

23/02/2015

 
Não têm cura mas as atitudes e os comportamentos certos permitem controlá-las. Saiba como!

 
São o grande pesadelo de grande parte da população. De mansinho, quase sem dar por isso, a dor vai-se instalando.

 
Ainda tem esperança que seja só um incómodo passageiro e que não seja preciso tomar um comprimido.

 
Erro fatal, a dor começa a dominar a cabeça e dentro de pouco tempo terá dificuldade em concentrar-se no que quer que seja.

 
A culpa, como em tantos outros aspectos, é difícil de atribuir. Pode ter sido aquela refeição mais condimentada, o stress para enfrentar a fila de trânsito ou então um pouco de tudo e de nada. A verdade é que, embora sejam poucos os que se podem gabar de nunca ter tido uma cefaleia (estima-se que 90 por cento da população mundial já teve uma dor de cabeça em alguma altura da vida), a ciência médica ainda não encontrou uma cura para o problema. Mas não desanime, é possível, se não extingui-las, pelo menos minimizá-las. Com a ajuda de Sara Vieira, neurologista no Hospital de São João, no Porto, a saber viver explica-lhe como.

 

 
Doença ou sintoma

 

 
É frequente ouvir-se dizer que as dores de cabeça não são uma doença mas sim um sintoma, o que não corresponde bem à verdade. O facto é que existem cefaleias primárias, que não traduzem outros problemas de saúde, constituindo por si só uma patologia; e existem cefaleias secundárias, que representam um sintoma de doenças do sistema nervoso e de outros órgãos (como por exemplo gripe, hipoglicemia ou pequenos traumatismos cranianos) ou de outras mais graves, como meningites, tumores ou hemorragias por ruptura de aneurismas.

 
«Felizmente, mesmo que tenha um impacto negativo na vida do doente, pela frequência e intensi-dade, a cefaleia só raramente (quatro por cento dos casos) corresponde a lesão grave intracraniana ou a outra doença que implique cuidados médicos céleres», esclarece Sara Vieira, neurologista. Mas atenção, «quando o doente tem recorrentemente episódios de dor de cabeça, que lhe causam desconforto e angústia, interferindo na qualidade da sua vida, deverá recorrer ao médico assistente», aconselha.

 
Sentimentos reprimidos

 
Segundo a Classificação Internacional de Cefaleias, existem mais de 14 tipos de dores de cabeça, divididos, também eles, em mais de 200 manifestações diferentes. Aquelas que mais atingem a população mundial são as denominadas cefaleias de tipo tensão. Como o próprio nome indica, são originadas por situações de stress que contribuem para a acumulação de tensão nos músculos do pescoço, ombros e cabeça.

 
«Geralmente, a pessoa relaciona a dor com a privação de sono, com a omissão de alguma refeição ou do habitual café ou com o stress diário (a pressa em executar tarefas do dia-a-dia, como levar os filhos à escola)», informa Sara Vieira. A dor é moderada sobre os olhos ou a nuca, ou então uma sensação de pressão forte (como uma fita apertada à volta da cabeça), tende a manifestar-se de manhã ou às primeiras horas da tarde e piora ao longo do dia. «Quando é mais frequente ou crónica, pode estar associada a ansiedade ou depressão, que terão de ser tratadas», alerta a médica.

 
Temíveis enxaquecas

 

 

Para além de uma dor forte que surge muitas vezes sem aviso prévio, a enxaqueca faz-se acompanhar de outros sintomas altamente incapacitantes. É comum quem sofre de enxaqueca ter de se refugiar num local calmo e até deitar-se durante umas horas, dada a «associação a intolerância à luz, barulho, certos cheiros, náuseas e/ou vómitos», refere a neurologista. «É mais frequente na mulher, na idade reprodutiva, sabendo-se que há relação com as variações hormonais das diferentes fases do ciclo menstrual», continua Sara Vieira.

 

 
Embora não se conheça o que a origina, sabe-se que resulta da activação dos receptores da dor após a contracção, seguida da dilatação das artérias que irrigam o cérebro. As pessoas com enxaqueca serão mais sensíveis a certos estímulos (ambientais ou do seu próprio organismo). Daí que seja comum falar-se em cefaleia ou dor de cabeça de fim-de-semana ou do orgasmo. No entanto, importa referir que este tipo de dor de cabeça tem um carácter hereditário e só se manifesta em pessoas susceptíveis.

 
Os homens também sofrem

 

 

Versão masculina

 

 
Há uma categoria específica de cefaleias que atinge mais o sexo masculino, as cefaleias em salva.

 
Descritas como o tipo de dor de cabeça mais forte, parecem estar relacionadas com uma disfunção no núcleo do hipotálamo e há estudos que as associam aos distúrbios do sono, como a apneia e o ressonar.

 
Não reagem aos analgésicos comuns, pelo que é importante aconselhar-se com o especialista sobre a melhor forma de proceder.

 
A inalação de oxigénio garante uma melhoria da dor em 90 por cento dos casos, mas é necessário o tratamento preventivo simultâneo com medicamentos apropriados, que pode prolongar-se por dois a quatro meses, ou seja, enquanto durarem as crises.

 
«Embora muitos doentes reconheçam os factores que precipitam ou agravam as cefaleias que têm habitualmente, sejam elas de tipo tensão, enxaquecas ou outras, há situações médicas que contribuem para o aparecimento das mesmas e que devem ser excluídas, como casos de infecções da cavidade oral ou alterações da acuidade visual», revela a neurologista.

 
Hábitos nefastos

 

O estilo de vida tem influência não só na prevenção, como na gestão das crises dos vários tipos de dor de cabeça. Sabe-se que o uso de computadores portáteis pode estimular crises devido à alteração de postura e à consequente sobrecarga ao nível dos músculos do pescoço que esses aparelhos proporcionam. Já os telemóveis, que muitos pensam causarem crises devido às radiações, parecem estar associados a factores desencadeantes psicológicos.

 
O tabagismo é outro aspecto que potencia as dores de cabeça de tensão: um neurologista espanhol constatou que os fumadores têm o dobro da probabilidade de desenvolverem cefaleias, mesmo se só consumirem cinco cigarros por dia. Tentar manter as rotinas também parece ser útil pois, como explica Sara Vieira, «muitas pessoas têm a frustrante cefaleia de fim-de-semana uma vez que, após a semana de trabalho, com pouco tempo para dormir e alimentar-se correctamente, optam por pôr o sono em dia, não tomando o pequeno-almoço e fazendo privação da dose rotineira de cafeína».

 
Sem cura, mas com tratamento

 
A melhor forma de identificar o tipo de dor é através da história clínica do paciente e de um exame neurológico, em que o especialista vai analisar diferentes funções do cérebro (cerebelo, tronco cerebral), medula, raízes e plexos nervosos, placa motora e músculos. Desta forma, o médico conseguirá determinar o tratamento adequado para cada caso específico que, em algumas situações, para além de medidas para actuar durante uma crise, assenta numa estratégia preventiva.

 
No entanto, antes de recorrer ao uso de medicamentos analgésicos que, por vezes, contribuem para agravar o problema, o doente deve «evitar os factores identificados como facilitares ou precipitantes da cefaleia, regularizar os horários de sono e das refeições (não saltar refeições e ter presente que hidratação é importante), realizar actividade física regular (privilegiar as caminhadas, natação e ioga), corrigir posturas incorrectas no local de trabalho, por utilização de mesas e cadeiras desajustadas ou condições de luminosidade insuficientes», aconselha a especialista.

 

 

As dores de cabeça também podem ser estimuladas por alimentos que contêm substâncias vasodilatadoras, como é o caso do vinho tinto, dos ovos, dos produtos lácteos, dos citrinos, da carne, do trigo, da noz e do amendoim, do tomate, da banana, da maçã, do milho, da cebola, do queijo, do morango, do marisco e dos molhos.

 

 

Como identificar se a sua dor de cabeça é uma das mais comuns.

 
Existem mais de 14 tipos de dor de cabeça mas as três principais assumem contornos característicos que as permitem distinguir:

 
Dor de cabeça de tipo tensão

 
Este tipo de dor caracteriza-se por sensação de peso, pressão, aperto ou moinha na zona bilateral, frontal, na nuca ou no topo da cabeça. Surge entre os 20 e os 50 anos.

 

 
Esta deriva frequentemente de factores como o stress e o cansaço e o excesso de trabalho e de esforço muscular pode agravar a dor. Náuseas e fobias à luz ou a ruídos são os sintomas mais comuns. A duração deste tipo de dor pode variar entre algumas horas a dias.

 
Enxaqueca

 
Pode surgir logo na adolescência. A enxaqueca aparece geralmente entre os 15 e os 40 anos e tem história familiar. Caracteriza-se por uma sensação pulsátil unilateral ou bilateral. Existem diversos factores que podem estar na origem desta dor. O stress, a menstruação, o tipo de alimentação, as alterações do ritmo de sono, o tipo de exercício físico praticado ou as mudanças de tempo são alguns exemplos. Movimentos e esforços físicos podem agravar o estado do doente. A frequência deste tipo de dor é variável e pode ir de poucas horas a três dias. Os sintomas mais comuns são as náuseas, os vómitos, a fobia à luz, ao ruído e/ou cheiros.

 
Dor de cabeça em salvas

 

 
Tal como a enxaqueca, a dor de cabeça em salvas caracteriza-se por uma dor pulsátil mas esta actua unilateralmente e num sentido orbital e temporal. Aparece entre os 20 e os 40 anos e não tem história familiar. Este tipo de dor de cabeça decorre somente durante as salvas e pode surgir depois do consumo de álcool. Determinadas épocas do ano como a Primavera e o Outono podem agravar a dor.

 

 
Tem uma duração inferior aos outros tipos de dor de cabeça, durando, geralmente, pouco mais de 30 minutos mas pode ocorrer várias vezes ao dia, durante quatro ou oito semanas. Olhos vermelhos e lacrimejantes, congestão e corrimento nasal, queda da pálpebra do mesmo lado da dor são os principais sintomas.

 

 
Texto: Sandra Diogo com Sara Vieira (neurologista)

 
SABER VIVER

 
SAÚDE E MEDICINA

 

 

 

A DOR – Saiba mais sobre esta experiência sensorial e emocional incómoda

23/02/2015

 

 

Geralmente descrita ou associada a uma lesão, a dor pode ser definida como uma experiência sensorial e emocional desagradável mas, essencial à sobrevivência, pois atua como um alerta que o corpo fornece ao cérebro, impedindo o seu agravamento.

 
Pode apresentar vários graus de intensidade sendo, por vezes, aguda e de rápido desaparecimento, como quando encostamos a mão a um tacho quente; ou inflamatória e com maior durabilidade, de forma a proteger melhor a parte do corpo lesada e permitindo uma melhor recuperação e cicatrização.

 
Tal como a definição sugere, existem outros tipos de dores que se apresentam como sintomas de doenças ou que são provocadas por alterações psicológicas, como a depressão, surgindo na ausência de qualquer responsável direto.

 
Nestes casos em que a dor não é palpável, o indivíduo afetado utiliza exemplos ilustrativos e alusivos ao que sente. Como, por exemplo, uma dor de cabeça muito forte na qual sentimos que “nos estão a espetar alfinetes na cabeça”.

 
A dor crónica, com duração superior a meio ano e vários episódios mensais, surge frequentemente após um incidente traumático. Pode prolongar-se após a cura das lesões e assumir uma proporção psicológica considerável, afetando substancialmente a vida dos indivíduos.

 
Nestes casos, a dor é promovida por alterações provocadas pelo Sistema Nervoso, passando a constituir, efetivamente, uma doença que já nada tem a ver com a lesão inicial que a pode ter provocado. Os doentes conseguem, até, descrever as dores que sentem com o máximo de detalhe, apesar de não serem palpáveis.

 
Contrariamente à dor aguda ou inflamatória, passíveis de tratar com medicamentos analgésicos clássicos, a dor crónica é de difícil controlo, necessitando da ajuda de outras terapêuticas para que fique completamente tratada. O que comprova que este tipo de dor é, mesmo, uma doença.

 
Epidemiologia

 

 

A dor crónica afeta 3 em cada 10 portugueses. Esta é a principal conclusão de um estudo nacional, realizado por um grupo de investigadores da Faculdade de Medicina do Porto, que identificou uma incidência de 30% do problema na população adulta nacional, com intensidade moderada ou grave em aproximadamente metade dos casos, e em que apenas 35% dos casos acreditam que a sua dor está controlada.

 

 
Em média, a percentagem de mulheres afetadas é superior, talvez devido a fatores hormonais ou à elevada incidência de algumas patologias no sexo feminino.

 
Doenças relacionadas com as articulações e dores de costas foram as causas mais identificadas, bem como algumas patologias mais leves (dor de cabeça) e outras mais sérias, como os traumatismos, osteoporose, doenças pós-cirurgia e do Sistema Nervoso e, até mesmo, o cancro nas fases mais avançadas. Independentemente do sexo, a dor crónica aumenta à medida que a idade avança.

 
Logo, devido ao envelhecimento da população e, consequentemente, ao aumento da esperança média de vida, os especialistas preveem, nos próximos anos, um aumento acentuado dos casos de dor crónica.

 

 
Os estilos de vida sedentários, obesidade e prática inexistente de exercício físico foram identificados como os fatores mais preponderantes para o seu aparecimento. A dor crónica apresenta, também, um impacto económico muito elevado.

 

 
A totalidade dos doentes, em Portugal, representa, por ano, cerca de 610 milhões de euros em consultas médicas, 730 milhões em medicamentos e 275 milhões em exames complementares de diagnóstico.

 

 
Sem contabilizar as faltas ao trabalho, as reformas antecipadas e tantos outros fatores que elevam este valor para um gasto de 3.000 milhões de euros por ano.

 

 
Qualidade de Vida

 

 
A dor pode ser mensurada através da sua intensidade, qualidade, impacto ou interferência na vida do doente, com base em escalas internacionais e questionários de qualidade de vida.

 

 
Esta avaliação e atenção permanente são bastante importantes no processo de recuperação do doente pois, além de interferir com as atividades físicas do doente, a dor afeta também o seu equilíbrio psicológico e emocional, qualidade de sono, interações familiares e sociais, entre outras.

 

 
A dor crónica interfere, assim, com as atividades diárias do doente e altera as suas emoções, relações familiares, profissionais e sociais. O impacto identificado pelos especialistas é bastante negativo e significativo na qualidade de vida das pessoas.

 

 

A constatação da existência de uma diminuição da qualidade de vida nestes doentes é apoiada pelos resultados do estudo anteriormente mencionado, no qual quase 50% das pessoas com dor crónica afirmaram que esta interferia de forma moderada ou grave nas atividades domésticas e laborais.

 

 
Além disso, 4% dos indivíduos afirmaram que perderam o emprego e 13% pediram a reforma antecipada devido à intensidade e prevalência da dor.

 

 
Em 17% dos indivíduos com dor crónica foi ainda diagnosticada depressão e mais de 20% garantiram que não conseguiam desfrutar do prazer da vida, na maior parte do tempo ou sempre.

 

 
Sabia que…

 

 
– A dor não é apenas uma sensação, mas sim um fenómeno complexo que envolve emoções e outros componentes que lhe estão associados;

 
– Os gastos anuais da dor crónica equivalem ao custo de 7 submarinos iguais aos dois que o Estado Português adquiriu recentemente à empresa alemã Man Ferrostaal;

 

 
– A dor é a queixa mais prevalente na consulta médica;

 

 
– A dor crónica afeta cerca de 30% da população portuguesa;

 

 
– O tratamento da dor deve ser feito nos cuidados de saúde primários, ou seja, através dos médicos de família, mas não somente. A sua diversidade e complexidade têm vindo a exigir, cada vez mais, resposta especializada, com diferentes especialistas envolvidos no diagnóstico e tratamento e, frequentemente, intervenção multidisciplinar.

 

 
Diagnóstico

 

 

A dor crónica diferencia-se facilmente de outros tipos de dor por ser “personalizada”, ou seja, cada caso é um caso e cada pessoa a descreve à sua maneira.

 

 
Apesar de surgir, frequentemente, no seguimento de uma doença anterior, quando é sentida pelo indivíduo, a sua suposta causa já foi tratada, fator que dificulta a associação a uma origem e a identificação nos exames físicos. Como tal, o diagnóstico deste tipo de dor é feito através de um historial clínico do doente e de exames clínicos complementares, acompanhados por uma avaliação psicológica.

 

 
História Clínica

 

 

Através do historial clínico, o médico avalia outras doenças ou problemas de saúde ocorridos anteriormente e que possam estar relacionados com a dor ou interferir nas opções de tratamento (diabetes, asma, insuficiência renal, cirurgias prévias, entre outros). Nesta primeira fase, são considerados aspetos como início e duração da dor, localização, padrão temporal, características, sintomas, intensidade, fatores de alívio/agravamento e tratamentos realizados.

 

 
Exame Físico

 

 
No exame físico, o médico começa por realizar uma observação física geral ao doente e, de seguida, concentra-se na zona de dor referida na história clínica. No local dorido, o especialista avalia aspetos como a coloração da pele, sensibilidade, capacidade motora, amplitude de movimentos e postura, entre outros.

 

 
Avaliação Psicológica

 

 

Pretende avaliar os fatores que influenciam a experiência dolorosa do doente, bem como o impacto da dor na sua saúde mental. Deve ser realizada de forma multidisciplinar, na qual o doente é observado por vários profissionais e, através de uma entrevista, que pode ser complementada com alguns questionários específicos.

 

 

Exames Complementares

 

 

Para completar a avaliação do doente, o médico pode necessitar de realizar uma investigação mais detalhada com o auxílio de exames complementares (análises ao sangue, urina ou fezes, radiografias, ecografias, TAC, RMN, EMG, EEG, entre outros).

 

 
Farmacologia

 

 

Quando a dor é aguda, pode ser recomendada a utilização isolada de analgésicos. Mas, no caso da dor crónica, a abordagem tem de ser multimodal, ou seja, utilizam-se vários medicamentos em doses mais baixas, associados a tratamentos não medicamentosos. O mais utilizado é o paracetamol, tanto a nível de analgésico como complemento anterior/posterior a uma intervenção cirúrgica.

 

 
A dor crónica é frequentemente acompanhada por períodos de ansiedade, depressão e perturbações do sono, sendo muitas vezes necessário complementar o tratamento com medicamentos para esse fim. Para alguns tipos de dor que envolvem a contração excessiva e desadequada dos músculos, pode ser necessário acrescentar medicamentos relaxantes musculares ou a aplicação de pomadas constituídas por pentosano polissufato de sódio nas dores localizadas.

 

 
Tratamento

 

 

Tratamento Físico e de Reabilitação

 

 

O exercício terapêutico utiliza movimentos, posturas ou atividades com o objetivo de melhorar ou prevenir deficiências, aumentar a funcionalidade e a resistência, proporcionando uma maior sensação de bem-estar.

 

 

Pode ser complementado com tratamentos com agentes físicos e técnicas manuais de forma a melhorar o controlo da dor, otimizar a flexibilidade, força e resistência do doente. A hidroterapia, crioterapia, estimulação elétrica, massagem terapêutica e o tratamento a laser são algumas das terapêuticas complementares.

 

 

Tratamento Cognitivo-Comportamental

 

 

Baseia-se na ideia de que as crenças e expectativas do indivíduo, assim como os seus pensamentos, têm um impacto adverso no humor, no comportamento e, consequentemente, na dor.

 

 

No tratamento cognitivo, o doente é encorajado a identificar os pensamentos disfuncionais e o papel que estes desempenham no seu comportamento e estado emocional.

 

 
O objetivo é identificar a alteração de comportamentos não produtivos, reduzir a angústia emocional e desenvolver estratégias para enfrentar a situação.

 

 

A terapia comportamental pretende recuperar o doente para a vida ativa, através da adoção de estratégias comportamentais que permitam uma adaptação às eventuais limitações que o doente apresente. Visa, ainda, diminuir os comportamentos de dor que o doente adota como forma de comunicar a sua dor e angústia.

 

 
Técnicas Invasivas

 

 

Em alguns doentes é necessário realizar técnicas invasivas para um melhor controlo da dor. Este tipo de tratamento envolve riscos e deve ser sempre ponderado, em conjunto, pelo médico e doente.

 

 
Ozonoterapia, bloqueio de nervos periféricos, bloqueio neurolítico, toxina botulínica, cifoplastia e a neuromodulação são algumas das técnicas utilizadas.

 

 

Medicinas Alternativas

 

 

A hipnose, a acupuntura e a fitoterapia são algumas medicinas alternativas mais usadas, como complemento farmacológico no tratamento da dor crónica. A acupuntura é o mais recorrente.

 

 
Tipos de Dor

 

 

Dor de Cabeça

 

 

A dor de cabeça (cefaleia) é uma das formas de dor mais frequentes e com maior incidência, afetando mais mulheres do que homens. Pode ser classificada como primária, a mais frequente, ou secundária. Quando não é identificada uma doença que a justifique, a cefaleia é considerada primária, podendo subdividir-se em três grandes grupos: enxaqueca, cefaleia de tensão e cefaleia em salva.

 

 
De todas, a cefaleia de tensão é a mais frequente. A cefaleia secundária caracteriza-se como uma manifestação de outras doenças, sendo a sua classificação baseada na patologia que a origina. Pode surgir, também, devido à utilização/privação de uma substância como analgésicos, álcool, cafeína e algumas drogas ilegais, entre outros.

 

 
Enxaqueca

 

 

A enxaqueca é o tipo de dor de cabeça mais frequente a nível mundial e com grande impacto no doente e na sociedade, afetando os doentes na idade profissionalmente mais produtiva.

 

 
A maioria (60-70%) dos afetados são mulheres com idade inferior a 30 anos, embora também possa ocorrer durante a infância. As causas que levam ao aparecimento das enxaquecas ainda não estão totalmente delineadas, mas, parece existir uma componente genética associada.

 

 

As crises podem ser despoletadas pela utilização de contracetivos hormonais, alterações nos hábitos de sono ou ingestão de alguns alimentos como o chocolate. Quem sofre de enxaqueca tem, ainda, uma maior probabilidade de contrair trombose, epilepsia, ansiedade, depressão e perturbação de pânico.

 

 
O tratamento da enxaqueca apenas controla os sintomas e alivia a dor nos doentes, de forma a otimizar a sua vida diária. Deve ser iniciado com a alteração dos hábitos alimentares e através da adoção de um estilo de vida mais saudável que permita a prática regular de exercício físico associado a uma ingestão moderada de certos alimentos, álcool e cafeína.

 
O tratamento preventivo individualizados e dependem das particularidades da enxaqueca, assim como, de outras doenças que cada doente possa ter.

 
Dor Orofacial

 
A dor orofacial tem origem nas estruturas orais e é, muitas vezes, acompanhada por períodos de dor facial. Afeta entre 17 a 26% da população mas, somente, 7 a 11% é crónica, sendo que a maioria dos doentes apresenta doenças com origem nos dentes ou gengivas.

 

 
Dor de Dentes

 

 
A dor de dentes (odontalgia) tem múltiplas formas de apresentação: espontânea ou provocada, aguda ou latejante, intermitente ou contínua, de intensidade ligeira a intensa. As causas mais comuns são as alterações de temperatura, o toque ou fratura de um dente danificado, a pulpite (inflamação na polpa do dente) ou cárie, sendo esta última a mais recorrente. A fratura de dentes é mais frequente com o avançar da idade, especialmente quando se realizam restaurações muito extensas no dente ou quando o doente tem por hábito “ranger” os dentes. Porque ocorre muito frequentemente e tem sintomas muito variáveis, qualquer dor que surja na boca e face deve ser considerada, em primeiro lugar, como sendo de origem dentária.

 
Dor de Garganta

 

 

A dor de garganta (odinofagia) é uma dor presente na cavidade oral ou faringe, que pode surgir em repouso, na mastigação e na deglutição, com algumas características diferentes consoante o fenómeno que lhe dá origem. Pode ser causada por doenças infeciosas, inflamatórias, tumores, glândulas salivares, entre outros fatores. De salientar que a patologia interfere com funções vitais para o doente – alimentação, fala, respiração – pelo que o controlo das queixas dolorosas é importante para a qualidade de vida.

 

 
Dor de Ouvidos

 

 

A dor de ouvidos (otalgia) é um problema comum que pode surgir em todas as idades, sendo muito frequente nas crianças. Costuma ser descrita como uma dor de facada ou como uma sensação de pressão/peso e pode ser aguda ou crónica, consoante a sua duração, e ter intensidades diferentes (ligeira, moderada ou intensa). Normalmente, é causada por uma lesão, uma doença localizada diretamente no ouvido ou uma dor no ouvido, mas com origem noutros locais do organismo.

 

 
Dor Torácica

 

 

A Dor Torácica tem uma causa Intratorácica quando a sua origem reside nos órgãos que se encontram no interior do tórax – coração, pulmões, esófago. É o caso da Angina do Peito, Pneumonia, Esofagite e Hérnia do Hiate. A causa é extratorácica quando surge nos ossos, músculos, nervos, pele ou órgãos que se localizam fora da caixa torácica (os órgãos abdominais, por exemplo).

 

 
Dor Abdominal

 

 

A dor abdominal é tão comum em crianças como em adultos e pode ter uma origem abdominal ou extra-abdominal, bem como uma recorrência aguda (não recorrente) ou crónica (constante ou recorrente durante mais de 3 meses). As causas inflamatórias, neoplasias, funcionais e infeciosas são as mais frequentes na dor abdominal crónica. No entanto, a sua distinção através dos sintomas é bastante difícil de realizar, motivo pelo qual é sempre necessário realizar alguns exames.

 

 
Dor na Osteoartrose

 

 

Caracterizada por rigidez, limitação de movimentos e deformações, a dor na osteoartrose surge com o movimento e vai-se agravando continuada e repetidamente, com uma maior intensidade no final do dia. Regra geral, estes doentes não têm dor durante a noite, embora, em casos mais avançados, possa surgir algum incómodo noturno. Pode ser primária ou secundária e a causa permanece desconhecida, apesar de especialistas considerarem que existem várias (fatores mecânicos, hereditários, hormonais, metabólicos, entre outros).

 

 

A Osteoartrose é extremamente prevalente na população em geral e, de forma igual, nos dois sexos, embora após os 50 anos exista um ligeiro predomínio no sexo feminino. A frequência aumenta com o avançar da idade. 90% dos indivíduos possuem a patologia após os 60 anos de idade.

 

 

Dor Lombar e Ciática

 

 

A Dor Lombar, a mais frequente após uma constipação, constitui uma importante causa de incapacidade e absentismo laboral. Tem uma maior incidência em indivíduos entre os 30 e os 50 anos de idade e está associada a diversos fatores individuais e profissionais, podendo instalar-se subitamente ou progressivamente e de forma limitada ou difusa, irradiando à distância. Podem surgir episódios de curta duração, agudos e muito dolorosos.

 

 

Na Ciatalgia, a dor estende-se para além da coluna lombar, irradia ao longo da face posterior ou póstero-externa do membro inferior, no trajeto do nervo ciático, acompanhando-se frequentemente de uma sensação de “formigueiro”, “adormecimento” ou “queimadura”. Agrava-se com o esforço realizado para tossir, espirrar, rir ou evacuar.

 

 

Dor Muscular

 

 

A dor muscular é uma síndrome caracterizada por dor articular e muscular generalizada e difusa, com tendência migratória e aparente ritmo inflamatório. A dor agrava-se com os esforços e vem acompanhada por fadiga e outros sintomas. Atinge cerca de 2% da população, predominantemente no sexo feminino e é de causa desconhecida, apesar dos vários fatores possíveis de a desencadear. Estes doentes podem, ainda, apresentar outros sintomas como encefalias, ansiedade, depressão, entre outros.

 

 
Dor associada à Artrite Reumatoide

 

 

A Artrite Reumatoide é uma doença inflamatória crónica de causa desconhecida que, apesar de poder atingir qualquer órgão, envolve predominantemente as articulações. É 3 a 4 vezes mais comum no sexo feminino e surge, mais frequentemente, entre os 30 e 50 anos de idade.

 

 

Na maioria dos doentes, inicia-se de modo lento e progressivo, envolvendo as pequenas articulações das mãos e pés. No entanto, o processo inflamatório pode resultar na destruição completa da articulação. A própria dor é articular e tem um ritmo inflamatório: surge com o repouso, piora logo pela manhã e vai melhorando ao longo do dia através da utilização das articulações.

 

 
Dor Nevrálgica

 

 

A dor nevrálgica é um tipo de dor neuropática que ocorre por lesão ou disfunção do nervo. Pode surgir em variadas localizações e recebe, frequentemente, o nome do nervo responsável pela dor.

 

 
Dor Menstrual

 

 

A dor menstrual (dismenorreia) é uma dor muito frequente que acompanha a menstruação. Embora vista por muitos como uma situação normal, o grau de interferência com as atividades diárias é variável, sendo uma doença que gera um grande absentismo escolar e profissional, especialmente em mulheres jovens. Estima-se que afete cerca 20 a 90% das mulheres, com um grande impacto social e económico.

 

 

Pode ser primária (funcional) ou secundária. A dor menstrual primária não está associada a qualquer outra doença e parece derivar do excesso de produção de substâncias que provocam contrações fortes e dolorosas do útero. Quando muito intensa, pode acompanhar-se de náusea, vómitos e/ou diarreia. É frequente em adolescentes e pode desaparecer ou melhorar com a idade e/ou gravidez.

 

 
Quando a dor menstrual é secundária faz-se acompanhar por outros sintomas, como a perda de sangue fora da menstruação e dor durante o ato sexual, entre outras. O hímen imperfurado, o aperto do colo do útero, a endometriose, os problemas inflamatórios pélvicos e a presença de dispositivos intra uterinos são alguns exemplos de doenças que se associam a dismenorreia secundária.

 

 

Dor oncológica

 

 

 

A dor oncológica ou neoplasia pode apresentar-se, clinicamente, de inúmeras formas, nomeadamente dispepsia, náusea, sintomas urinários, intestinais, fraqueza, perda de peso e dor, entre outros sintomas. Surge em qualquer idade, sendo que cerca de 30% dos doentes com tumores apresenta dor desde a fase inicial da doença até ao final.

 

 

Percentagem que vai aumentando com a progressão da doença, alcançando 75% a 90% em estádios avançados. As principais causas de dor em doentes oncológicos estão relacionadas com tumores e outros sintomas associados, intervenções diagnósticas e terapêuticas, imunodepressão ou com uma patologia pré-existente ou coexistente.

 

 

A dor associada aos tumores pode ser circunscrita a várias localizações ou disseminada, com maior intensidade, nos tumores não tratados ou que não respondem ao tratamento. A dor oncológica afeta negativamente a atividade física do doente, a interação social e familiar, vontade de viver e qualidade de vida. Causa, também, um profundo sofrimento no doente e seus cuidadores, pelo que o alívio da dor é um dever ético e humanitário.

 

 

Cerca de 86% dos doentes oncológicos apresentam mais do que uma dor enquanto 36% têm quatro ou mais. A dor está diretamente relacionada com o tipo de neoplasia e estadio do mesmo, havendo tumores que metastizam em fases precoces (exemplo do pâncreas e do colo do útero) enquanto outros apresentam uma evolução mais lenta, insidiosa.

 

 

Como tal, o doente deve ser avaliado de forma holística – física, psicológica, social e espiritual -, tendo em conta a sua doença e progressão, de forma a construir um plano terapêutico adaptado a cada indivíduo.

 

 

Dor na criança

 

 

Muitas vezes pouco reconhecida e valorizada, levando a que o seu tratamento não seja tão adequado quanto desejável, a incidência estimada da dor crónica na criança é de 10 a 15%. No entanto, este valor pode não refletir a realidade devido aos fatores que contribuem para esta subvalorização e subtratamento: a dificuldade de comunicação inerente a este grupo etário, que dificulta a avaliação da dor e a crença por parte dos profissionais de saúde que as crianças sentem menos dor, e pela imaturidade do seu sistema nervoso.

 

 
Atualmente, é reconhecido que os recém-nascidos e as crianças têm dor e que guardam memória da mesma, influenciando a forma como vão lidar com futuras experiências de dor e stress ao longo da vida. A dor crónica não tratada provoca alterações no estilo de vida da criança refletindo-se, por vezes, num fraco aproveitamento escolar ou numa incapacidade de socialização.

 

 

Além disso, ao contrário do que se supunha, os recém-nascidos, devido a uma resposta inflamatória mais intensa associada a mecanismos neurológicos de inibição menos desenvolvidos, têm níveis de dor que são superiores aos dos adultos.

 

 
A avaliação da dor em recém-nascidos e crianças baseia-se em escalas observacionais (baseadas no comportamento: choro, expressão facial, movimento), uma vez que, até determinada faixa etária, não existe capacidade de verbalização que permita caracterizar a dor.

 

 
A dor musculoesquelética (dor nos músculos e ossos), as cefaleias (dor de cabeça), a dor abdominal crónica, a drepanocitose (anemia das células falciformes), e as neoplasias (tumores) são as principais causas de dor neste grupo etário.

 

 
Fotografia: ©luxora1 – Fotolia.com

 

 

Agradecimentos: Bene farmacêutica; Website científico “Conhecer a Dor”

 

 

ESTÉTICA VIVA

 

 

SAÚDE E MEDICINA

 

 

 

Dor Periférica Neuropática

21/01/2015

 
Uma doença onde a parte físia e emocional são indissociáveis.

 
Este tipo de dor é causada por uma lesão, ou alteração do funcionamento normal dos nervos periféricos, que transmitem sensações de dor ao cérebro, como sensação de queimadura, formigueiro ou picadas.

 

 

Entrevistámos a coordenadora da Unidade da Dor, do Hospital Amadora Sintra, Georgina Coucelo, que nos dá a conhecer os sintomas, o diagnóstico as formas de tratamento para esta doença, em Portugal.

 

 

Quais são os sintomas e como se diagnostica?

 

 

«Os descritores mais comuns de dor neuropática periférica são um pouco bizarros e, muitas vezes, os doentes, não sabem que o que sentem é um tipo de dor. A sua dor é real e tem um nome foi o slogan encontrado para transmitir aos doentes que sensações como queimadura, formigueiro, picadas, dormência, comichão e choque eléctrico no território atingido são sintomas de dor neuropática», explica Georgina Coucelo.

 

 
«Daí que o médico tenha de fazer uma abordagem dirigida para a procura destas queixas. O diagnóstico além de ser feito por o doente apresentar doenças que se acompanham de dor neuropática periférica é completado por um exame do doente em que se podem identificar alterações da sensibilidade nos territórios afectados. Exemplos de doenças são as neuropatias dolorosas, como a diabetes, ciática, neuropatias pós-cirurgias ou traumatismos, a infecção por herpes zoster, conhecida por zona, e sequelas de alguns medicamentos de quimioterapia e radioterapia usados no tratamento do cancro», refere a especialista.

 

 

Quem afecta?

 

 
«Atinge igualmente homens e mulheres, embora haja grupos de risco: alguns portadores de doenças crónicas, os idosos, e doentes com imunidade diminuída devido a doença ou tratamentos. Em Portugal, por extrapolacção da avaliação de outros países, surge em cerca de 7 a 8%, dos doentes com dor crónica», esclarece.

 

 

Qual o peso da mente na dor?

 

 

Segundo a especialista, «o que acontece é que a dor persistente pelo mal-estar e sofrimento que provoca leva a que muitos dos doentes fiquem limitados nas suas actividades, se isolem, se tornem ansiosos e deprimidos e com alterações do sono. Nestes casos, os doentes estão mais fragilizados e as queixas são mais exuberantes. Por isso temos a preocupação de avaliar a parte física e emocional como um todo, pois são indissociáveis no adoecer».

 

 

Como se trata?

 

 

«A dor neuropática tem como tratamento de primeira linha medicamentos do grupo dos antidepressivos e antiepilépticos, a que se associam os analgésicos, consoante necessário a cada doente. Contudo, estes medicamentos, pelos seus efeitos secundários, nem sempre podem ser utilizados com segurança, particularmente nos idosos. Recentemente, surgiram fármacos, absorvidos através da pele, incorporados em adesivos, que actuam no local afectado, e são praticamente isentos de efeitos secundários indesejáveis. Um deles contém um anestésico local e pode ser usado em ambulatório», salienta.

 

 
«No último ano e reservado a uso hospitalar, reformulou-se um medicamento, derivado do piri-piri, a capsaícina a 8%, que se tem revelado muito útil no tratamento de alguns tipos de dor neuropática periférica. Na maior parte dos doentes em que utilizámos este tratamento houve significativa redução da dor; alguns pararam a medicação que faziam e muitos reduziram-na significativamente, pelo que se tem revelado um tratamento muito promissor», conclui.

 

 
PREVENIR – SAÚDE E MEDICINA

 

 
Texto: Joana Martinho com Georgina Coucelo (coordenadora da Unidade da Dor do Hospital Amadora-Sintra)

 

 

 

 

O Papel da Anestesiologia na Dor Crónica

21/01/2015

 

Especialidade indispensável.

 

 

A anestesia nasceu com o intuito de abolir a consciência das pessoas, de forma a permitir certos procedimentos cirúrgicos. Os primórdios da Anestesiologia dizem respeito às extracções dentárias, pela necessidade das pessoas tolerarem o procedimento sem acusarem a dor provocada pelo mesmo.

 

 

 

“Com o desenvolvimento da especialidade, rapidamente chegámos à conclusão de que não bastava induzir inconsciência nos doentes. Era preciso muito mais do que isso”, afirma o Dr. José Caseiro, responsável pela Unidade de Dor Crónica do Hospital dos Lusíadas. Mesmo com as pessoas inconscientes, há uma agressão que o organismo reconhece e contra a qual deverá ser salvaguardado.

 

 

“Ao anestesista compete a escolha da forma e dos medicamentos com que induz a inconsciência e com que protege o organismo, num processo que as pessoas identificam como sono”, indica o especialista. “Desenvolvemos competências na produção de inconsciência, na ventilação artificial, no combate à dor e na emergência médica – temos capacidade de entubar rapidamente um doente, de o ventilar, de iniciar suporte básico e avançado de vida em doentes precisam de respostas.”

 

 

Foi a problemática da dor que levou ao início da Especialidade. “O que sempre esteve em causa no imaginário das pessoas ao serem anestesiadas foi realmente a ausência de dor”, indica José Caseiro. Esta é, ainda hoje, a força motriz da Anestesiologia.

 

 

Dor cirúrgica vs dor crónica

 

 

A dor cirúrgica é a mais esperável e também a que mais receio provoca nos doentes. “É o único tipo de dor que nos permite saber na véspera que vai acontecer no dia seguinte. É um exemplo clássico de dor aguda”. Mas a dor que persiste, a dor crónica, também interessa aos anestesistas. “A dor crónica pode ser de diferentes tipos e tem várias formas de se manifestar, pelo que deve ser abordada como um todo e de forma multidisciplinar”, salienta José Caseiro.

 

 

A dor aguda é mais simples de compreender. “Pode resultar de uma cirurgia, de uma pancada, de uma queimadura, de uma picadela. Tem uma causa bem esclarecida e tende a desaparecer depois de tratada a causa.”

 

 
Ao contrário da dor aguda que traduz sempre um sintoma, a dor crónica é considerada uma doença. “Neste caso, existe uma dificuldade de identificação temporal ou causal pelo doente. Muitas vezes, os doentes não sabem como e quando teve origem.” Segundo José Caseiro, os doentes com este tipo de dor, “deprimem facilmente, apresentam perturbações do sono, situações de ansiedade e fadiga extremamente difíceis de controlar”. Por tudo isto, a sociedade não está preparada para aceitar estes doentes.

 

 

“No meu entendimento, seja na dor aguda, seja na dor crónica, é mais importante a estratégia do que o próprio medicamento que escolhemos. Adoptamos, por isso, estratégias multimodais – o que significa a utilização de práticas não medicamentosas e de medicamentos de grupos diferentes – que permitem contributos somados para o objectivo de aliviar o doente”, salienta José Caseiro.

 

 

O papel do anestesista

 

 

Qualquer anestesista é perito no controlo da dor aguda. Já na dor crónica, não existe um especialista de referência. São várias as especialidades que concorrem para o tratamento da dor crónica e que nela podem intervir. Ainda assim, “o anestesista é elemento de referência pela preparação que traz da sua especialidade no combate a todas as formas de dor, inclusive no treino que adquire na utilização de estratégias multimodais que combinam diferentes medicamentos para poder aliviar o sofrimento dos doentes”, salienta o responsável da Unidade de Tratamento da Dor do Hospital dos Lusíadas.

 

 

O anestesiologista tem assim um papel muito importante na dor crónica “não só porque tradicionalmente tem ocupado esse lugar mas porque tem o domínio dos fármacos usados para tratar a dor crónica, como sejam os opióides”. Apesar do ensino das técnicas de intervenção em dor não estarem globalmente inseridas no programa da especialidade, os anestesistas aprendem técnicas que são úteis na abordagem da dor e que facilitam a aprendizagem de outras mais utilizadas em dor crónica com métodos minimamente invasivos”, afirma Armando Barbosa, anestesista e clínico da Unidade de Dor do Hospital dos Lusíadas.

 

 

Nos últimos anos, a anestesia regional tem evoluído bastante. Relativamente à anestesia geral, a loco-regional implica menos complicações, maior facilidade de controlo da dor aguda no pós-operatório, além do custo económico ser muito inferior.

 

 

Como intervir na dor crónica?

 

 

 

As modalidades de intervenção na dor são fundamentais pois permitem “reduzir de forma substancial a dor melhorando a qualidade de vida em doentes com dor crónica”, indica o Dr. Armando Barbosa do Hospital dos Lusíadas. As técnicas terapêuticas surgem na sequência do diagnóstico e tem como objectivo tratar a dor de uma forma mais efectiva. As mais usadas, segundo Armando Barbosa, são as seguintes:

 

 

– A Radiofrequência que consiste em inactivar o nervo que enerva a zona que está a provocar a dor. Usada na dor lombar ou cervical.

 

 

– A Ozonoterapia que consiste em injectar ozono através de uma agulha na zona afectada e que tem propriedades analgésicas e anti-inflamatórias. Recentemente redescoberta no mundo ocidental como técnica para tratar alguns tipos de hérnias discais e artroses das articulações do joelho, anca e ombros.

 

 

 

– A Neuroestimulação é usada para o alívio da dor neuropática, uma dor tipo queimadura e ardor. Consiste na colocação de uns eléctrodos por via epidural, via que se utiliza para a grávida, que depois se ligam a um estimulador que fica implantado no doente, tal como um pacemaker.

 

 

Sente algum tipo de dor?

 

 

– “Não existe lugar para heroísmos. Se sente algum tipo de dor persistente, deve procurar ajuda no seu Médico de Família que, posteriormente, o referenciará a uma Unidade de Dor, se for o caso”, recomenda José Caseiro.

 

 

– Não consuma analgésicos por sua iniciativa. Só por recomendação do médico.

 

 

– “A dor oncológica está longe de ser a dor que mais dificuldade nos oferece. Dentro da dor não oncológica, particularmente a dor neuropática é das que mais dificuldades oferece aos profissionais de saúde e aos doentes que a sentem na pele”, salienta José Caseiro.

 

 

– Leve a sua dor muito a sério e não a ignore.

 

 

Texto: Cláudia Pinto

 

 

 

JORNAL DO CENTRO DE SAÚDE

 
SAÚDE E MEDICINA

 

 

 

Dor Afeta Mais de 60 por cento dos Doentes Oncológicos

19/01/2015

 
A Associação para o Desenvolvimento da Terapia da Dor promove as 22.ª Jornadas da Unidade de Dor do Hospital Garcia de Orta, na Faculdade de Medicina Dentária de Lisboa, no próximo dia 30 de Janeiro. A iniciativa tem como objetivo criar um espaço de informação, debate e discussão de ideias e propostas de melhoria no âmbito do diagnóstico e tratamento da dor crónica e aguda no doente oncológico.

 

 

“A dor oncológica, considerada pela Organização Mundial de Saúde, como uma emergência mundial, pode afetar entre 60 a 80 por cento dos doentes com cancro, nomeadamente na fase mais avançada da doença. Esta dor pode ser causada pelo tratamento instituído para a doença, como a radioterapia e quimioterapia, ou pelo próprio desenvolvimento do tumor”, explica Beatriz Craveiro Lopes, membro da direção da Associação para o Desenvolvimento da Terapia da Dor (ASTOR) e Diretora da Unidade de Dor do Hospital Garcia de Orta.

 

 

E acrescenta: “A dor mais frequente no doente oncológico resulta de uma associação entre uma dor nociceptiva, provocada por uma lesão ou dano tecidular, e uma dor neuropática, originada por lesão ou doença no próprio nervo. Os doentes descrevem esta dor como cortante, latejante, queimadura, formigueiros, picadas ou tipo choque elétrico”.

 

 

Estima-se ainda que mais de 15 por cento dos doentes com cancro sofrem de dor de causa não oncológica, como cefaleias e lombalgias.

 

 

“A dor não tratada causa muito sofrimento, por isso, o doente deve procurar o seu médico em vez de deixar a sua dor prolongar-se, porque o início tardio do tratamento pode comprometer a sua eficácia. Atualmente já existem terapêuticas em Portugal que permitem controlar a dor, e em algumas situações sem necessidade de recorrer a múltiplos medicamentos, reduzindo assim o risco de interações medicamentosas”, conclui Beatriz Craveiro Lopes.

 

 
As interações farmacológicas no tratamento da dor, a acupuntura e a dor aguda no peri-operatório são outros temas em destaque no Convénio da ASTOR.

 

 

No decorrer desta iniciativa será atribuído o prémio “Grünenthal/ASTOR” que irá galardoar trabalhos originais em língua portuguesa sobre aspetos de investigação clínica no âmbito do tratamento da dor.

 

 

 

No dia 29 de janeiro, integrado nesta iniciativa, irá decorrer um curso de Ecografia e Radiofrequência em dor, destinado a médicos de várias especialidades, com o objetivo de formar sobre a aplicação de ecografia e radiofrequência no tratamento da dor.

 

 

 

No dia 30 de janeiro, os participantes podem participar nos cursos formativos sobre dor na criança; cuidados alimentares no doente com dor crónica; ou avaliação psicomotricista dos doentes com dor.

 

 
SAPO NOTÍCIAS

 

 
NUNO NORONHA

 

 

 

Frutos Vermelhos e Peixes Gordos ajudam a aliviar a Dor Oncológica

30/01/2015

 
Os frutos vermelhos e os peixes gordos, como a cavala, o salmão e a sardinha, têm propriedades anti-inflamatórias que “podem aliviar em muito” a dor dos doentes oncológicos ou com doenças neuromusculares, diz a dietista Carla Santos.

 

 

“É importante a pessoa perceber como a alimentação pode ter um alívio muito importante na dor”, adiantou Carla Santos, que falava à Lusa a propósito de um ‘workshop’ de alimentação para doentes com dor, promovido pela Associação para o Desenvolvimento da Terapia da Dor (Astor), que decorre na sexta-feira, na Faculdade de Medicina Dentária de Lisboa.

 

 

A dietista do Hospital Garcia de Orta, em Almada, explicou que há alimentos que, além de minimizar a dor, ajudam a “aliviar a inflamação, drenar líquidos em excesso ou, em associação, ajudar a perder peso”.

 

 

Mas seja para a disfagia, que pode ser oncológica, mecânica ou neurológica, seja para a obesidade, “a alimentação tem de ser sempre apelativa para que seja procurada pelo utente”, sublinhou.

 

 
Com o ‘workshop’, a Astor pretende promover a partilha de conhecimentos, sabores e experiências que ajudam a melhorar a vida dos doentes com dor.

 

 
Beatriz Craveiro Lopes, da direção da Astor e diretora da Unidade de Dor do Hospital Garcia de Orta, acrescentou que estes alimentos “são uma arma terapêutica para ajudar os doentes”.

 

 
“O que se bebe e o que se come tem repercussões na saúde das pessoas”, podendo influenciar para melhor ou para pior o estado da sua doença, “porque há alimentos que podem interferir com a medicação”, disse à Lusa Beatriz Craveiro Lopes.

 

 
A especialista deu como exemplo o caso das pessoas que têm dificuldade em engolir, porque têm uma doença neuromuscular, um cancro do esófago, da laringe, ou problemas na região do pescoço e não podem comer qualquer alimento, sobretudo os sólidos.

 

 
Nestes casos é importante saber os alimentos que deve escolher e como os confecionar para ultrapassar essa dificuldade, explicou Beatriz Craveiro Lopes.

 

 

NOTÍCIAS – LUSA

 

 

NUNO NORONHA

 

 

 

Cientistas da Universidade do Minho desenvolvem nova técnica para remover cálculos renais

30/01/2015

 
As pedras nos rins afetam 1 em cada 200 pessoas, sobretudo homens. Uma equipa da Universidade do Minho desenvolveu uma nova técnica que facilita drasticamente o procedimento cirúrgico para as remover.

 
Investigadores portugueses lideraram uma equipa que criou uma tecnologia capaz de extrair cálculos renais (pedras dos rins) em apenas alguns minutos. Em comunicado, a Universidade do Minho explica que esta tecnologia utiliza um campo eletromagnético para guiar a agulha de punção. Estêvão Lima, professor da Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho, explica que a extração de cálculos renais é um processo que demora atualmente cerca de duas horas e “depende muito quer da experiência do cirurgião quer do uso de radioscopia, que pode ter consequências sérias de radiação no doente e no cirurgião”.

 
Os cálculos (pedras) são removidos através de uma agulha puncionada na região lombar e que guia o procedimento até ao sítio certo no rim. “Mas a técnica que agora criámos é mais rápida, menos invasiva e permite ver no ecrã do computador a rota que a agulha deve seguir”, resume Estêvão Lima, também diretor do serviço de Urologia do Hospital de Braga.

 
O projeto decorre em parceria com o Instituto Politécnico do Cávado e do Ave. A nova tecnologia já foi testada em animais e “espera-se avançar para ensaios nos humanos a partir do próximo ano”, lê-se no comunicado. A pesquisa venceu o 1.º Prémio no Simpósio da Associação Portuguesa de Urologia.

 

 

Foto: Christopher Furlong/Getty Images

 

 

Autor: Pedro Esteves

 

 

 

Nova técnica de terapia celular promete fazer crescer cabelo. Literalmente.

28/01/2015

 
Investigadores estão a desenvolver uma nova técnica de produção e transplante de células capilares. O método já foi testado em cobaias com bons resultados.

 
A queda de cabelo (alopécia) afeta mais de metade dos homens caucasianos em idade adulta.

 
Uma equipa do Sanford-Burnham Medical Research Institute afirma ter resolvido o problema da calvície. Criou uma nova técnica capaz de transformar células estaminais em células capazes de desencadear o crescimento de cabelos. Ao contrário do transplante, que implica “transportar” a raiz do cabelo de um lado para outro, esta nova técnica “fornece uma fonte ilimitada de células do doente e não é limitada pela disponibilidade de folículos capilares existentes”, explica o investigador Alexey Terskikh.

 

 

O cientista diz, também, que as células da papila da derme cultivadas in vitro (em laboratório) não são um método eficaz, uma vez que não conseguem desenvolver-se em quantidade suficiente. O novo processo funciona em cultura celular e também já obteve bons resultados em cobaias. Alexey Terskikh diz que o próximo passo é aplicar o auto-transplante de células da papila — obtidas a partir de células pluripotenciais — em seres humanos, uma técnica que não depende da existência de folículos capilares no couro cabeludo.

 

 

Nova técnica de terapia celular promete fazer crescer cabelo. Literalmente1

 

Demonstração do processo de formação da papila dérmica em laboratório. Os novos pêlos são bem visíveis em cultura celular.

Fonte: Gnedeva et al., 2015 PLoS ONE

 
As células estaminais (stem cells) são células progenitoras capazes de se especializar em qualquer tipo de célula do organismo. Com os estímulos químicos corretos, desenvolvem-se em diferentes tecidos e órgãos. Estas células indiferenciadas encontram-se nos embriões mas também no indivíduo adulto, daí que a capacidade de manipular células que possam depois ser auto-transplantadas seja um investimento de várias equipas em todo o mundo — o auto-transplante anula os processos imunológicos de rejeição.

 
Foto: Getty Images

 
Autor: Pedro Esteves

 

 

 

 

 

 

Liga Portuguesa Contra o Cancro promove Discussão sobre Cancro e Fertilidade

23/01/2015

 
“Oncofertilidade – Uma nova abordagem dos doentes jovens com cancro” é o nome da sessão pública que, a 28 de fevereiro, sábado, no Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra, vai mostrar a importância da prestação do máximo de informação aos doentes oncológicos sobre a possibilidade de preservação da fertilidade e a sua rápida referenciação.

 

 

Uma iniciativa conjunta do Núcleo Regional do Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro, do Centro de Preservação de Fertilidade do CHUC e da Administração Regional de Saúde do Centro que assim lançam um projeto nacional de ampla divulgação da oncofertilidade.

 

 

Trata-se de uma nova área clínica de intervenção multidisciplinar que pretende ir ao encontro das necessidades dos doentes oncológicos, no que diz respeito ao seu potencial reprodutivo, uma temática que tem sido abordada essencialmente nas comunidades científica e académica e que é importante trazer para o quotidiano.

 

 

No espírito da sua missão de divulgar informação sobre o cancro, a Liga Portuguesa Contra o Cancro tem uma campanha em que alerta que “os tratamentos de cancro podem, em certos casos, afetar a fertilidade. As mulheres/homens com cancro devem conhecer o seu risco de infertilidade antes de iniciar tratamentos”.

 

 

 

Em alguns tratamentos de doenças oncológicas existe, por exemplo, a possibilidade de diminuição de óvulos nas mulheres e no caso dos homens a alteração da produção de espermatozóides. A conversa sobre estes e outros possíveis efeitos do cancro na fertilidade deve decorrer na altura do diagnóstico e antes de começarem os tratamentos.

 

 

 

As doenças oncológicas ocorrem em indivíduos cada vez mais jovens e cada vez é mais tardia a decisão de ter filhos. Logo a possibilidade de uma doença oncológica que comprometa o vir a ser mãe ou pai é cada vez maior. Mas há boas notícias: é possível preservar a fertilidade em doentes oncológicos com boas taxas de sucesso e vários dos procedimentos são gratuitos no âmbito do Serviço Nacional de Saúde.

 

 

Grande campanha de informação.

 

 

Todos os profissionais que contactam com doentes oncológicos (sejam médicos ou enfermeiros, psicólogos ou assistentes sociais, entre outros) devem ter conhecimento desta área médica e do encaminhamento que pode e deve ser feito num curto espaço de tempo. O grande objetivo desta sessão pública é precisamente garantir que antes dos doentes iniciarem os tratamentos, conheçam as opções de preservação de fertilidade e sejam referenciados a especialistas em Medicina de Reprodução.

 

 

O encontro vai decorrer na manhã de 28 de fevereiro, sábado, no Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra. Uma intervenção inicial de Ana Teresa Almeida Santos, professora da Faculdade de Medicina de Coimbra e Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução, vai apresentar a oncofertilidade como uma área médica emergente, seguindo-se apresentações sobre os riscos de infertilidade no doente oncológico e as estratégias para apoiar a tomada de decisão da preservação de fertilidade, por Cristina Silva e Cláudia Melo, respetivamente. Todas as palestrantes são elementos do Centro de Preservação da Fertilidade do CHUC.

 

 

NUNO NORONHA

 
NOTÍCIAS

 

 

LIGA PORTUGUESA CONTRA O CANCRO

 

 

 

A água que não vemos, mas consumimos na mesma

15/01/2015

 
E se lhe dissessem que para fabricar uma “motherboard” são usados mais de quatro mil litros de água ultrapura e cerca de 910 litros de água para fabricar um smarthphone?

 

 

Dois terços do planeta Terra são água.

 
Quando abrimos a torneira em casa e vemos a água correr facilmente nos esquecemos que 30% da população mundial vive com escassez de água, e que em África ou na Ásia há pessoas que percorrem mais de seis quilómetros para encontrar água potável. Com um alerta de que em 2025 três em cada cinco pessoas podem viver com falta de água, o livro “Your Water Footprint” (o impacto que cada um de nós tem no planeta em relação à água) pretende mostrar a quantidade que se consome diariamente na América do Norte, e não apenas aquela que se vê.

 
“Um norte-americano consome em média 378 litros [de água] por dia para tomar banho, lavagens [de roupa, ou loiça, por exemplo], cozinhar e limpar”, refere o livro. Mas a isso pode juntar 2.400 litros de água gastos para produzir o cheeseburger que comeu ao almoço e 110 litros para produzir a cerveja (de 33 centilitros) que o acompanhou. Plantar, criar, transformar, transportar, embalar, também consome este bem vital. “Espero que as pessoas entendam o quão importante é a ‘água escondida’”, diz ao Observador Stephen Leahy, autor do livro e jornalista de ambiente.

 

 

 

A água que não vemos, mas consumimos na mesma11

 
O desafio foi-lhe lançado pela editora Firefly Books. Quando fez uma pequena pesquisa sobre o tema apercebeu-se que não há nada que façamos no nosso dia-a-dia que não inclua (ou tenha incluído) gastos de água. “Queria ajudar as pessoas a perceber que apesar de não vermos a água usada para fazer as coisas é tão real e importante como a água que bebemos.” Durante as pesquisas descobriu que o termo “water footprint” (“pégada de água”) tinha sido criado há já 20 anos por Arjen Hoekstra, professor em Gestão de Água na Universidade de Twente, na Holanda.

 
O maior consumidor de água é a produção de alimentos, em particular a produção animal, um dos assuntos abordados no documentário Cowspiracy. O autor diz que os números de consumo de água usados no documentário são muito semelhantes àqueles a que chegou no livro, mas admite que existem várias fórmulas diferentes e teve de procurar a fonte mais fidedigna. No livro ressalva que muitos dos valores estão adaptados à realidade norte-americana (Canadá, de onde é natural, e Estados Unidos) e explica o que entende por consumo de água – “a água usada que não é devolvida numa localização acessível para ser reutilizada”, ou seja, que fica poluída ou que evaporando vai cair num local distante.

 

 

A água que não vemos, mas consumimos na mesma2

 

 

 

“A Terra tem a mesma quantidade de água doce que tinha no tempo dos dinossauros”, lê-se no livro. “A diferença é que a maior parte da nossa água doce está congelada nas calotes polares ou na Gronelândia. A outra diferença é que encontrámos inúmeras utilizações para a água com as quais os dinossauros nunca sonharam.”

 

 
Apesar de muitos dos valores de consumo estarem adaptados à realidade norte-americana o problema da escassez de água é mundial – se toda a água do mundo coubesse num garrafão de cinco litros, a quantidade de água potável disponível seria menos que uma colher de chá -, logo cabe a cada um fazer a sua parte na poupança da água.

 

 

A água que não vemos, mas consumimos na mesma3

 

 

Existem regras básicas como tomar duches mais rápidos, não lavar os dentes, os legumes, a loiça, o carro ou fazer a barba com água corrente (de torneira aberta), mas o livro, disponível na Amazon, deixa muitas outras sugestões, das quais recuperamos algumas:

 
• Se tiver um autoclismo antigo que gasta cerca de 20 litros troque-o por um que gaste cinco vezes menos.

 
• Puxe o autoclismo só quando necessário e não só porque tem um cabelo na parede do vaso sanitário. Lembre-se que mesmo os pequenos lixos, como a mosca que acabou de matar, devem ir para o caixote e não para a sanita.

 
• Garanta que nenhuma torneira da casa está a pingar – um pingo por segundo pode significar 10 mil litros gastos por ano – e que o autoclismo não tem nenhuma fuga.
• Não precisa de passar a loiça por água antes de a pôr na máquina de lavar e use a máquina apenas quando estiver cheia.

 
• Se não tiver uma máquina de lavar roupa que adapte a quantidade de água à quantidade de roupa, use-a apenas quando estiver cheia.

 
• Para poupar água no jardim mantenha plantas que exijam pouca água, recolha água da chuva para regar, deixe a relva com 10 centímetros para reter melhor a água ou cubra o solo expostos com desperdícios vegetais para reduzir as perdas de água por evaporação.

 
• Beba água da torneira. Produzir garrafas de plástico e transportá-las até ao ponto de venda também consome água.

 

 

 
Foto: Federico Parra/Afp/Getty Images

 

 

 

Autoria: Vera Novais