“As compras de obrigações portuguesas pelo Banco Central Europeu não vão durar para sempre”, admitiu uma fonte de um grande investidor institucional mundial.
Grandes investidores admitem não voltar a investir em Portugal, e a culpa é da operação de recompra de dívida do Novo Banco a obrigacionistas, escreveu o Diário de Notícias.
“As compras de obrigações portuguesas pelo Banco Central Europeu não vão durar para sempre”, admitiu uma fonte de um grande investidor institucional mundial.
Em 2015, os maiores credores do Novo Banco sofreram grandes perdas, depois de 2,2 mil milhões de euros em obrigações sénior do banco terem sido “confiscados”. Esse montante foi transferido para o BES mau. A decisão do Banco de Portugal foi um choque para os investidores que, agora, não pretendem voltar a investir em Portugal. “Portugal é que vai pagar no futuro todas estas decisões”, disse uma fonte de um destes investidores mundiais ao DN.
Alguns dos investidores dizem que “as decisões têm sido de algum amadorismo, com falhas técnicas, e com atitudes erráticas e imprevisíveis”. Outra fonte refere ainda que, em Portugal, “nota-se uma descoordenação entre as várias entidades. Isto é assustador, porque foram compradas obrigações seniores e nunca se sabe o que vai acontecer”.
Um comité de obrigacionistas, formado por grandes credores, enviou uma carta ao supervisor por considerar que a proposta do Novo Banco não tem base legal e que, “servirá apenas para facilitar a venda à Lone Star”. Estes investidores têm o poder de travar a venda do banco, uma vez que detêm mais de 30% do valor nominal das obrigações, e a operação exige um nível mínimo de aceitação de 75%.
BCP leva mecanismo de capitalização contingente do Novo Banco a tribunal
BCP avançou no dia 1 de Setembro com uma acção jurídica contra o mecanismo de protecção dos activos problemáticos do Novo Banco previsto no acordo de venda.
O BCP decidiu levar mais longe as críticas ao mecanismo de capitalização contingente que pode levar o Fundo de Resolução a injectar até 3.890 milhões de euros no Novo Banco. Mecanismo esse que faz parte do acordo de venda do Novo Banco ao Lone Star. O banco decidiu levar o mecanismo, que é uma das condições de venda do Novo Banco ao Lone Star, a Tribunal para “apreciação jurídica”.
“O Banco Comercial Português informa que, após ter transmitido reservas relativamente à obrigação de capitalização contingente pelo Fundo de Resolução que foi anunciado estar incluída em acordo de venda do Novo Banco, decidiu, perante o termo do prazo legal e por cautela, solicitar a apreciação jurídica respetiva em ação administrativa”, refere o banco liderado por Nuno Amado num comunicado publicado na CMVM.
Mas o banco também avisa que “esta diligência não visa nem comporta a produção de quaisquer efeitos suspensivos da venda do Novo Banco e, consequentemente, dela não resulta legalmente nenhum impedimento à sua concretização nos prazos previstos, centrando-se exclusivamente naquela obrigação de capitalização”.
Não foi possível avaliar o real impacto desta iniciativa do BCP na operação da venda do Novo Banco, caso o tribunal seja favorável à posição de princípio do banco liderado por Nuno Amado em relação à obrigação de capitalização contingente que serve de garantia ao valor dos ativos problemáticos do Novo Banco.
Sabe-se apenas que a entrada da ação não suspende a venda, garante o BCP.
Tal como o Jornal Económico noticiou em primeira-mão, os bancos, através da Associação Portuguesa de Bancos, escreveram uma carta ao Banco de Portugal enquanto autoridade de resolução responsável Fundo de Resolução, manifestando preocupações relativamente ao custo para os bancos que a venda no Novo Banco, nos moldes em que foi acordada, representava para o sistema bancário. Pois através do mecanismo que visa proteger a Lone Star dos riscos inerente aos activos problemáticos do Novo Banco, o Fundo de Resolução que é detido pelos bancos do sistema, é chamado a capitalizar o banco em 3.890 milhões de euros.
Os bancos propunham nessa carta, que não teve feed-back, alterar o mecanismo de partilha de risco acordado na venda do Novo Banco ao Lone Star, no sentido de baixar a sua exposição. E alertaram também para uma distorção da concorrência criada pelo mecanismo que foi aprovado.
Na carta, noticiada em primeira-mão pelo Económico, os bancos pediam que os ativos problemáticos fossem autonomizados numa unidade à parte e que a troca de obrigações gerasse reservas para o Novo Banco superiores aos 500 milhões previstos, para reduzirem a hipótese de terem de financiar o processo, se for usado o mecanismo de capitalização contingente.
O pedido foi feito através da Associação Portuguesa de Bancos (APB), que escreveu uma carta ao Banco de Portugal, enquanto autoridade de resolução, a sugerir alterações às condições em que os bancos são chamados a recapitalizar o Novo Banco, através do chamado mecanismo de capitalização contingente.
Banco de Portugal garante que ação do BCP não suspende nem trava venda do Novo Banco
Em comunicado, o Banco de Portugal reagiu à ação jurídica do BCP e possível impato sobre a venda do Novo Banco.
“Tendo tomado conhecimento da comunicação do BCP, o Banco de Portugal sublinha que não há qualquer alteração no procedimento de venda do Novo Banco, nomeadamente no acordo assinado com o Lone Star e no calendário acordado”, garante o Banco de Portugal que é autoridade da resolução em Portugal responsável pelo Fundo de Resolução.
“O processo de venda do Novo Banco decorrerá dentro dos prazos previstos uma vez que, tal como decorre da informação do BCP, a ação junto do tribunal administrativo não tem como objetivo suspender ou travar este processo de venda”, assegura a entidade liderada por Carlos Costa.
TPT com: Rafael Marchante/Reuters//Maria Teixeira Alves//Jornal Económico//Cátia Borrego// Mario Proença/Bloomberg // 3 de Setembro de 2017