Dr. Tedros: mas afinal quem é o homem à frente da OMS?

 

Na Etiópia, Tedros Adhanom Ghebreyesus reformou o sistema de saúde e muitos atestam o seu sucesso. Mas como diretor-geral da Organização Mundial de Saúde é controverso – e a pandemia de Covid-19 é a sua prova de fogo.

 

 

Quem já leu entrevistas com Tedros Adhanom Ghebreyesus, provavelmente conhece esta história: aos sete anos, sofreu o choque da morte do irmão, dois anos mais novo, vítima de uma doença curável num país com um sistema de saúde funcional. Na Etiópia, no entanto, a realidade era outra.

 

 

Tedros Adhanom Ghebreyesus recusa-se a aceitar que alguém tenha de morrer “apenas por ser pobre”, tal como a sua família, na altura. É assim que o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) explica muitas vezes o seu empenho na melhoria dos cuidados de saúde. Ainda hoje, a morte do irmão continua a guiar o seu trabalho.

 

 

 

 

Reforma da saúde na Etiópia

 

 

 

 

Aos 55 anos, Tedros tem uma longa carreira como especialista em saúde. Estudou doenças infecciosas no Reino Unido nos anos 1990 e é doutorado em Saúde Pública. Entre 2005 e 2012, como ministro da Saúde da Etiópia, foi-lhe dada a oportunidade de desenvolver o sistema de saúde do país.

 

 

Durante esses sete anos, construíram-se milhares de novos centros de saúde na Etiópia, contrataram-se dezenas de milhares de profissionais para prestar cuidados nas zonas rurais e, pela primeira vez, foi introduzido um seguro de saúde.

 

 

O número de escolas médicas triplicou para um total de 33 e o número de médicos aumentou exponencialmente. As taxas de mortalidade por doenças como a tuberculose, a malária e a SIDA diminuíram até 90%. Tedros teve também um papel decisivo na melhoria da saúde materno-infantil, um compromisso que assumiu a partir de 2009. Entre 2012 e 2016, ocupou o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros da Etiópia.

 

 

 

 

A controvérsia da cólera

 

 

 

 

Mas nem todos os etíopes dão nota positiva ao trabalho de Tedros Adhanom Ghebreyesus. É precisamente na forma como lida com epidemias que o antigo ministro da Saúde é duramente criticado. Muitos acusam-no de desvalorizar vários surtos de cólera entre 2006 e 2011, atrasando a implementação das medidas de combate adequadas.

 

 

Ludger Schadomsky, chefe da redação amárica da Deutsche Welle, acompanhou o mandato do então ministro da Saúde como jornalista: “Nas nossas entrevistas com as autoridades sanitárias etíopes falava-se sempre de ‘diarreia aquosa’, embora houvesse fortes evidências para assumir que se tratava de cólera, com base nos resultados clínicos”, recorda.

 

 

Membros dos Amara e dos Oromo, os dois maiores grupos étnicos da Etiópia e os mais afetados pelos surtos de cólera durante o mandato de Tedros, contestaram de forma veemente a sua nomeação para o cargo de diretor-geral da OMS, em 2017.

 

 

Tedros Adhanom Ghebreyesus pertence à minoria étnica dos Tigrínios, que embora representem apenas 6% da população etíope, dominaram a política do país durante muito tempo.

 

 

Na altura, em entrevista à DW, o ativista dos direitos humanos Kassahun Adefris mostrava-se preocupado com a nomeação de Tedros: “Durante o seu mandato como ministro da Saúde, muitas pessoas morreram porque ele encobriu epidemias de cólera. Na minha opinião, é muito questionável nomear alguém que comete tais erros para este cargo”.

 

 

A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) também criticou o ex-ministro da Saúde etíope durante a sua campanha para a direção da OMS, por trabalhar para um Estado autoritário que reprime opositores políticos e jornalistas.

 

 

 

 

Planos de reforma

 

 

 

 

 

Em última análise, Tedros deve a sua eleição ao grande apoio dos delegados dos 55 Estados africanos membros da Organização das Nações Unidas (ONU). Na altura, também nas redes sociais era visível a satisfação: pela primeira vez, um africano era escolhido para liderar a OMS.

 

 

O sucesso inicial do diretor da organização, dizem os especialistas, deve-se sobretudo aos seus principais projetos de reforma. A OMS iria agora reagir mais rapidamente e de forma mais abrangente às crises sanitárias – comparando com a epidemia de ébola na África Ocidental em 2013/14. Foi precisamente por isso que a OMS, sob a liderança da sua antecessora, a chinesa Margaret Chan, foi alvo de duras críticas.

 

 

 

 

Conflito com os EUA

 

 

 

 

No entanto, os críticos acusam Tedros de não ter agido com vigor suficiente na atual pandemia do novo coronavírus, por consideração ao Governo chinês, no início do surto. Com este argumento, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, suspendeu mesmo o financiamento norte-americano à OMS.

 

 

É inegável que o diretor-geral da organização estabeleceu contatos estreitos com os dirigentes da República Popular da China durante o seu mandato como representante eleito da Etiópia, especialmente como Ministro dos Negócios Estrangeiros. Até hoje, Addis Abeba continua a ser um parceiro estratégico próximo de Pequim.

 

 

O conflito entre Trump e Tedros não é de agora: já em 2017, muito antes do início da pandemia do novo coronavírus, o Presidente norte-americano tinha ameaçado reduzir os pagamentos à OMS. E mesmo antes de assumir o cargo, Tedros Adhanom Ghebreyesus tinha declarado que queria alargar a base de doadores de forma a diminuir o impacto dos choques financeiros: “Se o maior número de países possível contribuísse com alguma coisa, não importa quanto, ajudaria”.

 

 

 

 

Novo caso impede declaração de fim da epidemia do ébola

 

 

 

 

O caso foi registado em Beni, na República Democrática do Congo, no dia 17 de Abril,  (10.04), quando faltavam três dias para a proclamação oficial do fim da epidemia da doença.

 

“Infelizmente, isto significa que o Governo da República Democrática do Congo não poderá declarar o fim da epidemia de ébola na segunda-feira, como estava previsto”, indicou na sua conta da rede social Twitter o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

 

 

Entretanto, o diretor da OMS garantiu que as equipas de saúde seguem no terreno para pôr fim à epidemia.

 

 

O ministro da saúde congolês precisou que este novo caso de febre hemorrágica, registado ao fim de 52 dias, é de um homem de 26 anos.

 

 

O final da décima epidemia de ébola deveria ser anunciada em 12 de abril depois de ter matado mais de 2.200 pessoas na zona leste do país desde que foi declarada, em 01 de agosto de 2018.

 

 

 

 

TPT com: AFP/DW//Ineke Mules, Jan-Philipp Wilhelm, mjp//J. Delay/AP// 22 de Abril de 2020

 

 

 

 

 

 

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