Metade sai à 2ªF, 4ªF e 6ªF, metade nos outros dias. O criativo sistema do principado de Andorra para o desconfinamento

 

Metade da população vai voltar a sair à rua às segundas, quartas e sextas, a outra metade à terça, quinta e sábado, consoante a porta em que vive. No caso de não ter número, o critério define-se pelo nome. De A a M e depois de N a Z…. Já no Perú e no Panamá há dias em que saem os homens, nos outros saem as mulheres

 

 

Tem, o mínimo, um formato muito singular. A forma como Andorra, esse país sem litoral entre Espanha e França, está a preparar-se para levantar as restrições impostas pelo bloqueio não prevê para já medidas diferentes para os mais velhos ou para os mais novos. Nem para estudantes ou funções que não possam ser feitas por teletrabalho. Para evitar que todos saiam à rua ao mesmo tempo, optou-se por dividir o país em par ou ímpar – consoante o número da porta em que cada um vive. E, os que não se incluem neste tipo de métrica, vão fazê-lo pelo abecedário. Nuns dias, saem aqueles cujos nomes começam por A até ao M, noutros serão os outros, até ao Z. Surpreendente? Há mais.

 

 

O alívio do confinamento decretado naquele principado independente encravado nos Pirenéus começou há uma semana, permitindo às pessoas deixarem as suas casas durante uma hora para se exercitarem. “Não foi propriamente um momento sem restrições, mas de exceção”, apressou-se a esclarecer a ministra da Saúde Joan Martínez Benazet, citada pela Euronews. A ideia era preparar a população para o que aí vem. É que, além de terem de seguir um sistema ordenado para sair de casa, os habitantes vão também precisar de respeitar horários rígidos para as suas várias atividades.

 

 

 

 

A cada actividade, um horário

 

 

 

 

Há até grelhas para explicar melhor quem pode sair, em que dias e a que horas – para não haver enganos.

 

 

Por exemplo, podem correr ou fazer caminhadas entre as 6 e as 9 da manhã ou então ao fim do dia, entre as 18h e as 21h. Para ir às compras, ou simplesmente passear, devem fazê-lo entre as 9h e as 11h ou entre 14h e as 19 horas. O horário entre 11h e 14h, esse, fica reservado para os mais vulneráveis e idosos.

 

 

Além de ter de usar obrigatoriamente máscara, a população deve ainda manter uma distância social de quatro metros. É também aconselhada a caminhar na mesma direção dos veículos – ao contrário do normalmente recomendado – para assim garantir que as pessoas ficam longe uns das outras e não seguem lado a lado em situação alguma.

 

 

Parece exagerado, olhando para os números por alto. Afinal, Andorra tem apenas 717 casos confirmados de Covid-19 e só registou 37 mortes. Mas a questão é que, como a sua população não ultrapassa as 77 mil pessoas, acaba por estar no topo da lista dos países com mais mortes por milhão de habitantes.

 

 

 

 

À moda da América Latina… 

 

 

 

 

Outros há que também estão a inovar no sistema de dividir a população para não ter toda a gente na rua ao mesmo tempo. Veja-se o caso do Panamá. O que decidiram as autoridades locais? Impor uma quarentena por sexos. Ou seja, homens e mulheres não podem andar na rua ao mesmo tempo.

 

Invulgar para uns, discriminatória para outros – mas necessária, segundo os responsáveis panamianos – a medida está em vigor desde o início de abril. E justificada por Laurentino Cortizo, o presidente do Panamá.

 

 

“Não tivemos alternativa. A grande quantidade de pessoas que continuava a circular, apesar da quarentena obrigatória a nível nacional, obrigou-nos a medidas mais severas. Foi a maneira mais eficaz de limitar o número de pessoas na rua e também uma maneira de impedir que famílias inteiras abandonassem as suas casas.”

 

 

Assim, desde então que as mulheres estão autorizadas a sair de casa para comprar bens essenciais às segundas, quartas e sextas-feiras. Já os homens podem sair à rua para realizar tarefas às terças, quintas e sábados. Ao domingo, todos são obrigados a permanecer em casa.

 

 

 

 

…tanto no Panamá como no Perú 

 

 

 

 

O mesmo modelo foi também adotado no Peru. Desde o início de abril que homens e mulheres também não saem à rua nos mesmos dias, depois de um confinamento imposto logo a meio de março sem os resultados pretendidos.

 

 

Martin Vizcarra, o presidente do país, justificou a opção mais ou menos pelas mesmas razões: as restrições então em vigor não estavam a dar os resultados esperados. A exceção para esta alternância entre homens e mulheres só não se aplica aos funcionários de serviços essenciais – supermercados, bancos, farmácias ou hospitais.

 

 

E foi ainda pedido às forças que patrulham as ruas para, nestas circunstâncias particulares, respeitarem os transexuais. “Foram todos, policias e soldados, instruídos para não terem atitudes homofóbicas.”

 

 

 

 

 10 erros que o mundo não pode voltar a cometer

 

 

 

 

 

O médico Jorge Sales Marques, que está a exercer em Macau, avisa que nos próximos anos vão surgir outros vírus e explica, uma a uma, as falhas que foram feitas nesta pandemia e que não podem voltar a repetir-se.

 

“Temos de ser objetivos e pensar estrategicamente o que deveremos fazer no futuro próximo para não voltarmos a ser apanhados de surpresa”, diz o médico Jorge Sales Marques (na foto), garantindo que os países se devem preparar para novas vagas ou novos vírus que irão continuar a surgiu nos próximos anos. E para isso, acrescenta, é importante assumir os erros que foram feitos com a Covid-19 .

 

 

“Diversos governos menosprezarem o inimigo invisível”, avisa, sublinhando que ao mesmo tempo ficaram expostas, pelo mundo, as falhas dos vários serviços médicos para situações como esta: “Todos nós, profissionais de saúde, temos a perfeita noção que o sistema nacional de saúde de diversos países numa situação de pandemia , não funcionou . Pelo contrário, mostrou imensas lacunas e descoordenação por diversas vezes”. Estes erros, considera, “foram responsáveis pelo grande número de mortos em todo o mundo”. Segundo o médico, que trabalha no Centro Hospitalar Conde de São Januário, em, Macau, tem de se mudar já, em todo o globo, a forma de atuar. “Temos de ter mais coragem na tomada de medidas de proteção à população na fase inicial da pandemia”. E para isso sugere ser importante “ver o que falhou nesta pandemia” e apostar no que deve ser feito a curto prazo. “Temos todos de estar prontos na próxima pandemia”, defende o médico – que explica ponto por ponto os 10 erros que o mundo cometeu:

 

 

 

 

Falha na avaliação do novo vírus vindo da Ásia

 

 

 

 

Toda a avaliação inicial sobre o novo coronavírus foi feita de forma superficial, não valorizando o risco de vir a poder alastrar- se por este mundo fora e atingir diversos países e continentes, como de facto aconteceu. Toda a estratégia de abordagem foi feita menosprezando o inimigo, quando não havia motivo para o fazer. O coronavírus já tinha afetado por duas vezes nos últimos 17 anos a população mundial, com dezenas de países envolvidos e pessoas infetadas e mortas.

 

Este novo coronavírus tem 80 % do seu material genético semelhante ao coronavírus responsável pelo SARS. Os outros 20% de material genético RNA é diferente e por conseguinte mais virulento, pela facilidade de contágio entre as pessoas. Ao não valorizamos o vírus que provoca a Covid 19, e por as entidades responsáveis terem vindo ao público afirmar que este vírus não seria mais grave do que o vírus de gripe, passou-se uma informação errada e perigosa à população.

 

 

Por outro lado , a própria Organização Mundial de Saúde (OMS) não actuou com rapidez, adiando constantemente a declaração de pandemia . A população mundial não levou inicialmente tão a sério e bastava uma afirmação mais precoce sobre a Covid 19 ou um conselho sobre o uso de máscaras, que o cenário que estamos a ver e viver hoje poderia ter sido outro .

 

 

 

 

2- Ausência de rastreio térmico nos aeroportos e fronteiras

 

 

 

 

O controlo de temperatura mostrou ser eficaz em muitos países e cidades que apostaram nesta medida. Sabemos que ao detetar precocemente alguém com febre, iria evitar a propagação do vírus com os contactos mais próximos . Muitas pessoas foram poupadas e deste modo não correram o risco de poderem ir parar aos hospitais e em alguns casos aos cuidados intensivos.

 

 

Se todos tivessem tomado esta medida, nomeadamente quando vários países ainda tinham registo de poucos casos, tudo poderia ter sido diferente . Com o controlo de temperatura aos passageiros oriundos das cidades italianas de Bérgamo e Milão, que na altura estavam a ter imensos novos casos, bem como aos passageiros provenientes de Ásia , certamente que muitos contágios poderiam ter sido evitados .

 

 

 

 

3- Adiamento do uso de máscaras

 

 

 

 

O adiamento contínuo do uso da máscara e o reconhecimento tardio por parte de muitos países, e principalmente a demora da OMS em aceitar o óbvio (baseado nos resultados de outros países onde esta medida foi implementada com bons resultados) foi responsável pela propagação e disseminação da Covid-19 a dezenas de países e, consequentemente, o surgimento de grande número de pessoas infetadas .

 

 

 

 

“Ao afirmar-se que este novo vírus não seria mais grave do que o vírus da gripe, passou-se uma ideia errada e perigosa
à população”

 

 

 

 

4- Formação e informação detalhada à população sobre a higiene pessoal

 

 

 

Sabemos como o vírus contagia qualquer pessoa que tenha uma má higiene pessoal e quão importante é a lavagem das mãos de forma correta, assim como temos de evitar colocá-las na face para não aumentar o risco de contágio . Neste contexto, a campanha de higienização das mãos e a informação à população sobre os diversos passos de lavagem das mãos durante, pelo menos, 20 segundos, são cruciais. Todos estas medidas são eficazes, desde que sejam realizadas campanhas de ensinamento à população sobre a importância deste procedimento, de modo a que as pessoas tenham tempo de assimilar estas ideias e pô-las em prática sem qualquer dúvida ou hesitação.

 

 

 

5- Não impedir desde cedo a aglomeração das pessoas

 

 

 

Qualquer medida para reduzir o risco de propagação do vírus teria de passar por afastamento de pessoas de locais onde aglomeração significaria risco eminente de contágio. Fechando as fronteiras e limitando a entrada de pessoas, colocando em quarentena os turistas oriundos de países ou cidades com casos infetados, declarando estado de emergência no país , são medidas necessárias para que o vírus não tenha a possibilidade de se replicar . Qualquer atraso é um ponto a favor do vírus e, como consequência, torna-se cada vez mais forte, resistente e contagioso. Os países necessitam de deixar de pensar durante este período na vertente económica e apostar mais rapidamente na proteção da sua população.

 

 

 

6- Ignorar o isolamento

 

 

 

“Muitas pessoas idosas faleceram por total falta de planeamento e proteção por parte dos Estados”

 

 

 

 

O auto isolamento é uma medida essencial para que todas as decisões anteriores resultem na sua plenitude. Numa situação de pandemia, o isolamento social evita a propagação do vírus e o contágio vindo de outra pessoa infetada, bem como a disseminação da doença pela própria pessoa a outras, caso esteja infetada sem saber . Para que esta outra medida resulte é fundamental que os cidadãos cumpram com rigor estas orientações, sob pena de serem punidos pela justiça. Uma pessoa, infetada ou não, deve ter o sentido de responsabilidade social, protegendo-se a si própria . Esta sua atitude também protege os outros . Trata-se apenas de um ato solidário entre humanos em momentos em que a pandemia aparece em força sem olhar a meios para atingir o seu objetivo único que é infetar humanos.

 

 

 

 

 

7- Não testar todos os casos suspeitos e contactos

 

 

 

 

 

Todos os países afetados devem testar as pessoas suspeitas bem como os respetivos contactos. Qualquer número que seja apresentado à população e à comunicação social será sempre falso e todas as conclusões e estudos estatísticos daí resultantes , não terão qualquer significado.

 

 

Nesta pandemia, esta realidade verificou-se muitas vezes e qualquer cidadão mais atento conseguia concluir que a inverdade sobre o número total de casos começou a ser um ato diário em vários países, já que sem testar os contactos ou os casos em que a causa de morte foi inconclusiva ou em quadros respiratórios fatais de etiologia desconhecida, não poderíamos excluir o vírus responsável pela pandemia, como uma possível causa de morte. Isto não poderá voltar a acontecer porque os dados que são fornecidos devem ser baseados em evidência estatística e não em erros de cálculos resultantes de base errada de dados.

 

 

 

 

8-Não planear a tempo a proteção da população mais vulnerável

 

 

 

 

 

Muitas pessoas idosas faleceram por total falta de planeamento e proteção por parte dos Estados. Sendo uma população vulnerável, deveria ter sido protegida desde o início, sendo-lhes fornecidas máscaras e ensinando- lhes a ter cuidados de higiene, bem como a necessidade de ficarem isolados para não serem infetados.

 

 

 

 

9- Falha de equipamento de proteção individual para os médicos.

 

 

 

 

Os médicos e os profissionais de saúde são os verdadeiros heróis numa situação de pandemia. Estão na linha de frente contra o vírus invisível. São os primeiros a serem infetados caso não tenham um equipamento de proteção individual de reconhecida qualidade e de garantia. Nesta pandemia, infelizmente, muitos profissionais foram afetados, acabando mesmo por morrer. Esta negra realidade deveu-se a uma falha total na política de saúde por parte dos respetivos governos ao não considerarem nem reconhecerem quais as verdadeiras necessidades dos profissionais de saúde de cada país no combate. As verbas destinadas à saúde devem ser prioritárias. Os verdadeiros heróis durante esta fase de pandemia são os profissionais de saúde que defendem desesperadamente a entrada do inimigo invisível, tentando impedir por todos os meios que o vírus controle o ser humano. Estes profissionais que estão na linha de frente não devem ser os sacrificados nesta guerra . Devem ser protegidos pelas autoridades de saúde e os respetivos governos pela coragem, dedicação e empenho nesta luta . Esta carnificina não se poderá repetir no futuro próximo. Foi triste verificarmos que centenas de profissionais morreram por estarem infetados por falta de equipamento adequado de proteção individual ou porque este equipamento era inapropriado ou tinha falta de qualidade.

 

 

 

 

  1. Falhas na OMS

 

 

 

 

Finalmente, uma palavra para a Organização Mundial de Saúde. É em momentos destes que estamos a viver que a população mundial precisa mais do que nunca de uma voz convincente, determinada, sem contradições ou hesitações . Que tome medidas pensando única e exclusivamente em salvar vidas e não em pura evidência científica . Nenhuma decisão pode ser baseada apenas em estudos científicos. A utilização de máscaras foi um exemplo em que enquanto discutiam no gabinete a sua importância ou não no controlo da propagação do vírus , milhares de pessoas foram infetadas e morreram . A experiência asiática provou em números a redução de casos com a utilização de máscaras em toda a população, numa situação de pandemia . Era fundamental que a OMS tivesse dado esta orientação . Teria reduzido a propagação exponencial do vírus e, acima de tudo, poupado imensas vidas. Nada é mais importante do que a vida de um ser humano. Muito mais importante do que qualquer medida económica de qualquer governo na altura de crise. Na pandemia, só pode haver um objetivo: salvar e proteger a população.

 

 

 

TPT com: AFP//Sergi Rugrand//LightRocket// David Ramos/Getty Images//Visão//  23 de Abril de 2020

 

 

 

 

 

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *