Uns dizem que está vivo e bem, outros, que está gravemente doente, e alguns dizem que já está morto. A especulação aumenta e ninguém percebe o que se passa com o Supremo Líder norte-coreano, Kim Jong-un. Ou por que terá faltado à comemoração do aniversário do avô, a 15 de abril. É que não se trata apenas de uma festa de família: a data de nascimento de Kim Il-sung, o fundador da dinastia Kim, que recebeu o poder diretamente das mãos de Estaline, é considerado o mais importante feriado na Coreia do Norte. Num dos países mais autoritários e isolados do mundo é costumeiro que a informação não chegue ou que haja notícias contraditórias, rapidamente desmentidas.
Naturalmente, não há jornal internacional que tenha grandes fontes no país. O mais próximo disso talvez seja o Daily NK. O jornal sul-coreano avançou a semana passada que Kim Jong-un fora sujeito a um procedimento cardiovascular, devido a “fumar em excesso, obesidade e excesso de trabalho”, estando a recuperar na região de Hyangsan. Contudo, a prática do Daily NK de pagar às suas fontes em função de quão espetaculares são as suas informações tem sido associada a várias notícias falsas.
Por fim, a CNN acrescentou que Kim estaria “em grave perigo depois de uma cirurgia”, segundo fontes do Governo norte-americano, eterno adversário do regime norte-coreano. O caso tornou-se mais credível quando fontes na China – um dos poucos aliados de Pyongyang – disseram à HKSTV, uma televisão de Hong Kong associada a Pequim, que o ditador da Coreia do Norte estava morto ou em estado vegetativo, após o falhanço da operação.
De repente, o desmentido: Kim Jong-un está “vivo e bem”, declarou à CNN Moon Chung-in, um dos principais conselheiros de política externa do Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in. “Tem estado na área de Wonsan desde 13 de abril”, acrescentou Chung-in. Um comboio da família Kim foi visto, através de imagens de satélite, perto de um resort usado exclusivamente pela dinastia. “Nenhum movimento suspeito foi detetado”, assegurou o conselheiro. A Coreia do Sul, sempre receosa do seu vizinho nuclear no norte, não é necessariamente uma fonte fiável. Contudo, é certo que os olhos das suas secretas nunca andam muito longe de Pyongyang.
Se Kim estiver vivo, tenha sido operado ou não, quem pode estar metida em problemas é a sua irmã, Kim Yo-jong, após a ampla especulação de que poderia suceder ao irmão. Yo-jong, nos seus 30 anos, tem ganho um destaque inaudito para uma mulher no regime norte-coreano.
A irmã de Kim esteve ao lado do Supremo Líder em cimeiras com o Presidente chinês, Xi Jinping, e com o Presidente dos EUA, Donald Trump. Foi uma peça-chave da delegação aos Jogos Olímpicos de 2018 e, recentemente, divulgou o seu primeiro comunicado ao público. Contudo, importa lembrar que Kim Jong-un claramente não gosta de concorrência, nem dos seus irmãos. Aliás, foi acusado de mandar assassinar o seu meio-irmão mais velho, Kim Jong-nam, em 2017, depois de o ultrapassar na corrida à sucessão.
Sem Kim no poder, aumenta temor sobre instabilidade na Coreia do Norte
Rumores sobre a saúde do ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, despertaram preocupação sobre uma possível uma crise de instabilidade no país, gerada pelovácuo de poder. Especialistas afirmam que, caso Kim esteja impossibilitado de continuar no governo, o mais provável é que ele seja substituído por alguém de sua própria família, já que a linhagem de sangue é muito importante no país. O período de mudança, contudo, pode ter consequências.
Segundo fontes da Inteligência americana, o ditador de 36 anos está hospitalizado em estado crítico após ter sido submetido a uma cirurgia cardiovascular no início do mês. A informação foi desmentida por autoridades da Coreia do Sul e da China, mas ainda assim gerou grande especulação mundial sobre o futuro da Coreia do Norte. O regime ainda não se pronunciou oficialmente.
“A morte de Kim Jong-un criaria grande confusão e preocupação, já que a Coreia do Norte é governada por um regime familiar e tudo está sob constante vigilância”, aponta Soojin Park, pesquisadora do think tank Wilson Center, de Washington, e ex-porta-voz adjunta do Ministério da Unificação da Coreia do Sul. “Além disso, o país desenvolve armas nucleares, e a falta de um líder pode trazer muitos problemas e conflitos nessa área”.
A pesquisadora alerta que o mundo deve estar preparado para mudanças dramáticas em Pyongyang. Mas também deve analisar a situação com racionalidade, já que os rumores podem ser falsos e rapidamente desmentidos pelo regime.
A Coreia do Norte desenvolve seu programa nuclear desde a década de 1970 como estratégia de sobrevivência do regime fundado por Kim Il-Sung, avô do Líder Supremo. O investimento ganhou novas proporções desde 2014, quando Kim Jong-un ascendeu ao poder. Desde então, testes balísticos e nucleares tornaram-se frequentes, ressuscitando o fantasma da ameaça nuclear em toda a Ásia e, inclusive, nos Estados Unidos.
O governo americano, comandado por Donald Trump, se envolveu nos últimos anos em diálogos diretos com Kim para negociar a desnuclearização da Península Coreana. Mas as negociações entre Pyongyang e Washington estão praticamente em impasse desde que uma reunião de cúpula no Vietnã, em fevereiro do ano passado, terminou em desacordo sobre o alívio das sanções impostas pelos americanos contra a Coreia do Norte. Sem o fim das sanções, o regime deixou claro que não recuará em seus programas nuclear e de mísseis balísticos.
“A lacuna de poder pode gerar uma disputa preocupante”, diz Alexandre Uehara, membro do Núcleo de Estudos e Negócios Asiáticos e professor no Curso de Relações Internacionais da ESPM. O especialista, contudo, afirma que o atual ditador conseguiu construir uma imagem poderosa de liderança e até de carisma dentro do seu país e na cena internacional, o que pode auxiliar no momento de decisão sobre o próximo líder.
Justamente para dar continuidade ao trabalho de Kim Jong-un, de seu pai e avó, é muito provável que a sucessora escolhida pelo o ditador seja sua irmã mais nova, Kim Yo-Jong, de 31 anos. Ainda que forças internas do Partido dos Trabalhadores da Coreia (PTC) tentem se apoderar do poder, será difícilpara elas reunir apoio suficiente para derrubar a monarquia familiar.
“Até o momento, tendo como base a forma como a Coreia do Norte opera e a vigilância que o país impõe sobre a população, é muito difícil imaginar que haja qualquer tentativa de golpe”, diz Park. “A Coreia do Norte não funciona como outras sociedades, mesmo aquelas não-democráticas. Todas as pessoas passaram por uma lavagem cerebral e foram educadas para não se revoltar”.
As consequências da mudança no governo para a população, contudo, também preocupam os especialistas. Um vácuo no poder pode significar um abandono ainda maior dos norte-coreanos pelo Estado. A maior parte população já vive em situação precária. Relatório do Programa Alimentar Mundial (PAM) da Organização das Nações Unidas (ONU) publicado em 2018 mostrou que 40% dos norte-coreanos necessitam de ajuda humanitária. Nas áreas rurais e afastadas de Pyongyang, a situação de fome e miséria costuma ser mais perceptível.
Na noite de segunda-feira 20, a emissora americana CNN confirmou com fontes do Departamento de Inteligência dos Estados Unidos que Kim estava em estado grave após uma cirurgia cardiovascular no início de abril. O jornal sul-coreano Daily NK, especializado na cobertura da Coreia do Norte, também afirmou que o ditador estava recebendo tratamento em um resort no Monte Kumgangsan, na costa leste do país.
Ainda segundo o NK, a saúde de Kim teria se deteriorado nos últimos meses devido ao tabagismo, à obesidade e as longas horas de trabalho. Especulações aumentaram após o ditador não ter comparecido nas festividades de 15 de abril, aniversário do avô, Kim Il-sung, fundador da Coreia do Norte morto em 1994. A última vez que o líder foi visto se deu quatro dias antes, em uma reunião do governo.
Nesta terça-feira 21, contudo, um porta-voz da Presidência da Coreia do Sul afirmou ao jornal The Guardian que “não há nada para confirmar os rumores” e que “nenhum movimento especial foi detectado” dentro do país até agora. Uma fonte do Departamento de Relações Internacionais do Partido Comunista da China também afirmou não haver indícios de que Kim esteja doente. Mas, nesse caso, admitir ter informações sobre o estado de saíde do líder norte-coreano, como fez os Estados Unidos, também significa reconhecer oficialmente movimentação de sua rede de espionagem no país mais fechado do mundo.
Até o momento não há confirmação oficial do regime sobre a saúde do ditador. Esta não é a primeira vez que relatos contraditórios confundem a comunidade internacional. Em 2014, Kim ficou fora dos holofotes por quase seis semanas, despertando rumores sobre sua morte. Após mais de um mês, contudo, o líder reapareceu usando uma bengala. A Inteligência sul-coreana afirmou que ele havia passado por uma cirurgia para remover um cisto do tornozelo, mas o governo norte-coreano nunca esclareceu a questão.
“A Coreia do Norte não teria interesse nenhum em divulgar detalhes do que aconteceu, caso seja mesmo verdade que ele passou por uma cirurgia”, aponta Alexandre Uehara. “Novos factos podem causar grande preocupação e movimentação interna, já que o processo sucessório é complexo e não está totalmente claro neste momento”.
Quem pode suceder Kim Jong-un na liderança da Coreia do Norte?
Rumores sobre a saúde do ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, despertaram especulações sobre quem poderia suceder o Líder Supremo, que controla o poder Executivo, o Partido dos Trabalhadores da Coreia – sem concorrentes – e as Forças Armadas do país. Segundo fontes da Inteligência americana, Kim está hospitalizado em estado crítico após ter sido submetido a uma cirurgia cardiovascular no início do mês.
O avô do atual ditador, Kim Il-Sung, transformou a Coreia do Norte em uma “república” governada por uma “dinastia familiar”, na qual os filhos mais velhos assumem o posto na ausência ou morte do líder. Porém, até hoje, o regime norte-coreano nunca divulgou quem tomaria o lugar de Kim Jong-un.
O ditador assumiu o posto de Líder Supremo após a morte de seu pai, Kim Jong-il, supostamente com 27 anos. Atualmente aos 36 anos, não está claro se Kim tem filhos, já que ele jamais apareceu em público ao lado de familiares que não fossem sua mulher e sua irmã. Os serviços de inteligência da Coreia do Sul, contudo, apontam que ele tem três filhos ainda crianças, entre dois e dez anos de idade.
“Se Kim Jong-un tiver filhos, eles provavelmente são muito jovens para herdar o poder”, diz Soojin Park, pesquisadora do think tank Wilson Center, de Washington, e ex-porta-voz adjunta do Ministério da Unificação da Coreia do Sul. Diante das circunstâncias atuais, portanto, a opção mais óbvia seria que a irmã mais nova do ditador, Kim Yo-Jong, de 31 anos, o sucedesse no caso de sua morte.
Kim Yo-Jong tem sido a presença mais visível ao lado do ditador nos últimos dois anos, desde que representou seu país nas Olimpíadas de Inverno de Pyeongchang, na Coreia do Sul. Formalmente, ela é vice-diretora do poderoso Comitê Central do Partido dos Trabalhadores (PTC), mas atua extra-oficialmente como chefe de gabinete de seu irmão.
Ela foi nomeada membro suplente do poderoso Comitê Central do Partido dos Trabalhadores no início deste mês, continuando sua escalada na hierarquia de liderança do país. A norte-coreana também acompanhou Kim Jong-un a dois de seus encontros com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e representou o irmão em conversas com a Coreia do Sul.
“Na tradição coreana, especialmente na Coreia do Norte, mulheres não ocupam posições de liderança. Kim Yo-Jong ainda é jovem e considerada relativamente inexperiente, o que poderia vir a ser um problema”, analisa Soojin Park.
Para Alexandre Uehara, membro do Núcleo de Estudos e Negócios Asiáticos e professor no Curso de Relações Internacionais da ESPM, o apoio da China ao nome de Kim Yo-Jong pode fortalecer sua posição. A vice-diretora do PTC supostamente acompanhou o irmão em sua viagem a Pequim em 2018.
“O governo chinês pode entender que tê-la como sucessora de Kim Jong-un pode ser interessante para manter uma estabilidade e também a proximidade já consolidada com a família Kim”, avalia Uehara.
Choe Ryong-hae, atual presidente da Assembleia Popular Suprema, a “mesa diretora” do congresso de representantes, também foi apontado por especialistas como um possível sucessor. Choe representa o governo norte-coreano internacionalmente e acumula décadas de serviço para o partido e a família Kim, tendo servido anteriormente como influente chefe político das Forças Armadas da Coreia do Norte.
Apesar de seu bom trabalho, analistas acreditam que a linhagem de sangue é muito importante para o regime e que escolher alguém da família Kim para suceder o atual ditador seria o mais provável. Aparentemente, há poucos familiares na linha de sucessão, além de Kim Yo-Jong. Considerado o segundo homem mais poderoso da Coreia do Norte, Jang Song-thaek, tio do ditador, foi preso por traição em 2013 e executado três anos depois por ordem do sobrinho. Outro tio do lado paterno, Kim Pyong-il, seguiu carreira diplomática, mas tem um perfil desafiador que não agrada ao Líder Supremo. Seu último posto no exterior foi em Praga, na República Checa, de onde foi chamado de volta a Pyongyang no final do ano passado.
“A morte de Kim Jong-un criaria grande confusão e preocupação, já que a Coreia do Norte é governada por um regime familiar e tudo está sob constante vigilância”, aponta Soojin Park. “Além disso, o país desenvolve armas nucleares, e a falta de um líder pode trazer muitos problemas e conflitos nessa área”.
A analista do Wilson Center, contudo, afirma que qualquer grande mudança na estrutura do país seria uma surpresa. Ainda que forças internas do PTC tentem se apoderar do poder, é difícil que elas reúnam apoio suficiente para derrubar a monarquia familiar.
“Até o momento, tendo como base a forma como a Coreia do Norte opera e a vigilância que o país impõe sobre a população, é muito difícil imaginar que haja qualquer tentativa de golpe”, diz Park. “A Coreia do Norte não funciona como outras sociedades, mesmo aquelas não-democráticas. Todas as pessoas passaram por uma lavagem cerebral e foram educadas para não se revoltar”.
Os rumores
Na noite de segunda-feira 20, a emissora americana CNN confirmou com fontes do Departamento de Inteligência dos Estados Unidos que Kim estava em estado grave após uma cirurgia cardiovascular no início de abril. O jornal sul-coreano Daily NK, especializado na cobertura da Coreia do Norte, também afirmou que o ditador estava recebendo tratamento em um resort no Monte Kumgangsan, na costa leste do país.
Ainda segundo o NK, a saúde de Kim teria se deteriorado nos últimos meses devido ao tabagismo, à obesidade e as longas horas de trabalho. Especulações aumentaram após o ditador não ter comparecido nas festividades de 15 de abril, aniversário do avô, Kim Il-sung, fundador da Coreia do Norte morto em 1994. A última vez que o líder foi visto se deu quatro dias antes, em uma reunião do governo.
Nesta terça-feira, contudo, um porta-voz da Presidência da Coreia do Sul afirmou ao jornal The Guardian que “não há nada para confirmar os rumores” e que “nenhum movimento especial foi detectado” dentro do país até agora. Uma fonte do Departamento de Relações Internacionais do Partido Comunista da China também afirmou não haver indícios de que Kim esteja doente. Mas, nesse caso, admitir ter informações sobre o estado de saíde do líder norte-coreano, como fez os Estados Unidos, também significa reconhecer oficialmente movimentação de sua rede de espionagem no país mais fechado do mundo.
Até o momento não há confirmação oficial do regime sobre a saúde do ditador. Esta não é a primeira vez que relatos contraditórios confundem a comunidade internacional. Em 2014, Kim ficou fora dos holofotes por quase seis semanas, despertando rumores sobre sua morte. Após mais de um mês, contudo, o líder reapareceu usando uma bengala. A Inteligência sul-coreana afirmou que ele havia passado por uma cirurgia para remover um cisto do tornozelo, mas o governo norte-coreano nunca esclareceu a questão.
“A Coreia do Norte não teria interesse nenhum em divulgar detalhes do que aconteceu, caso seja mesmo verdade que ele passou por uma cirurgia”, aponta Alexandre Uehara. “Novos fatos podem causar grande preocupação e movimentação interna, já que o processo sucessório é complexo e não está totalmente claro neste momento”.
TPT com: The Guardian //Julia Braun//Reuters//AEP//HKSTV // Jorge Silva (Reuters)/VEJA//João Campos Rodrigues/AFP//Jornal i// KCNA//Daily NK//CNN// 26 de Abril de 2020