O “nacionalismo das vacinas” está a transformar a procura por uma cura para a Covid-19 numa corrida ‘armada’ que acabará por prejudicar a economia e a saúde pública, alertam especialistas do Eurasia Group, citados pela ‘CNBC’.
As previsões dos analistas apontam para que a tensão desta disputa atinja o rubro durante este verão, prevendo que a batalha pelo acesso se estenda até 2021 ou 2022.
“Os países ricos e pobres vão envolver-se em esforços agressivos de compra, com implicações políticas, económicas e de saúde pública significativas”, já estimava o grupo no início deste ano, frisando que “as instituições e os acordos internacionais existentes terão dificuldades em minimizar este ‘nacionalismo das vacinas’”.
A ilustrar este movimento exacerbado, e sublinhando que alguns governos já estão a tentar chegar primeiro à tão desejada vacina, por meio de investimentos em larga escala, os especialistas apontam que nos EUA, “a Autoridade de Desenvolvimento de Pesquisa Biomédica Avançada (BARDA) está a aumentar os investimentos em vários candidatos a vacinas, num esforço para reduzir os riscos financeiros para as empresas farmacêuticas e garantir acesso prioritário a uma vacina bem-sucedida”.
A BARDA tem interesses financeiros na vacina que está a ser desenvolvida pela Moderna mas também investiu em pesquisas iniciais conduzidas pela empresa francesa Sanofi e pela britânica GlaxoSmithKline .
Em maio, os EUA também investiram mil milhões de dólares na vacina potencial da AstraZeneca , que está a ser desenvolvida pelos cientistas da Universidade de Oxford. A gigante farmacêutica britânico-sueca tem como objetivo produzir 2 mil milhões de doses da vacina, visando lançar 400 milhões de doses para os EUA e Reino Unido até outubro.
A vacina da AstraZeneca também recebeu investimentos multimilionários do governo do Reino Unido e um pagamento de 843 milhões de dólares de alguns países da União Europeia que, desta forma, garantiram o acesso à vacina, caso se mostre eficaz.
Também o Conselho Nacional de Pesquisa do governo canadiano assinou um acordo com a chinesa CanSino Biologics para fabricar a sua vacina, para testes clínicos no Canadá este verão, abrindo uma “rampa de acesso interna e direta” a uma vacina, destacam os analistas do Eurasia.
Corroborando esta tendência, Ian Goldin, professor de Globalização e Desenvolvimento da Universidade de Oxford e ex-vice-presidente do Banco Mundial, também já veio alertar que haverá consequências caso os países tentem transformar a distribuição de uma vacina numa empresa nacional.
“Alguma competição é saudável. Ninguém quer colocar todos os ovos de desenvolvimento de vacinas numa cesta porque pode não funcionar”, reforçou, acrescentando que não vacinar a população global contra o Covid-19 teria implicações económicas a longo prazo.
“Enquanto algumas partes do mundo sofrerem com o coronavírus, a economia global não pode recuperar”, explicou, defendendo que “enquanto estiver ativo algures, o vírus pode sofrer mutação, mover-se continuando a devastar algumas da economia mundial”.
Goldin acrescentou ainda que, se o vírus sofresse mutações em partes do mundo incapazes de aceder à vacina, a Covid-19 representaria novamente uma ameaça à saúde pública global, mesmo para aqueles que tenham sido vacinados.
“Não sabemos quanto tempo estas vacinas vão durar e quão eficazes serão”, frisou. “Portanto, esta não é uma solução nem por razões de património, nem por interesses próprios”, concluiu.
Atualmente, existem pelo menos 160 potenciais vacinas contra a Covid-19, a ser testadas em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.
TPT com: CNBC// Eurasia Group//JM//Sonia Bexiga/ ExecutivDigest// 10 de Julho de 2020