No início da guerra na Ucrânia houve uma enorme preocupação em saber como explicar aos mais novos o que se estava a passar do outro lado da Europa sem que isso os deixasse assustados. Em casa e na escola, pais, educadores e professores tentaram informar e tranquilizar as crianças sobre este assunto. Ao mesmo tempo, aproveitou-se para pensar e trabalhar temas como a gestão de conflitos e pôr em prática valores importantes como o amor, a paz e a solidariedade.
Ao longo de algumas gerações a guerra era um dos conflitos que mais temíamos no nosso imaginário. Lembro-me de em pequena a guerra fazer parte das minhas orações. Era uma coisa que me angustiava e tinha a ingénua pretensão de a conseguir vir a abolir ainda em criança. Provavelmente porque era uma nuvem negra ainda muito presente nos nossos pais e sobretudo nos nossos avós. As guerras e conflitos nunca cessaram, mas este, tão próximo de nós, toca-nos de forma mais intensa. Ninguém esperava que em pleno século XXI se viesse a passar por uma barbaridade destas entre dois países evoluídos.
Depois do aparecimento da covid-19, que nos lembrou outras pandemias da história, a invasão da Rússia também nos trouxe à memória períodos trágicos absolutamente desconcertantes. Neste momento sentimos que se está a fazer história. Se relativamente aos mais pequenos a prioridade será apaziguar os medos e explicar a guerra de acordo com a sua maturidade, os mais velhos, além de também precisarem de se sentir seguros, têm neste conflito a oportunidade de não só poderem participar ativamente em ações de solidariedade, mas de entender e enquadrar esta guerra.
Uma das queixas por parte dos alunos em relação à escola é a de aprenderem conteúdos tão abstratos que parecem não ter ligação com a nossa realidade. Neste momento há um acontecimento que será histórico a desenvolver-se e a maioria dos jovens não está a par do seu contexto. Ainda no outro dia assisti a uma conversa entre um grupo de pré-adolescentes que perguntavam uns aos outros se estavam pela Rússia ou pela Ucrânia, como se falassem de dois clubes de futebol. As razões que apresentavam para estar de um lado ou do outro davam a entender o total desconhecimento do assunto.
Quando daqui a uns anos esta guerra aparecer nos livros de História soará só a mais uma matéria enfadonha e desatualizada. Talvez esta fosse uma boa oportunidade para aprender História a partir do presente. Talvez fizesse sentido fazer uma pausa para compreender e acompanhar não só o que se está a passar entre a Rússia e a Ucrânia, mas também a posição de cada país no conflito, o papel da NATO e aproveitar para recuar até à antiga União Soviética, à Guerra Fria e às duas guerras mundiais.
Os programas escolares deviam ser versáteis e adequarem-se a diferentes circunstancias facilitadoras do ensino, tendo como objetivo primordial a boa aprendizagem. As matérias precisam de fazer sentido, de ter pontes com a nossa realidade, de suscitar interesse e curiosidade, para que haja maior gosto e facilidade em aprender. Esta seria uma boa oportunidade para conhecer uma parte importante da História e perceber como os acontecimentos de hoje podem estar ligados aos do passado e como o passado pode ainda escrever no presente. Entender a continuidade, em vez de, como alguns jovens acabam por fazer, empinar para os testes acontecimentos que lhes parecem soltos e desenquadrados.
TPT com: Filipa Chasqueira/Sol// 4 de Abril de 2022