04/01/2015
O medronho é principalmente conhecido entre os portugueses por ser altamente utilizado na produção de licores e aguardentes, mas cientistas do Departamento de Química, da Universidade de Aveiro (UA) querem que este pequeno fruto comece a ser mais consumido no estado fresco ou incluído noutros produtos alimentares.
Os cientistas justificam a necessidade de introdução do medronho numa dieta regular, porque este fruto possui capacidades de combater os radicais livres que são responsáveis por doenças como o cancro, mas também de controlar os níveis de colesterol e a saúde da pele e dos ossos.
Os químicos da UA chegaram a estas conclusões após procederem à caracterização química do medronho, onde identificaram a presença de ácidos gordos insaturados, como o ómega 3 e o ómega 6, fitoesteróis e triterpenóides.
Sílvia Rocha, Armando Silvestre e Daniela Fonseca, investigadores na UA.
Silvia Rocha, investigadora da UA, citada em comunicado da instituição, explica que «os ómegas 3 e 6 são ácidos gordos essenciais que têm de ser obtidos a partir da dieta uma vez que o nosso organismo não os sintetiza» e «têm demonstrado um papel importante no controlo dos níveis de colesterol, na saúde da pele e dos ossos e uma relação inversa entre o consumo de ómega 3 e a perda de funções cognitivas».
Já os esteróis «têm um importante papel na saúde uma vez que contribuem regular o nível de colesterol» e os triterpenóides têm por sua vez uma ação anti-inflamatória, antimicrobiana e antifúngica.
Os cientistas da UA têm trabalhado especificamente com uma variedade de medronho oriunda da Serra da Beira e dizem que em comparação com outras variedades de Portugal e do resto da Europa, esta apresenta uma atividade antioxidante superior.
«A atividade antioxidante reflete a capacidade de evitar a formação de radicais livres, substâncias que, quando produzidas em excesso no organismo são responsáveis pelo stress oxidativo, conhecido por provocar danos no organismo humano, os quais estão associado ao envelhecimento e aumento da suscetibilidade a diversas doenças, nomeadamente as doenças civilizacionais emergentes», afirma a investigadora.
Neste sentido, acrescenta Sílvia Rocha, «o consumo regular de medronho em fresco ou a sua inclusão noutros alimentos pode ser visto como aspeto valorizador da dieta e, por conseguinte, diminuir a suscetibilidade ao desenvolvimento de doenças».
Com base nos dados do estudo sobre as propriedades e potencialidades nutricionais do medronho, os cientistas com o apoio da Cooperativa Portuguesa de Medronho, querem introduzir o medronho na alimentação regular dos portugueses.
Nesse sentido, os químicos da UA juntamente com cientistas do Centro de Investigação em Materiais Cerâmicos e Compósitos da mesma Universidade já desenvolveram alguns produtos alimentares onde incorporaram polpa de medronho, nomeadamente, biscoitos, iogurtes, barras energéticas e bombons. Os cientistas querem ainda isolar os compostos do fruto para que estes sejam adicionados a alimentos funcionais.
Apesar disso, os cientistas têm ainda pela frente uma barreira para ultrapassar, já que normalmente este fruto não se encontra fresco no mercado porque quando é colhido já está demasiado maduro, altura em que possui um alto teor alcoólico.
Para fazer face a esta questão, os cientistas estão a definir condições de recolha e armazenamento do fruto para que este possa ser comercializado e consumido fresco.
Mas para isso, diz Sílvia Rocha «é preciso arranjar parceiros e financiamento», dado que «esses são os dois elementos chave que estamos a procurar neste momento para se avançar com a introdução do medronho na indústria alimentar».
Lúcia Vinheiras Alves
TV Ciencia