23/02/2015
Grave ameaça à vida.
Um ataque cardíaco ocorre quando uma das artérias coronárias entope subitamente, bloqueando o acesso de sangue e oxigénio a uma zona do músculo cardíaco.
O entupimento deve-se na sua esmagadora maioria à aterosclerose, uma doença em que se acumulam depósitos de colesterol na parede das artérias, que levam à diminuição do seu calibre.
A causa final do bloqueio da artéria deve-se à formação de um coágulo de sangue que se forma na zona da placa de aterosclerose, acabando por obstruir completamente a artéria coronária.
Se o fornecimento de sangue for interrompido completa e prolongadamente, as células do músculo cardíaco da zona afectada sofrem gravemente e acabam por morrer, provocando a dor própria do ataque cardíaco. O termo médico para descrever esta ocorrência é a de enfarte do miocárdio.
Todos os anos morrem cerca de 10.000 portugueses devido a ataques cardíacos, enquanto outros vinte mil sobrevivem a este evento extremamente perigoso. Até à meia-idade morrem mais homens que mulheres, mas a partir da menopausa o risco aumenta muito na mulher, o que está relacionado com a descida dos estrogéneos, a hormona feminina, que tem uma acção protectora na mulher.
Embora a esmagadora maioria dos ataques cardíacos se deva à aterosclerose, alguns enfartes, embora extremamente raros, são devido a doenças, como a anomalias congénitas das artérias coronárias, a perturbações da coagulação, etc. Nos últimos anos tem-se observado alguns casos devidos ao uso da cocaína, devido a um mecanismo de espasmo (contracção) prolongado das coronárias.
Sintomas
O sintoma mais comum de ataque cardíaco é a dor no peito, que os doentes descrevem como um aperto, uma sensação de peso, uma queimadura, geralmente localizada na parte central do peito.
Esta dor pode espalhar-se para o braço esquerdo, pescoço, maxilar inferior.
Outros sintomas podem ser fraqueza súbita, sudação abundante, náuseas, vómitos, eructações, falta de ar, perda de conhecimento, tonturas e palpitações.
Por vezes, os sintomas confundem-se com os de indigestão ou dor esofágica, levando o doente a ignorar os sintomas de ataque cardíaco, que colocam a sua vida em risco.
Embora o enfarte do miocárdio possa ocorrer a qualquer momento, um maior número de ataques cardíacos ocorre no período inicial da manhã.
Diagnóstico
O médico fará inicialmente algumas perguntas relativas às características da dor e a outros sintomas. O exame físico será essencialmente dirigido à região cardiovascular, com medição da tensão arterial e auscultação cardíaca e pulmonar.
Para confirmação do diagnóstico (ou sua exclusão) será efectuado um electrocardiograma, que permitirá verificar se há alguma zona do miocárdio em risco ou já gravemente lesada.
Serão também realizadas análises de sangue para determinar as enzimas cardíacas que, em caso de enfarte do miocárdio, estão elevadas. Exames adicionais, como o ecocardiograma, permitem avaliar a função cardíaca que pode estar afectada.
Factores de risco
A probabilidade de um indivíduo sofrer um enfarte do miocárdio depende em grande parte do nível dos seus factores de risco. Um factor de risco é uma variável biológica que aumenta a probabilidade de se sofrer de uma doença. Como os ataques cardíacos são na sua esmagadora maioria causados pela aterosclerose, os factores de risco envolvidos nas duas situações são basicamente os mesmos.
Alguns factores de risco não podem ser controlados, como a idade e a história cardiovascular da nossa família.
No entanto, a maior parte dos factores de risco pode ser controlada, de forma a reduzirmos o risco de sofrer um ataque cardíaco, como o colesterol elevado, a hipertensão arterial, o tabagismo e a diabetes. É também prudente praticar exercício físico regularmente e manter um peso corporal normal.
Tratamento
Habitualmente os objectivos do tratamento são aliviar a dor, preservar o músculo cardíaco e evitar a morte. Geralmente o médico dá uma aspirina para o doente mastigar, com o objectivo de prevenir fenómenos de coagulação.
O doente na urgência fará oxigenioterapia para melhorar a oxigenação da zona do coração em sofrimento e também terapêutica para aliviar a dor, bloqueadores beta para reduzir o consumo de oxigénio pelo miocárdio, e se a tensão arterial não for demasiado baixa, nitroglicerina para aumentar o fluxo sanguíneo ao coração.
Durante o internamento os doentes recebem habitualmente doses diárias de bloqueadores beta e de inibidores da ECA, que ajudam o coração a trabalhar melhor, em parte devido à redução da tensão arterial e aspirina, para prevenção de novos episódios de trombose.
A maior parte dos doentes também toma uma estatina, um fármaco que reduz o colesterol, para diminuir o risco de novo enfarte.
Se o diagnóstico de ataque cardíaco estiver confirmado, o doente deve fazer terapêutica de reperfusão o mais rapidamente possível. Quanto mais cedo for realizada maior é a quantidade de músculo que se pode salvar. O objectivo é o de restaurar o fluxo sanguíneo à zona do coração comprometida o mais depressa possível de modo a reduzir mais deterioração do músculo cardíaco.
A medida ideal é fazer reperfusão mecânica. O doente é levado para a sala de cateterismo onde um cateter é introduzido por uma artéria, geralmente da perna, ao nível da virilha e as artérias coronárias são visualizadas através de uma injecção de contraste nas coronárias para localizar a obstrução que está a causar o ataque cardíaco.
O passo seguinte é o de introduzir outro cateter, com um pequeno balão, que, depois de colocado na zona de estreitamento da artéria, é insuflado para esmagar o coágulo e a placa de aterosclerose, restaurando deste modo o fluxo de sangue à área afectada do coração. A este procedimento chama-se angioplastia.
Em muitos doentes, é de seguida colocado um pequeno anel de rede metálica, chamado stent, na zona previamente dilatada, para manter a artéria aberta. Vários novos fármacos são utilizados nestes doentes que vão ser submetidos a angioplastia, como o abciximab e o tirofiban, que reduzem os fenómenos de coagulação, associados ao ataque cardíaco e às próprias manobras da angioplastia, ainda mais poderosamente que a aspirina.
A reperfusão pode também ser conseguida com a chamada terapêutica fibrinolitica, através da infusão numa veia de medicamentos que dissolvem o coágulo, que precipitou o ataque cardíaco, para deste modo restabelecer o fluxo à zona enfartada. Esta terapêutica é feita em hospitais que não tenham meios disponíveis para fazer angioplastia de urgência.
A terapêutica de reperfusão, quanto mais cedo for realizada, maior é a quantidade de músculo que pode salvar. Não devemos esquecer que as células do músculo cardíaco começam a morrer quase imediatamente após o ataque cardíaco e que os grandes enfartes, além de serem mais letais na fase aguda, têm maior tendência para evoluir, com o tempo, para insuficiência cardíaca.
Depois do enfarte
A melhor maneira de assegurar uma recuperação completa por um longo período de sobrevivência é participar num programa de reabilitação cardíaca. Este programa pode ter várias modalidades, mas habitualmente consiste num programa de actividade física supervisionada, preferivelmente incluindo monitorização electrocardiografica. Em adição o programa, oferece educação alimentar, apoio emocional, ensina técnicas de controlo do stress e de cessação tabágica.
Por outro lado, os doentes são submetidos a um programa rigoroso de controlo dos factores de risco, como a hipertensão arterial, o colesterol elevado, a diabetes e a redução do peso. Em suma, a participação no programa tem como objectivo que o doente adopte um estilo de vida saudável e reaprenda a viver.
Quando e como procurar assistência médica
Quando se suspeita que se está a sofrer um ataque cardíaco é vital procurar-se auxílio médico imediato através de um telefonema para o 112, solicitando um transporte rápido e seguro para o hospital.
É importante evitar cair no erro de ir no seu carro a conduzir ou pedir auxílio a um familiar ou amigo para o levar ao hospital, o que pode ser fatal, como já aconteceu nomeadamente a figuras públicas em Portugal.
Prof. Doutor Manuel Oliveira Carrageta
Presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia
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