Livro envolve Fidel Castro em redes de narcotráfico

Juan Reinaldo Sánchez, antigo guarda-costas de Fidel.

 
Um antigo guarda-costas de Fidel Castro revela nas suas memórias que o líder cubano promoveu redes de tráfico de droga nos anos 1980 com ligações à Colômbia e Panamá como forma de financiamento da revolução.

 
No livro “A Face Oculta de Fidel Castro”, Juan Reinaldo Sánchez afirma que em 1988 ouviu inadvertidamente através do circuito interno de vigilância e gravação o presidente cubano a autorizar a proteção temporária de um traficante sul-americano (“lanchero”) no país a troco de 75 mil dólares.

 

 

“Foi como o céu me caísse em cima. Aturdido, incrédulo, petrificado, queria acreditar que ouvira mal ou que estava a sonhar, mas, infelizmente, era a realidade. Em poucos segundos, todo o meu universo, todos os meus ideais caíram por terra”, escreve Juan Reinaldo Sánchez, que a partir desse momento viu desmoronar-se a imagem que tinha de Fidel Castro.

 

 
“Apercebi-me de que o homem por quem sacrificava a minha vida desde sempre, o Líder que venerava como a um deus e que, aos meus olhos, era mais importante do que a minha própria família, estava envolvido no tráfico de cocaína à maneira de um verdadeiro ‘padrinho'”, sublinha o antigo elemento da segurança privada de Fidel, que atualmente vive exilado em Miami, Estados Unidos.

 

 

Livro envolve Fidel Castro em redes de narcotráfico2

Fidel numa aparição pública em janeiro de 2014.

 

 
Segundo o antigo guarda-costas, foi o acumular de suspeitas acerca de tráfico de droga promovido pelo próprio regime cubano, com ligações à Colômbia e ao Panamá, que levou Fidel Castro a acusar o general Ochoa, veterano da guerra civil angolana e herói da batalha do Cuíto Cuanavale contra as forças sul-africanas.

 

 

Ochoa e mais dois oficiais foram condenados à morte e executados e o antigo ministro do Interior José Abrantes sentenciado a 20 anos de cadeia, morrendo misteriosamente na prisão porque era preciso fazer parar notícias que teriam arruinado a reputação de Fidel Castro, segundo o autor do livro.

 

 

Sánchez sublinha que com a morte de Ochoa e Abrantes, a cadeia de comando foi para sempre cortada, desaparecendo toda a “ligação orgânica” suscetível de relacionar Fidel Castro ao “tenebroso esquema” de tráfico.

 

 

“É evidente que me chocou o facto de Ochoa, um herói da Revolução Cubana, se ter entregado ao tráfico de droga. Mas que podia ele fazer quando era o próprio chefe de Estado que se encontrava na origem de um tal esquema, do mesmo modo que presidia às outras operações de contrabando — tabaco, eletrodomésticos, marfim, etc.? E tudo isso, claro, para bem da Revolução!”, relata o antigo guarda-costas.

 

 

O esquema de negócios escuros estava assente, segundo Sánchez, no Departamento Moeda Conversível (MC), apelidado pela população como Departamento “Marijuana e Cocaína”, criado em 1986 e que dependia do ministro Abrantes e para onde operava Ochoa.

 

 

A atividade do Departamento MC era explicada no jornal oficial Granma como um organismo que servia para “romper o bloqueio” através da comercialização de todos os produtos desde tabaco, lagosta e charutos introduzidos como contrabando nos Estados Unidos até diamantes e marfim vindos de África e vendidos em todo o mundo, utilizando dólares como moeda de troca.

 

 

“Para ele (Fidel Castro), mais do que uma forma de enriquecimento, o narcotráfico era uma arma de luta revolucionária. O seu raciocínio era simples: se os ‘ianques’ eram estúpidos ao ponto de consumir droga que vem da Colômbia, não seria ele a preocupar-se com isso e, por outro lado, tal servia os seus objetivos revolucionários” (página 210) escreve Sánchez no livro de memórias.

 

 

Entre outros testemunhos, Sánchez recorda que chegou a conduzir Fidel Castro a um hangar do aeroporto de Varadero onde o presidente inspecionou o suposto carregamento de “pó branco” prestes a ser expelido para a Flórida, dissimulado em caixas de rum e tabaco.

 

 

24/10/2014

Foto: DR

Foto: Reinaldo Rodrigues / Global Imagens

 

 

 

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