Moçambique vai reforçar a luta contra o tráfico de animais selvagens através de uma lei aprovada em junho passado, revela esta segunda-feira a agência Bloomberg, uma semana após dois jornalistas europeus terem sido confundidos com caçadores furtivos e detidos.
Aquele país tem estado sob crescente pressão para assumir uma posição mais dura contra os caçadores furtivos, tendo o tema voltado a debate na semana passada, com a detenção, por engano, de dois jornalistas, um alemão e outro sueco, no sul de Moçambique, onde faziam precisamente invstigações sobre aquele problema que afeta a vida selvagem moçambicana.
O alemão Bartholomaeus Grill, correspondente da revista alemã Der Spiegel, e o fotojornalista sueco Tarbjoern Selander, foram detidos pela população da localidade de Mavodze, uma pequena aldeia perto do Parque Nacional do Limpopo, quando procuravam o líder de uma rede de dez caçadores furtivos que atua naquele parque.
A população de Mavodze, suspeitando que eram ambos caçadores furtivos, levou os jornalistas ao posto da Polícia da República de Moçambique (PRM) na localidade, exigindo que fossem presos, tendo os dois sido libertados no dia seguinte.
Em 2013, numa reunião internacional da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens (CITES), Moçambique foi acusado de falta de ação no combate à caça furtiva, o que também motivou críticas de organizações internacionais como a World Wide Fund (WWF) em 2014.
Reagindo às críticas, o país avançou como uma nova lei em junho passado, a qual endurece as penas para os caçadores ilegais, incluindo pesadas multas e penas que prisão que podem ir até aos 12 anos, no caso de abate de espécies protegidas.
Antes disso, a caça furtiva não estava criminalizada no país, sendo uma ajuda para a mudança de mentalidades o facto de, recentemente, o ex-Presidente de Moçambique Joaquim Chissano se ter juntado ativamente à luta contra a caça furtiva, através da sua própria fundação, que tem tentado travar o abate de elefantes.
A Fundação Joaquim Chissano está a liderar campanhas destinadas a difundir informação, principalmente junto da comunidade, sobre a importância da conservação da floresta e da fauna, não só para bem do meio ambiente, como para a recolha de lucros para a nação.
“Os elefantes são uma fonte de rendimento para o desenvolvimento do país, pois trata-se de um animal raro que os visitantes pagam para ver. É um animal precioso, que importa preservar. Não há turismo se não tivermos elefantes”, sublinhou Chissano.
As autoridades sentiram que vale a pena aderir à luta na sequência da notícia alarmante lançada por uma reserva que perdeu 50% da sua população de elefantes como resultado da caça furtiva nos últimos dois anos.
Segundo a Reserva Parque Niassa, “os últimos registos indicam que pelo menos 5 a 6 elefantes são abatidos diariamente”.
A mesma entidade revelou que, segundo censos de 2011, existiam 9.000 a 11.000 elefantes na reserva, enquanto a contagem mais recente aponta para apenas 4.000 a 4.500.
Moçambique tornou-se também um corredor para o contrabando de chifres de rinocerontes com destino à Ásia, num negócio que, segundo organizações ambientais estrangeiras baseadas em Moçambique, é feito com a complacência de autoridades locais.
Só nos últimos anos, segundo o relatório da World Wild Fund (WWF), cerca de 4.000 rinocerontes foram caçados ilegalmente em 11 países africanos.
Em 2014, no Parque Nacional de Gorongosa, no centro de Moçambique, as autoridades moçambicanas indicaram que cerca de 6.000 animais foram mortos, 3.300 armadilhas foram desmanteladas e 250 caçadores furtivos foram presos.
23/02/2015