Projectos do Banco Mundial estão a provocar ‘rasto de miséria’, indica Investigação jornalística

Edifício do Banco Mundial em Washington D.C.

 
O Banco Mundial desrespeita com frequência as suas próprias regras sobre a proteção de pessoas em detrimento dos projetos que patrocina e com consequências devastadoras para as populações mais vulneráveis, refere uma investigação hoje divulgada.

 
Um trabalho de investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), do diário digital norte-americano The Huffington Post e 20 outros parceiros mediáticos concluiu que pelo menos 3,4 milhões de pessoas foram física e economicamente afetadas desde 2004, em particular através de deslocações forçadas, devido a projetos apoiados pelo Banco Mundial.

 
Considerado o mais prestigiado credor dos países em desenvolvimento, o Banco Mundial financia anualmente centenas de projetos governamentais com o objetivo de “combater a propagação da pobreza através do apoio à construção de sistemas de transporte, centrais elétricas, barragens e outros projetos”, teoricamente dirigidos às populações mais pobres do planeta.

 
No entanto, os trabalhos de investigação divulgados a partir de hoje pelo Huffington Post denunciam o “rasto de miséria” que os projetos patrocinados pelo Banco Mundial impuseram em diversas regiões do mundo.

 
Barragens, centrais elétricas e outros projetos apoiados pela instituição financeira forçaram milhões de pessoas a abandonar as suas casas, as suas terras ou a colocar as suas vidas em perigo, sustenta a investigação.

 
A primeira reportagem, hoje divulgada, relata as condições de comunidades indígenas do oeste do Quénia que dizem ter sido forçadas a abandonar as suas florestas ancestrais devido a um programa de conservação do Banco Mundial.

 
Este projeto mediático também indica que o Banco Mundial e a International Finance Corp. (IFC, membro do Grupo Banco Mundial e a maior instituição de desenvolvimento global voltada para o setor privado nos países em desenvolvimento) financiaram governos e companhias acusadas de violações dos direitos humanos incluindo violação, rapto, assassínios e tortura. Em alguns casos, os credores continuaram a financiar estes responsáveis após terem sido divulgadas provas dos abusos.

 
A investigação permitiu ainda detetar que entre 2009 e 2013 os credores do Grupo Banco Mundial canalizaram 50 mil milhões de dólares (47 mil milhões de euros) em projetos que resultaram num elevado risco de impactos sociais e ambientais “irreversíveis e sem precedentes”, e que duplicaram em relação ao anterior quinquénio.

 
A equipa global coordenada pelo ICIJ congrega mais de 20 organizações mediáticas, incluindo o The Huffington Post, The Guardian, El País, Fusion, o GroundTruth Project, o Investigative Fund, a Agência Pública do Brasil ou o BalkanInsight.com, entre outras.

 
Estas reportagens serão publicadas num “microsite” divulgado pelo Huffington Post e que também inclui fotografias e vídeos de comunidades deslocadas em todo o planeta.

 
Neste projeto participaram 50 jornalistas de 21 países, que durante 11 meses investigaram o falhanço do Banco em proteger diversas populações do globo, marginalizadas em nome do progresso.

 
Os organizadores sublinham que este trabalho implicou a análise de milhares de documentos do Banco Mundial, entrevistas a centenas de pessoas e reportagens no terreno em 14 países (Albânia, Brasil, Etiópia, Honduras, Gana, Guatemala, Índia Kosovo, Nigéria, Peru, Quénia, Sérvia, Sudão do Sul e Uganda).

 

PCR // VM

Agência Lusa

The Portugal Times

16/04/2015

 

 

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